05 curiosidades sobre a música “Carinhoso”, de Pixinguinha

Lívia Nolla
16:52 04.05.2025
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Curiosidades

05 curiosidades sobre a música “Carinhoso”, de Pixinguinha

Um dos maiores clássicos de Pixinguinha e da canção popular brasileira, a música “Carinhoso” não foi um sucesso imediato. Venha saber essa história!

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- 04.05.2025 - 16:52
05 curiosidades sobre a música “Carinhoso”, de Pixinguinha
Pixinguinha tocando Saxofone, 1940 Pixinguinha Acervo Pixinguinha / Instituto Moreira Salles

Hoje é aniversário do mestre Pixinguinha e – para comemorar – trouxemos uma lista com 5 curiosidades sobre um de seus maiores clássicos: a música “Carinhoso”.

Sobre Pixinguinha

Maestro, compositor, flautista, saxofonista e arranjador, Pixinguinha é um dos artistas mais importantes da história do Brasil.

Nascido Alfredo da Rocha Vianna Filho, no Rio de Janeiro, em 04 de maio de 1897, Pixinguinha era filho de um flautista amador, que fez parte de um grupo de músicos que sistematizou e divulgou a linguagem do Choro na virada do século XIX para o XX e tinha uma grande coleção de partituras de choro antigas, incluindo originais de Joaquim Antônio Callado, considerado o “patrono dos chorões”.

Seu pai organizava frequentes reuniões musicais em sua casa e Pixinguinha foi iniciado no cavaquinho pelos irmãos mais velhos e tinha uma flauta rudimentar de lata com a qual tirava músicas de ouvido. 

Talento precoce, com 11 anos já acompanhava o pai e começava a compor, quando se tornou aluno de Irineu de Almeida, com quem desenvolveu as habilidades de leitura e escrita de partituras e se aperfeiçoou na flauta.

Herdeiro de toda essa tradição musical, Pixinguinha consolidou o Choro como gênero musical, levando o virtuosismo na flauta e aperfeiçoando a linguagem do contraponto com seu saxofone. 

Mais tarde, ele organizou inúmeros grupos musicais – como o Caxangá, com Donga e João Pernambuco, e os Oito Batutas – tornando-se o maior compositor de Choro do Brasil.

Ele foi tão importante para a criação do Choro no Brasil, que – em setembro de 2000 – estabeleceu-se o dia 23 de abril (data em que antes acreditavam ser seu aniversário) – como sendo o Dia Nacional do Choro. 

A data foi instituída por meio deuma lei originada por iniciativa do bandolinista e compositor Hamilton de Holanda e seus alunos da Escola de Choro Raphael Rabello.

Tempos depois, em 2016, descobriu-se que a verdadeira data de nascimento de Pixinguinha é 04 de maio, mas o Dia Nacional do Choro manteve-se sendo comemorado em 23 de abril.

O Choro pode ser considerado como a primeira música urbana tipicamente brasileira. Tem como origens estilísticas o lundu – ritmo de inspiração africana à base de percussão – e gêneros europeus. 

A composição instrumental dos primeiros grupos de Choro era baseada na trinca flauta, violão e cavaquinho, mas – com o desenvolvimento do gênero – outros instrumentos de corda e sopro foram incorporados.

05 curiosidades sobre a música Carinhoso

Carinhoso” é considerada uma das músicas mais importantes da música popular brasileira de todos os tempos e um dos choros mais famosos de Pixinguinha.

Mas nem sempre foi assim, acredita? Hoje, vamos saber 05 curiosidades sobre esta obra prima.

1 – Carinhoso teve uma primeira versão, apenas instrumental

Antes de “Carinhoso” ser a canção que conhecemos hoje, ela era apenas instrumental, sem letra. Pixinguinha compôs sozinho uma versão instrumental da música, entre os anos de 1916 e 1917.

Essa versão  só foi gravada pela primeira vez em 1928, em um disco de 78 rotações, pela Orquestra Típica Pixinguinha-Donga, sendoo lado B do disco que, em seu lado A, traz o maxixe “Não Diga Não”, de autoria de Peri

Um ano depois, foi gravada pela Orquestra Victor Brasileira, e em 1934, pelo bandolinista Luperce Miranda.

Foi só em 1936, que Carinhoso recebeu letra de João de Barro – também conhecido como Braguinha – a pedidos de uma cantora chamada Heloisa Helena, que pretendia interpretá-la no espetáculo beneficente “Parada das Maravilhas”, promovido pela então primeira dama Darcy Vargas para arrecadar fundos para uma obra social.

Heloísa estava sem uma música inédita para apresentar no espetáculo e procurou  João de Barro, que – por sua vez – se lembrou do antigo choro de Pixinguinha e foi procurar o maestro.

Pixinguinha, então, tocou o choro repetidamente na flauta, até que fosse decorado por João de Barro, que fez a letra em seguida. O jornalista Sérgio Cabral conta que, antes da letra de João de Barro, “Carinhoso” já tinha recebido uma outra letra, do paulista Bernoit Certain, mas que Pixinguinha não tinha gostado dela. 

Esta nova versão, com letra de João de Barro, e que tornou-se a mais conhecida da canção – foi gravada em disco ainda em 1937, pelo cantor Orlando Silva

O disco trazia, no lado B, a gravação de outro grande sucesso de Pixinguinha, a valsa “Rosa” (em parceria com Otávio de Souza).

João de Barro, o Braguinha | Foto: Divulgação
João de Barro, o Braguinha, parceiro de Pixinguinha na composição da música “Carinhoso” | Foto: Divulgação

2 – “Carinhoso” sofreu críticas e não foi um sucesso imediato

Pixinguinha contou os motivos que o fizeram manter “Carinhoso” inédita por mais de dez anos, em depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 1968: 

Veja também:

Naquele tempo (1917) o pessoal nosso da música não admitia choro assim de duas partes, choro tinha que ter três partes. Então, eu fiz o Carinhoso e encostei. Tocar o Carinhoso naquele meio, eu não tocava… ninguém ia aceitar!”.

Pixinguinha, com menos de 20 anos, não se atrevia a contrariar o esquema adotado nos choros da época. Primeiro a música foi classificada como uma polca lenta, mais tarde mudou-se para chorinho.

Em 1928, na primeira gravação da música – ainda instrumental – Pixinguinha foi criticado e essas composições foram consideradas como tendo uma inaceitável influência do jazz. 

A verdade é que as canções eram verdadeiras obras-primas, desenvolvidas demais para a época.

O crítico Cruz Cordeiro – da revista Phono Arte -publicou notas reprovando “Carinhoso” e dizendo que Pixinguinha – nas suas palavras – era “um músico popular, andava sendo influenciado pelos ritmos e melodias da música de jazz”. 

O público também não deu muita bola para o lançamento de “Carinhoso”. A música não fez sucesso nem mesmo com as duas regravações que teve a seguir: pela Orquestra Victor Brasileira e pelo bandolinista Luperce Miranda.

As críticas negativas começaram a ser compensadas pouco depois, quando O Jornal publicou uma entrevista com o então jovem compositor Ary Barroso, que respondeu que seu compositor preferido era Pixinguinha, segundo ele “O homem das melodias arrebatadoras”

Depois, quando regravada com letra por Orlando Silva, em 1937, a música tornou-se o sucesso que conhecemos hoje.

3 – Regravações famosas de “Carinhoso”

Em 1950, Carinhoso recebeu uma versão em inglês, chamada “Love Is Like This”, composta pelo letrista estadunidense Ray Gilbert para o filme “Romance Carioca”. A interpretação ficou a cargo da atriz estadunidense protagonista do filme, Jane Powell

Ao longo dos anos, Carinhoso foi sendo bastante regravada, por nomes como Dalva de Oliveira, João Donato, Ângela Maria, Baden Powell, Elis Regina e os próprios compositores, atévoltar a ser um imenso sucesso em 1973, quando a regravação de Márcio Montarroyos foi escolhida como música tema da telenovela da TV Globo de mesmo nome.

Carinhoso” ganhou ainda diversas versões depois disso, como de Elizeth Cardoso, Jair Rodrigues, Tom Jobim, Toquinho, Maria Bethânia, Paulinho da Viola e Marisa Monte.

4 – Uma das músicas mais importantes da história

Em 2009, “Carinhoso” foi considerada a terceira maior música brasileira de todos os tempos, em lista elaborada pela revista Rolling Stone Brasil

A canção também ocupa a primeira colocação na seleção ”30 músicas do século XX”, realizada pela Rede Globo no ano 2000 (ficando, apenas atrás do samba-exaltação Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, que foi eleita hors-concours). 

Em 2024, segundo um levantamento do Ecad, a canção contava com 437 gravações registradas, sendo a terceira canção brasileira mais regravada no país em todos os tempos, atrás apenas de Aquarela do Brasil (de Ary Barroso) – com 442 regravações – e do primeiro lugar,  “Garota de Ipanema” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), com 453. 

Segundo a Enciclopédia Itaú Cultural, uma das qualidades da canção é a sintonia entre estrutura musical (melodia e harmonia) e narrativa poética (letra): “Os versos enunciam os sentimentos de um enamorado que, após observar sua amada de longe (‘Meu coração, não sei por quê/ Bate feliz quando te vê’), imagina como seria declarar seu amor (‘Ah se tu soubesses como sou tão carinhoso/ E o muito, muito que te quero’) e, finalmente, consumá-lo (‘Vem sentir o calor dos lábios meus/ À procura dos teus’).”.

“Esses três momentos, carga emotiva crescente, correspondem às três seções da música (e não duas, como afirmava Pixinguinha). A primeira, em Fá maior (do início até ‘foges de mim’), a segunda, em Lá menor (de ‘Ah se tu soubesses’ até ‘não fugirias mais de mim’) e a terceira, em Fá maior (de ‘Vem sentir o calor’ até o final). Musicalmente, essas seções também acumulam uma tensão progressiva, sobretudo na passagem da segunda para a terceira parte (‘Vem, vem, vem, vem’).”.

É aí que a música chega ao ápice e faz com que todos nós nos identifiquemos com aquela canção sobre um amor não correspondido que – quando correspondido – nos faz explodir de felicidade: “E só assim então, serei feliz, bem feliz!”.

Pixinguinha | Imagem: Maureen Bisilliat / Acervo IMS

5 – “Carinhoso” esteve com Pixinguinha até os últimos minutos de sua vida

Segundo consta em seu site oficial, na manhã do dia 17 de fevereiro de 1983, Pixinguinha recebeu em casa a visita do poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho, do fotógrafo Walter Firmo e do músico Eduardo Marques. Conversaram amenidades, escutaram música e, na hora da despedida, Pixinguinha chorou.

À tarde, o músico foi com seu filho Alfredinho até a Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, para batizar o filho de seu amigo Euclides Souza Lima. Como presente para o bebê, levou uma partitura manuscrita de “Carinhoso”. Porém, justamente no momento em que se preparava para assinar seu nome no livro da igreja, Pixinguinha cai em pleno altar, fulminado por um infarto. 

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colunista

Lívia Nolla

Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

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