História da música ‘Aquele Abraço’, no aniversário de Gilberto Gil
História da música ‘Aquele Abraço’, no aniversário de Gilberto Gil
Cantor, compositor, exímio multi-instrumentista, produtor musical e imortal da Academia Brasileira de Letras completou 82 anos
Você conhece a história da música Aquele Abraço, de Gilberto Gil?
Hoje, é dia de comemorar o aniversário de um dos maiores artistas da nossa história, da nossa música, da nossa cultura!
O cantor, compositor, exímio multi-instrumentista, produtor musical e imortal da Academia Brasileira de Letras, Gilberto Gil, completa 82 anos neste 26 de junho, e nós celebramos, – todos os dias – o privilégio que é viver no mesmo tempo de Gil.
Sobre Gilberto Gil
Patrimônio vivo cultural do Brasil, sua contribuição para a música e a cultura brasileira é histórica e imensurável.
A rica produção fonográfica do baiano, em plena atividade até os dias de hoje, soma – ao todo – mais de 70 álbuns e em torno de quatro milhões de cópias vendidas.
Conhecido mundialmente, Gilberto Gil já venceu oito Grammys, entre Estadunidenses (2) e Latinos (6), e já realizou turnês pelas Américas, Ásia, África e Oceania.
Versátil, bebe de várias fontes. Sua música tem influências de gêneros tradicionalmente brasileiros como o samba, o baião e o forró e também do rock, da música africana, do reggae, do funk, do jazz, entre outros.
Sua musicalidade, desde sempre, tomou formas rítmicas e melódicas muito pessoais e Gil sempre cantou sobre o regionalismo, as histórias e a realidade do nosso país e do povo brasileiro.
Difícil não encontrar um grande nome da música popular brasileira que não tenha gravado uma música de Gilberto Gil. Ele é uma referência tanto para os que começaram junto com ele, como para os que vieram depois e também para os que continuam a surgir no cenário nacional a cada dia.
Para você – que quer saber tudo sobre esses 82 anos de vida e mais de 60 anos de carreira de Gil – nós temos o Acervo MPB Gilberto Gil, uma áudio-biografia exclusiva da Novabrasil, que narra detalhes sobre a vida e a obra desse gigante da nossa história. Vale a pena conferir!
Mas, hoje, nós – para homenagear esse aniversariante tão especial – escolhemos contar a história por trás de um de seus maiores clássicos: a canção Aquele Abraço, de 1972.
História da canção Aquele Abraço, de Gilberto Gil
Em 1967, Gilberto Gil iniciou – junto com outros grandes nomes da música popular brasileira como Caetano Veloso, Gal Costa, Torquato Neto, Rogério Duprat, Capinam, Tom Zé, e Os Mutantes – o Movimento Tropicalista: movimento de contracultura, que transcendia tudo o que já havia em termos de produção artística no Brasil.
A Tropicália – tendo Gil e Caetano como seus líderes – contemplava e internacionalizava a música, o cinema, as artes plásticas, o teatro e toda a arte brasileira.
O movimento surgiu sob a influência das correntes artísticas da vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira, como o rock e o concretismo, misturando manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais, para criar algo inovador, que interviesse na cena de indústria cultural e de cultura de massas da época.
E que representasse uma mudança de parâmetros, que atendesse também aos anseios da juventude da época.
Mas, no fim do ano seguinte, em tempos duros de repressão – no auge da Ditadura Militar e com a recente instauração do Ato Institucional nº 5 – com o cerceamento das liberdades democráticas, de expressão e das criações libertárias, o Movimento Tropicalista sofreu forte censura e perseguição.
Em novembro de 1968, após um jornalista noticiar que os artistas teriam desrespeitado o hino nacional durante um show na Boate Sucata, no Rio de Janeiro, Gilberto Gil e Caetano Veloso – a essa altura já grandes ídolos de uma geração e alvos diretos da censura e dos militares – foram presos em São Paulo, e levados para o quartel do Exército de Marechal Deodoro, no Rio de Janeiro.
Os dois só foram soltos na Quarta-Feira de Cinzas de 1969, quando seguiram para Salvador, onde ficaram submetidos a um regime de confinamento até saírem do país, sendo forçados a exilarem-se em Londres, na Inglaterra.
Antes de partirem para o exílio, Gil e Caetano ainda fizeram – em junho de 1969 – um show de despedida no Teatro Castro Alves, em Salvador, que depois virou o álbum Barra 69 (lançado só depois que os baianos voltaram ao Brasil, em 1972).
Entre as músicas do show, estava Aquele Abraço, canção que Gil compôs quando estava na prisão, como um hino de despedida do Brasil.
Antes de ir pra Londres, Gil ainda lançou – em 1969 – o terceiro álbum da sua carreira, que leva seu nome e que conta com a primeira gravação de Aquele Abraço que entraria oficialmente para um disco.
Em seu site oficial, o baiano conta o que o levou a compor Aquele Abraço, um dos maiores clássicos de toda a sua carreira, quando foi preso pela Ditadura Militar e obrigada a se exilar em Londres:
“‘Aquele abraço, Gil!’ – Era assim que os soldados me saudavam no quartel, com a expressão usada no programa do Lilico, humorista em voga na época, que tinha esse bordão. Ele até ficou aborrecido com a música; achou que deveria ter direito à canção. Mas eu aprendi a saudação com os soldados. Eu não tinha televisão na prisão, evidentemente, mas eles assistiam o programa; eu só vim a ver depois, quando saí.”
Não foi no quartel de Realengo que Gil e Caetano ficaram presos, e sim no de Marechal Deodoro, mas – de todo modo – como diz Gil:
“A ideia em Aquele Abraço era citar um local qualquer da zona norte do Rio (onde ficamos), um daqueles beira-estrada-de-ferro (Beira Central, Beira Leopoldina), e Realengo é um deles. Uma associação inexata, feita por aproximação; eu nem queria me referir ao lugar certo onde havia ficado preso.”
E continua:
“O reencontrar a cidade do Rio na manhã em que nós saímos da prisão e revimos a avenida Getúlio Vargas ainda com a decoração de carnaval foi o pano de fundo da canção. Na minha cabeça, Aquele Abraço se passa numa quarta-feira de cinzas; é quando o ‘filme’ da música é em mim mentalmente locado.”
Meses depois de solto, eu vim ao Rio tratar da questão da saída do Brasil com o Exército. Na manhã do dia da minha volta para Salvador, fui visitar Mariah Costa, mãe de Gal; ali, na casa dela, eu ideei e comecei Aquele Abraço.
Finalmente eu ia poder ir embora do país e tinha que dizer ‘bye bye’; sumarizar o episódio todo que estava vivendo, e o que ele representava, numa catarse. Que outra coisa para um compositor fazer uma catarse senão numa canção?
No avião mesmo eu terminei a música, escrevendo a letra num papel qualquer, um guardanapo, e mentalizando a melodia. Tanto que é uma melodia muito simples, quase de blues; como eu não dispunha de instrumento, tive que recorrer a uma estrutura fácil para guardar na memória.
Quando cheguei à Bahia, eu só peguei o violão e toquei; já estava comprometido afetivamente com a canção.”
Aquele Abraço é uma das músicas mais populares de Gilberto Gil, a mais tocada e o segundo mais vendido dos seus discos compactos. Também é uma das três gravações de Gil que ficaram em primeiro lugar nas paradas de sucesso durante maior tempo: por dois meses; quando ele já estava na Europa.
Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Gilberto Gil!
por Lívia Nolla