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Entenda a importância de Sivuca para a MPB

Lívia Nolla
08:30 26.05.2024
Música

Entenda a importância de Sivuca para a MPB

Multi-instrumentista, maestro, arranjador, compositor, orquestrador e cantor paraibano faria 94 anos, neste domingo. Saiba mais sobre esse gênio da nossa cultura

Lívia Nolla - 26.05.2024 - 08:30
Entenda a importância de Sivuca para a MPB
Sivuca, Foto: Divulgação

Você já ouviu falar de Sivuca?

Caso a resposta seja negativa, esta música aqui, você conhece, né?

“Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três”

Ou esta outra aqui?

“Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaiero ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra Maria do Joá”

Pois saiba que o compositor dessas e de outras diversas músicas importantíssimas da história da MPB, é um dos grandes gênios da nossa cultura: o multi-instrumentista, maestro, arranjador, compositor, orquestrador e cantor paraibano Sivuca, que estaria completando 94 anos no dia de hoje!

O multiartista paraibano Sivuca | Foto: Reprodução

Sobre Sivuca

Nascido Severino Dias de Oliveira – em Itabaiana, na Paraíba, no dia 26 de maio de 1930 – o artista ganhou uma sanfona de presente da sua família quando tinha 9 anos e, aos 15, foi para Pernambuco, participar de programas de calouros. Logo se destacou e passou a apresentar-se na Rádio Clube de Recife

Em 1948, foi contratado pela Rádio Jornal do Commercio, onde atuou até meados da década de 1950. Em 1949, foi convidado para gravar com a cantora Carmélia Alves em São Paulo. 

Carmélia foi a primeira a gravar, em 1951, o baião Adeus Maria Fulô, composição de Sivuca e Humberto Teixeira. A música foi o primeiro sucesso nacional de Sivuca e depois foi regravada em uma versão psicodélica e inesquecível pelo conjunto Os Mutantes, em 1968. 

Sucesso nacional e internacional

Também em 1951, Sivuca gravou o primeiro seu primeiro álbum de 78 rotações, pela gravadora Continental, com as canções Carioquinha do Flamengo (de Waldir Azevedo, Bonfiglio de Oliveira) e Tico-Tico no Fubá ( de Zequinha de Abreu, sucesso na voz de Carmen Miranda). 

Em 1955, o paraibano foi morar no Rio de Janeiro, contratado pelas Emissoras Associadas de Rádio e Televisão Tupi e estudou teoria musical e harmonia durante três anos com Guerra Peixe. No ano seguinte, lançou Eis Sivuca, seu primeiro disco solo, e também gravou seu famoso choro Homenagem à Velha Guarda.

Também em 1956, Sivuca partiu para a sua primeira temporada de shows pela Europa, com o grupo Os Brasileiros. Desde jovem, Sivuca viajava pelo interior do Nordeste brasileiro, tocando música regional com músicos locais, período de aprendizagem e experimentações, o que lhe concedeu o conhecimento do universo musical nordestino. 

Segundo o artista, essa vivência entre músicos da cultura popular  forneceu as bases de sua obra. Apesar de decisiva, a arte de Sivuca não se resume à influência regional, transitando entre diversos gêneros da música nacional e internacional. 

Sivuca | Foto: Oriel Farias

Contribuição imensurável de Sivuca para a música

Mestre da sanfona, instrumento do qual foi um dos principais divulgadores na música nacional e internacional, o trabalho de Sivuca se identifica com a bossa-nova, o jazz, o forró, o choro, o baião, o maracatu e o frevo. 

No entanto, predomina o virtuosismo no acordeom e o improviso musical, característico de expressões da Paraíba, como os cantadores de coco.

A partir de 1959, Sivuca foi morar em Lisboa e Paris, sendo considerado o melhor instrumentista de 1962 pela imprensa parisiense. Morou também em Nova York, de 1964 a 1976, e – em 1971,  o músico norte-americano Harry Belafonte o convidou para arranjar e tocar no especial dele e da renomada atriz Julie Andrews, na TV NBC

Sivuca usou violão e sanfona, arranjou para orquestra de cordas e fez, inclusive, o arranjo de uma canção escrita para Julie Andrews homenagear Vincent van Gogh.

Na década de 70, Sivuca compôs trilhas para filmes em curta-metragem da televisão educativa americana, trabalho pelo qual foi indicado ao Grammy, com a trilha do filme Joy

Nesse período, fez parcerias com artistas como Hermeto Pascoal, Bette Midler e Paul Simon. Em 1975, casou-se com a compositora e compositora Glória Gadelha, com quem passou a desenvolver parcerias artísticas. 

Sivuca e Hermeto Pascoal — Foto: Divulgação

Mais e mais sucessos de Sivuca

Nessa época, o artista voltou para o Rio de Janeiro e participou da série de espetáculos Seis e Meia, com o show Sivuca e Rosinha de Valença. Gravado ao vivo, esse tornou-se o primeiro registro do baião Feira de Mangaio, parceria com Glorinha Gadelha, considerado um dos maiores clássicos da MPB, que fez muito sucesso na voz de Clara Nunes, que o gravou em 1979, no seu disco Esperança.

Em 1977, Chico Buarque escreveu a letra para uma melodia composta por Sivuca em 1947, dando origem a outro grande clássico da música popular brasileira: a canção João e Maria, única parceria dos dois compositores, sucesso em um duo de Chico e Nara Leão nesse mesmo ano, no disco Os Meus Amigos Um Barato, de Nara.

Em 1985, Sivuca escreveu a sua primeira peça sinfônica: Concerto Sinfônico para Asa Branca, inovando ao mobilizar a orquestra pela ótica do acordeonista. 

Em 2003, voltou à Paraíba, onde seguiu trabalhando. No ano seguinte, em Recife, gravou com a Orquestra Sinfônica da cidade, o clássico disco Sivuca Sinfônico. Três anos depois, compôs seu último arranjo sinfônico, Choro de Cordel, com Glorinha

Sivuca faleceu em 2006, aos 76 anos, vítima de um câncer, mas o legado de Sivuca permanece vivo para as próximas gerações.

Muitas de suas partituras foram doadas por sua viúva ao acervo da Fundação Joaquim Nabuco, do Recife. A doação à instituição pernambucana deveu-se a uma dívida de gratidão que o próprio artista dizia ter com o Recife em sua formação musical. 

por Lívia Nolla

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