História da clássica ‘Aquarela’, no dia do aniversário de Toquinho
História da clássica ‘Aquarela’, no dia do aniversário de Toquinho
É hoje. Toquinho completa 78 anos e a Novabrasil desvenda um dos maiores sucessos do artista paulistano; confira
Hoje é aniversário de um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos: Toquinho completa 78 anos neste 06 de julho de 2024.
Violonista dos melhores que este mundo já viu, cantor e compositor altamente sensível, Antônio Pecci Filho, o Toquinho, tem quase 60 anos anos de carreira, mais 90 discos lançados e mais de 500 composições, sendo um dos artistas mais produtivos e que mais contribuiu para a história da nossa música.
O aniversariante do dia traz em sua obra – ao mesmo tempo – simplicidade e sofisticação, e mescla influências populares e eruditas de forma brilhante.
A matéria conta também com uma playlist dos maiores clássicos de Toquinho, como Aquarela, Tarde em Itapoã, Regra Três e A Tonga da Mironga do Kabuletê (todas parcerias com Vinicius de Moraes); e Carolina, Carol Bela (Toquinho e Jorge Ben Jor).
Para celebrar esta data e homenagear Toquinho e a sua importância para a história da música brasileira, eu trago hoje a história de um de seus maiores sucessos, que é também um dos maiores clássicos da MPB de todos os tempos: a canção Aquarela.
Mas, antes disso, precisamos contextualizar dois fatos muito importantes para a história de Toquinho e de Aquarela: a amizade e parceria com o poeta Vinicius de Moraes e sua estreita relação com a Itália.
O encontro de Toquinho com a Itália e com Vinicius de Moraes
Em 1968, Toquinho foi pela primeira vez para a Europa.
Nesta época, ele já havia participado de festivais de música brasileira e lançado o seu primeiro LP: o Violão do Toquinho – em 1966 – com seus solos de violão apoiados por órgão, flauta e bateria, eque continha cinco composições do grande ídolo de Toquinho, Vinicius de Moraes, entre as 13 faixas do disco.
A ida à Italia foi para fazer os arranjos de um disco de Chico Buarque, e Toquinho logo apaixonou-se por Roma, cidade em que Chico havia se exilado, por conta dos tempos duros de perseguição aos artistas e às liberdades, em plena ditadura militar.
Em 1969, Toquinho voltou à cidade para fazer uma temporada de shows ao lado de Chico – somente os dois e seus violões – ficando lá por seis meses.
Ainda na Itália, emprestou a qualidade de seu violão para um disco em homenagem a Vinicius de Moraes: A Vida, Amigo, É A Arte do Encontro. Título sugestivo, para a arte do encontro que aproximou os dois artistas pouco tempo depois, em uma parceria que transformou para sempre a história da música brasileira e a vida do jovem Toquinho.
Ao escutar o violão de Toquinho no disco que o homenageava, Vinicius de Moraes ficou impressionado com o talento do violonista. Eles não haviam se encontrado durante as gravações na Itália e tinham se falado apenas uma vez na vida, em outra ocasião. O poeta convidou Toquinho para acompanhá-lo numa temporada de shows em Buenos Aires, na Argentina.
Logo no navio de ida, começaram a construir uma linda amizade e a parceria de uma vida toda. Toquinho mostrou uma composição sua para Vinicius, que – dois meses depois – colocou a letra, tornando-se a primeira de muitas de suas canções juntos: Como Dizia O Poeta.
Ainda em 1970, fizeram o seu primeiro show juntos, que foi um sucesso absoluto. Logo em seguida vieram as canções em parceria: À Benção, Bahia e Mais Um Adeus.
O show que fizeram em Buenos Aires – ao lado da cantora Maria Creuza – virou disco, ainda sem nenhuma composição da dupla, mas uma das mais belas joias gravadas da música brasileira.
Em 1971, lançaram o primeiro disco com suas composições em parceria, originado a partir de um show que fizeram com Marília Medalha. Neste disco, está o grande clássico Tarde em Itapoã.
Um dos maiores sucessos da música popular brasileira, Tarde em Itapoã consagrou de vez a parceria de Toquinho e Vinicius. Na composição, primeiro Vinicius escreveu a letra e, depois, Toquinho a musicou, sem mexer em uma sílaba sequer, o que o fez conquistar ainda mais – e para sempre – a confiança do poeta.
Logo, Vinicius e Toquinho passaram a dominar todos os espaços: dos circuitos universitários aos grandes teatros, das turnês nacionais e internacionais às trilhas de novelas.
Gravaram diversos discos juntos, de 1970 até o fim da vida de Vinicius. Muitas vezes acompanhados de uma figura feminina, como foi o caso de Maria Bethânia, Clara Nunes, Marília Medalha, Maria Creuza e Simone, Outras vezes, se apresentavam sozinhos, tocando e cantando suas canções.
Toquinho compôs, em homenagem ao parceiro de uma vida, a canção Samba para Vinicius, na qual Chico Buarque colocou a letra, em que sintetizava perfeitamente Vinicius de Moraes. A primeira parte toda iniciando predominantemente com a letra P, de Poeta, e a segunda parte com a letra V, de Vinicius.
Em 1979, Toquinho e Vinicius comemoraram 10 anos de parceria em um show inesquecível, que rodou o Brasil. Vinicius tinha 65 anos, Toquinho 33. Juntos, já tinham gravado mais de 20 LPs, escrito mais de 100 canções e feito mais de mil shows, com composições de sucesso, que fizeram história na música popular brasileira.
Além do show, um LP com 28 canções dos dois, celebrava os 10 anos de encontro. Foram centenas de composições juntos.
O show de encerramento da temporada de 10 Anos de Parceria também foi a última vez de Vinicius no palco. O poeta faleceu um ano depois, em julho de 1980, aos 66 anos, depois de ter passado por duas isquemias cerebrais e sofrer um edema pulmonar. Toquinho esteve presente nos últimos minutos de vida do amigo, pois estava hospedado em sua casa para uma temporada de shows com Francis Hime, no Rio de Janeiro.
Passaram as últimas horas de vida de Vinicius juntos, fazendo o que mais gostavam: tocando, cantando e proseando, planejando o próximo disco, baseado no livro de poemas infantis de Vinicius, Arca de Noé.
Toquinho segue honrando o amigo e sua obra em tudo o que faz, até os dias de hoje.
A história do sucesso Aquarela
Em 1980 e 1981, foram lançados dois discos com a obra infantil completa de Toquinho e Vinicius: Arca de Noé 1 e Arca de Noé 2, com várias participações de peso como Tom Jobim, Moraes Moreira, Milton Nascimento, As Frenéticas, MPB4, Elis Regina, Alceu Valença, Grande Otelo, Ney Matogrosso e Chico Buarque.
Os discos trazem poemas do livro homônimo, musicados por Toquinho e Vinicius, e as canções têm os nomes dos bichos da arca. Cada artista convidado interpreta um animal ou um elemento do livro. Entre as canções mais famosas: O Pato (de Toquinho, Vinicius e Paulo Soledade), A Casa (poema musicado por Vinicius) e O Filho Que Eu Quero Ter (de Toquinho e Vinicius).
A partir desses trabalhos, nota-se uma expressiva sensibilidade de Toquinho com relação ao mundo da criança. Hoje, adultos com mais de trinta anos cantam com seus filhos as canções que cantavam, ainda crianças, durante a década de 1980, quando surgiram ainda mais dois quatro trabalhos originais do artista para o público infantil.
Mas, voltando um pouco no tempo, antes desses últimos discos citados, o mundo pôde conhecer o maior sucesso da vida de Toquinho, também grande sucesso entre o público infantil: a canção Aquarela.
Durante todos os seus anos de carreira, Toquinho manteve uma relação muito estreita com o público italiano: fez diversas turnês pelo país, gravou discos inteiros em italiano e fez parcerias importantes por lá, tornando-se um artista muito conhecido.
Com o músico italiano Maurizio Frabrizio, gravou quatro discos entre 1983 e 1994. As letras em italiano, recebiam versões de Guido Morra – em sua maioria – ou Sérgio Bardotti, que também já havia trabalhado em outros discos em italiano de Toquinho, desde a época de Vinicius.
Na primeira vez que foi trabalhar com Maurizio, Toquinho pediu que ele lhe mostrasse suas composições, que mostraria as dele e assim poderiam criar juntos. Quando o italiano mostrou sua primeira canção, Toquinho percebeu que era muito parecida com a sua música com Vinicius de Moraes, Uma Rosa em Minha Mão, de 1974. Uma canção se encaixava na outra naturalmente. Juntaram as duas e depois compuseram mais oito músicas para o disco.
Maurizio voltou para a Itália para criar os arranjos e trabalhar com o letrista Guido Morra, que fez as letras de todas as canções. Quando Toquinho chegou na Itália, em 1982, para fazer a temporada de shows e gravar o disco, ele imaginava que aquela música, que compuseram primeiro, seria mais uma entre as várias canções do álbum. O que ele não esperava é que Guido tivesse colocado uma letra tão linda e impactante como Acquarello.
Sim! Aquarela, de Toquinho, Maurizio Frabrizio, Guido Morra e Vinicius de Moraes, primeiro teve sua letra em italiano! A música fez um sucesso tão estrondoso na Itália, que Toquinho tornou-se o primeiro artista brasileiro a ganhar um disco de ouro no país. Resolveu então, fazer uma tradução da letra para gravar a canção em português.
O resto da história vocês já sabem: Aquarela, lançada por Toquinho em um disco homônimo, em 1983, virou uma das canções mais importantes da música popular brasileira, conhecida por 10 em cada 10 brasileiros e entoada por todos os cantos.
A canção fez Toquinho tornar-se conhecido mundialmente e, desde então, o artista segue produzindo, compondo, gravando e apresentando um sucesso atrás do outro, sempre com maestria em tudo o que faz.
Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Toquinho!
por Lívia Nolla