Chico Science: relembre as principais músicas do criador da Nação Zumbi
Chico Science: relembre as principais músicas do criador da Nação Zumbi
Site da Novabrasil listou 10 grandes sucessos inesquecíveis do pernambucano que fez história como líder e vocalista da banda; confira
Um dos maiores nomes da história da música brasileira, o cantor e compositor pernambucano Chico Science deixou um legado imensurável para a nossa cultura.
Com sua banda, a Nação Zumbi, e o movimento do Manguebeat, Science transformou para sempre a história do Brasil.
Hoje, nós listamos 10 canções inesquecíveis de Chico Science para celebrar e honrar esse legado.
Sobre Chico Science e a Nação Zumbi
Chico Science nasceu em Olinda – em 1966 – com o nome de Francisco de Assis França. O Science entrou como nome artístico porque Chico sempre gostou de mexer com a alquimia dos sons, como um cientista.
Ele cresceu ouvindo ritmos nordestinos como coco, ciranda, maracatu e embolada, mas também gostava muito de rock, hip-hop (fez parte de um dos principais grupos de dança de rua do Recife), jazz e soul music americana (uma das suas maiores influências era James Brown).
Foi dessa mistura que surgiu, em 1991, a banda Chico Science & Nação Zumbi – da qual ele era líder – e que fazia um som revolucionário, com canções energéticas, muito bem elaboradas, que mesclavam funk rock com maracatu, embolada, psicodelia e música Afro.
Com a banda, Science lançou dois álbuns que conquistaram Disco de Ouro:
– Da Lama ao Caos (de 1994, considerado pela revista Rolling Stone Brasil o 13º melhor disco brasileiro de todos os tempos); e
– Afrociberdelia (de 1996, que também entrou para lista dos 100 melhores discos da música brasileira de todos os tempos, na posição 18).
Chico Science foi também um dos principais colaboradores do movimento de contracultura Manguebeat nos anos 90.
Sobre o Manguebeat
O movimento – que teve início com o Manifesto Caranguejos com Cérebro, escrito por Science e Fred Zero Quatro (do grupo Mundo Livre S/A), em 1991 – além de trazer as inovações musicais já citadas, também preza pela valorização das culturas regionais nordestinas, pelo desenvolvimento de um senso local de identidade própria para a criação de melhores condições de vida da população da região e pelo estado de conservação do manguezal e sua melhor exploração.
O Manguebeat é representado por um caranguejo – animal típico dos mangues e fonte de alimentação para as comunidades locais – e também por uma antena parabólica na lama, que mostra – além presença da tecnologia como marca do movimento – que os caranguejos presentes no manguezal estavam antenados com tudo que acontecia ali.
O grupo se identifica com o movimento estético afrofuturismo, que une elementos africanos e ficção científica, e influenciou uma geração de artistas que veio depois.
Infelizmente, Chico Science nos deixou inesperadamente no dia 02 de fevereiro de 1997 – vítima de um acidente de carro, com apenas 30 anos de idade. O Brasil perdia um dos seus maiores pensadores e artistas.
Depois da morte de Chico Science, a banda Nação Zumbi (que segue firme até os dias de hoje) lançou um disco em homenagem ao artista: o CSNZ, de 1998.
É um álbum duplo com canções inéditas de estúdio, gravadas ao vivo com Chico e remixagens das suas músicas segundo visões de nomes como David Byrne e Arto Lindsay.
No final, há ainda uma canção feita especialmente para Science, pelo pelo músico inglês Goldie: Chico – Death of a Rockstar.
Também depois de sua morte, Chico Science ganhou algumas homenagens pelas ruas de Recife: além de um Memorial formado por três salas, que conta a sua história, há uma estátua sua na Rua da Moeda, no Recife Antigo, e um caranguejo metálico gigante na Rua Aurora, onde morou.
Os 10 maiores sucessos de Chico Science
1 – Banditismo por Uma Questão de Classe
Em 1994, Chico Science & Nação Zumbi lançaram – no primeiro álbum da banda, Da Lama ao Caos, disco manifesto que fundou oficialmente o movimento musical pernambucano conhecido como Manguebeat – um de seus grandes sucessos, intitulado Banditismo Por Uma Questão de Classe.
Com essa música, retratavam a lógica anti-sistema por trás de ações ilegais praticadas como forma de subsistência e ato de rebeldia contra um status-quo imposto de cima para baixo.
2 – A Cidade
Do mesmo álbum de 1994, A Cidade é outra composição de Chico Science que apresenta uma crítica das contradições da vida urbana, destacando as disparidades sociais presentes, a divisão clara entre os “de cima” e os “de baixo”.
A cidade também é retratada como um local propício à corrupção e a exploração, e que – apesar das tentativas de mudança e resistência – os problemas fundamentais persistem, e – mais ainda – só crescem, junto com a cidade.
3 – A Praieira
A Praieira, canção lançada por Chico Science & Nação Zumbi, em 1994, retoma uma das principais revoltas ocorridas no Brasil Colônia e faz referência a um episódio histórico importante da capital do estado de Pernambuco: a Revolução Praieira, movimento de caráter liberal e republicano, liderado por intelectuais, comerciantes e artesãos, que buscavam a autonomia política da província de Pernambuco em relação ao governo central do Império Brasileiro.
O movimento – que ocorreu em Recife, entre 1848 e 1849 – foi inspirado pelas revoluções liberais ocorridas na Europa na primeira metade do século XIX, e apoiado por setores da elite pernambucana descontentes com o poder centralizado do governo imperial.
Na música, Chico Science exaltam a luta do povo pernambucano pela liberdade e pela autonomia política, e critica a opressão e a exploração do governo imperial.
A letra destaca a importância da cultura e da história da região para a luta pela emancipação política e social e é considerada um hino da resistência cultural e política do povo nordestino, se tornando um símbolo dessa luta por liberdade, autonomia e justiça social no Nordeste do Brasil.
4 – Samba Makossa
Um sampler misturando sons eletrônicos e percussão marca o início desta faixa, que traz uma mistura da ciranda com as guitarras, o samba duro e o gênero africano Makossa, difundido no circuito massivo da world music.
A canção, composta por Science, é temática (como a anterior) e a letra dá continuidade a um assunto abordado antes, a dança, mas focaliza um sujeito, o sambista. Ele é repreendido: “Onde é que você se meteu antes de chegar na roda, meu irmão?”, mas é aceito por ser o “maioral”.
Sua chegada marca a hora da roda começar.
A canção acrescenta informações que confirmam a proposta manguebeat de diálogo com a música periférica mundial, seja ela tradicional ou midiatizada, procedimento do qual tanto o samba quanto a Makossa são exemplos. A figura do maioral encontrará paralelos no próprio homem caranguejo, um ser que dança e se diverte mas também usa a cabeça – difunde suas idéias e antena-se com o mundo, conforme propõe o manifesto e se ouvirá adiante.
5 – Da Lama Ao Caos
A faixa-título deste primeiro álbum da banda traz a ideia de uma eclosão de um padrão auto organizado a partir do ruído social, vindo da lama, que representa a má habitação, a pobreza e a fome, e se dirigindo ao futuro desconhecido.
Da Lama ao Caos é a trajetória do homem nordestino, vivendo na “lama”, que migra para o “caos” das metrópoles com a falsa promessa de melhoria de vida. Fala também sobre desigualdade e má distribuição de renda.
“Me organizando”, melhorando minha educação, me informando e articulando com outros pensadores posso “desorganizar”, fazer uma mudança naquilo que está fixado.
6 – Risoflora
Em meio a tantos versos políticos e de revolta social, o álbum Da Lama ao Caos abarca, em sua 11° faixa, uma das mais lindas mensagens de amor: Risoflora, mais uma composição de Chico Science, desta vez para uma namorada.
7 – Manguetown
Parceria de Chico Science com Lúcio Maia e Dengue, a canção Manguetown faz parte do segundo álbum de Chico Science & Nação Zumbi: Afrociberdelia.
O site 365 Canções Brasileiras analisa que trata-se da descrição precisa e – ao mesmo tempo – poética, de uma cena banal: catar caranguejo no manguezal de Recife:
“O enunciador está, sob o sol ardendo na moleira, lutando pela sobrevivência, ao mesmo tempo em que analisa o absurdo da situação: sua franca desvantagem até em relação aos urubus que o observam. Estes, ao menos possuem casa e asas; ele, nenhuma das duas coisas. Seu lar é a cena degradada e nauseabunda que só adquire algum glamour – ao olhar alheio – quando nomeada à moda estadunidense: Manguetown. E o único alívio, diante desse cotidiano degradado, é a diversão casual, com a perspectiva de, quem sabe, encontrar a companheira ideal no passeio noturno – quem irá, apenas, ajudar a reproduzir (literalmente) a situação de miséria que o sujeito já vivencia. (… a pobreza e a animalização do ser humano só poderia ser denunciada com a transmutação da lama do mangue em arte elétrica. Chico Science era mesmo um vanguardista.”
8 – Macô
Parceria de Science com Jorge Du Peixe e Eduardo BiD, e com participação de Gilberto Gil e Marcelo D2, Macô foi lançada no álbum Afrociberdelia, de 1996.
Do primeiro álbum da banda. Rio, Pontes e Overdrives é uma parceria de Chico Science com um de seus principais parceiros e também um dos nomes do Manguebeat, Fred 04.
10 – Maracatu Atômico
Maracatu Atômico não é uma composição de Chico Science, mas foi um dos maiores sucessos em sua voz e da Nação Zumbi.
Uma parceria de Jorge Mautner e Nelson Jacobina, a canção foilançada em 1974, no álbum Jorge Mautner. No mesmo ano, Gilberto Gil a regravou para o álbum Cidade do Salvador.
22 anos depois, veio a regravação de Chico Science & Nação Zumbi no álbum Afrociberdelia.
A história de Maracatu Atômico remete a 1954, quando Jorge Mautner, aos 13 anos de idade, assistiu pela primeira vez ao Maracatu de Pernambuco, durante a inauguração do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Ali, uma semente foi plantada, e após duas décadas de experiência, estudo musical e leituras sobre o Maracatu, compôs a canção em parceria com Nelson Jacobina.
por Lívia Nolla