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História da música “Jack Soul Brasileiro”, no dia do aniversário de Lenine

Lívia Nolla
11:47 02.02.2025
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Curiosidades

História da música “Jack Soul Brasileiro”, no dia do aniversário de Lenine

Lenine é um dos maiores artistas da música popular brasileira da atualidade. Hoje, para comemorar o aniversário do pernambucano, trouxemos a história da música "Jack Soul Brasileiro”.

Lívia Nolla - 02.02.2025 - 11:47
História da música “Jack Soul Brasileiro”, no dia do aniversário de Lenine
O cantor e compositor pernambucano Lenine | Imagem: Divulgação

Lenine é um dos maiores artistas da história da música popular brasileira. Hoje, para comemorar o aniversário do cantor, compositor, poeta, arranjador e multi-instrumentista pernambucano, trouxemos a história da música “Jack Soul Brasileiro”.

Vencedor de sete Grammy Latinos, 12 Prêmios da Música Brasileira e dois APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Lenine se diz um cantautor: o artista que canta suas próprias composições, ou – como faziam os trovadores do século 12 – transforma em versos as questões, os amores e as sagas de seu tempo. 

Para o pernambucano de Recife, histórias à base de palavra e música são elementos que andam juntos desde sempre.  

Lenine possui mais de 500 composições suas e em parceria com outros artistas, compõe trilhas para espetáculos e foi gravado pelos principais nomes da MPB.

Sobre Lenine

O cantor e compositor pernambucano Lenine | Imagem: Divulgação

Nascido Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, em Recife (PE), seu pai escolheu o nome Lenine em homenagem ao líder soviético, revolucionário comunista e marxista, Lênin, que foi responsável pela Revolução Russa, em 1917.

Interessado em música desde pequeno, tentou o aprendizado formal no Conservatório de Pernambuco, mas foi tirando de ouvido e por suas próprias mãos  que ele se encontrou na música e tornou seu violão um meio de expressão e uma das marcas de sua singularidade. 

Depois de participar dos conjuntos “Flor de Cactus” e “Nós & Voz”, Lenine abandonou o curso de Engenharia Química na Universidade Federal de Pernambuco, e decidiu dedicar-se inteiramente à música.

Mudou-se para o  Rio de Janeiro – onde participou do Festival MPB Shell, em 1981 – e foi  morar na Casa 9: uma casa de vila em Botafogo, que era frequentada por companheiros de geração que corriam atrás do mesmo sonho, entre eles o pernambucano Lula Queiroga e os paraibanos Bráulio Tavares, Ivan Santos, Pedro Osmar, Fuba, Tadeu Mathias e Julio lurdemir. 

Deste caldeirão criativo saíram composições diversas e a ideia de uma temporada no Teatro Ipanema, para mostrar a produção artística da turma. Em seguida, veio o primeiro álbum de Lenine, “Baque Solto” (1983), feito em parceria com Lula Queiroga. 

Nessa época, o pernambucano começou a aparecer na cena alternativa carioca e a compor sambas para o bloco de rua “Suvaco de Cristo”. 

Passando por dificuldades enquanto o reconhecimento não vinha, Lenine encontrou segurança na família, neste caso, na produtora de TV Anna Barroso: sua esposa e mãe/madrasta de seus três filhos e futuros parceiros: João Cavalcanti, Bruno Giorgi e Bernardo Pimentel.

A virada veio com o álbum “Olho de Peixe” (1993), que registrou o encontro de Lenine com o percussionista Marcos Suzano e se tornou o cartão de visitas nas primeiras turnês do artista pelo exterior. 

São desse álbum sucessos como: 

  • O Último Pôr do Sol (parceria com Lula Queiroga)
  • Leão do Norte (parceria com Paulo César Pinheiro)
  • Olho de Peixe (só de Lenine)

O som pop e híbrido de sua música se consolidou nos três álbuns seguintes: 

“O Dia em que Faremos Contato”, de 1997, trouxe os sucessos: 

  • Hoje Eu Quero Sair Só (de Lenine, Mú Chebabi e Caxa Aragão)
  • Dois Olhos Negros (de Lula Queiroga)
  • A Balada Do Cachorro Louco (Lenine, Lula Queiroga e Chico Neves).

“Na Pressão”, de 1999, apresentou os mega clássicos: 

  • Paciência (parceria com Dudu Falcão)
  • A Medida da Paixão (com Dudu Falcão)
  • A Rede (parceria com Lula Queiroga)
  • Jack Soul Brasileiro (só de Lenine)
  • Na Pressão (parceria com Bráulio Tavares e Sérgio Natureza)
  • Relampiano (parceria com Moska).

E o álbum “Falange Canibal”, de 2002, traz sucessos:

  • O Homem dos Olhos de Raio X (só de Lenine)
  • O Silêncio das Estrelas (com Dudu Falcão)

Esse disco rendeu a Lenine o seu primeiro prêmio de expressão: o Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro, que o artista voltou a ganhar – na mesma categoria – com os dois álbuns seguintes: 

  • “Lenine in Cité” (2004), que trouxe sucessos como “Do It” (também com Ivan Santos); “Todas Elas Juntas Num Só Ser” (com Carlos Rennó); e “Ninguém Faz Ideia” (parceria com Ivan Santos) que levou o Grammy Latino de Melhor Música Brasileira,
  • Acústico MTV (2006), com o hit “Miedo” (de Pedro Guerra, Lenine e Rodney Assis, com participação de Julieta Venegas).

A experiência de compor balés para a companhia de dança Grupo Corpo Breu (2007) e Triz (2013) – fez com que Lenine subvertesse a concepção de seus discos: em vez de reunir composições prontas em um álbum – como nos discos anteriores – a partir de “Labiata”, disco de 2008, ele passa a definir primeiro o conceito para, em seguida, compor cada uma das faixas, como capítulos de um romance.

O álbum traz os sucessos:

  • Martelo Bigorna – que ganhou o Grammy Latino de Melhor Música Brasileira
  • É o Que Me Interessa (parceria com Dudu Falcão)

Já no álbum “Chão”, de 2011, o primeiro produzido por seu filho Bruno Giorgi (junto com Jr. Tostoi e o próprio Lenine) agrega à música sons do cotidiano: seja de uma chaleira, de um canarinho, de uma cigarra ou de uma máquina de lavar roupa. Entre os sucessos, a música “De Onde Vem a Canção”.  

A nova trilogia de Lenine se fechou com “Carbono” (de 2015), no qual o artista se reconecta a suas raízes pernambucanas. Entre os sucessos, a belíssima “Simples Assim”, parceria com Dudu Falcão.

Os passos seguintes se deram na Holanda, onde Lenine gravou o CD/DVD “The Bridge – Lenine & Martin Fondse Orchestra – Live at Bimhuis” (2016), e no Rio de Janeiro, onde seu disco mais recente, o 13º da carreira – “Lenine Em Trânsito” (2018) que levou o Grammy Latino na categoria de “Música Alternativa”

Vamos à história da música “Jack Soul Brasileiro”?

História da Música “Jack Soul Brasileiro”, de Lenine

Hoje, para celebrar a vida de Lenine, trouxemos a história de um dos maiores sucessos de toda a sua carreira: a música “Jack Soul Brasileiro”, gravada pelo pernambucano no álbum “Na Pressão”, de 1999. 

Antes dele, a música – composição solo de Lenine – foi lançada em 1997, pela cantora carioca Fernanda Abreu, no seu álbum “Raio X”, com participação com compositor da obra.

Em seu site oficial, Fernanda Abreu comenta sobre a criação da faixa: “Fui fazer um show em Nova York em julho de 96 num evento em que também foram tocar: Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre, Lenine e Suzano e etc… Numa noite fomos ao S.O.B. para dançar e beber. Otto, [na época] percussionista do Mundo Livre, começou a cantar a “Cantiga do Sapo” de Jackson do Pandeiro, em cima de uma base de hip-hop. O rap-repente ficou muito bom. Vi que tinha um lance ali. Quando cheguei, liguei pra pessoa certa pra fazer essa conexão Rio-Nordeste: Lenine.”. 

O resultado foi “Jack Soul Brasileiro”! A composição que Lenine criou após a conversa com Fernanda Abreu homenageia o cantor e compositor paraibano Jackson do Pandeiro, conhecido como “O Rei do Ritmo”, por difundir estilos musicais nordestinos no país. 

Saiba mais sobre Jackson do Pandeiro nesta matéria especial.

A faixa prioriza ritmos e temáticas nacionais, além de incluir elementos da obra de Jackson do Pandeiro. 

“Jack Soul Brasileiro” ainda destaca um jogo de palavras com o nome de Jackson do Pandeiro, e a palavra “soul”, que quer dizer “alma” em inglês, e a frase “já que sou brasilero”, referenciando o que Lenine considera como a “alma brasileira”. 

No início da canção, o compositor discute-se sobre a obra de Jackson do Pandeiro e traz importantes elementos da cultura nacional: 

“Jack Soul Brasileiro

E que o som do pandeiro

É certeiro e tem direção

Já que subi nesse ringue

E o país do swing

É o país da contradição

Eu canto pro rei da levada

Na lei da embolada

Na língua da percussão

A dança mugango dengo

A ginga do mamolengo

Charme dessa nação”. 

Na estrofe seguinte, ele combina interrogações sobre Jackson do Pandeiro sem lhe dar nome, apenas apresentando expressões de suas músicas ou de suas rítmicas: 

“Quem foi?

Que fez o samba embolar?

Quem foi?

Que fez o coco sambar?” 

Depois, Lenine fala de uma série de elementos os quais acredita-se compor a”alma brasileira”, como o batuque, o truque, o pandeiro, funk rock, samba, entre outros. 

Em um outro trecho de “Jack Soul Brasileiro”, há referências a uma das mais famosas canções interpretadas por Jackson do Pandeiro, “Chiclete com Banana”, composição de Almira Castilho e Gordurinha, lançada pelo “Rei do Ritmo” em 1959, e na qual elese posiciona a respeito da indústria cultural estadunidense e sua relação com as culturas populares realizadas no Brasil: 

“Eu só ponho bebop no meu samba

Quando o tio Sam

Pegar no tamborim

Quando ele pegar

No pandeiro e no zabumba

Quando ele entender

Que o samba não é rumba

Aí eu vou misturar 

Miami com Copacabana

Chiclete eu misturo com banana

E o meu samba, e o meu samba

Vai ficar assim”.

Lenine ainda cita em “Jack Soul Brasileiro”, outras duas canções que foram sucesso na voz de Jackson do Pandeiro: 

  • “Cantiga do Sapo”, parceria de Jackson com Buco do Pandeiro, de 1959:

“- Tião

– Oi!

– Foste?

– Fui!

– Compraste?

– Comprei!

– Pagaste?

– Paguei!

– Me diz quanto foi?

– Foi quinhentos réis”

  • E “O Canto da Ema”, de Alventino Cavalcanti, Aires Viana e João do Vale, gravada por Jackson do Pandeiro em 1956: “A Ema Gemeu!”.

Puro suco de Brasil!

E aí, gostou de saber a história da música “Jack Soul Brasileiro”?

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Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

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