
História da música “Jack Soul Brasileiro”, no dia do aniversário de Lenine

História da música “Jack Soul Brasileiro”, no dia do aniversário de Lenine
Lenine é um dos maiores artistas da música popular brasileira da atualidade. Hoje, para comemorar o aniversário do pernambucano, trouxemos a história da música "Jack Soul Brasileiro”.

Lenine é um dos maiores artistas da história da música popular brasileira. Hoje, para comemorar o aniversário do cantor, compositor, poeta, arranjador e multi-instrumentista pernambucano, trouxemos a história da música “Jack Soul Brasileiro”.
Vencedor de sete Grammy Latinos, 12 Prêmios da Música Brasileira e dois APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Lenine se diz um cantautor: o artista que canta suas próprias composições, ou – como faziam os trovadores do século 12 – transforma em versos as questões, os amores e as sagas de seu tempo.
Para o pernambucano de Recife, histórias à base de palavra e música são elementos que andam juntos desde sempre.
Lenine possui mais de 500 composições suas e em parceria com outros artistas, compõe trilhas para espetáculos e foi gravado pelos principais nomes da MPB.
Sobre Lenine

Nascido Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, em Recife (PE), seu pai escolheu o nome Lenine em homenagem ao líder soviético, revolucionário comunista e marxista, Lênin, que foi responsável pela Revolução Russa, em 1917.
Interessado em música desde pequeno, tentou o aprendizado formal no Conservatório de Pernambuco, mas foi tirando de ouvido e por suas próprias mãos que ele se encontrou na música e tornou seu violão um meio de expressão e uma das marcas de sua singularidade.
Depois de participar dos conjuntos “Flor de Cactus” e “Nós & Voz”, Lenine abandonou o curso de Engenharia Química na Universidade Federal de Pernambuco, e decidiu dedicar-se inteiramente à música.
Mudou-se para o Rio de Janeiro – onde participou do Festival MPB Shell, em 1981 – e foi morar na Casa 9: uma casa de vila em Botafogo, que era frequentada por companheiros de geração que corriam atrás do mesmo sonho, entre eles o pernambucano Lula Queiroga e os paraibanos Bráulio Tavares, Ivan Santos, Pedro Osmar, Fuba, Tadeu Mathias e Julio lurdemir.
Deste caldeirão criativo saíram composições diversas e a ideia de uma temporada no Teatro Ipanema, para mostrar a produção artística da turma. Em seguida, veio o primeiro álbum de Lenine, “Baque Solto” (1983), feito em parceria com Lula Queiroga.
Nessa época, o pernambucano começou a aparecer na cena alternativa carioca e a compor sambas para o bloco de rua “Suvaco de Cristo”.
Passando por dificuldades enquanto o reconhecimento não vinha, Lenine encontrou segurança na família, neste caso, na produtora de TV Anna Barroso: sua esposa e mãe/madrasta de seus três filhos e futuros parceiros: João Cavalcanti, Bruno Giorgi e Bernardo Pimentel.
A virada veio com o álbum “Olho de Peixe” (1993), que registrou o encontro de Lenine com o percussionista Marcos Suzano e se tornou o cartão de visitas nas primeiras turnês do artista pelo exterior.
São desse álbum sucessos como:
- O Último Pôr do Sol (parceria com Lula Queiroga)
- Leão do Norte (parceria com Paulo César Pinheiro)
- Olho de Peixe (só de Lenine)
O som pop e híbrido de sua música se consolidou nos três álbuns seguintes:
“O Dia em que Faremos Contato”, de 1997, trouxe os sucessos:
- Hoje Eu Quero Sair Só (de Lenine, Mú Chebabi e Caxa Aragão)
- Dois Olhos Negros (de Lula Queiroga)
- A Balada Do Cachorro Louco (Lenine, Lula Queiroga e Chico Neves).
Já “Na Pressão”, de 1999, apresentou os mega clássicos:
- Paciência (parceria com Dudu Falcão)
- A Medida da Paixão (com Dudu Falcão)
- A Rede (parceria com Lula Queiroga)
- Jack Soul Brasileiro (só de Lenine)
- Na Pressão (parceria com Bráulio Tavares e Sérgio Natureza)
- Relampiano (parceria com Moska).
E o álbum “Falange Canibal”, de 2002, traz sucessos:
- O Homem dos Olhos de Raio X (só de Lenine)
- O Silêncio das Estrelas (com Dudu Falcão)
Esse disco rendeu a Lenine o seu primeiro prêmio de expressão: o Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro, que o artista voltou a ganhar – na mesma categoria – com os dois álbuns seguintes:
- “Lenine in Cité” (2004), que trouxe sucessos como “Do It” (também com Ivan Santos); “Todas Elas Juntas Num Só Ser” (com Carlos Rennó); e “Ninguém Faz Ideia” (parceria com Ivan Santos) que levou o Grammy Latino de Melhor Música Brasileira,
- Acústico MTV (2006), com o hit “Miedo” (de Pedro Guerra, Lenine e Rodney Assis, com participação de Julieta Venegas).
A experiência de compor balés para a companhia de dança Grupo Corpo – Breu (2007) e Triz (2013) – fez com que Lenine subvertesse a concepção de seus discos: em vez de reunir composições prontas em um álbum – como nos discos anteriores – a partir de “Labiata”, disco de 2008, ele passa a definir primeiro o conceito para, em seguida, compor cada uma das faixas, como capítulos de um romance.
O álbum traz os sucessos:
- Martelo Bigorna – que ganhou o Grammy Latino de Melhor Música Brasileira
- É o Que Me Interessa (parceria com Dudu Falcão)
Já no álbum “Chão”, de 2011, o primeiro produzido por seu filho Bruno Giorgi (junto com Jr. Tostoi e o próprio Lenine) agrega à música sons do cotidiano: seja de uma chaleira, de um canarinho, de uma cigarra ou de uma máquina de lavar roupa. Entre os sucessos, a música “De Onde Vem a Canção”.
A nova trilogia de Lenine se fechou com “Carbono” (de 2015), no qual o artista se reconecta a suas raízes pernambucanas. Entre os sucessos, a belíssima “Simples Assim”, parceria com Dudu Falcão.
Os passos seguintes se deram na Holanda, onde Lenine gravou o CD/DVD “The Bridge – Lenine & Martin Fondse Orchestra – Live at Bimhuis” (2016), e no Rio de Janeiro, onde seu disco mais recente, o 13º da carreira – “Lenine Em Trânsito” (2018) que levou o Grammy Latino na categoria de “Música Alternativa”.
Vamos à história da música “Jack Soul Brasileiro”?
História da Música “Jack Soul Brasileiro”, de Lenine
Hoje, para celebrar a vida de Lenine, trouxemos a história de um dos maiores sucessos de toda a sua carreira: a música “Jack Soul Brasileiro”, gravada pelo pernambucano no álbum “Na Pressão”, de 1999.
Antes dele, a música – composição solo de Lenine – foi lançada em 1997, pela cantora carioca Fernanda Abreu, no seu álbum “Raio X”, com participação com compositor da obra.
Em seu site oficial, Fernanda Abreu comenta sobre a criação da faixa: “Fui fazer um show em Nova York em julho de 96 num evento em que também foram tocar: Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre, Lenine e Suzano e etc… Numa noite fomos ao S.O.B. para dançar e beber. Otto, [na época] percussionista do Mundo Livre, começou a cantar a “Cantiga do Sapo” de Jackson do Pandeiro, em cima de uma base de hip-hop. O rap-repente ficou muito bom. Vi que tinha um lance ali. Quando cheguei, liguei pra pessoa certa pra fazer essa conexão Rio-Nordeste: Lenine.”.
O resultado foi “Jack Soul Brasileiro”! A composição que Lenine criou após a conversa com Fernanda Abreu homenageia o cantor e compositor paraibano Jackson do Pandeiro, conhecido como “O Rei do Ritmo”, por difundir estilos musicais nordestinos no país.
Saiba mais sobre Jackson do Pandeiro nesta matéria especial.
A faixa prioriza ritmos e temáticas nacionais, além de incluir elementos da obra de Jackson do Pandeiro.
“Jack Soul Brasileiro” ainda destaca um jogo de palavras com o nome de Jackson do Pandeiro, e a palavra “soul”, que quer dizer “alma” em inglês, e a frase “já que sou brasilero”, referenciando o que Lenine considera como a “alma brasileira”.
No início da canção, o compositor discute-se sobre a obra de Jackson do Pandeiro e traz importantes elementos da cultura nacional:
“Jack Soul Brasileiro
E que o som do pandeiro
É certeiro e tem direção
Já que subi nesse ringue
E o país do swing
É o país da contradição
Eu canto pro rei da levada
Na lei da embolada
Na língua da percussão
A dança mugango dengo
A ginga do mamolengo
Charme dessa nação”.
Na estrofe seguinte, ele combina interrogações sobre Jackson do Pandeiro sem lhe dar nome, apenas apresentando expressões de suas músicas ou de suas rítmicas:
“Quem foi?
Que fez o samba embolar?
Quem foi?
Que fez o coco sambar?”
Depois, Lenine fala de uma série de elementos os quais acredita-se compor a”alma brasileira”, como o batuque, o truque, o pandeiro, funk rock, samba, entre outros.
Em um outro trecho de “Jack Soul Brasileiro”, há referências a uma das mais famosas canções interpretadas por Jackson do Pandeiro, “Chiclete com Banana”, composição de Almira Castilho e Gordurinha, lançada pelo “Rei do Ritmo” em 1959, e na qual elese posiciona a respeito da indústria cultural estadunidense e sua relação com as culturas populares realizadas no Brasil:
“Eu só ponho bebop no meu samba
Quando o tio Sam
Pegar no tamborim
Quando ele pegar
No pandeiro e no zabumba
Quando ele entender
Que o samba não é rumba
Aí eu vou misturar
Miami com Copacabana
Chiclete eu misturo com banana
E o meu samba, e o meu samba
Vai ficar assim”.
Lenine ainda cita em “Jack Soul Brasileiro”, outras duas canções que foram sucesso na voz de Jackson do Pandeiro:
- “Cantiga do Sapo”, parceria de Jackson com Buco do Pandeiro, de 1959:
“- Tião
– Oi!
– Foste?
– Fui!
– Compraste?
– Comprei!
– Pagaste?
– Paguei!
– Me diz quanto foi?
– Foi quinhentos réis”
- E “O Canto da Ema”, de Alventino Cavalcanti, Aires Viana e João do Vale, gravada por Jackson do Pandeiro em 1956: “A Ema Gemeu!”.
Puro suco de Brasil!
E aí, gostou de saber a história da música “Jack Soul Brasileiro”?