
História da música “Identidade”, no aniversário de Jorge Aragão

História da música “Identidade”, no aniversário de Jorge Aragão
Hoje é aniversário do sambista e o site da Novabrasil destaca a história da música "Identidade" para homenagear esse grande nome da música brasileira


Jorge Aragão, um dos maiores sambistas da história do nosso país, completa 76 anos hoje, e nós trouxemos a história da música “Identidade”, um de seus maiores sucessos, para homenageá-lo nesta data especial.
Sobre Jorge Aragão
Um gigante da nossa música popular brasileira e veterano do samba carioca, o cantor e compositor Jorge Aragão, começou a tocar violão e arriscar suas primeiras composições aos 14 anos – quando escutava Jovem Guarda no rádio de casa, em Padre Miguel, na zona oeste do Rio de Janeiro – aprendeu a tocar algumas canções da época em um violão emprestado.
Por já saber fazer alguns solos de guitarra, foi chamado para ser guitarrista solo de um conjunto que ensaiava em Honório Gurgel e tocava em bailes. Depois, fez parte da Ala de Compositores do Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos.
Até que Jorge Aragão foi para a aeronáutica, servir na base aérea no bairro de Santa Cruz, e lá, conheceu Jotabê, que tornou-se seu grande parceiro. Ali, ele conta que os dois compuseram juntos várias canções que não eram sambas, até que um dia – entre essas composições – surgiu o clássico “Malandro”, um dos primeiros sambas de Jorge.
Isso era meados dos anos 60. Os anos foram passando, Jorge Aragão seguiu sua vida, passou a se apresentar com seu violão na noite carioca, mas ainda estava muito longe de ganhar dinheiro com música. Foi quando um dia, 10 anos depois, estava com seu violão na calçada de casa e seu vizinho – o Alcir Portela, que era capitão do time do Vasco na época – pediu pra que ele mostrasse algumas músicas suas ao violão.
Jorge mostrou várias canções, entre elas, “Malandro”. Alcir gostou muito do que ouviu e apresentou Jorge a Neocy – que depois foi integrante do Fundo de Quintal junto com Aragão.

O sambista o levou até a Tapecar, uma gravadora importante na época, apresentou Jorge Aragão como seu “canarinho” e falou que ele tinha ótimas composições. Os executivos gostaram muito de “Malandro” e mandaram o samba imediatamente para Elza Soares, que estava no auge na época e quis incluir a canção em seu disco “Lição de Vida”, de 1976. “Malandro” é a faixa que abre o álbum de Elza. A belíssima gravação de Elza Soares projetou o nome de Jorge Aragão para o Brasil inteiro.
Em seguida, o sambista passou a integrar o Fundo de Quintal, participando do primeiro disco do grupo, de 1980, e sendo um de seus principais compositores e letristas.
Logo depois – em 1981 – seguiu para a carreira solo, lançando o seu primeiro disco, “Jorge Aragão”, que traz várias outras parcerias com Jotabê.
Com mais de 20 discos lançados, Jorge Aragão tem entre os seus maiores sucessos a canção “Coisinha do Pai” (parceria com Almir Guineto e Luiz Carlos), uma homenagem para sua filha Vânia, consagrada na gravação de Beth Carvalho de 1979 e que ganhou uma gravação inédita em 1997 para acordar o robô Soujorner, em missão da Mars Pathfinder, em Marte. O sucesso de Aragão chegou até em outro planeta!
Um dos maiores sambistas da nossa história, quase todos os grandes intérpretes de samba do país gravaram canções de Jorge Aragão em seu repertório, como Beth Carvalho, Alcione, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila.
Outros grandes sucessos de sua carreira são:
- Claridade (parceria com Nair Cruz);
- Vou Festejar (parceria com Neoci e Dida);
- Do Fundo do Nosso Quintal (parceria com Alberto Souza);
- Coisa de Pele (parceria com Acyr Marques);
- Alvará;
- Terceira Pessoa (parceria com Franco);
- Enredo do Meu Samba (parceria com Dona Ivone Lara)
- Identidade, música sobre a qual vamos conhecer a história hoje.
História da música “Identidade”, de Jorge Aragão
“Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Veja também:
Se o social tem dono, não vai.”
A canção “Identidade”, lançada por Jorge Aragão em 1992, no seu álbum “Chorando Estrelas”, é uma importantíssima crítica social em ritmo de samba e foi adotada como hino antirracista nas rodas de pagode.
Mas, para seu autor, ela originalmente narrava apenas um episódio de racismo que passou.
Em entrevista à Billboard Brasil, em janeiro de 2024, Jorge Aragão declarou:
“É uma das poucas músicas que eu lembro exatamente como escrevi, mas nunca imaginei que se tornaria tema de um movimento racial. (…) Estava na rua Duque de Caxias com a alameda Barão de Limeira, no centro de São Paulo.
O produtor de um show me deixou num hotel e disse que voltaria com o dinheiro para me pagar. Já estava meio assim, porque ficou uma situação de ele me chamar de neguinho, o que até hoje quero pensar que não foi com maldade.
Eu saí do Rio só com o dinheiro da ida. E eu fiquei dependendo do hotel para tudo: dormir, comer. Tudo. E eu estava preso ali, sem dinheiro para nada. Eu fui lá para trabalhar e fui tratado daquela forma. Mas, no final das contas, ele acabou me pagando.
Escrevi totalmente inconsciente do que ela representa atualmente. Hoje, eu componho conscientemente. Não quero ser precursor de militância, mas percebi que não era só ‘Identidade’ que tinha esse sentido político. Fui notar porque muitas pessoas me disseram: ‘Isso é tudo o que a gente precisava’.”.
“Identidade” é um manifesto à discriminação racial, com uma letra que fala por si só: usando o exemplo dos elevadores de serviço e social, Jorge Aragão critica os espaços em que pessoas pretas são sempre tomadas como empregadas e subservientes.
O músico deixa um recado de resistência para essa imposição racista, falando do sofrimento daqueles que foram escravizados: Jorge lembra que a resistência faz parte da história do povo preto, afinal, que desde sempre teve que lutar por liberdade, igualdade e respeito:
“Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história
Se preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade”