
5 curiosidades sobre a turnê “Tempo Rei”, de Gilberto Gil

5 curiosidades sobre a turnê “Tempo Rei”, de Gilberto Gil
Série de shows continua a todo o vapor e site da Novabrasil separou alguns segredos sobre esse show incrível da última turnê do artista baiano


A turnê “Tempo Rei”, última turnê do mestre Gilberto Gil, segue a todo vapor! Ela estreou em Salvador, cidade em que nasceu – lá no dia 15 de março deste ano – e já passou pelo Rio de Janeiro e por São Paulo, e agora segue por vários lugares do Brasil e até em alto mar com o Navio Tempo Rei.
Se você ainda não foi nesta catarse que é o show da turnê “Tempo Rei”, não sabe o que está perdendo! Estar lá é sentir na pele e no coração a emoção e o privilégio que é poder viver na mesma época que Gilberto Gil, uma lenda viva da nossa música, patrimônio cultural da nossa história, força da natureza, que sobe ao palco de forma magistral, aos quase 83 anos de idade.
Na nossa cabeça passa um filme, de uma história de vida e trajetória que se mistura com a nossa própria história – a de cada um de nós – e que conta também a história do nosso país.
A música de Gil transcende o tempo e o espaço e ajudou a formar o DNA artístico do Brasil. A turnê Tempo Rei é a celebração de mais de 60 anos de carreira. De mais de 60 anos de Brasil.
O Tempo é mesmo Rei para Gilberto Gil. E nós temos muito o que aprender com ele.
Hoje, eu te conto 5 curiosidades sobre a turnê “Tempo Rei”.

1 – O repertório do show é um passeio no tempo
Durante as mais de duas horas e meia de show, Gilberto Gil faz um verdadeiro passeio por sua obra e trajetória por meio das canções que escolheu para o repertório da turnê “Tempo Rei”.
E – desta forma – faz também um passeio pela história da música popular brasileira. Existem blocos de uma narrativa histórica e outros que se libertam da cronologia para se concentrar apenas na música.
A primeira parte foi pensada a partir de uma certa ordem cronológica, ainda que não à risca, antes do show partir para uma divisão mais temática, associada às diferentes fases musicais de Gil, que passam pelo samba, pop, reggae, rock, e todo um cancioneiro dedicado ao Tropicalismo.
O show começa com a significativa canção “Palco”, composta em 1981, quando o baiano – depois de já ter muitos anos de carreira – estava passando por uma fase difícil, em que pensava em desistir da carreira. Aí, decidiu escrever a canção como que uma despedida. Mas o que saiu foi uma música inspiradora que o fez desistir daquela ideia, para a nossa sorte.
Depois dela, no setlist do show vem “Banda Um” (1982), para saudar a grande banda que acompanha Gil ao palco e – ao mesmo tempo – traz um trocadilho com a palavra “umbanda”, quando repetida no refrão, que Gil diz em seu site ser “uma música-síntese com uma intenção e um conceito panculturalista, que cultiva as idéias de música, de juventude, de comportamento, de consumo e de vários nacionalismos.”.
A terceira música do show é “Tempo Rei”, de 1984, que dá nome à turnê e que tem em si é o grande mote deste espetáculo: a grandeza do tempo.
Depois das três canções, Gil homenageia seu lado forró —canta “Eu Só Quero um Xodó” (1978), regravação da música composta por Dominguinhos e Anastácia.
A partir daí, Gil começa a apresentar uma sequência de canções com um sentido cronológico: a primeira é “Eu Vim da Bahia” (1965), apresentando o garoto que nasceu em Salvador e cresceu em Ituaçu, no interior do estado, e que – mudou-se para o Rio de Janeiro depois de iniciar sua trajetória na música, sem nunca deixar de honrar as suas raízes.
Depois, vem “Procissão” (1965), canção que entrou para o primeiro álbum de Gilberto Gil, “Louvação”, de 1967. Em seguida, “Domingo no Parque”, canção que deu a Gil o segundo lugar no Festival de Música Popular Brasileiro de 1967 e que o fez tornar-se – ao lado de Caetano Veloso – líder do movimento de contracultura tropicalista.
Logo em seguida disso, Gil e Caetano são perseguidos e presos pelo regime militar, obrigados a exilarem-se em Londres, na Inglaterra, pelos anos de 1969 a 1972.
Por isso mesmo – por terem sido calados pela ditadura – nesta hora do show entra “Cálice”, canção composta por Gilberto Gil em parceria com Chico Buarque (que também precisou ir para o exílio em Roma), em 1973, para falar sobre a censura e a perseguição dos militares e que foi mesmo barrada pelo regime, quando Gil e Chico a cantaram no festival “Phono 73″ e tiveram seus microfones desligados.
A música só pôde ser lançada em 1978 e é Chico quem conta essa história ao público presente no show, em uma aclamada aparição no telão, que mostra a importância de – ainda nos dias atuais – falarmos sobre os impactos de uma ditadura militar.
A música que vem na sequência é “Back in Bahia”, que Gil compôs justamente quando estava em Londres, para falar da saudade que sentia do Brasil (“Lá em Londres vez em quando me sentia longe daqui”) e foi lançada no álbum “Expresso 2222”, assim que os baianos retornaram ao Brasil.
Depois disso, entram as clássicas “Refazenda” (1975) e “Refavela” (1977), a primeira trazendo Gil de volta às suas origens em um Brasil profundo e a segunda o conectando ainda mais com sua ancestralidade, do álbum de mesmo nome, que o artista lançou depois de participar o Festival Mundial de Arte e Cultura Negra na Nigéria e trazer com toda a força influências africanas para a sua obra, principalmente o reggae.
E seguida, ele introduz o reggae “Não Chore Mais”, versão da música de Bob Marley, “No Woman No Cry”, que compôs e lançou em 1979, no álbum “Realce”, já emendando numa sequência reggae, que nos tira do tempo cronológico: “Extra”, “Vamos Fugir” e “A Novidade”.
Assim, Gil introduz as animadas e mais roqueiras “Realce”, “A Gente Precisa Ver o Luar”, “Punk da Periferia” e “Rock do Segurança”, botando todo mundo pra dançar, para – depois – pegar seu banquinho e violão e emocionar a multidão com canções como ”Se Eu Quiser Falar com Deus”, “Estrela”, “Drão” e “Esotérico”.
Na catarse final, “Expresso 222”, “Aquele Abraço”, “Emoriô”, “Andar com Fé”, para encerrar com a apoteótica “Toda Menina Baiana”, que coloca o estádio inteiro para pular entoando: “Ah ah ah ah, que Deus Deu, Oh Oh, que Deus Dá!”.
O bis fica por conta de mais um forró que marcou a carreira de Gilberto Gil: ”Esperando na Janela” (composição de Targino Gondim, Manuca Almeida e Raimundo do Acordeon).
2 – Gil honra seus mestres e celebra os que estão chegando
Durante o show, o baiano homenageia tantos os seus mestres – aqueles que pavimentaram o caminho e foram inspiração para que ele seguisse como um dos maiores nomes da nossa música de todos os tempos – como também celebra os novos nomes que estão chegando como uma esperança de futuro para a música brasileira.
Quanto canta “Eu Vim da Bahia”, Gilberto Gil honra dois de seus mestres: os também baianos Dorival Caymmi e João Gilberto, com fotos dos dois no telão.
Antes disso, já tinha celebrado o parceiro e amigo, também inspiração, o sanfoneiro Dominguinhos.
Veja também:
Já na parte do show em que introduz a influência do reggae na sua obra, fotos de Bob Marley são projetadas no telão.
Mas Gil também celebra quem está chegando e se inspirou nele para seguir seu caminho na música. E são tantos. Não deve haver um músico brasileiro que não teve Gil como grande influência e inspiração. E ele deixa o seu legado.
Além de jovens convidados especiais (e surpresa!) que já subiram ao palco – como MC Gabriel, Flor Gil, Liniker, Sandy e Russo Passapusso – está na sua banda, por exemplo, o acordeonista sergipano Mestrinho, que – como o próprio Gil apresenta durante o show – apesar da pouca idade e de existirem os mestres do acordeom que vieram antes dele, como Luiz Gonzaga e Dominguinhos, já é um grande mestre do instrumento no Brasil inteiro.

Também estão palco com Gil três de seus filhos e um neto, que dão continuidade a seu legado: Nara Gil nos vocais, Bem Gil no contrabaixo e na Direção Musical junto com José Gil, que ocupa a bateria. E o neto João, dando um show nas guitarras.
O que é muito interessante, bonito e emocionante de ver são as várias gerações também na plateia: filhos e netos acompanhados de mães, pais e avós, que – normalmente foram as pessoas que lhes apresentaram à musica de Gilberto Gil. Lindo de ver!
Digno de um artista que atravessa gerações!
3 – Imagens que contam histórias
Dirigido por Rafael Dragaud e com cenografia de Daniela Thomas, a parte estética do show é um espetáculo à parte: o cenário-instalação concebido por Daniela, com uma escultura em espiral, feita de metal e placas flexíveis de LED traz referências visuais indispensáveis ao conjunto da obra, criadas pelo estúdio Radiográfico, com uma equipe liderada pela dupla de designers cariocas Olivia Ferreira e Pedro Garavaglia.
Cada imagem ou trechos de letra projetada traz mensagens que dialogam com cada música e tocam o público. Segundo Rafael, a espiral é uma árvore do tempo, representando múltiplas cosmogonias propostas pela obra de Gil. Também pode ser lida como uma espiral da vida, um gigantesco DNA
Na parte em que Gil canta “Cálice”, por exemplo, aparecem fotos históricas dos tempos de regime militar, de presos políticos, exilados e pessoas assassinadas pela ditadura (como por exemplo o próprio Gil, Vladmir Herzog e Rubens Paiva), e até a foto de uma faixa com a frase “Ditadura assassina”.

Durante “Refavela”, os telões laterais trazem as palavras entoadas no refrão da canção, o o coro afro (“Kiriê, iaiá”), com ilustrações belíssimas ao fundo., do artista visual paulista Emerson Rocha, conhecido como “de Saturno”.

Em “Não Chore Mais”, as cores do reggae na bandeira do Brasil e a frase “Tudo vai dar pé”!
Em “Realce”, “quanto mais purpurina/serpentina/parafina melhor”, uma apoteótica explosão de luzes purpurinantes sobre o público e também no colorido dos telões.
Já em “Drão”, dedicada à Preta Gil (e que contou com a participação emocionante da filha de Gilberto Gil – em tratamento de um câncer no intestino – em um dos shows de São Paulo), imagens do telão comovem ao mostrar a cantora quando criança, junto da mãe, Sandra Gadelha, para quem o baiano compôs a canção, que fala sobre a separação dos dois.
Rafael Dragaud, diretor artístico do show, diz que a ideia é usar a estrutura para representar o conceito de cosmogonia, um conjunto de princípios, religiosos ou científicos, que tentam explicar o universo. “É uma árvore do tempo, com os galhos em cima, a escultura, e as raízes embaixo, o próprio Gil. Isso porque ele não tem uma cosmogonia só, dialoga com todas. A gente não poderia fazer um show de Gilberto Gil que fosse linear. O vórtex (ou redemoinho) é a alma do nosso show, uma tradução muito feliz de um tempo não linear, que mistura cosmogonias de toda natureza: católica, indígena, africana — o Gil dialoga com todas.”.
Já Daniela Thomas, comenta: “Não sou esotérica, pelo contrário, mas, na minha interpretação visual, o Gil é o encontro de dois vórtex: um que vai para o centro da Terra e outro que segue até o fim do cosmos. Ele está ali, recebendo essas influências e produzindo um manancial de belezas, em poesia e música”.
“O diálogo visual busca potencializar a música do Gil, e não competir. É um trabalho muito artesanal, com uma operação dramatúrgica, no sentido de que cada canção é uma criação: são duas horas e meia de conteúdo sem imagens genéricas nem loopings”, detalha Olivia Ferreira, do estúdio Radiográfico, responsável pelas belas artes das projeções.
“Usamos o conceito de canções visuais, nessa ideia do show como um grande longa-metragem feito de diversos curtas a cada música”, completa Pedro Garavaglia, tambémdo estúdio Radiográfico.
4 – Celebração de seus amores
O show da turnê “Tempo Rei” é também uma grande celebração aos amores de Gil.
Falamos da homenagem à Preta Gil em “Drão”, mas o artista também homenageia outro grande amor de sua vida durante o show: Flora Gil, sua esposa há mais de 40 anos, mãe de três dos seus oito filhos e também diretora da Gege Produções Artísticas, a empresa que gerencia a carreira de Gilberto Gil.
Durante a música “Vamos Fugir”, o telão mostra fotos de Gil e Flora em uma viagem feita para a Jamaica, em 1984.
Além disso, Gil homenageia durante o show vários outros de seus amores, como citamos aqui: a Bahia, o continente africano, o forró, o reggae, Dorival Caymmi, João Gilberto, Dominguinhos, Bob Marley, o Carnaval, e até o rock’n Roll!
5 – Ainda dá para garantir o seu ingresso!
Não fique de fora dessa catarse coletiva, apoteótica, cheia de amor.
Turnê “Tempo Rei” – Gilberto Gil:
Ingressos e mais informações: https://www.giltemporei.com.br/