A importância de Edu Lobo para a Música Popular Brasileira
A importância de Edu Lobo para a Música Popular Brasileira
Preparamos uma matéria especial para ressaltar a contribuição do artista que completa 81 anos de vida; confira
O cantor, compositor, arranjador e multi-instrumentista carioca Edu Lobo é uma dos patrimônios vivos da música popular brasileira.
Preparamos uma matéria especial, para ressaltar a contribuição do artista – que tem mais de 60 anos de carreira e completa 81 anos de vida nesta semana, dia 29 de agosto – para a história da MPB.
Início da carreira
Edu Lobo iniciou sua carreira nos anos 1960, fortemente influenciado pela Bossa Nova. Em 1962, gravou seu primeiro disco, um compacto duplo contendo as canções Balancinho, Sofri, Amor e Amor de Ilusão, todas de sua autoria.
O texto de contracapa foi assinado por Vinicius de Moraes, com quem Edu compôs – nesse mesmo ano – a canção Só Me Fez Bem, lançada por Wanda Sá (com quem Edu Lobo foi casado por mais de 10 anos e com quem teve três filhos), em 1964, em seu disco Wanda Vagamente, consolidando o nome de Edu Lobo entre os novos compositores do que foi chamada de segunda geração da Bossa Nova, ou do pós-Bossa Nova.
Música com temática político-social
Em seguida, o artista passou a trabalhar também uma temática mais político-social, refletindo os anseios da geração reprimida pela ditadura militar, e sob a influência de nomes como Sérgio Ricardo, João do Vale, Carlos Lyra e Ruy Guerra, com quem Edu compôs clássicos como Canção da Terra, Reza e Aleluia, todas lançada no seu primeiro álbum de estúdio, A Música de Edu Lobo por Edu Lobo, com produção de Aloysio de Oliveira e gravado em 1964, mas só lançado em 1965.
O atraso no lançamento do disco se deu para que as canções Aleluia e Arrastão pudessem antes participar como inéditas do histórico I Festival Nacional de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, em 1965. Arrastão – clássico composto em parceria com Vinicius de Moraes e defendido por Elis Regina – levou o primeiro lugar e projetou nacionalmente o compositor e sua intérprete. A canção Aleluia também foi finalista.
Antes disso, Edu Lobo passou a compor também trilhas sonoras para peças de teatro, com sucesso. Em 1963, compôs a trilha de Os Azeredos e os Benevides, de Oduvaldo Vianna Filho, com destaque para a canção Chegança (parceria com Oduvaldo), e – no ano seguinte – sua música Borandá, foi incluída no espetáculo Opinião, de Augusto Boal (aquele que projetou Maria Bethânia nacionalmente, ao lado de João do Vale e Zé Keti).
Ainda em 1964, Edu compôs a trilha sonora de Arena conta Zumbi, peça teatral de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, realizada a partir de sua canção Zambi (parceria com Vinicius de Moraes). Todas essas canções estão no primeiro álbum de Edu Lobo. E a música Upa Neguinho, também composta para este espetáculo (em parceria com Guarnieri, alcançou grande sucesso em 1966, na interpretação de Elis Regina.
Sucessos atrás de sucessos
Nos anos que se seguiram, Edu Lobo participou de diversos festivais, gravou discos ao vivo acompanhado de outros grandes nomes como Nara Leão, Sylvinha Telles, Tamba Trio e Quinteto Villa-Lobos, participou de programas semanais na TV Record e teve sua carreira projetada também internacionalmente.
Em 1967, o artista venceu o III Festival Nacional de Música Popular Brasileira da TV Record, desta vez interpretando sua composição Ponteio (parceria com Capinan), acompanhado da cantora Marília Medalha, do grupo vocal Momento Quatro e do Quarteto Novo (formado por Hermeto Pascoal, Theo de Barros, Airto Moreira e Heraldo do Monte).
Ainda nesse ano, lançou o LP Edu – que traz sucessos como Rosinha (parceria com Capinan), Canto Triste (com Vinicius) e Jogo de Roda (com Ruy Guerra) – além de um disco em parceria com Maria Bethânia, que conta com clássicos como Lua Nova (parceria com Torquato Neto) e O Tempo e o Rio (com Capinan).
Nos próximos anos, Edu Lobo continuou participando de festivais, lançando novos discos e compondo para o teatro, até mudar-se – em 1969 – para os Estados Unidos, onde viveu por dois anos, estudando, se aprimorando e atuando em gravações no país.
Um artista multifacetado
Quando voltou para o Brasil, compôs mais trilhas para teatro, atuou como arranjador em discos de outros artistas, até ser responsável – em 1973 – pela orquestração das músicas de Calabar ou O Elogio da Traição, famosa peça teatral de Chico Buarque e Ruy Guerra, cuja estreia foi barrada pela Censura Federal, ainda em tempos duros de repressão por conta da ditadura militar. A peça só pôde ser exibida seis anos depois.
Edu Lobo seguiu lançando discos solo e em parceria (como o icônico Edu & Tom – Tom & Edu, com Tom Jobim, em 1981), fazendo turnês nacionais e internacionais, e compondo trilhas para a TV, cinema e para espetáculos teatrais, como o antológico O Grande Circo Místico, de 1983, em parceria com Chico Buarque, que mesclava música, balé, ópera, circo, teatro e poesia, e trouxe sucessos como Beatriz (interpretada por Milton Nascimento), A História de Lily Braun (interpretada por Gal Costa), A Bela e a Fera (interpretada por Tim Maia) e A Ciranda da Bailarina.
Em 1990, Edu Lobo compôs a trilha sonora do clássico programa infantil Rá-tim-bum, realizado pela TV Cultura. Em 1994, foi contemplado com o Prêmio Shell de Melhor Compositor de Música Brasileira, pelo conjunto de sua obra.
Em 2001, compôs – com Chico Buarque – as músicas para o espetáculo Cambaio, escrito por Adriana Falcão e dirigido por João Falcão. O disco do espetáculo recebeu o Grammy Latino de Melhor Álbum de MPB de 2002.
E ele não pára!
Em 2017, seu álbum Dos Navegantes, em parceria com Romero Lubambo e Mauro Senise, também venceu o Grammy Latino de Melhor Álbum de MPB.
Seu último trabalho lançado foi o disco duplo Edu Lobo Oitenta, quando completou 80 anos, em 2023. No álbum, Edu Lobo convida artistas de diversas gerações – Ayrton Montarroyos, Mônica Salmaso, Vanessa Moreno e Zé Renato – para dividir os vocais com ele, em canções que passam por toda a sua trajetória artística.
Antes disso, Edu lançou o álbum Quase Memória, de 2019, também em parceria com Romero Lubambo e Mauro Senise, que traz diversas parcerias com o letrista e poeta Cacaso, com quem compõe desde meados da década de 70.
Alguns outros grandes sucessos compostos por Edu Lobo são: Canção do Amanhecer (parceria com Vinicius de Moraes); Candeias (lançada por Caetano e Gal no disco de estreia dos dois baianos, Domingo); Choro Bandido e Valsa Brasileira (parcerias com Chico Buarque); Corrida de Jangada (parceria com Capinan); Pra Dizer Adeus (parceria com Torquato Neto); e Casa Forte.
Viva a vida e a obra de Edu Lobo!
por Lívia Nolla