História da música “Disparada”, no aniversário de Jair Rodrigues

Lívia Nolla
09:40 06.02.2025
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Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Curiosidades

História da música “Disparada”, no aniversário de Jair Rodrigues

Site da Novabrasil separou alguns segredos de um dos maiores sucessos na voz do aniversariante

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- 06.02.2025 - 09:40
História da música “Disparada”, no aniversário de Jair Rodrigues
Jair Rodrigues | Foto: Guilherme Lara Campos (Folhapress)

Você conhece a história da música “Disparada”, um dos maiores sucessos na voz do aniversariante do dia, Jair Rodrigues

Jairzão completaria 86 anos de vida hoje, e nós vamos homenagear um dos maiores artistas que a MPB já conheceu, trazendo a história da música “Disparada”, que foi um grande sucesso em sua voz, composta por Geraldo Vandré e Theo de Barros.

Sobre Jair Rodrigues

Nascido em Igarapava, no interior de São Paulo, Jair Rodrigues iniciou sua carreira depois de conquistar o primeiro lugar em um programa de calouros na Rádio Cultura e tornar-se crooner, cantando em casas noturnas de São Carlos, em meados da década de 50.

Seu primeiro álbum – “O Samba Como Ele É” – foi lançado no ano de 1963, trazendo a antológica canção “O Morro Não Tem Vez”, composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Cantor e intérprete talentosíssimo, dono de uma irreverência e personalidade únicas e presença de palco marcante, Jair Rodrigues é considerado o primeiro rapper brasileiro. 

Ele foi precursor do gênero ao lançar – com versos mais declamados do que cantados – a canção “Deixa Isso Pra Lá” (de Alberto Paz e Edson Meneses), no seu segundo disco, “Vou de Samba com Você”, de 1964. 

Foi com essa música – acompanhada de sua icônica coreografia com as mãos para cima e para baixo – que Jair Rodrigues atingiu sucesso nacional e tornou-se conhecido e admirado no Brasil inteiro. 

Depois do sucesso de “Deixa Isso Pra Lá”, o artista consolidou-se de vez como um dos maiores intérpretes do país, ao vencer o II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, defendendo a canção “Disparada” (de Geraldo Vandré e Théo de Barros), em uma interpretação inesquecível, ao lado do Trio Marayá e do Trio Novo

Entre os anos de 1965 e 1967, Jair Rodrigues comandou – ao lado de Elis Regina – o famoso programa musical “O Fino da Bossa”, na TV Record. Juntos, os dois artistas lançaram três LPs ao vivo: um deles, “Dois na Bossa”, foi o primeiro disco brasileiro a vender um milhão de cópias.

Jair Rodrigues e Elis Regina no programa musical “O Fino da Bossa” | Foto: Reprodução

Jairzão é pai dos também artistas Jair Oliveira e Luciana Mello, que dão continuidade ao seu legado e à bela história que o pai construiu na música popular brasileira. 

Luciana é cantora e compositora, umas das mais belas vozes do país, e Jair Oliveira (que já usou o nome Jairzinho) é cantor, compositor, instrumentista e produtor musical, inclusive já produziu diversos discos da irmã, além dos seus, e é autor de sucessos como ‘Simples Desejo”(com Daniel Carlomagno), “Bom Dia Anjo” e “Prazer e Luz” (com Max Vianna).

Jairzinho começou sua carreira na década de 80, integrando o conjunto musical infantil Balão Mágico, e Luciana – que também chegou a fazer parte da turma do Balão Mágico – começou gravando com o pai a canção “O Filho do Seu Menino” (composta por Rildo Hora), no disco Luzes do Prazer, de 1984.

Jair Rodrigues” gravou mais de 50 discos e fez turnês pelo Brasil e pelo mundo ao longo de  seus mais de 50 anos de carreira. 

Jairzão morreu em casa – aos 75 anos, em maio de 2014 – em decorrência de um infarto agudo do miocárdio, nos deixando órfãos do seu talento, simpatia e genialidade, mas deixando um legado eterno na história da música popular brasileira.

Veja também:

Jair Rodrigues entre os filhos Jair Oliveira e Luciana Mello | Foto: Reprodução

História da música Disparada”

Composta pelo paraibano Geraldo Vandré em parceria com o carioca Theo de Barros, a canção “Disparada” foi brilhantemente interpretada por Jair Rodrigues, acompanhado do Trio Maraiá e do Trio Novo, no II Festival de Música Popular Brasileira, em 1966.

O fato curioso é que o primeiro lugar no festival foi compartilhado com outra canção, “A Banda”, de Chico Buarque de Holanda, em uma verdadeira disputa acirrada, com apostas em todo o país, entre os adeptos de uma e de outra composição.

Nas folhas de votação do festival, consta que “A Banda” ganhou a competição por 7 a 5. Acontece que Chico, ao perceber que ganharia, foi até o presidente da comissão e disse não aceitar a derrota de  “Disparada” – a qual ele considerava a melhor canção do Festival e que, caso isso acontecesse, entregaria o prêmio ao concorrente. Por isso, o júri do  festival resolveu dar empate.

Em pleno auge da Ditadura Militar brasileira, os autores de “Disparada” fazem na canção de protesto, uma comparação entre a exploração das classes sociais pobres pelas mais rica – ou da população pelos seus governantes – e a exploração das boiadas pelos boiadeiros, fazendo uma relação entre gado e gente. 

O retrato de um Brasil marcado pela contracultura da juventude em meio a um contexto de contestação política, perseguições, anseios de mudança, e em um misto de medo e esperança. Denunciando explorações, torturas, assassinatos e a repressão. “Disparada” fala sobre o despertar de consciência para quem está vivendo tudo isso.

A intenção era compor uma moda-de-viola baseada no folclore da região Centro-Sul, porém nossas raízes se infiltraram no processo e resultou uma catira de chapéu de couro”, esclarece Theo de Barros na contracapa de seu primeiro LP.

A energia, alegria, simpatia e os movimentos no palco de Jair Rodrigues, quase tiraram do cantor a chance de interpretar “Disparada” no Festival. Geraldo Vandré – autor da letra – em um primeiro momento, não queria que Jair interpretasse a composição que trata de algo tão sério. “Mas o Jair vai cantar esse negócio rindo …” disse Vandré.

Jair Rodrigues não só interpretou a canção cheio de emoção e densidade, surpreendendo Vandré, como também levou o prêmio de Melhor Intérprete do Festival, e a música foi o maior sucesso de sua carreira. 

Em uma entrevista, o cantor explicou porque era o intérprete ideal para “Disparada”: “Meu pai morreu no lombo de um burro. Ele era boiadeiro, o velho Severiano Rodrigues de Oliveira. Acho que Disparada” tem muita coisa a ver com ele”.

E aí? Gostou de saber a história da música “Disparada”, composição de Theo de Barros e Geraldo Vandré, sucesso na voz de Jair Rodrigues?

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Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

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