História de “Casa no Campo”, no do aniversário do compositor Zé Rodrix
História de “Casa no Campo”, no do aniversário do compositor Zé Rodrix
Uma das mais famosas músicas do cancioneiro brasileiro em parceria com Tavito, fez muito sucesso na voz de Elis Regina
A música Casa no Campo é um dos maiores sucessos da história do cancioneiro popular brasileiro.
Lançada por ninguém mais ninguém menos que Elis Regina, no álbum Elis, de 1972, a canção é de autoria de dois grandes compositores da nossa música: Tavito e Zé Rodrix.
Este último, faria aniversário no dia de hoje, 25 de novembro, se não tivesse nos deixado em 2009, aos 61 anos, vítima de um infarto.
Hoje, vamos saber um pouco mais sobre a trajetória de Zé Rodrix e também sobre a história da música Casa no Campo.
Sobre Zé Rodrix
O cantor, compositor, multi-instrumentista e escritor carioca Zé Rodrix autor de sucessos como José Rodrigues Trindade nasceu no Rio de Janeiro, em 27 de novembro de 1947.
Iniciou sua carreira musical no colégio, ainda com o nome de Zé Rodrigues, integrando – com os colegas do Ensino Médio, Maurício Mendonça e Ricardo Sá, o grupo vocal Momentoquatro.
Com esta formação, o grupo acompanhou Marília Medalha, Edu Lobo e o Quarteto Novo na apresentação de Ponteio, canção vencedora do Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em 1967, além de ter gravado um compacto duplo e um LP pela gravadora Phillips.
Zé Rodrix estudou no Conservatório Brasileiro de Música, tornando-se multi-instrumentista: tocava piano, violão, sanfona, flauta, bateria, saxofone e trompete. Na década de 1970, participou da banda Som Imaginário, criada primeiramente para acompanhar Milton Nascimento.
Em 1971, venceu o Festival da Canção de Juiz de Fora, ao lado de Tavito, com a canção Casa no Campo, uma de suas composições mais famosas, que se tornaria um grande sucesso na voz de Elis Regina, e cujo trecho da letra – “compor rocks rurais” – batizou o estilo de música conhecido como “rock rural”, com influências regionalistas, tropicalistas, folk, country e rock, tocada pelo trio do qual Zé Rodrix faria parte logo em seguida, ao lado de Luiz Carlos Sá e Guttemberg Guarabyra: Sá, Rodrix & Guarabyra.
Nessa época, Zé Rodrix compôs sucessos como Mestre Jonas, O Pó da Estrada e Pendurado no Vapor (todas em parceria com Sá e Guarabyra).
Zé saiu do trio em 1973, para seguir em carreira solo e fez participações especiais em gravações de artistas diversos, como o disco de estreia do Secos & Molhados, no qual toca piano, ocarina e sintetizador na última faixa, Fala, de João Ricardo e Luhli.
Em 1973, o artista lançou seu primeiro LP, I ACTO, e em 1976 veio o seu trabalho mais bem-sucedido comercialmente, Soy Latino Americano. Foram oito álbuns no total, até que – a partir de 1980 – Zé Rodrix passou a se dedicar mais à área de publicidade.
Em 1983, ele voltou para a música e passou a integrar o grupo Joelho de Porco, com o qual gravou um LP e participou do Festival dos Festivais, em 1985, ganhando o prêmio de melhor letra pela música A Última Voz do Brasil.
Entre 1989 e 1996 assinou a direção musical dos espetáculos Não fuja da Raia e Nas Raias da Loucura, de Sílvio de Abreu, e do programa Não Fuja da Raia, estrelado por Cláudia Raia, na Rede Globo.
Em 2001, Zé Rodrix reuniu-se novamente com Sá e Guarabyra, fazendo seu show de estreia no Rock in Rio III. Neste mesmo ano, logo após o lançamento do álbum Outra Vez Na Estrada, com o trio, Zé conheceu o Clube Caiubi de Compositores, em São Paulo, e passou a desenvolver parcerias com novos autores da música brasileira.
Em dezembro de 2008, o artista lançou o seu último trabalho: um single ao lado de Sá e Guarabyra, chamado Amanhece um Outro Dia.
Casa no Campo – Zé Rodrix e Tavito (1971)
A canção Casa no Campo falou sobre o desejo de uma vida simples e tranquila, em tempos em que o Brasil vivia um dos seus momentos mais caóticos: a Ditadura Militar.
Com muita perseguição política e ideológica aos artistas, o protesto contra a repressão dominava composições brasileiras. E essa letra em especial, falava sobre liberdade de uma forma mais poética, mais subliminar, de forma que driblava a censura, que nem entendia que aquilo era uma crítica aos tempos duros que vivíamos.
Na época em que compuseram a música, Zé Rodrix e Tavito integravam a banda Som Imaginário, e acompanhavam Milton Nascimento e também Gal Costa em shows e turnês, viajando muito pelo país.
Foi em uma dessas viagens com a Gal, inspirado pela paisagem bucólica do campo em Goiânia, que Zé Rodrix compôs a letra de Casa no Campo:
“Eu viajava de ônibus (…) quando avistei pela janela uma plácida paisagem de macelas-do-campo, contrastando com o difícil momento profissional que eu vivia…” – declarou Zé Rodrix em entrevista.
Já Tavito, parceiro de Zé na composição de Casa no Campo e responsável por musicar a letra do amigo, declarou em outra entrevista, no ano de 2016:“Ele (Zé Rodrix) estava com a cabeça um pouco conturbada e foi rabiscando os versos na viagem. (…) Quando chegamos ao hotel, ele virou pra mim e disse: ‘toma, pra você musicar’. Estávamos no mesmo quarto. Sentei e fiz a música na hora, em três minutos. Naquele tempo, a gente vivia um surto de criatividade”.
Nessa mesma entrevista, Tavito – falecido em 2019 – comentou que a “esperança de óculos” sobre a qual falam na letra da canção, é a Marya Bravo, primeira filha de Zé Rodrix, fruto do casamento com a cantora e escritora Lizzie Bravo.
Mas a própria Lizzie revelou uma memória um pouco diferente da de Tavito sobre as referências familiares em Casa no Campo: “Poucos sabem, mas sou ‘a esperança de óculos’ e Marya é ‘um filho de cuca legal’.” (outro trecho da música), disse em entrevista à revista Cláudia, em 2020.
Essa versão faz mais sentido, porque Lizzie estava ainda grávida de Mayra na época da composição de Casa no Campo.
Depois de vencerem o Festival da Canção de Juiz de Fora defendendo a canção, Zé Rodrix e Tavito decidiram competir no VI FIC – Festival Internacional da Canção, transmitido pela Rede Globo, para tentar emplacar a música em todo Brasil.
Não venceram, mas ganharam uma grande fã: ninguém mais, ninguém menos que Elis Regina – uma das maiores vozes da MPB de todos os tempos – que estava como presidenta do júri no Festival e pediu para gravar Casa no Campo em seu próximo álbum, Elis, de 1972.
A canção tornou-se um dos maiores sucessos da carreira da Pimentinha, que a regravou diversas vezes ao longo dos próximos anos.
Uma curiosidade: Zé Rodrix disse certa vez à Folha de São Paulo que “nunca acreditou muito nesse papo de campo”, considerando-se um sujeito 100% urbano e declarando-se surpreso com o imenso sucesso da canção, que fez de seu autor um dos maiores nomes justamente do tal “rock rural”!
por Lívia Nolla