
A história da música “Eu Só Quero Um Xodó”, de Dominguinhos

A história da música “Eu Só Quero Um Xodó”, de Dominguinhos
Nesta quarta-feira, aniversário do sanfoneiro, site da Novabrasil traz especial sobre esse clássico da música brasileira; confira aqui

Dominguinhos, nosso grande mestre da sanfona, cantor, compositor e um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos, completaria 84 anos neste 12 de fevereiro. Por isso, hoje nós contamos a história da música“Eu Só Quero Um Xodó”, um de seus maiores clássicos.
Sobre Dominguinhos
Dominguinhos nasceu José Domingos de Morais, em Garanhuns, agreste pernambucano, em 1941, em uma família com 16 irmãos.
Seu pai, Mestre Chicão, era sanfoneiro e afinador de sanfonas, e lhe deu sua primeira sanfona de oito baixos – aos seis anos de idade – com a qual começou a tocar ao lado de dois de seus irmãos em portas de hotéis e feiras livres de sua cidade. O nome do trio era Os Três Pinguins. Nesta época, Dominguinhos ainda usava o nome artístico de Neném do Acordeon.
Um dia,Luiz Gonzaga – já muito famoso – se hospedou em um hotel em que o menino (então com oito anos) se apresentava, e ficou encantado com o seu talento na sanfona, convidando-o para o acompanhar no Rio de Janeiro.
Seis anos depois, por conta das dificuldades financeiras que passavam em Garanhuns, o pai foi morar com Dominguinhos na cidade maravilhosa para procurar Gonzagão.
Logo no primeiro encontro no Rio de Janeiro, Luiz Gonzaga presenteou o menino com uma sanfona de oitenta baixos. A partir de então, Dominguinhos passou a frequentar a casa do Rei do Baião e a acompanhá-lo em shows, ensaios e gravações.
Foi o próprio Gonzagão que sugeriu que ele mudasse o nome de Neném do Acordeon para Dominguinhos, em 1957, em homenagem a Domingos Ambrósio, sanfoneiro mineiro que havia sido mestre de Luiz Gonzaga.
Em 1957, aos 16 anos, Dominguinhos participou de sua primeira gravação, tocando sanfona no disco “O Reino do Baião”, de Luiz Gonzaga, na música “Moça de Feira”, uma composição de Armando Nunes e J.Portela.
Dominguinhos passou então a participar de programas de rádio e se apresentar em casas noturnas no Rio de Janeiro, e também a integrar a primeira formação do grupo de forró Trio Nordestino, até gravar o seu primeiro LP solo, em 1964, chamado “Fim de Festa”, que já conta com duas composições suas: “Frevo Cantagalo” e “Garanhuns”.

A história de “Eu Só Quero Um Xodó”, sucesso de Dominguinhos em parceria com Anastácia
Em 1967, Dominguinhos – viajando pelo nordeste acompanhando Luiz Gonzaga e dividindo as funções de sanfoneiro e motorista – conheceu a cantora e compositora pernambucana, Anastácia – também conhecida como a Rainha do Forró – que tornou-se sua parceira na música e na vida por 11 anos.
Juntos, eles compuseram mais de 200 canções, inclusive muitos dos sucessos que alavancaram a carreira do sanfoneiro, como “Eu Só Quero Um Xodó”, “Sanfona Sentida” e “Tenho Sede”.
Um dos principais forrós da nossa história, “Eu Só Quero Um Xodó” explodiu quando lançada na voz de Gilberto Gil, em 1973, e depois foi regravada por outros grandes nomes como Paula Toller, Daniela Mercury, Elba Ramalho, Caetano VelosoeIvete Sangalo.
Anastácia conta que a letra de Eu Só Quero Um Xodó, nasceu na boca do fogão, enquanto ela preparava o almoço. Ela e Dominguinhos eram casados na época.
Tinha acabado de passar a época do São João e os produtores já estavam ligando para o casal – que produzia muito em parceria – uma canção para o São João do próximo ano.
No Nordeste, o São João é igual acontece com as Escolas de Samba no Carnaval: quando passa a festa de um ano, já começam a pensar na do ano seguinte!
Depois de uma dessas ligações, Dominguinhos estava sentado, tocando sua sanfona, no pequeno apartamento em que moravam no centro de São Paulo, e Anastácia estava fritando um peixe para o almoço.
“Aí de repente, ele tocando e veio a letra de Xodó na minha cabeça. Eu larguei o peixe lá, fechei o fogão, fiz as duas estrofes”. Ela conta que pediu para Dominguinhos voltar a tocar, ela cantou e encaixou a letra com a melodia. “Mandamos para o produtor e avisei a ele para olhar com carinho para a marchinha”.
A cantora Marinês gravou a canção, em 1971 e, em 1972, Dominguinhos estava fazendo turnê tocando com Gilberto Gil e Gal Costa, e – como estava com frio – ele tocou um xote para esquentar os dedos:
“Aí o Gil pegou o violão e ele observou que todo mundo ficou ligado. Gil perguntou de quem era a música, e Dominguinhos explicou ‘é minha e de Anastácia, Marinês gravou’. E Gil decidiu, ‘rapaz, vou gravar essa música!’ e foi uma benção. Foi uma música que era para o nordeste, era arrasta-pé que virou xote e o Gil gravou como reggae. Até hoje ela me ajuda a pagar os carnezinhos atrasados.”, contou Anastácia em uma entrevista recente.
Gilberto Gil gravou “Eu Só Quero Um Xodó” em 1973, transformando a música em um de seus maiores sucessos e uma das mais importantes canções da música popular brasileira, tendo sido regravada mais de 400 vezes, no Brasil e no exterior.
O sucesso e as parcerias de Dominguinhos
Quando tocava em um show de Luiz Gonzaga, em 1972, Dominguinhos foi observado pelo empresário Guilherme Araújo, que o convidou para trabalhar com Gal Costa e Gilberto Gil.
Depois disso, ao longo de sua carreira brilhante, além de seus mais de 50 discos próprios, Dominguinhos acompanhou muitos outros nomes da música popular brasileira como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Nara Leão e Chico Buarque, que foram parceiros ou gravaram vários dos grandes sucessos do sanfoneiro.
Com Gilberto Gil, Dominguinhos compôs uma das mais lindas canções da história da música popular brasileira: “Lamento Sertanejo”. Lançada em 1973, no álbum “Tudo Azul”, de Dominguinhos, a música fala com propriedade e potência sobre o povo nordestino.
A já citada “Sanfona Sentida”, parceria com Anastácia, tambémentrou no álbum “Tudo Azul”, também de 1973. A canção compara o choro pela dor de um amor, com o barulho de choro que faz a sanfona, e – em 1976, foi regravada por Luiz Gonzaga.

Já “Tenho Sede”, foi lançada em 1975, no LP “Tá Bom Demais”, de Dominguinhos. No mesmo ano, Gilberto Gil e Golden Boys regravaram a canção.
Também com Gil, o sanfoneiro compôs “Abri a Porta”, otimista canção que nos convence que – com amor – “O bom da vida vai prosseguir”. Ela foi lançada no disco “Frutificar”, da banda A Cor do Som, em 1977.
Outro parceiro constante de Dominguinhos foi o cantor, compositor e instrumentista pernambucano Nando Cordel.
Com ele, o sanfoneiro lançou outros imensos sucessos, como:
- “De Volta Pro Aconchego”, lançada por Elba Ramalho, no disco “Fogo na Mistura”, de 1985, que entrou para a trilha da novela Roque Santeiro no mesmo ano;
- “Isso Aqui Tá Bom Demais”, lançada em 1985, em um dueto de Chico Buarque e Dominguinhos;
- “Gostoso Demais”, lançada em 1986, no disco “Dezembros”, de Maria Bethânia;
- “Vem Ficar Comigo”, lançada por Elba Ramalho com imenso sucesso, em seu disco “Elba”, de 1987.
Em 1991, outra música de Dominguinhos estourou na Brasil inteiro, dessa vez em parceria com Fausto Nilo:Pedras Que Cantam, lançada por Raimundo Fagner, e fala sobre desigualdade e injustiça social e sobre como as pessoas lidam com suas realidades.
Em 2002, Dominguinhos foi vencedor do Grammy Latino de Melhor Álbum de Raiz Brasileiro, com o disco “Chegando de Mansinho”. Em 2012, venceu na mesma categoria, com o CD e DVD Iluminado.
Dominguinhos nos deixou em 2013, aos 71 anos, após sofrer complicações infecciosas e cardíacas por conta do tratamento de um câncer de pulmão que já durava seis anos.
Seu legado para a música popular brasileira é imensurável!