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Especial: Confira 12 clássicos do samba que marcaram época

Lívia Nolla
12:10 09.10.2024
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Música

Especial: Confira 12 clássicos do samba que marcaram época

Sucessos de nomes como Cartola, Ivone Lara e Martinho da Vila são apenas alguns que separamos para você no site da Novabrasil

Lívia Nolla - 09.10.2024 - 12:10
Especial: Confira 12 clássicos do samba que marcaram época
Cartola, Dona Ivone Lara e Martinho da Vila | Imagens: Reprodução

São inúmeros os clássicos do Samba! O samba é uma das maiores manifestações culturais populares do nosso país, patrimônio da história do Brasil.

O gênero musical de raízes africanas, do qual deriva também um tipo de dança, é símbolo da identidade nacional brasileira: o samba se originou entre as comunidades afro-brasileiras urbanas do Rio de Janeiro no início do século XX, tendo suas raízes na expressão cultural da África Ocidental e nas tradições folclóricas brasileiras, especialmente aquelas ligadas ao samba rural primitivo dos períodos colonial e imperial.

O Brasil é conhecido internacionalmente pelo samba, que é também ritmo oficial do Carnaval, uma das nossas principais festividades. 

O samba urbano carioca tem ritmo basicamente “2 por 4” e andamento variado, com aproveitamento consciente das possibilidades dos refrões cantados ao som de palmas e ritmo batucado, em que foram acrescidos uma ou mais partes de versos declamatórios. 

Sua instrumentação tradicional é composta por instrumentos de percussão como o pandeiro, a cuíca, o tamborim, o ganzá e o surdo e do acompanhamento de cordas como o violão e o cavaquinho.

Em 2005, o samba de roda se tornou obra-prima do patrimônio oral e imaterial da humanidade pela Unesco. Esta manifestação brasileira foi o primeiro gênero musical do país a receber este título. 

Preparamos uma lista especialíssima, com 12 grandes clássicos nomes do samba, que fizeram e ainda fazem história na nossa música, de diversas gerações e de variadas regiões do Brasil. 

A lista também conta com as inúmeras variações ou subgêneros do samba, como o Samba de Roda, o Pagode, o Samba-canção e o Partido Alto, mostrando a riqueza e a versatilidade do gênero. 

Cada uma dessas músicas ajudou a construir a identidade da música brasileira, levando o samba aos mais variados públicos e mantendo viva sua tradição. Aproveite! 

1.  Pelo Telefone (Donga e Mauro de Almeida, 1917)

Um marco dentro da história moderna e urbana do samba ocorreu em 1917, no Rio de Janeiro, com a gravação em disco de Pelo Telefone, considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil, segundo os registros da Biblioteca Nacional. 

O sucesso alcançado pela canção contribuiu para a divulgação e popularização do samba como gênero musical. 

Pelo Telefone foi registrado primeiramente como sendo de autoria apenas do compositor e violonista carioca Donga, que – mais tarde – incluiu o jornalista, teatrólogo e compositor Mauro de Almeida como parceiro. 

Por ter sido um grande sucesso e devido ao fato de ter nascido em uma roda de samba, de improvisações e criações conjuntas, vários foram os músicos que reivindicaram a autoria da composição. 

A letra original de Pelo Telefone que era: “O chefe da folia/ Pelo telefone / Mandou me avisar / Que com alegria / Não se questione / Para se brincar”, foi alterada para a versão mais conhecida hoje em dia: “O Chefe da Polícia / Pelo telefone/ Manda me avisar/ Que na Carioca / Tem uma roleta/ Para se jogar”.

2. Aquarela do Brasil (Ary Barroso, 1939)

Composição antológica do compositor, pianista, locutor e apresentadorAry Barroso, Aquarela do Brasil, teve a primeira audição na voz da famosa cantora de samba-canção, Aracy Cortes. 

Em 1939, foi gravada em disco, pelo também muito famoso cantor Francisco Alves. Responsável por inaugurar o gênero “samba-exaltação”, Aquarela do Brasil foi incluída, em 1942, na trilha do desenho Alô, Amigos, da Disney, abrindo as portas dos Estados Unidos para Ary Barroso e transformando sua canção em sucesso internacional. 

A versão em inglês, Brazil (com letra de Bob Russell), já foi gravada por nomes como Frank Sinatra, Bing Crosby e Paul Anka.

A canção tornou-se uma das mais populares músicas brasileiras de todos os tempos, gravada por diversos grandes nomes da MPB, como:Carmen Miranda,João Gilberto, Tom Jobim, Caetano Veloso,Tim Maia, Gal Costa, Erasmo Carlose Elis Regina. 

É a segunda canção brasileira mais regravada de todos os tempos, com mais de 400 gravações mundo afora, ficando atrás somente de Garota de Ipanema.

3. As Rosas Não Falam (Cartola, 1976)

Diz-se que, certo dia, o grande cantor, compositor, poeta e violonista carioca Cartola, um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira – levou algumas mudas de rosas para Dona Zica, sua segunda esposa e, depois, dona do famoso bar e restaurante Zicartola, ao lado do marido – local que foi ponto de encontro de muitos sambistas. 

Dona Zica plantou as mudinhas no jardim e, dias depois, ao abrir a porta pela manhã, percebeu que muitos botões haviam desabrochado, ficando deslumbrada com a beleza e a quantidade de rosas. Chamou o amado e disse: “Cartola, venha aqui! Venha ver o jardim! Por que é que nasceu tanta rosa?”. 

Foi quando o poeta respondeu: “Não sei, Zica. As rosas não falam!”. No auge dos seus 60 e poucos anos, isso inspirou Cartola a compor a bela e melódica canção quase que imediatamente.

Em 2023, em ranking divulgado pelo ECAD – Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, As Rosas Não Falam era a nona canção mais regravada da história do Brasil, com 235 gravações.

4. Canta, Canta Minha Gente (Martinho da Vila, 1974)

Martinho da Vila é um dos grandes nomes do samba e Canta, Canta Minha Gente é um hino de celebração e otimismo, uma mensagem de força e esperança. 

Lançada pelo cantor, compositor e escritor carioca em 1974, no álbum de mesmo nome, a música é um partido-alto de caráter libertador, refletindo a resistência e a alegria do povo brasileiro, mesmo diante das dificuldades, ansiando por dias melhores, enquanto ainda sofriam no bolso os impactos do “milagre econômico” imposto pelo regime militar da época.

5. Vou Festejar (Beth Carvalho, 1978)

Lançada em 1978, por Beth Carvalho – conhecida como a Madrinha do Samba, Vou Festejar é uma composição de Jorge Aragão, Dida e Neoci, três grandes músicos e compositores que integraram um dos grupos de samba mais importantes do Brasil: o Fundo de Quintal.

O grupo surgiu a partir das rodas de samba do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, agremiação criada por Bira Presidente, Ubirany e Sereno em 1961. Os sambistas se reuniam para fazer um som que começou a atrair a atenção no universo do samba carioca. 

Os encontros informais eram abertos, o que atraía diversos novos compositores, que tocavam desde sambas de grandes sambistas e composições próprias. O grande diferencial dessas rodas era sua renovada forma de cantar sobre o cotidiano fincada na tradição do partido alto carioca e seu inovador ritmo percussivo marcado pela utilização de instrumentos até então incomuns nas rodas de samba, como o banjo com afinação de cavaquinho (criação deAlmir Guineto), o tantã (criação de Sereno, que substitui o tradicional surdo), e o repique-de-mão (criação de Ubirany).

Em busca de renovar seu repertório musical para um próximo disco, Beth Carvalho foi conhecer de perto a roda de samba e saiu impressionada com a inovadora percussão dos sambistas do Cacique. Ela contatou o produtor Rildo Hora, da gravadora RGE, que também visitou o local. 

Foi então que, em 1978, diversos sambistas frequentadores do Cacique de Ramos participaram do novo LP de Beth, De Pé No Chão. O samba Vou Festejar tornou-se o maior sucesso no carnaval do ano seguinte e ajudou a abrir portas para integrantes do Cacique de Ramos na cena musical brasileira.

6. A Voz do Morro (Zé Keti, 1955)

Compositor e intérprete singular, o cariocaZé Keti cantou a vida nos morros e o cotidiano das classes populares com uma sensibilidade e uma verdade inigualáveis. 

Seus sambas, cheios de crítica social e poesia, retrataram o Brasil com um olhar generoso e, ao mesmo tempo, contestador. Zé Keti foi não apenas um cronista de sua época, mas um porta-voz das aspirações e desafios de toda uma geração, marcando a história da música popular brasileira com um legado que reverbera até os dias de hoje.

Em 1955, ele se consolidou como uma voz relevante na cena musical brasileira, quando expressou o orgulho e a realidade das favelas cariocas em A Voz do Morro. Esse samba, que já foi regravado inúmeras vezes, foi um marco na exaltação do morro e da cultura popular, conectando a vida dos sambistas à cidade do Rio de Janeiro.

7. Feitiço da Vila (Noel Rosa e Vadico, 1934)

Noel Rosa nos deixou cedo, com apenas 26 anos de idade, mas foi um dos maiores cronistas do samba e um dos inventores do Samba Urbano, criando letras sem literatices, usando de linguagem coloquial das ruas, em rimas elaboradas que continuam atuais quase um século depois de suas criações. 

Feitiço da Vila é um clássico em parceria com Vadico, que descreve o bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, com um toque de ironia e sagacidade. A canção celebra o estilo de vida boêmio e a identidade cultural do samba.

No ano de sua composição, 1934, Noel e Wilson Batista, outro compositor de samba carioca, estavam envolvidos em uma polêmica de rivalidade. Para contrapor a letra de Feitiço da Vila, Wilson compôs Conversa Fiada e teve como resposta de Noel outro samba antológico: Palpite Infeliz.

Com Feitiço da Vila, Noel Rosa – que ficou conhecido como o Poeta da Vila – traz novos elementos para a compreensão do samba. Nesta composição, ele trata o samba como um feitiço, que contagia os que o ouvem.

Feitiço da Vila foi regravada por diversos cantores, como o próprio Noel Rosa; Elizeth Cardoso e Jacob do Bandolim; Aracy de Almeida e Wilson Simonal; Martinho da Vila; Ney Matogrosso; João Gilberto; Mart’nália; Rosa Passos; e Caetano Veloso.

8. Samba da Minha Terra (Dorival Caymmi, 1940) 

Dorival Caymmifoi um artista múltiplo: cantor, compositor, instrumentista, poeta, pintor e ator – um dos mais importantes da cultura brasileira. Compunha como ninguém sobre os hábitos, costumes e tradições da sua terra, a Bahia, e do povo baiano, tendo forte influência da música e da cultura negra, reforçando a ancestralidade africana.

Samba da Minha Terra, composto e lançado por Caymmi em 1940 e reavivado pelos Novos Baianos em 1973, traz a simplicidade e a alegria que o samba proporciona, com versos que destacam o gênero como parte indissociável da alma brasileira: “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”

9. O Sol Nascerá (Cartola e Elton Medeiros, 1964)

O grande clássico do samba O Sol Nascerá foi composto por Cartola e Elton Medeiros, em 1961, na casa de Cartola, na época muito frequentada por diversos sambistas, entre os quais – além de EltonZé Kéti e Nelson Cavaquinho

Segundo Elton Medeiros, a letra nasceu de maneira improvisada: Cartola e ele tinham acabado de compor um samba chamado Castelo de Pedrarias, quando chegou o amigo Renato Agostini, que após ouvir o novo samba desafiou os compositores a fazer outra letra, ali na hora, em sua presença.

Poucos minutos depois, estava pronto o samba O Sol Voltará, que traz uma mensagem de otimismo para lidar com as situações da vida. Três anos depois do episódio, a canção foi uma das escolhidas para integrar o álbum de estreia de Nara Leão, até então considerada a musa da bossa nova. 

Na gravação, atendendo a um pedido do produtor Aloysio de Oliveira, o título foi alterado para O Sol Nascerá. No ano seguinte, Elis Regina eJair Rodrigues gravaram a canção em seu álbum em parceria: Dois na Bossa

Considerado como um marco da redescoberta de Cartola durante a década de 1960 e também da revelação de Elton Medeiros como compositor, O Sol Nascerá foi gravado pelo próprio Cartola para o seu álbum homônimo, o primeiro de sua carreira, em 1974. Um ano antes, havia sido gravada para o também disco de estreia de Elton, em um pot-pourri com o samba Mascarada, parceria de Medeiros com Zé Keti.

10. O Mar Serenou (Candeia, 1975)

O Mar Serenou foi um dos maiores sucessos da carreira de Clara Nunes e se tornou uma de suas músicas mais icônicas. Composta por Candeia, o samba celebra as raízes afro-brasileiras e traz elementos do candomblé e da cultura popular. A interpretação vibrante de Clara eternizou o samba, que é presença garantida em rodas e celebrações.

11. Sonho Meu (Dona Ivone Lara, 1975)

Pioneira, a cantora, compositora e instrumentista Ivone Lara fez história como a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola de samba e a assinar um samba-enredo, abrindo caminho para muitas artistas mulheres que vieram depois. Por isso, Dona Ivone Lara ficou conhecida como Rainha do Samba ou a Grande Dama do Samba.

Em 1978, quando estava buscando canções para seu novo disco, Álibi, Maria Bethânia se encontrou com Dona Ivone Lara pra conhecer algumas das composições da sambista. Elas passaram a tarde juntas: Dona Ivone Lara mostrando seus sambas inéditos à Bethânia, que gostou muito de vários deles, mas ficou de decidir mais tarde o que caberia melhor no repertório daquele disco. 

Na hora de ir embora, já se encaminhando para a porta e se despedindo, Dona Ivone Lara cantarolou uma pequena melodia que atraiu a atenção da baiana: “Sonho Meu, Sonho Meu, vai buscar quem mora longe, Sonho Meu.” Maria Bethânia se apaixonou na hora e falou: “Que música é essa? Eu amei! Me mostra ela inteira.”. 

Dona Ivone Lara falou que era um samba que tinha composto há pouco, com um de seus grandes parceiros, Délcio Carvalho. Ela contou que ficou com aquela melodia e aquele refrão na cabeça por tantos dias, que chegou até a sonhar com eles, e que mandou pro Délcio terminar a canção. 

Bethânia não teve dúvida: era aquele samba que gravaria em seu disco Álibi, e que ainda contaria com a participação de Gal Costa na gravação, trazendo um lindíssimo contraste entre as vozes das duas baianas e sendo um dos maiores sucessos daquele ano.

Dona Ivone Lara gravou Sonho Meu no ano seguinte, em 1979, no seu segundo disco, Sorriso de Criança.

12. Conto de Areia (Romildo Souza e Toninho Nascimento, 1974) 

Conto de Areia é outro clássico imortalizado na voz de Clara Nunes. Lançado em 1974, em seu antológico álbum Alvorecer, o samba é uma composição de Romildo Souza e Toninho Nascimento e tem uma melodia suave e envolvente, com uma letra que evoca imagens da natureza e da religiosidade afro-brasileira. 

Essa canção consolidou Clara como uma das maiores intérpretes de sambas de raiz e é até hoje uma das mais lembradas de sua carreira. 

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Lívia Nolla

Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

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