
Você sabe qual a influência indígena e afro-brasileira na expressão artística nacional?
Você sabe qual a influência indígena e afro-brasileira na expressão artística nacional?
Explore como as culturas indígenas e africanas moldaram a arte brasileira ao longo dos séculos


Desde os tempos coloniais até a contemporaneidade, tradições indígenas e africanas se manifestam de maneira expressiva em diversas formas artísticas, como as artes plásticas, a música, a literatura e a arquitetura. Ao longo dos séculos, a fusão entre essas heranças culturais resultou em movimentos artísticos inovadores e na afirmação de uma estética genuinamente brasileira.
A arte indígena brasileira inclui pinturas rupestres, cerâmica, cestaria, tecelagem e joalheria, com elementos naturais e técnicas tradicionais. Movimentos artísticos modernos no Brasil, com artistas como Tarsila do Amaral e Cândido Portinari incorporaram elementos estilísticos indígenas em suas obras. Essa influência se deu, inclusive no design brasileiro, com artistas como Ronaldo Fraga, que usa padrões e técnicas indígenas em suas coleções de moda.
A cultura africana também trouxe consigo uma herança artística, musical e religiosa. Influenciou a música, a dança e a religião no Brasil, com manifestações como o samba, o axé e o candomblé.
Artes plásticas: da tradição à contemporaneidade
A influência das culturas indígenas e africanas nas artes plásticas se expressa tanto na temática quanto nas técnicas utilizadas.
Mestre Valentim é um dos grandes nomes do período colonial e barroco. Escultor, entalhador e urbanista do Brasil, nasceu em Minas Gerais por volta de 1745. Filho de um português e uma africana alforriada, Valentim refletiu sua identidade mestiça em suas obras, como os querubins da Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, no Rio de Janeiro.

Essas esculturas, feitas em 1772, apresentam traços mestiços, com feições mais arredondas e anjos mais próximos da realidade brasileira. Com isso, Valentim contribuiu para a renovação do estilo Barroco no Brasil, integrando elementos locais à estética europeia importada.
Outros artistas como Teófilo de Jesus, Aleijadinho e Manoel da Costa Athaide também incorporaram elementos sincréticos e profanos em suas obras, para oferecer uma fé mais pessoal e acessível ao povo.
Já no início do século 20, artistas do modernismo, como Tarsila do Amaral e Vicente do Rego Monteiro, buscaram inspirações nas formas e mitologias indígenas. O Movimento Antropofágico, liderado por Oswald de Andrade, propunha a “deglutição” das influências europeias para criar uma arte autenticamente nacional.

No Brasil contemporâneo, artistas como Abdias do Nascimento e Jaider Esbell (indígena Makuxi) trazem a ancestralidade afro-indígena como forma de resistência e identidade. As obras de Rosana Paulino também evidenciam questões raciais e de memória afro-brasileira na arte atual.
Música: a construção sonora da identidade nacional
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A música brasileira também é marcada pela forte presença de ritmos e instrumentos originários das culturas indígena e africana. Artistas como Djuena Tikuna (indígena Tikuna) e Marlui Miranda, por exemplo, trabalham na preservação e difusão dos cantos tradicionais indígenas.

Não podemos esquecer do samba, originado de ritmos africanos como o semba angolano, consolidou-se no Brasil por meio de expressões como o jongo e o lundu. Nomes como Cartola, Clementina de Jesus e Donga ajudaram a popularizar o gênero. Mais tarde, nos anos 1960, a Tropicália, com Gilberto Gil e Caetano Veloso, incorporou sons e temáticas afro-indígenas em experiências modernas.

Literatura: narrativas de ancestralidade e pertencimento
A literatura brasileira carrega elementos da oralidade e das vivências indígena e afro-brasileira, com narrativas que questionam e reafirmam identidades.
- Machado de Assis e a identidade negra: O escritor, de ascendência afro-brasileira, abordou questões sociais e psicológicas que refletem as desigualdades do Brasil.
- Movimento Quilombista: Abdias do Nascimento usou a literatura como ferramenta de luta pela afirmação da cultura negra.
- Literatura Indígena Contemporânea: Eliane Potiguara, Daniel Munduruku e Ailton Krenak são expoentes de uma literatura que valoriza a oralidade e a sabedoria dos povos indígenas.

Arquitetura: formas e saberes ancestrais
O uso de materiais sustentáveis e a organização comunitária das aldeias inspiram conceitos modernos de arquitetura. Projetos como os de Gustavo Utrabo e Rosenbaum resgatam técnicas ancestrais para criar espaços que dialogam com a natureza e a tradição.

Outro exemplo são as moradias quilombolas, que mantêm até hoje modelos construtivos que priorizam o compartilhamento e a resistência cultural.
Seja nas cores das telas, nos ritmos musicais, nas palavras das narrativas ou nas formas arquitetônicas, heranças culturais indígenas e afro-brasileiras resistem e se reinventam, em uma recorrente construção da identidade do Brasil. O reconhecimento e a valorização dessas contribuições são essenciais para a compreensão da história e da riqueza da nossa produção artística.