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Especial: Os 7 maiores poemas modernistas brasileiros

Clarissa Sayumi
10:00 22.10.2024
Arte e cultura

Especial: Os 7 maiores poemas modernistas brasileiros

Vários deles revolucionaram a literatura no início do século 20, com destaque para obras de Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade

Clarissa Sayumi - 22.10.2024 - 10:00
Especial: Os 7 maiores poemas modernistas brasileiros
Carlos Drummond de Andrade. Foto: Reprodução.

Os poemas modernistas brasileiros são fundamentais para entender a evolução da literatura no Brasil, especialmente após a Semana de Arte Moderna de 1922. A seguir, veja sete dos maiores poemas que representam essa corrente literária.

1. Poética (1922) – Manuel Bandeira

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente

protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o

cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais

Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção

Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador

Político

Raquítico

Sifilítico

De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora

de si mesmo

De resto não é lirismo

Será contabilidade tabela de co-senos secretário

do amante exemplar com cem modelos de cartas

e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbados

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos

O lirismo dos clowns de Shakespeare

– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

2. Moça Linda Bem Tratada (1922) – Mário de Andrade

Moça linda bem tratada,

Três séculos de família,

Burra como uma porta:

Um amor.

Grã-fino do despudor,

Esporte, ignorância e sexo,

Burro como uma porta:

Um coió.

Mulher gordaça, filó,

De ouro por todos os poros

Burra como uma porta:

Paciência…

Plutocrata sem consciência,

Nada porta, terremoto

Que a porta do pobre arromba:

Uma bomba.

3. No Meio do Caminho (1928) – Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

4. Erro de português (1927) – Oswald de Andrade

Erro de português

Quando o português chegou

Debaixo de uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português.

5. Solidariedade (1941) – Murilo Mendes

Sou ligado pela herança do espírito e do sangue

Ao mártir, ao assassino, ao anarquista.

Sou ligado

Aos casais na terra e no ar,

Ao vendeiro da esquina,

Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida,

Ao mecânico, ao poeta, ao soldado,

Ao santo e ao demônio,

Construídos à minha imagem e semelhança

6. Motivo (1963) – Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

— não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— mais nada.

7. Pronominais (1925) – Oswald de Andrade

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro.

Os poemas modernistas brasileiros rompem com as tradições literárias anteriores, além de refletirem as mudanças sociais e culturais do Brasil no início do século 20.

Cada um desses poemas traz à tona questões universais por meio de uma linguagem inovadora e acessível, o que consolida o modernismo como um marco na literatura brasileira.

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