10 grandes sucessos de João Gilberto, sua voz e seu violão

Lívia Nolla
13:39 31.01.2025
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Curiosidades

10 grandes sucessos de João Gilberto, sua voz e seu violão

Considerado o “Pai da Bossa Nova", são inúmeros os sucessos na voz e no violão do artista. Hoje, relembramos 10 dessas músicas, que mudaram para sempre a história da MPB

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- 31.01.2025 - 13:39
10 grandes sucessos de João Gilberto, sua voz e seu violão
O cantor, compositor e violonista João Gilberto | Imagem: Reprodução

Hoje, vamos relembrar 10 grandes sucessos de João Gilberto, interpretados de forma inesquecível com sua voz e seu violão.

Considerado um dos maiores gênios da música popular brasileira, o cantor, violonista e compositor – conhecido como “Pai da Bossa Nova” – foi o responsável pela criação do gênero brasileiro que ganhou o mundo e tornou-se referência para uma geração de artistas que vieram junto e depois dele. 

Não só de cantores e compositores – como Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Novos Baianos, Rita Lee, Chico Buarque, Roberto Carlos, Fernanda Takai, Jorge Ben Jor, Edu Lobo e Cazuza, entre tantos influenciados por João Gilberto e a Bossa Nova – mas de também de arranjadores, guitarristas, violonistas e outros músicos. 

João Gilberto revolucionou e alterou, de forma irreversível, o DNA da música popular brasileira, criando e consolidando um novo estilo de tocar violão: com uma batida que alternava as harmonias com a introdução de acordes dissonantes, não convencionais, e uma inovadora sincopação do samba, a partir de uma divisão única, inspirada no jazz norte-americano.

Além disso, João trouxe outro diferencial da bossa nova com relação ao que se ouvia até então na música brasileira: letras com temáticas leves e a forma de cantar mais suave, baixinha e próxima da voz falada, com um texto bem pronunciado em tom coloquial.

Dono de uma sonoridade original e moderna, João Gilberto levou a música popular brasileira ao mundo, principalmente para os Estados Unidos, Europa e Japão. Tido como um dos músicos mais influentes no jazz americano do século XX, ganhou prêmios importantes nos Estados Unidos e na Europa.

A revista “Rolling Stone Brasil” o classificou como um dos 30 ícones brasileiros da guitarra ou violão e também como o “segundo maior artista brasileiro de todos os tempos”, ficando atrás somente de Tom Jobim, músico, compositor e arranjador dos maiores sucessos da carreira de João Gilberto.

O início de tudo

João Gilberto no início da carreira | Imagem: Reprodução

Nascido em Juazeiro, sertão na Bahia, em 1931, João Gilberto esteve ligado à música desde sempre. Seu pai era um grande apreciador de música e tocava cavaquinho e saxofone amadoramente. João tocava e fazia parte de conjuntos vocais da escola e sempre teve uma musicalidade muito aguçada e um ouvido privilegiado.

Cresceu escutando Dorival Caymmi, Orlando Silva, Carmen Miranda e também artistas do jazz estadunidense. Aos 14 anos, ganhou o primeiro violão do pai. Formou seu primeiro conjunto e começou a estudar música mais a fundo quando mudou-se para Salvador, em 1947.

Com 18 anos, João Gilberto iniciou sua carreira artística no casting da Rádio Sociedade Bahia. Em seguida, mudou-se para o Rio de Janeiro, para fazer parte de um novo conjunto vocal e, quando saiu do grupo, gravou o seu primeiro disco solo, ainda com um estilo bem diferente do que conhecemos. Ainda não estava acompanhado de seu famoso violão e usava uma voz mais plena e cheia de artifícios técnicos, uma interpretação mais visceral, inspiradas em seu grande ídolo, Orlando Silva. Mas o disco ainda não fez muito sucesso.

Em 1953, teve sua primeira composição gravada, “Você Esteve Com Meu Bem”, parceria com Russo do Pandeiro, na voz de Marisa Gata Mansa. A gravação contou com acompanhamento de João ao violão, mas ainda sem a famosa batida da bossa nova.

A partir daí, o artista inicia a trajetória que o levou a ser chamado de “Pai da Bossa Nova” e um dos maiores nomes da música brasileira de todos os tempos.

Vamos relembrar essa trajetória, trazendo 10 inesquecíveis sucessos de João Gilberto, canções eternizadas em sua voz e seu violão.

10 sucessos de João Gilberto, em sua voz e violão

1 – Bim Bom

Vinicius de Moraes e Tom Jobim no piano, João Gilberto no violão (à frente) e os Cariocas no fundo | Imagem: Reprodução

Em meados dos anos 50, durante seus intensos estudos de violão, João Gilberto percebeu que, se cantasse mais baixo e sem vibrato, poderia adiantar ou atrasar o canto em relação ao ritmo, desde que a batida fosse constante, criando assim seu próprio tempo. Compôs a canção “Bim Bom”, confiante de que havia encontrado a batida que queria.

Em 1957, com 26 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, para mostrar sua nova técnica aos músicos de lá e, quem sabe, conseguir gravá-la. Ali, foi o pontapé inicial para a sua consagração como artista e, depois, como um dos maiores gênios da música brasileira.

Foi quando apresentou a sua música a Roberto Menescal, que o levou para participar dos encontros que ele e alguns outros jovens músicos de classe média do Rio de Janeiro – como Ronaldo Bôscoli, Nara Leão, Sérgio Ricardo eCarlos Lyra– faziam em apartamentos da zona sul carioca, entre eles, o apartamento de Nara, em Copacabana. 

Todos esses músicos acabaram sendo muito influenciados pela técnica de João e iniciaram o movimento da Bossa Nova que, depois, expandiu-se para as universidades e para os bares cariocas, conquistou o Brasil e o mundo.

2 – Chega de Saudade (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes)

Capa do álbum “Chega de Saudade”, sucesso de João Gilberto que revolucionou a música brasileira

Logo, João Gilberto conheceu Tom Jobim e Vinicius de Moraes, que lhes apresentaram a canção “Chega de Saudade”, guardada já há um ano. A canção, inicialmente, era um chorinho e João a transformou num samba enxuto, com o violão deixando de ser mero acompanhamento e dividindo o primeiro plano com a voz, trazendo fluidez rítmica e melódica à música.

O marco inicial da Bossa Nova foi quando João Gilberto – primeiro gravou o violão da canção para uma gravação de Elizeth Cardoso, em 1958 – e depois, lançou um disco com a canção e o título “Chega de Saudade”, em 1959. 

João inovou na gravação do disco, ao pedir aos técnicos dois microfones: um para a voz e outro para o violão. Desse modo, a harmonia passou a ser mais claramente ouvida. Até então, gravava-se apenas com um microfone, com destaque para a voz em detrimento do violão.   

A recepção do álbum “Chega de Saudade” foi um sucesso e lançou João Gilberto ao estrelato. 

O disco também continha aquela canção “Bim Bom”, que trouxe João ao Rio de Janeiro, além de mais três grandes sucessos em sua voz:

3 – Desafinado  (de Newton Mendonça e Tom Jobim)

4 – Rosa Morena (de Dorival Caymmi)  

5 – Lobo Lobo (de Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli)

A partir daí, João Gilberto não parou mais: participou e comandou programas de TV, fez arranjos e participou de gravações de outros artistas, gravou trilhas sonoras de filmes, apresentou-se em diversas cidades do Brasil e participou de festivais de bossa nova.

6 – Corcovado (de Tom Jobim)

7 – Samba de Uma Nota Só

Em 1960, o músico gravou seu segundo LP, “O Amor, o Sorriso e a Flor”, que – em 1962 – chegou aos EUA e iniciou a exportação da música brasileira. Esse LP, que contou com a canção que é a síntese dos fundamentos da bossa nova – “Samba de Uma Nota Só – de Tom Jobim e Newton Mendonça – trouxe, pela primeira vez, as letras das músicas na contracapa, algo que passou a ser característico dos discos brasileiros a partir de então.

Veja também:

8 – Só Danço Samba

Com a gravação do seu terceiro álbum – chamado “João Gilberto” – em 1962, o artista eternizou-se de vez na música popular brasileira, tendo – em tão pouco tempo – influenciando tanto. 

Neste mesmo ano de 1962, João fez o histórico show “O Encontro”, ao lado de Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Os Cariocas, Milton Banana e Otávio Bailly. Foi a única vez em que Vinicius, João e Tom se apresentaram no mesmo palco e trouxe a público sucessos – ainda inéditos – da bossa nova. Entre eles, duas músicas muito importantes na voz de João Gilberto: uma delas foi “Só Danço o Samba”, composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

9 – Garota de Ipanema ou The Girl From Ipanema

A outra canção, também sucesso desse último disco e também composição de Tom e Vinicius, foi a antológicaGarota de Ipanema”.

Os discos de João Gilberto chegaram aos EUA e os artistas do jazz ficaram impactados com a forma dele fazer música, considerando-o um fenômeno. João começou então a fazer apresentações no exterior, sendo muito aclamado pelo público, pela crítica e pelos músicos internacionais. 

Em 1962 fez uma apresentação histórica, ao lado de Tom Jobim, Sérgio Mendese outros artistas brasileiros, no Carnegie Hall, em Nova York. Em 1963, o baiano passou a viver em Nova York e a difundir cada vez mais a música brasileira mundo afora.

Em 1964, ele lançou o histórico disco “Getz/Gilberto”, com o saxofonista de jazz norte-americano Stan Getz, que ganhou quatro Grammy Awards: Melhor Álbum do Ano, Melhor Gravação do Ano (Astrud Gilberto e Stan Getz, em “The Girl From Ipanema”), Melhor Solista de Jazz (Getz) e Melhor Engenheiro de Som (Phil Ramone). Tom Jobim também participou da gravação do disco, que trazia clássicos da bossa nova.

O álbum consagrou também a esposa de João na época, Astrud Gilberto, como uma das cantoras mais importantes da música brasileira e única mulher do país a disputar as principais categorias da principal premiação da indústria da música mundial, com a interpretação da canção “Garota de Ipanema”, em inglês, que depois tornou-se a música brasileira mais conhecida e regravada no mundo.

Gerações de jazzistas – como Miles Davis, Stan Getz, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Dizzy Gillespie, Tony Bennett – foram e ainda são influenciadas por este disco, um clássico mundial da história da música.

10 – Wave

Ainda na década de 60, João fez passagens pelo Brasil, sendo classificado já como um astro internacional.

Em 1965, casou-se com a também cantora e compositora, Miúcha, irmã de Chico Buarque, com quem ficou por seis anos. Em 1966, em Nova York, nascia a filha do casal, Bebel Gilberto, hoje também cantora e compositora, conhecida nacional e internacionalmente. 

Nos anos que se seguiram, João Gilberto fez apresentações pelo mundo, morou no México por um tempo, fez uma passagem pelo Brasil – onde gravou um especial com Gal e Caetano – retornou à Nova York, continuou se apresentando e gravando novos discos com Stan Getz e gravou um álbum apenas com voz, ele ao violão, e uma leve bateria, que trazia canções dele, de Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Ary Barroso.

Em 1977, lançou o elogiado disco Amoroso e foi indicado ao Grammy na categoria Melhor Performance Vocal de Jazz.

É deste disco a décima canção da nossa lista: “Wave”, composição de Tom Jobim que fez imenso sucesso na voz de João Gilberto.

Na década de 80 João Gilberto voltou a viver no Brasil e fez shows dentro e fora do país.

Lançou mais quatro discos:

  • Brasil (1981), junto com Caetano Veloso e Gilberto Gil e com participação de Maria Bethânia;
  • João (1991) ;
  • Eu Sei que Vou te Amar (1994);
  • João Voz e Violão (2000), que rendeu seu segundo Grammy Awards, na categoria Melhor Álbum de World Music.

Perfeccionista ao extremo, João costumava interromper as apresentações se a plateia fizesse barulho ou mandar desligar o ar-condicionado para não desafinar seu violão. Também era muito exigente com a parte técnica de seus shows. 

Certa vez, declarou ao New York Times que, quando cantava, pensava em um espaço claro e aberto, onde se colocam os sons, como se fosse desenhar num papel em branco. E que, para isso, era necessário o mais completo silêncio.

Em 2003, pela primeira vez, o artista fez shows no Japão, e conquistou o país asiático, provocando um boom de bossa nova por ali. Em 2005, recebeu a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura.

João Gilberto passou os últimos anos de sua vida mais recluso e morreu em 6 de julho de 2019, aos 88, em sua casa no Rio de Janeiro.

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Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

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