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Muito além da música – 10 livros escritos por Arnaldo Antunes

Lívia Nolla
00:01 02.09.2024
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Música

Muito além da música – 10 livros escritos por Arnaldo Antunes

Cantor e compositor paulistano faz aniversário hoje, dia 2 de setembro. Confira matéria especial com as obras do ex-Titãs

Lívia Nolla - 02.09.2024 - 00:01
Muito além da música – 10 livros escritos por Arnaldo Antunes
Arnaldo Antunes. Foto: Divulgação.

Hoje, dia 2 de setembro, é aniversário de um dos mais geniais e multi-talentosos artistas da música popular brasileira: Arnaldo Antunes.

E você sabia que o aniversariante do dia, além de cantor, compositor e instrumentista, também é poeta, artista plástico e já escreveu mais de 20 livros?

E, neste dia especial, nós trouxemos para você uma lista com os principais livros escritos por Arnaldo Antunes. Vamos lá?

Sobre Arnaldo Antunes

Arnaldo Antunes | Imagem: Divulgação

Dono de uma genialidade com as palavras e uma inventividade estética e criativa que impressiona, foi – durante mais de 10 anos – integrante de uma das bandas de rock mais importantes da nossa história, os Titãs, tendo gravando sete discos com o grupo, onde permaneceu até 1992, para seguir uma carreira solo de muito sucesso.

Seu primeiro disco solo, Nome, foi lançado em 1993 e – desde então – são diversos álbuns e parcerias de muito sucesso, além de excelentes livros publicados e premiados e participações em exposições e mostras de artes visuais.

Arnaldo Antunes também já integrou a banda Pequeno Cidadão – de 2008 a 2012 – e os Tribalistas, ao lado dos amigos e parceiros de longa data – Marisa Monte e Carlinhos Brown – com quem lançou dois discos de imenso sucesso, em 2002 e 2017 e fez turnês pelo Brasil e exterior.

Sua obra é tão vasta e rica, que é difícil citar algumas entre suas principais canções:

  • Sua obra é tão vasta e rica, que é difícil citar algumas entre suas principais canções: 
  • Não Vou Me Adaptar
  • Essa Mulher
  • Alta Noite
  • Lavar as Mãos
  • A Casa é Sua (parceria com Ortinho)
  • O Pulso (parceria com Marcelo Fromer e Tony Bellotto)
  • O Silêncio (parceria com Carlinhos Brown)
  • Alma (parceria com Pepeu Gomes)
  • Carnavália, Já Sei Namorar e Diáspora (todas parcerias com Brown e Marisa Monte)
  • O Seu Olhar (parceria com Paulo Tatit)
  • Beija Eu (parceria com Marisa Monte e Arto Lindsay)
  • Ainda Bem e Infinito Particular (ambas parcerias só com Marisa)
  • Vilarejo (parceria com Brown, Marisa e Pedro Baby)
  • Velha Infância (parceria com Brown, Marisa, Pedro Baby e Davi Moraes)
  • Comida (com Fromer e Britto)
  • Bichos Escrotos (com Sérgio Britto e Nando Reis)
  • Televisão (com Bellotto e Fromer)
  • Cabeça Dinossauro (com Paulo Miklos e Branco Mello)
  • Família (só com Bellotto)
  • Socorro (com Alice Ruiz)
  • A Lhe Esperar (com Liminha)
  • A Nossa Casa (com Alice Ruiz, Paulo Tatit, João Bandeira, Edith Derdyk e Sueli Galdino)
  • Grávida (com Marina Lima)

Como deu pra perceber, Arnaldo é compositor de muitos clássicos da MPB que escutamos por aí, não só na sua voz, mas na voz de outros grandes artistas também. Com influências concretistas e pós-modernas, o artista possui mais de 15 álbuns solo lançados, quatro álbuns ao vivo, compôs trilha sonora para o Grupo Corpo, fez exposições no Brasil e no exterior, fora os projetos paralelos na música.

Mas, o que poucos sabem, é que Arnaldo Antunes também é um escritor premiado. Autor de mais de 20 livros, entre poesias, ensaios e infantis, o artista já ganhou até um Prêmio Jabuti de Poesia, o principal prêmio da literatura brasileira.

Separamos, a seguir, uma lista com 10 dos principais livros escritos por Arnaldo Antunes para você.

10 livros escritos por Arnaldo Antunes que você precisa conhecer

1 – Ou E (1983)

Em 1983, Arnaldo Antunes publicou o seu primeiro livro, Ou E, um álbum de poemas visuais, editado artesanalmente. 

Ou E é um livro e uma caixa. Na tampa da caixa tem dois buracos com um círculo giratório dentro; quando você gira esse círculo, os alfabetos mais distantes vão passando pelos buracos: cine-letra. Dentro da caixa tem 29 poemas soltos: são charadas, coincidências visualizadas, releitura de outros textos (Hoelderlin, Haroldo de Campos, Flaubert, Mick Jagger, Blake, Pagu), perguntas longas com respostas curtas e, em quase todos, caligrafias entoando a leitura. Em tudo você tem de pegar, virar, abrir, cheirar, morder, descobrir, enfim, onde está o poema.” (Nuno Cobra, Folha de São Paulo, 15/01/1984)

2 – As Coisas (1992, Editora Iluminuras)

No mesmo ano em que saiu dos Titãs, 1992, Arnaldo publicou o livro As Coisas, que venceu o Prêmio Jabuti de Poesia de 1993.

As Coisas automatiza a aprendizagem visual. Sem radicalizar na sua proposta, Arnaldo Antunes interpreta pictografias, transforma palavras em desuso e rearranja significados. (…) Há sons, cores e formas insinuando o que as palavras não dizem.” (Prêmio Jabuti 1993)

O livro tem projeto gráfico e capa de Arnaldo Antunes e de sua esposa, Zaba Moreau e é ilustrado pela filha do casal, Rosa Moreau (então com três anos de idade). As Coisas foi adotado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FAE) e Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, em 1996. 

3 –  2 ou + Corpos No Mesmo Espaço (1997, Editora Perspectiva)

Arnaldo Antunes, artista multimidiático e intersemiótico, representa, na jovem poesia brasileira, a assunção, na prática – na dimensão do fazer -, desse vaticínio benjaminiano. Este seu novo livro, que ora se publica na coleção por mim dirigida – não por acaso acompanhado de um CD especialmente projetado para esse fim – põe à evidência o que acima afirmo.” (Haroldo de Campos)

Em 1997, o artista publica o livro  2 ou + Corpos No Mesmo Espaço, acompanhado de um CD com sonorização de alguns poemas em vários canais de vozes simultâneas, gravado especialmente por Arnaldo, produzido por Alê Siqueira. 

Este livro também foi adotado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), Ministério da Educação (MEC), Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FAE) e Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, em 1998.

4 –  Palavra Desordem (2002, Editora Iluminuras)

Em 2002, Arnaldo publicou o livro Palavra Desordem, composto de frases independentes, uma por página, e que pode ser lido em sua sequência, ou em qualquer ordem. A síntese, a concentração e o gosto pelo lúdico dão o tom de seu discurso. 

“Epigramas, ditados, aforismos, máximas, axiomas, provérbios ou refrões. Slogans, ou antes, anti-slogans, já que não se prestam a divulgar qualquer produto, nem a transformar em produto qualquer ideia. Ao contrário, suas frases carregam um caráter libertário que pode ser explicitamente notado, tanto em relação à linguagem e seus usos, como em relação à vida em si (onde a linguagem nasce, ‘ou faz-se’).” 

As 208 páginas do livro foram desenhadas por Arnaldo Antunes, como se fossem cartazes, que podem ser lidos em várias direções.

5 –  ET Eu Tu (2003, Arnaldo Antunes e Márcia Xavier – Cosac & Naify)

Em 2003, é a vez do  livro de poemas ET Eu Tu, um diálogo entre as linguagens do poeta e músico com a artista plástica Márcia Xavier, ocorrido entre 2000 e 2003. 

As fotos e fotomontagens da mineira foram respondidas com poemas do paulista, resultando não apenas em um livro de poemas ou numa obra fotográfica, mas em “uma parceria de dois códigos”, conforme os autores. O corpo humano tem presença marcante e serve como fio condutor do livro. Os poemas combinam aspectos construtivistas característicos da poética de Arnaldo, com metáforas em torno dos sentidos e do erotismo. 


6 – Frases do Tomé aos Três Anos (2006)

Lançado em 2006, o livro infantil Frases do Tomé aos Três Anos traz frases compiladas e ilustradas por Arnaldo Antunes, de seu filho Tomé, quando ele tinha três anos.

O próprio artista descreve o livro assim, em sua reedição de 2018: 

” ‘tem muito trabalho pra fazer o mundo’ ‘o tempo nunca acaba, nem quando a gente morre’ ‘a cabeça é a parte mais dura do corpo’ (…) Copiei e compilei essas frases do  durante o ano de 2004, quando ele tinha 3 anos. As coisas que ele falava nessa época soavam para mim como um apanhado de revelações, que se aproximava daquilo que eu entendia como poesia. 

Ia anotando onde dava, no papel que estivesse à mão, logo que ele dizia, para não esquecer. Depois fazia os desenhos. Inicialmente não tinha um plano de publicá-las. Fui fazendo como uma brincadeira um álbum para curtirmos intimamente, em família. Depois de um tempo, deu vontade de compartilhar esse tesourinho com mais gente. 

Muito do que escrevi ou compus bebeu na fonte de minha convivência com meus filhos, quando pequenos. Nas suas percepções muito virgens, cheias de encantamento e estranhamento por tudo que os cercava. Tomé é o mais novo deles. 

Em 1991, quando minha filha mais velha, Rosa, tinha essa mesma idade ― três anos ― escrevi o livro As Coisas ― uma espécie de compêndio pedagógico das coisas do mundo, filtradas poeticamente. Não era um livro feito especificamente para o público infantil (apesar de crianças também o apreciarem, como me relataram depois alguns professores), mas tinha uma linguagem um tanto inspirada no modo como as crianças veem (e elaboram) o mundo. Por isso convidei a Rosa para ilustrar, naquela época, os textos de As Coisas. 

Considero este livro agora, Frases do Tomé aos Três Anos, uma espécie de espelho invertido do As Coisas. Enquanto aquele era composto de textos meus, com ilustrações de minha filha mais velha quando tinha 3 anos, este é um livro de frases de meu filho mais novo quando tinha 3 anos, ilustradas por mim. 

Hoje em dia, Tomé tem 15 anos (e Rosa 28). Mas suas frases continuam a produzir em mim o mesmo susto poético de quando as ouvi pela primeira vez, levando-me a reparar em coisas que, apesar de serem muito evidentes, passavam despercebidas por minha (des)atenção forjada pelo hábito. Com suas analogias inusitadas entre as coisas, entre as palavras, entre as palavras e as coisas Tomé me ensinou outros modos de ver o mundo e usar a linguagem.”

7 – n.d.a (2010, Editora Iluminuras)

A relevância dos aspectos rítmicos, a busca por síntese e precisão, a fragmentação de vocábulos que sugerem múltiplas leituras no mesmo espaço sintático e o uso de elementos gráfico-visuais, são alguns traços do livro de poesia n.d.a, lançado em 2010, que ainda dialoga com a tradição de canção popular, exercida por Arnaldo Antunes em seu trabalho como cantor e compositor. 

No livro, o artista parece tensionar os limites das duas principais direções de seu trabalho poético — nos verbais, experimenta formatos mais longos, de até três ou quatro páginas. Nos visuais, além dos já explorados recursos de variação de tipos, disposição das letras na página, mescla de palavras e imagens; e apresenta também alguns poema-objetos, tudo isso equilibrado pelo projeto gráfico, assinado pelo próprio autor. 

n.d.a – indicado ao 53ª Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Poesia – traz ainda uma parte de Cartões Postais — reunião de fotos de placas e escritos urbanos que, deslocados de seu contexto original, adquirem poeticidade, gerando novos significados. A sequência das fotos acaba por sugerir uma narrativa oculta, que associa locais diferentes por elos de sentidos imprevistos.

8 – Animais (2011, Arnaldo Antunes e Zaba Moreau, Editora 34)

“O que as palavras e os bichos têm em comum? Acima de tudo, uma grande vontade de se divertir. Foi isso que Arnaldo Antunes e Zaba Moreau descobriram quando começaram a compor os micropoemas deste livro. Em Animais, cada página traz uma palavra inventada que condensa uma multiplicidade de sentidos. Acompanhando a brincadeira, os jovens artistas do Grupo Xiloceasa realizaram cerca de trinta gravuras em madeira e combinaram letras de formas e tamanhos diferentes para ilustrar poeticamente esse zoológico fantástico.”

9 – Agora Aqui Ninguém Precisa de Si (2015, Cia. das Letras)

O tempo e o espaço, a insignificância e a morte são os principais temas deste volume de inéditos de Arnaldo Antunes, lançado em 2015, que oscilam entre o humor e a desilusão. 

Alternando poemas em verso e visuais, fotografias e “prosinhas”, a obra é marcada pela pluralidade, pelo registro pop e pela sonoridade, tão próprios ao artista, que assina também o projeto gráfico. Um diálogo sensível e desafiante com o homem contemporâneo.

10 – Algo Antigo (2021, Cia. das Letras)

O livro mais recente lançado pelo compositor e poeta é Algo Antigo, de 2021.

Nele, Arnaldo Antunes mistura poemas, poemas visuais e fotografias para falar sobre o tempo – o presente e também o passado: “não tenho saudades/ do que vivi// porque tudo/ está aqui”. 

O isolamento por conta da pandemia, o noticiário e a política são eixos centrais desses versos que, com humor e sensibilidade, impressionam por sua atualidade e contundência. 

Para a crítica literária e escritora paulistana Noemi Jaffe: “Naquele que talvez tenha sido o ano mais difícil de nossas vidas, ano de pandemia e de esboço de ditadura, Algo Antigo repercute a solidão de cada um ‘isolado/ por um exército de desertos’, cada um como uma ‘multidão amputada’. Mas é ‘enfiando a adaga do sentido na palavra’ que cada uma dessas multidões recupera e refaz seus sentidos possíveis, prontos para o que foi, é e virá a ser.”.

por Lívia Nolla

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Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

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