
História da música ‘Drão’, clássico de Gilberto Gil
História da música ‘Drão’, clássico de Gilberto Gil
Composta após a separação do artista, canção transformou o fim de um amor em uma das mais belas e sensíveis canções da MPB


Quando Gilberto Gil escreveu “Drão”, em 1981, não estava apenas criando mais uma canção memorável. Estava lidando, com delicadeza e profundidade, com o luto de um amor que havia terminado.
A música nasceu do fim de seu casamento com Sandra Gadelha, sua terceira esposa, e se tornou uma das mais tocantes confissões poéticas da MPB.
Um amor nascido no coração do Tropicalismo
O romance entre Gil e Sandra começou em 1968, um ano efervescente para a cultura brasileira, em plena efervescência do movimento tropicalista. O casal se conheceu em meio ao turbilhão de criatividade e repressão. Naquele mesmo ano, Gil e Caetano Veloso foram presos pela ditadura militar. Após a liberdade, o casal se casou e partiu para o exílio em Londres.
A convivência em terras estrangeiras uniu ainda mais os dois. A vida em Londres foi um período de produção artística e familiar: juntos, tiveram três filhos. Mas, em 1979, após mais de uma década de vida em comum, o casamento começou a se desfazer.
Drão: uma canção feita do fim
Dois anos após o início da separação, nasceu “Drão”. O título da música veio de um apelido carinhoso criado por Maria Bethânia para Sandra — uma variação doce e afetuosa de seu nome.
Sandra revelou, em uma entrevista, que eles estavam separados há poucos dias quando Gil apareceu em casa com o violão nas mãos. Ele havia saído, refletido, e voltou com a música pronta. Quando cantou para ela, os dois foram tomados por uma emoção profunda. Era mais do que uma despedida: era um gesto de afeto, de reconciliação com o passado, e de maturidade emocional.
A dor e a beleza da criação
No livro “Todas as Letras”, de Carlos Rennó, Gil revela que a composição de “Drão” foi um processo árduo. A canção tratava de temas espinhosos: amor e desamor, separação, ressentimento e perdão. Era difícil condensar tudo isso em versos e melodia. Para Gil, “Drão” era tanto para Sandra quanto para ele — uma forma de transformar um momento pessoal em arte universal.
A canção traz frases que se eternizaram, como:
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“O amor da gente é como um grão…”
Essa metáfora, que compara o amor a uma semente, simboliza não apenas o fim de uma relação, mas a continuidade da vida. Um amor que, embora não mais conjugal, continua a existir de outras formas: no respeito, nos filhos, na história compartilhada.
Repercussão e legado
“Drão” foi gravada por Gil em 1982 e, desde então, tornou-se uma das músicas mais emblemáticas de sua carreira. Caetano Veloso, amigo e parceiro de Gil, certa vez declarou que, se pudesse escolher uma canção que não fosse sua e que gostaria de ter escrito, seria “Drão”.
A música também ganhou versões de artistas como Djavan e Ivete Sangalo, atravessando gerações e conquistando diferentes públicos. Sua força está não apenas na melodia suave e melancólica, mas na universalidade de seu tema: o fim de um amor tratado com ternura e dignidade.
Confira algumas versões e participações abaixo:
10 curiosidades sobre a música “Drão”, de Gilberto Gil
- Apelido carinhoso: “Drão” era o apelido que Maria Bethânia deu a Sandra Gadelha.
- Composição rápida: A música foi composta poucos dias após a separação do casal.
- Primeira audição íntima: Gil cantou a música pela primeira vez diretamente para Sandra, em um reencontro emocional.
- Fruto do Tropicalismo: O relacionamento dos dois começou durante o auge do movimento tropicalista.
- Exílio em Londres: O casal viveu parte da vida conjugal no exílio, fugindo da ditadura militar.
- Gravações memoráveis: Além de Gil, “Drão” foi gravada por Caetano Veloso, Djavan e Ivete Sangalo.
- Tema universal: A canção é considerada um dos retratos mais humanos e sensíveis sobre separação na MPB.
- Processo doloroso: Gil relatou que teve dificuldade em transformar os sentimentos do fim da relação em música.
- Livro “Todas as Letras”: A história por trás de “Drão” é detalhada por Gil no livro organizado por Carlos Rennó.
- Reconhecimento entre pares: Caetano Veloso declarou que gostaria de ter escrito “Drão”, tamanha sua admiração pela obra.