Supermercado cria ‘caixa conversa’ para idosos que gostam de um dedinho de prosa

Nesta quinta-feira (11), no programa ‘Mesa Para Dois‘, a colunista Inês de Castro falou de uma rede de supermercado que lançou uma iniciativa pioneira para atender às necessidades sociais de seus clientes idosos.

No filme ‘Minha Mãe é Uma Peça’, a Dona Hermínia (interpretada pelo inesquecível Paulo Gustavo), está em plena crise do Ninho Vazio, aquele período em que os filhos saem da casa dos pais e a solidão toma conta do lar. A psicóloga Amanda Vitta diz que algumas mulheres demonstram uma tristeza tão intensa que essa dor se assemelha a um processo de luto.

Na tentativa de acabar com tanto desânimo, muitas mulheres fazem como a Dona Hermínia no filme. Elas vão ao supermercado para se ocupar e esquecer. Num dia, compram iogurte, no outro um detergente. É engraçado, mas ao mesmo tempo é triste.

Triste porque a dona Hermínia é o retrato fiel de tantas pessoas nessa mesma fase da vida. Gente que precisa preencher o tempo, dar sentido ao dia (e à vida), ainda que seja com uma prosaica ida ao supermercado.

A solidão da velhice não dói só por aqui. Ela é universal e afeta até as maiores economias do mundo, como os Países Baixos. Percebendo a frequência e o comportamento dos idosos no momento da compra, a rede de supermercados Jumbo, que está espalhada por toda a Europa, criou o conceito do Caixa para Conversar. É um caixa que só atende gente que está a fim de um papo, de uma conversinha e, obviamente, sem nenhuma pressa de passar e pagar as compras

Assim nasceu o ‘Caixa da Conversa’ em lojas onde havia maior concentração de consumidores idosos. Hoje são 150 delas, com o objetivo de chegar aos 200 caixas até o final de 2024. Segundo a porta-voz da rede Jumbo na Holanda, Colette Cloostermann van-Eerd, a empresa se deu conta de que o supermercado é um lugar de acolhimento, um ponto de encontro para os idosos. Para ela, oferecer contato pessoal, uma conversa ou uma escuta é desenvolver um papel social muito importante.

Essa iniciativa vem para engrossar o movimento Once Against Loneliness (Um caminho contra a solidão). De acordo com o Ministério da Saúde, Bem-Estar e Esporte da Holanda, 33% das pessoas com mais de 75 anos dizem se sentir sozinhas. A solidão é tão severa que, segundo uma pesquisa da Universidade holandesa de Maastricht, custa 2 bilhões de Euros, para tratar problemas decorrentes desse mal.

Num cenário tão desolador, a gente lê a notícia do Caixa da Conversa e dá um quentinho no coração. Saber que as empresas estão tomando uma iniciativa, além de falar sobre inclusão etária.

Inês de Castro brinca dizendo que velho está na moda, que todo mundo agora quer falar para a gente com mais de 60. Mas é só até a página dois. Na hora da ação, são poucas as iniciativas que contemplam quem já passou dos 50, dos 60 anos, está mudando o ritmo de vida e, por isso, precisa ser contemplado com um outro olhar. Como cidadão e como consumidor.

Não se trata apenas de dar prioridade no atendimento – algo que é previsto por lei aqui no Brasil. Trata-se de olhar para o 60+ com suas necessidades, suas complexidades e seus desejos. É um público exigente, eu sei. Cheio de particularidades, de necessidades muito específicas.

Mas quando o mercado se detiver em olhar com seriedade e atenção o consumidor sênior vai ver que tem muito como faturar com ele.