Ouça ao vivo
No ar agora

10 grandes composições de Ary Barroso no dia do seu aniversário

Lívia Nolla
08:00 07.11.2024
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Música

10 grandes composições de Ary Barroso no dia do seu aniversário

Hoje, dia 07 de novembro, seria aniversário de um dos maiores nomes da história da nossa música popular brasileira; confira especial do site da Novabrasil

Lívia Nolla - 07.11.2024 - 08:00
10 grandes composições de Ary Barroso no dia do seu aniversário
O compositor e músico Ary Barroso | Imagem: Reprodução

Hoje, dia 07 de novembro, seria aniversário de um dos maiores nomes da história da nossa música popular brasileira: o compositor, pianista, locutor e apresentador mineiro Ary Barroso.

Quem foi Ary Barroso?

É impossível falar de música brasileira e não falar de Ary Barroso!

Autor recorrente no repertório de artistas como Carmen Miranda e Francisco Alves, o compositor deixou uma obra que atravessou o tempo e as fronteiras do Brasil, e – até hoje – é interpretado por grandes nomes da música nacional e internacional.

Nascido em Minas Gerais, em 7 de novembro de 1903 – há exatos 121 anos – Ary Barroso começou a estudar piano ainda criança e, aos 12 anos, já trabalhava como pianista auxiliar no Cinema Ideal, em Ubá, sua cidade natal. Aos 15, compôs sua primeira canção: o cateretê De Longe.

Na juventude, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar Direito e a faculdade foi muito importante na consolidação da sua veia artística. Na cidade carioca, trabalhou como pianista no Cinema Íris e na sala de espera do Teatro Carlos Gomes

Passou a tocar em diversas orquestras e a dedicar-se mais seriamente à composição, fazendo parcerias com Lamartine Babo, seu contemporâneo na Faculdade de Direito, que veio a tornar-se outro importante nome da nossa música.

Em 1929, depois de formados, seu colega de faculdade e grande incentivador – o cantor e compositor da Era do Rádio, Mário Reis – gravou duas canções de Ary Barroso: Vou à Penha e Vamos Deixar de Intimidade, que se tornou o seu primeiro sucesso popular. 

Nos anos 1930, Ary escreveu as primeiras composições para o teatro musicado carioca. Foi aí que surgiu a antológica canção Aquarela do Brasil.

O compositor e músico Ary Barroso | Imagem: Reprodução

Em 1944, recebeu o diploma da Academia de Ciências e Arte Cinematográfica de Hollywood pela trilha sonora do longa-metragem Você já foi à Bahia?, também de Walt Disney.

No mesmo ano, foi indicado ao Oscar de Melhor Canção Original, com a música Rio de Janeiro, do filme Brasil, produção americana dirigida por Joseph Santley.

A partir de 1943, manteve durante vários anos o programa A Hora do Calouro, na Rádio Cruzeiro do Sul, do Rio de Janeiro, no qual revelou e incentivou novos talentos musicais. Também trabalhou como locutor esportivo.

Durante a década de 1940 e a década de 1950, Ary Barroso compôs vários dos sucessos consagrados por Carmen Miranda no cinema. Foi o compositor mais gravado pela artista de prestígio internacional, com mais de 30 músicas. 

Ao todo, são conhecidas mais de 260 composições de autoria de Ary Barroso. Ele é autor de centenas de composições em estilos variados, como choro, xote, marcha, foxtrote e samba. 

Ary Barroso nos deixouem 1964, aos 60 anos, vítima de uma cirrose hepática, mas não sem antes deixar um imensurável legado para a música popular brasileira.

Trouxemos hoje uma lista com 10 das suas composições mais famosas:

1 – Aquarela do Brasil – Ary Barroso (1939)

Brasil, meu Brasil brasileiro

Meu mulato inzoneiro

Vou cantar-te nos meus versos”

A ideia de Ary Barroso com Aquarela do Brasil era criar um samba que demonstrasse seu amor pela cultura brasileira, exaltando e valorizando – principalmente – o povo negro e as belezas naturais do nosso país. 

O compositor contava que a música surgiu quase como obra do destino: em uma determinada noite, ele não conseguiu sair para trabalhar devido a uma forte tempestade. Obrigado a ficar em casa, sentou-se ao piano, na companhia de sua esposa e de seu cunhado, e compôs a canção de uma só vez. 

“Senti, então, iluminar-me uma ideia: a de libertar o samba das tragédias da vida, do sensualismo das paixões incompreendidas, do cenário sensual já tão explorado. Fui sentindo toda a grandeza, o valor, a opulência da nossa terra, gigante pela própria natureza.”, explicava. 

E, assim, nasceu a canção que é considerada por muita gente como o segundo hino nacional do Brasil.

Responsável por inaugurar o gênero “samba-exaltação”, Aquarela do Brasil teve a primeira audição na voz da famosa cantora de samba-canção, Aracy Cortes. Em 1939, foi gravada em disco, pelo também muito famoso cantor Francisco Alves. 

Este movimento do “samba-exaltação”, por ser de natureza ufanista, era visto por vários como sendo favorável à ditadura de Getúlio Vargas, vigente na época, o que gerou críticas a Barroso e à sua obra. 

No entanto, a família do compositor nega que ele algum dia tenha sido favorável à política de Vargas, destacando o fato de que ele também escreveu Salada Mista (gravada em outubro de 1938 por Carmen Miranda), uma canção contrária ao nazi-fascismo do qual Vargas era simpatizante. 

Vale lembrar também que – antes de seu lançamento – o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) vetou o verso “terra do samba e do pandeiro”, por entender que era “depreciativo” para o Brasil. Ary Barroso teve de ir ao DIP para convencer os censores da preservação do verso. 

Muitos dizem que – inclusive – o verso “Brasil, pra mim…” exprime o quanto aquele que ele canta, era o Brasil onde Ary Barroso gostaria de viver, em contraste com o país onde realmente estava vivendo, nos anos opressores do governo de Getúlio Vargas.

Por conta dos termos pouco usuais no cotidiano usados por Ary Barroso – como “inzoneiro”, “merencória” e “trigueiro”, e da redundância nos versos “meu Brasil brasileiro” e “esse coqueiro que dá coco” – o sucesso de Aquarela do Brasil demorou a se perpetuar. 

Em 1940, a canção não conseguiu ficar entre as três primeiras colocadas no concurso de sambas carnavalescos, cujo júri era presidido por Heitor Villa-Lobos. Na época, Ary Barroso se defendeu, dizendo que estas expressões são efeitos poéticos indissolúveis da composição.

O sucesso só veio mesmo, após inclusão da música na trilha sonora do desenho Alô, Amigos, da Disney, em 1942, abrindo as portas dos Estados Unidos para Ary Barroso e transformando sua canção em sucesso internacional. 

Na animação, o Pato Donald faz uma viagem pela América Latina e acaba passando pelo Brasil, onde é recebido pelo Zé Carioca com muita cachaça e ao som de Aquarela do Brasil. 

A canção fez imenso sucesso lá fora, sendo a primeira música brasileira a atingir mais de um milhão de execuções nas rádios dos Estados Unidos. A versão em inglês, Brazil (com letra de Bob Russell), já foi gravada por nomes como Frank Sinatra, Bing Crosby e Paul Anka

Aquarela do Brasil tornou-se uma das mais populares músicas brasileiras de todos os tempos, regravada depois por diversos grandes nomes da MPB, como: Carmen Miranda, João Gilberto, Tom Jobim, Caetano Veloso, Tim Maia, Gal Costa, Erasmo Carlos e Elis Regina. 

É a segunda canção brasileira mais regravada de todos os tempos, com centenas de gravações mundo afora, ficando atrás somente de Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, lançada em 1962.

2 – No Rancho Fundo (parceria com Lamartine Babo, de 1931)

No Rancho Fundo é um samba-canção resultado da parceria de Ary Barroso com Lamartine Babo, muito embora a melodia seja uma composição anterior do próprio Ary, que recebeu então letra de J. Carlos e que foi intitulada Na Grota Funda. 

Impressionado com a música, Lamartine Babo escreveu novos versos e a batizou de No Rancho Fundo, apresentando-a com o Bando de Tangarás no dia seguinte, na Rádio Educadora, sem pedir licença ao autor.

O conteúdo dessa versão é um relato melancólico e super sensível de um camponês que vive no alto de uma montanha, bem longe da civilização.

Após várias versões gravadas ao longo dos anos, como as de Silvio Caldas, Miltinho, Isaurinha Garcia, Elizeth Cardoso e João Donato, a canção conseguiu sua mais popular versão em 1989, quando a dupla Chitãozinho & Xororó gravou em seu LP Os Meninos do Brasil, entrando na trilha sonora nacional da telenovela Tieta, e tornando-se uma das canções mais importantes da música popular brasileira.

3 –  No Tabuleiro da Baiana (1936)

Primeiro grande sucesso de Ary Barroso, No Tabuleiro da Baiana foi composta em 1936, e lançada por Carmen Miranda e Luís Barbosa no mesmo ano.

O compositor faz uma homenagem a uma das principais figuras típicas de Salvador: a baiana do acarajé, quituteira negra que, vendendo seus produtos nas ruas da capital da Bahia, ganha assim o seu sustento, ao tempo em que mantém vivas as tradições culinárias de origem africana.

A letra refere-se aos quitutes comuns no tabuleiro da baiana: vatapá, caruru e mungunzá, para relatar também os encantos e a beleza da baiana.

A canção foi regravada por nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e João Gilberto.

4 – Quando Eu Penso na Bahia (1937)

Canção lançada por Carmen Miranda e Silvio Caldas em 1937 e depois regravada por nomes como: Elizeth Cardoso, Emilinha Borba, Caetano Veloso, Chico Buarque e Maria Bethânia.

5 – Na Baixa do Sapateiro (1938)

Na Baixa do Sapateiro é um samba composto por Ary Barroso e gravado por Carmen Miranda, em 1938.

A canção inicialmente era para ter sido incorporada na trilha sonora do filme Banana da Terra, com Carmen Miranda, mas Barroso e o diretor do filme, Wallace Downey, não foram capazes de chegar a um acordo. 

Em vez disso, acabou sendo substituída por O Que É que a Baiana Tem?, de Dorival Caymmi, quetornou-se a inspiração para o figurino exagerado de “baiana”, usado por Carmen

Uma versão em inglês de Na Baixa do Sapateiro foi incorporada ao filme Você Já Foi à Bahia?, produzido pela Disney em 1944, e se tornou tão popular que um milhão de cópias de partituras foram impressas nos Estados Unidos, só em 1945.

Depois, a canção foi gravada por diversos artistas, dentre eles Dorival Caymmi, Wilson Simona, João Gilberto e Caetano Veloso.

6 – Boneca de Pixe (parceria com Luis Iglesias, de 1938)

Boneca de piche é uma composição de Ary Barroso e Luis Iglesias, de 1938, que alcançou grande sucesso na era do rádio, com Carmem Miranda e Almirante.

A música foi cantada em português, pelos estadunidenses Esther Williams e Van Johnson, acompanhados pela organista Ethel Smith, no filme da MGM Easy to Wed (Quem Manda É o Amor), uma comédia musical, de 1946.

7 – Camisa Amarela (1939)

A música Camisa Amarela, de Ary Barroso, foi lançada por Aracy de Almeida, em 1939, e depois regravada por nomes como Nara Leão, Isaura Garcia, Gal Costa e Adriana Calcanhotto.

Trata-se uma crônica bem-humorada e irônica sobre as peripécias de um folião durante o Carnaval. A letra narra a história de um homem que encontra seu parceiro, ou ‘pedaço’, completamente embriagado e desorientado na avenida, vestido com uma camisa amarela. 

A narrativa se desenrola com o protagonista tentando levar seu companheiro de volta para casa, mas sendo recebido com um sorriso irônico e vendo-o desaparecer na multidão carnavalesca. 

No final, o ‘pedaço’ volta para casa na quarta-feira de cinzas, ainda zonzo e pedindo um copo d’água com bicarbonato, um remédio caseiro para a ressaca. Mesmo após uma semana de recuperação e um humor azedo, o amor e a fascinação da narradora pelo seu companheiro permanecem intactos. 

A queima da camisa amarela simboliza o fim do Carnaval e o retorno à normalidade, mas também a paixão e a intensidade do relacionamento.

8 – Os Quindins de Iaiá (1941)

Os Quindins de Iaiá é uma composição de 1941, que ganhou fama internacional quando foi cantada por Aurora Miranda no filme da Disney Os Três Caballeros. 

No filmem os personagens Pato Donald e Zé Carioca viajam para a Bahia, onde eles vêem uma mulher (Aurora Miranda) carregando uma cesta cheia de quindins que ela está tentando vender, enquanto canta a canção.

Quindim é uma sobremesa popular brasileira que é tipicamente amarelo e contém açúcar gema de ovo, coco ralado.

A canção foi gravada por uma variedade de artistas, incluindo Ciro Monteiro & Orquestra, César de Alencar & Emilinha Borba e Silvio Caldas.

9 – Pra Machucar Meu Coração (1943)

Samba-canção arrebatador, gravado por nomes como Noite Ilustrada, João Gilberto, Elza Soares, Elis Regina e Alcione.

10 – Risque (1952)

Mais um sucesso de Ary Barroso lançado por Aurora Miranda, desta vez em 1943, Risque foi regravada por nos como: Orlando Silva, Silvio Caldas, Elizeth Cardoso e Jamelão.

por Lívia Nolla

Siga a Nova Brasil nas redes

Google News

Tags relacionadas

Aquarela do Brasil Ary Barroso brasil brasilidade cultura MPB música Música Brasileira música popular brasileira
< Notícia Anterior

Prêmio Potências: Uma noite de homenagens e reconhecimento à excelência preta

06.11.2024 18:46
Prêmio Potências: Uma noite de homenagens e reconhecimento à excelência preta
Próxima Notícia >

Com Trump, "políticas serão mais restritivas aos imigrantes", afirma especialista

07.11.2024 09:36
Com Trump, "políticas serão mais restritivas aos imigrantes", afirma especialista
colunista

Lívia Nolla

Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

Suas redes

© 2024 - novabrasil - Todos os direitos reservados
Com inteligência e tecnologia: PYXYS - Reinventing Media Business