O que é Literatura de Cordel e por que ela está mais viva do que nunca?

Clarissa Sayumi
13:18 06.05.2025
Arte e cultura

O que é Literatura de Cordel e por que ela está mais viva do que nunca?

Do folheto pendurado em barbante ao verso viral no Instagram e TikTok: como o cordel nordestino se reinventou na era digital sem perder suas raízes

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- 06.05.2025 - 13:18
O que é Literatura de Cordel e por que ela está mais viva do que nunca?
O que é Literatura de Cordel e por que ela está mais viva do que nunca?

Com rimas bem marcadas, xilogravuras expressivas e um olhar crítico sobre o mundo, a Literatura de Cordel atravessou o sertão, as feiras, as décadas e agora os algoritmos.

O que antes era vendido em folhetos pendurados em cordões em feiras do Nordeste — origem do nome “cordel” — hoje viraliza em reels no Instagram e vídeos de TikTok. Longe de desaparecer, o cordel ressurge com potência, atualizando sua forma sem perder sua função: contar histórias, criticar injustiças e celebrar a cultura popular.

O que é Literatura de Cordel?

A Literatura de Cordel é uma forma de poesia popular impressa em folhetos, tradicionalmente ilustrados com xilogravuras e vendidos em feiras nordestinas. Com origens que remontam à tradição oral ibérica, ganhou força no Brasil a partir do século 19. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reconheceu o Cordel como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro em 2018, o que destaca sua importância como forma de resistência, memória e identidade.

Por que a Literatura de Cordel está mais viva do que nunca na internet?

Enquanto muitos lamentam o esquecimento da tradição oral, o cordel encontrou nas redes sociais um novo palco. Autores contemporâneos vêm ganhando destaque em plataformas como Instagram, YouTube e TikTok, onde adaptam os versos para formatos curtos e visuais, mantendo o tom crítico e popular da tradição.

A pesquisa da professora Maria Alice Amorim, doutora em Letras pela USP, mostra que a cultura oral popular migra com eficácia para o meio digital, onde a performance e a sonoridade se mantêm essenciais. Cordelistas como Bráulio Bessa, Cícera Gomes e Gonçalo Ferreira da Silva têm milhões de visualizações — e levam a poesia do povo a públicos antes inacessíveis.

Cordelistas e repentistas que mantêm a chama acesa

1. Bráulio Bessa (1985)

Poeta e ativista cultural cearense, Bráulio se tornou nacionalmente conhecido ao apresentar quadros no programa “Encontro com Fátima Bernardes”. Ele leva temas como autoestima, superação e empatia para milhões de pessoas, sempre com métrica e rima típicas do cordel.

2. Gonçalo Ferreira da Silva (1937)

Presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, é um dos grandes nomes da tradição. Seus cordéis abordam desde temas clássicos nordestinos até atualidades como corrupção e pandemia.

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3. Jarid Arraes (1991)

Cearense de Juazeiro do Norte, Jarid Arraes é escritora, poeta e cordelista reconhecida nacionalmente. É autora de mais de 70 títulos em cordel, muitos voltados à valorização de figuras femininas e negras esquecidas pela história oficial. Em 2015, ganhou projeção com o projeto “Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis”, que foi posteriormente adaptado para livro pela editora Pólen.

4. Rouxinol do Rinaré (Antônio Francisco Teixeira de Melo, 1947)

Mestre da rima e da improvisação, é referência no repente e no cordel de raiz. Mesmo com mais idade, tem marcado presença em vídeos e lives, mantendo viva a oralidade nordestina.

5. Klévisson Viana (1972)

Poeta, editor e ilustrador, é um dos maiores responsáveis pela valorização do cordel como arte gráfica e literária. Fundador da Tupynanquim Editora, é autor de dezenas de folhetos e tem forte atuação na formação de novos cordelistas.

A ocupação do cordel
O que começou como arte marginalizada no interior nordestino agora conquista espaços nas redes sociais, escolas, bibliotecas e até playlists digitais. Ao ocupar novos meios, os cordelistas contemporâneos mostram que tradição e inovação não são opostos, mas aliados. Em tempos de algoritmos e telas, a voz do povo continua rimando — e resistindo — com ainda mais força.

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