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A importância de Clara Nunes para a música popular brasileira

Lívia Nolla
01:01 12.08.2024
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Música

A importância de Clara Nunes para a música popular brasileira

Cantora faria aniversário hoje e o site da Novabrasil preparou uma matéria especial para celebrar essa figura importantíssima da MPB; confira

Lívia Nolla - 12.08.2024 - 01:01
A importância de Clara Nunes para a música popular brasileira
A cantora Clara Nunes | Imagem: Wilton Moreira/Divulgação

Hoje, seria aniversário de uma das maiores cantoras e intérpretes da MPB: se não tivesse nos deixado tão cedo – aos 40 anos, em 1983 – Clara Nunes completaria 82 anos neste 12 de agosto de 2024. 

Por isso, nós preparamos uma matéria especial sobre a importância desta artista gigante para a nossa música popular brasileira. 

Clara Nunes | Foto: Wilton Montenegro/Divulgação

Voz consagrada e recordista de discos vendidos

Considerada – em lista elaborada pelarevista Rolling Stone Brasil, em 2012 – a nona maior voz do música popular brasileira, Clara Nunes foi a primeira mulher brasileira a vender mais de 100 mil discos, marca antes somente atingida por homens, quebrando um tabu existente, de que mulheres não vendiam álbuns. 

Ao todo, durante sua carreira, Clara vendeu quatro milhões e quatrocentos mil discos.

Sempre com um estilo e identidade muito próprios e singulares na música, Clara Nunes firmou a sua carreira no samba – foi uma das principais intérpretes de compositores da Portela, sua escola do coração – mas também teve influências da música romântica, principalmente do samba-canção, e referências como Elizeth Cardoso, Dalva de Oliveira e Ângela Maria.

Clara Nunes | Imagem: Reprodução

Pesquisadora de temas afro-brasileiros 

Além de intérprete, Clara Nunes também era compositora e uma grande pesquisadora da música popular brasileira, de ritmos nativos e principalmente da cultura afro-brasileira, não limitando-se apenas à música, mas também aos costumes, tradições, credos, vestimentas e danças.

Clara trazia em suas pesquisas e nas canções que escolhia defender, uma proposta de reflexões imprescindíveis acerca da identidade de gênero, etnia e credo. 

Levantou debates sobre o preconceito étnico-racial e a intolerância religiosa, quando esses temas ainda se apresentavam timidamente no Brasil,  trazendo luz à história sociopolítica e sociocultural do país. 

Em toda a sua obra, temas afro-brasileiros marcam presença em letras e arranjos que sempre remetem aos elos que unem Brasil e África. 

Clara Nunes desempenhou importante papel na popularização e desmistificação das religiões de matriz africana, colaborando para o rompimento dos estigmas e preconceitos que, até então, prevaleciam em relação aos seus adeptos em nossa sociedade.

Clara Nunes| Foto: Divulgação/Wilton Montenegro

Sucesso no Brasil e no mundo

Em 1966, já morando no Rio de Janeiro, e encantando a todos com sua potente voz, ao se apresentar em programas de rádio e TV e também em escolas de samba, clubes e casas noturnas do subúrbio, Clara Nunes fechou seu primeiro contrato com a gravadora Odeon, onde ficou até o fim da sua vida.

Lançou seu primeiro álbum neste mesmo ano,  A Voz Adorável de Clara Nunes, em que apresenta boleros e sambas-canção.

Mas foi em 1968, que Clara atingiu o seu primeiro grande sucesso nas rádios, quando gravou a canção Você Passa Eu Acho Graça (de Ataulfo Alves e Carlos Imperial), em seu segundo disco, que tinha a faixa como título e já trazia uma Clara Nunes com foco no samba. 

Em 1973, a artista já com seis discos lançados, tinha sucessos consagrados em sua voz – como Ê Baiana (de Fabrício da Silva, Baianinho, Ênio Santos Ribeiro e Miguel Pancrácio) e o álbum Clara Clarice Clara, de 1972, que traz um resgate do samba e das tradições afro-brasileiras, consolidando o sucesso e a identidade da artista nacionalmente.

Foi quando Clara Nunes apresentou o espetáculo O Poeta, A Moça e o Violão, ao lado de Toquinho e Vinicius de Moraes e, neste mesmo ano, a cantora fez uma temporada na Europa, onde passou a fazer muito sucesso. O sucesso nacional atingiu proporções internacionais, em vários continentes.

Em 1974, Clara Nunes participou – representando o Brasil – do Festival do Miden, em Cannes, e lançou o disco icônico Alvorecer, que traz um dos maiores clássicos de sua carreira – a canção Conto de Areia (de Romildo Bastos e Toninho Nascimento) – além de Menino Deus (de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, com quem Clara se casou em 1975 e ficou até o fim de sua vida) e O Que É Que a Baiana Tem (Dorival Caymmi).

O disco bateu recorde de vendas para cantoras brasileiras, com mais de 300 mil cópias vendidas, um feito nunca antes registrado no Brasil.

Clara Nunes e seu parceiro Paulo César Pinheiro | Imagem: Reprodução

A Força da natureza de uma Guerreira – Clara Nunes

Em 1975, Clara Nunes lançou o disco de maior sucesso de sua carreira, Claridade, que traz a canção icônica em sua voz, O Mar Serenou – de Candeia – além de outros sucessos como: Juízo Final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares); Que Sejas Feliz (Cartola); e A Deusa dos Orixás (Romildo Bastos e Toninho Nascimento). 

Em 1976, foi a vez do disco Canto das Três Raças, com sucesso homônimo, de Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, um dos maiores clássicos eternizados na voz de Clara Nunes

Em 1977, a cantora lançou o disco de partido alto, As Forças da Natureza, que traz o clássico da faixa-título, eternizado em sua voz (de Paulo César Pinheiro e João Nogueira), além de uma canção na qual Clara participa da composição, ao lado de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós: À Flor da Pele.

Ao longo dos próximos anos, Clara Nunes lançou mais álbuns icônicos, um em seguida do outro: Guerreira (em 1978, com canção título de Paulo César Pinheiro e João Nogueira); Esperança (em 1979, que traz o grande sucesso Feira de Mangaio, de Sivuca e Glória Gadelha); Brasil Mestiço (1989, que conta com o grande sucesso em sua voz Morena de Angola, de Chico Buarque); e Clara (1980, que traz a participação da Velha Guarda da Portela).

Ainda em 1981, Clara Nunes estreou um espetáculo dirigido por Bibi Ferreira, chamado Clara Mestiça

Em 1982, lançou o seu último álbum de estúdio, Nação, com grande destaque para a faixa título (de João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio).

Partida precoce e inesperada

Em março de 1983, no auge do sucesso, Clara Nunes precisou submeter-se a uma cirurgia de varizes e acabou tendo uma reação alérgica a um componente anestésico e sofrendo um choque anafilático e uma parada cardíaca. 

A cantora ficou internada por 28 dias, nos deixando órfãos de seu talento pouco antes de completar 41 anos de idade. Sua partida precoce não a impediu de fazer história como uma das mais belas e importantes vozes da nossa história.

No ano seguinte, sua escola de samba do coração, a Portela, levou para a avenida um samba enredo em sua homenagem – Contos de Areia – e foi campeã do carnaval carioca. Em 2019, a escola desfilou com outro enredo inspirado na cantora: Na Madureira Moderníssima, hei sempre de ouvir cantar um sabiá.

A morte inesperada do grande talento da nossa música brasileira a rendeu homenagens em forma de canção – como Flor do Interior (de Manacéa) e Clara (de Aloísio Machado), além de muitos discos póstumos e coletâneas, com sucessos da carreira da cantora que ficaram para sempre eternizados na sua voz e na nossa história. 

Legado de Clara Nunes

Clara Nunes influenciou e inspirou uma geração de grandes cantoras da MPB que vieram depois dela e deixou o seu legado para sempre em nossa música. 

Em agosto de 2006, a Prefeitura de Caetanópolis – cidade do interior e Minas onde Clara nasceu – lançou o 1º Festival Cultural Clara Nunes, com o objetivo de desenvolver a cultura no município e região, e também resgatar a obra da cantora. 

No ano seguinte, a cidade inaugurou a Casa de Cultura Clara Nunes, no local onde antes era o cinema da cidade e onde Clara se apresentou pela primeira vez. Lá são realizadas oficinas de dança, música, pintura e teatro, oferecidas gratuitamente à população.

Agora, dia 02 agosto de 2024, acaba de estrear o espetáculo musical Clara Nunes – A Tal Guerreira, idealizado por Vanessa da Mata (que interpreta Clara Nunes) e com direção de Jorge Farjalla, que ficará em cartaz até dia 01 de setembro, no Teatro Bravos, localizado no Complexo Aché Cultural, em São Paulo.  

O musical surge como uma forma de celebração à brasilidade, trajetória, vida e sensibilidade da cantora que marcou o país.

No Spotify da Novabrasil, você encontra uma Playlist com os 50 maiores sucessos na voz de Clara Nunes, aproveite:

Viva, Clara Nunes!

por Lívia Nolla

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Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

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