
Você conhece Marinês, a Rainha do Xaxado? Confira nosso especial

Você conhece Marinês, a Rainha do Xaxado? Confira nosso especial
Artista pernambucana foi uma das mulheres mais importantes da nossa música, responsável pela popularização do gênero

Você conhece Marinês, a Rainha do Xaxado?
Início da carreira
Nascida Inês Caetano de Oliveira, em São Vicente Férrer, no sertão pernambucano, Marinês – como ficou conhecida nacionalmente quando tornou-se cantora – era filha de pai seresteiro e mãe cantora de igreja.
Mudou-se com a família para Campina Grande, na Paraíba, e lá – pelos auto-falantes do seu bairro – aos 10 anos de idade, soube de um concurso de calouros na cidade e fez sua primeira participação.
Anos depois, ainda vivendo bastante dificuldade financeira com a família, ela descobriu outro concurso de calouros, da Rádio Difusora da cidade, onde o prêmio em 1º lugar ganharia na época cem mil reis em dinheiro e um emprego na rádio.

Sabendo que seu pai escutava a programação da rádio e não queria que ela fosse cantora, a menina se combinou com o irmão mais velho que a convidasse para ir passear no centro de Campina Grande, para poder fazer a inscrição no concurso.
Na hora de se inscrever, ela colocou um “Maria” na frente do seu nome “Inês”, para que os pais não a reconhecessem.
No dia de sua apresentação, o locutor da rádio, por engano, anunciou o nome dela como “Marinês”, tudo junto. Ela, gostando, adotou o nome artístico.
Neste concurso, Marinês ganhou em primeiro lugar, empatando com também então jovem Genival Lacerda. O prêmio foi dividido em partes iguais para cada um. Genival já era empregado de outra rádio, então Marinês ganhou a metade do prêmio e também tomou posse do cargo, como cantora oficial do Regional da Rádio Borborema, cantando chorinho, serestas e músicas românticas, onde iniciou sua carreira como cantora e ajudou a sua família.
Esse foi o início de uma carreira de meio século, marcada pelo enfrentamento ao pai e ao mercado da música masculina para demonstrar a força do seu talento cantando os ritmos nordestinos.
Na obra Marinês Canta a Paraíba, do sociólogo paraibano Noaldo Ribeiro, ele define Marinês como sendo “aquela que abriu ‘picadas’ numa floresta de preconceitos no Brasil dos anos cinqüenta”,considerando a posição feminina imperante àquela época em que mulher, cantora de rádio e alto-falantes, não era tão facilmente acolhida.
A Rainha do Xaxado
Em 1950, Marinês conheceu Abdias do Acordeon ou Abdias dos 8 Baixos, paraibano que vinha de Alagoas para um recital na Rádio Difusora, e ambos se apaixonaram.
Em um ano, namoraram, noivaram, se casaram e tiveram um filho, Marcos Farias. Foram casados por 30 anos. Abdias apresentou para Marinês um repertório de um cantor que fazia muito sucesso no país, Luiz Gonzaga, que a encantou.
A partir daí, ela passou ser a voz feminina da música nordestina, montando a Patrulha de Choque do Rei do Baião. Anos depois, foi convidada por Gonzagão a integrar as suas apresentações, seguindo para o Rio de Janeiro, onde foi coroada pelo mesmo, como a Rainha do Xaxado.
Xaxado é uma dança popular brasileira originada no Sertão de Pernambuco, que foi difundida pelo Nordeste brasileiro por Lampião e seu bando. Foi muito praticada no passado pelo cangaço da região, em celebração às suas vitórias
Conforme resgata a dissertação da jornalista Claudeci Ribeiro, Luiz Gonzaga convidou Marinês e Abdias para o seu apartamento, pois queria saber se Marinês já havia dançado Xaxado em parceria com outra pessoa ou somente havia dançado sozinha.
Até então, a cantora só havia dançado o Xaxado sozinha, mas conforme o combinado entre eles, em um show em Sergipe, Luiz Gonzaga convidou o casal para o palco e explicou para o público. Segundo Marinês, ele falou:
“Vocês sempre ouviram falar que os cangaceiros dançavam xaxado com o rifle empunhado na mão e o braço erguido para cima… vocês sabem porque eles dançavam assim? Porque não tinham mulher para dançar a dois… pra não perder o embalo, eles dançavam tendo como companheira a sua arma na mão que estava sempre para cima”.
A cantora continua: “Aí nós fizemos o restante, modéstia à parte, um show de dança. O público foi à loucura. Quando cessaram os aplausos, Gonzaga falou novamente para a multidão: ‘Na minha corte está faltando esta menina, a Rainha do Xaxado’.”
Mais e mais sucessos
Em 1957, após muito destaque em suas apresentações, Marinês foi convidada para gravar seu primeiro disco, Vamos Xaxar, somente com composições do maranhense João do Vale, trazendo influênciascomo quadrilha, baião, coco, xote e xaxado.
Com o álbum de estreia, a artista teve a inédita façanha de estourar duas obras em um só disco, Pisa na Fulô (de João do Vale, Ernesto Pires e Silveira Júnior) e Peba na Pimenta (de João do Vale, José Batista e Adelino Rivera). Foram vendidas mais de 700 mil cópias.
Após o sucesso da gravação do seu primeiro LP, estourando nas paradas do Nordeste, os convites para apresentações de sua banda Marinês e sua Gente começaram a surgir por todo o Brasil.
Já nesse primeiro ano de atividade, Marinês ganhou o Troféu Euterpe, no Rio de Janeiro, como a melhor cantora de música regional, homenagem que se repetiu em 1958.
Devido ao grande sucesso de Marinês, as gravadoras começam a se interessar pela artista e em 1959, após o lançamento do LP Aquarela Nordestina, com a faixa Saudade de Campina Grande (Rosil Cavalcanti) como carro chefe do disco, a gravadora RCA Victor contratou Marinês como sua cantora exclusiva. Foram sete anos sucessivos de 1960 a 1966.
A Rainha do Xaxado lançou mais de 45 discos, todos com grandes sucessos, como as canções: Xaxado da Paraíba (Reinaldo Costa e Juvenal Lopes); Desabafo, Botão de Rosa e Bate Coração (todas de Cecéu); Cintura Fina (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) e Eu Vi Sim (Dominguinhos e Anastácia).
Marinês inspirou vários outros artistas como: Nara Leão, Gal Costa, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Lulu Santos, Amelinha e Elba Ramalho, e com esta última fez parcerias em disco e shows pelo Brasil.
A artista é pesquisada até hoje, por artistas de todos os estilos musicais, por sua voz, forte e extremamente afinada, e por sua postura.
Como disse Gilberto Gil, “Marinês é a grande Mãe da Música Nordestina”.
Marinês faleceu em 14 de maio de 2007, aos 71 anos, após sete dias em coma, em decorrência de complicações de um AVC isquêmico.
por Lívia Nolla