
História da música “Banho de Folhas”, no aniversário de Luedji Luna

História da música “Banho de Folhas”, no aniversário de Luedji Luna
Hoje é dia de comemorar o aniversário da cantora e compositora soteropolitana que completa 37 anos


Você conhece a história da música “Banho de Folhas”, de Luedji Luna?
Hoje, é dia de comemorar o aniversário da cantora e compositora soteropolitana Luedji Luna, que completa 37 anos neste 25 de maio!
E, para homenagear a aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira, nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Sobre Luedi Luna
Luedji Luna nasceu em Salvador, filha de dois funcionários públicos e militantes do movimento negro da cidade, que desde sempre lhe ensinaram muito sobre luta e ativismo político.
A cantora recebeu dos pais, inclusive, o nome da primeira rainha africana da etnia Lunda, considerada mãe de Angola.
A ideia dos pais é que Luedji Luna seguisse os seus caminhos na militância e mudasse a narrativa de que pessoas pretas não ocupam espaços de poder. Por isso, a artista foi estudar Direito, formando-se na Universidade do Estado da Bahia.
Mas, depois de certo tempo, Luedji percebeu que podia trabalhar todas essas questões que envolviam a luta e militância de seus pais e também ocupar o seu espaço por meio da sua música.
Foi assim que – finalmente – ela aceitou o chamado da arte, para a nossa sorte!
Compositora desde os 17 anos, Luedji Luna já se apresentava na noite de Salvador, estudava na Escola Baiana de Canto Popular e fazia parte de grupos e coletivos artísticos da cidade.
A artista conta que começou a escrever para romper o silêncio causado pelo racismo e discriminação que sofria na adolescência.
Suas músicas falam sobre racismo, opressão, ancestralidade, baianidade, feminismo, afetividade de mulheres negras, amor, luta, sobre a cultura e as tradições afro-brasileiras e as religiões de matriz africana, sobre pertencimento e identidade, entre outras tantas questões importantes de serem colocadas de forma tão sensível por uma cantora, compositora, mulher, negra e baiana, que – como ela mesma disse em entrevista ao jornal El País:
“Quero ser história e possibilitar que outras mulheres pretas possam construir as próprias histórias a partir de mim. Ou junto comigo. Para que, no futuro, quando se pense MPB, para além de lembrar de Elis Regina, se pense também em Luedji Luna, Xênia França, que tenhamos outros referenciais de divas, de compositoras da música popular brasileira.”.

Uma carreira de sucesso
Durante a infância de Luedji, seu pai reunia um grupo de amigos para fazer batucada no quintal de casa. O grupo, chamado Raciocínio Lento, tocava o que havia de melhor do cancioneiro popular brasileiro.
A cantora conta que a maioria das suas influências musicais veio do que seus pais escutavam em casa: Milton Nascimento, Luiz Melodia e Djavan eram os principais nomes, assim como todo o reggae da década de 80 – como Gregory Isaac, Alpha Blond, Peter Tosh, e Edson Gomes. Daí a sua paixão pelos graves e pelos sopros.
As referências africanas, de músicos angolanos e de Cabo Verde também vieram a partir do seu primeiro disco, em nomes como Mayra Andrade, Sara Tavares, Aline Frazão, e o baiano Tiganá Santana, que compõe também em línguas banto.
Com 25 anos, Luedji Luna mudou-se para São Paulo e, no ano seguinte, lançou o seu primeiro e aclamado álbum: Um Corpo No Mundo, de 2017. Em 2019, ela lançou um EP chamado mundo, com a versão remix de cinco canções de seu primeiro disco, incluindo o grande sucesso Banho de Folhas, composição em parceria com Emillie Lapa.
Três anos e várias turnês nacionais e internacionais depois do primeiro disco, veio outro sucesso: o seu segundo álbum, Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água, gravado parte na África e parte no Brasil, e indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, em 2021. Luedji também se apresentou ao vivo na premiação.
Veja também:
Além do disco, o projeto consistiu na gravação de um álbum visual, dirigido por Joyce Prado, vencedora do prêmio Women’s Music Event na categoria Melhor Diretora de Clipe e cofundadora da APAN (Associação do Produtores do Audiovisual Negro).
Uma das principais parceiras de trabalho da cantora, é ela quem também assina a direção do clipe do hit Banho de Folhas.
Em novembro de 2022, Luedji Luna lançou a versão Deluxe de Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água – como um Lado B da versão anterior, incluindo 10 músicas inéditas.
Hoje, para prestar uma homenagem a esta artista que vem se destacando como um dos maiores nomes da MPB da atualidade, vamos contar a história de um de seus maiores sucessos: a canção Banho de Folhas, parceria com Emillie Lapa, lançada em 2017.
História da canção Banho de Folhas, de Luedji Luna e Emilie Lapa
Luedji Luna contou certa vez em entrevista, que compôs a canção Banho de Folhas, quando foi – juntamente com a amiga Emilie Lapa, sua parceira de na composição da música – a procura de uma mãe ou um pai de santo em Salvador, cidade em que as duas nasceram e cresceram.
Era uma quarta-feira e Emilie Lapa já frequentava o candomblé e era mais próxima da religião de matriz africana e levou Luedji ao Ilê Axé Opô Afunjá, que é um terreiro muito tradicional de Salvador, para que a cantora fizesse seu primeiro jogo de búzios.
O que elas não sabiam é que no Axé Opô Afunjá era preciso fazer agendamento para jogar os búzios e, como não tinham agendado, Luedji e Emilie não puderam jogar.
Por isso, Emilie Lapa ligou para um amigo dela, que era filho de Oxalá, de outro terreiro muito importante da Bahia, o Terreiro do Gantois, e ele as levou até o pai de santo dele, para que Luedji Luna finalmente fizesse o seu primeiro jogo de búzios.
A cantora conta que chegou lá muito ansiosa, querendo saber de todas as respostas para os questionamentos sobre seu futuro: se ela ia ficar famosa, ficar rica, se casar, ter filhos…
O pai de santo não deu nenhuma resposta concreta para os questionamentos dela (“Tanta volta pra nenhuma resposta”), mas passou uma relação de folhas para que Luedji tomasse um banho.
A cantora fala que a história desse dia foi tão tragicômica, que ela e Emilie Lapa foram compondo a música ali mesmo, enquanto as coisas iam acontecendo, porque a amiga – que é multi-instrumentista, atriz, cantora, compositora, arte-educadora e diretora musical de espetáculos teatrais – sempre andava com um violão para onde fosse.
A história desse dia tornou-se um grande hit, gravado por Luedji Luna em seu primeiro álbum, Um Corpo no Mundo, de 2017, depois ganhando uma versão remix no primeiro EP da cantora baiana, Mundo (Remix), de 2019, com a participação de DJ Nyaki e do marido de Luedji, e pai de seu filho, Dayo: Zudizilla.
Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos a aniversariante Luedji Luna.
por Lívia Nolla