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Especial Aniversário Elis Regina

Lívia Nolla
10:00 17.03.2024
Acervo

Especial Aniversário Elis Regina

Se não tivesse nos deixado inesperadamente e precocemente no dia 19 de janeiro de 1982, aos 36 anos, Elis Regina – considerada uma das maiores cantoras do mundo – estaria completando 79 anos neste 17 de março de 2024. Com sua afinação impecável, extensão vocal potente e uma interpretação magistral de tudo … Continued

Lívia Nolla - 17.03.2024 - 10:00
Especial Aniversário Elis Regina
Elis Regina | Foto: Wikimedia Commons

por Lívia Nolla

Se não tivesse nos deixado inesperadamente e precocemente no dia 19 de janeiro de 1982, aos 36 anos, Elis Regina – considerada uma das maiores cantoras do mundo – estaria completando 79 anos neste 17 de março de 2024.

Com sua afinação impecável, extensão vocal potente e uma interpretação magistral de tudo o que cantava, Elis transformou a história da música popular brasileira para sempre.

Aclamada nacional e internacionalmente, era dona de uma vasta inteligência musical e de uma versatilidade que a permitia transitar da bossa nova ao jazz, do rockn roll aos boleros, dos clássicos da MPB ao samba.

Elis Regina foi a primeira pessoa a inscrever a própria voz como um instrumento na Ordem dos Músicos do Brasil. Trazia teatralidade para as canções. Conseguia ser doce, agressiva, introspectiva, de acordo com o que a música pedia. A emoção aflorava a ponto de ela chorar no meio da canção, como na sua interpretação inesquecível de Atrás da Porta, de Chico Buarque e Francis Hime.

E nesta data especial, a Novabrasil preparou uma matéria completa sobre a Pimentinha – como Elis era carinhosamente chamada – contando sobre sua vida e obra.

Elis Regina | Foto: Wikimedia Commons
Elis Regina | Foto: Wikimedia Commons

Infância

Nascida em Porto Alegre, em 17 de março de 1945, Elis Regina começou a carreira influenciada pelas cantoras do rádio, como Emilinha Borba e também Ângela Maria, sua maior fonte de inspiração.

Aos sete anos, sua mãe a levou à Rádio Farroupilha, para participar de um programa de rádio chamado Clube do Guri, apresentado pelo radialista Ari Rego. Antes mesmo do ensaio, Elis entrou em pânico e pediu para voltar para casa. Ela só voltou ao programa em 1957, aos 12 anos de idade, quando finalmente controlou seu nervosismo e conseguiu cantar.

A impressão causada foi tão boa que Elis foi convidada para voltar ao programa nos dias seguintes e passou a fazer parte das crianças que se apresentavam regularmente, de modo amador, sem cachê.

O início da carreira

Em dezembro de 1958, com 13 anos, iniciou a sua carreira profissional, agora como contratada da Rádio Gaúcha, passando a ser chamada de “A Estrelinha da Rádio Gaúcha”.

Nesse mesmo ano, foi eleita a Melhor Cantora do Rádio Gaúcha de 1958, em concurso realizado pela Revista de TV, Cinema, Teatro, Televisão e Artes, com apoio da sucursal gaúcha da Revista do Rádio, com sede no Rio de Janeiro.

Em 1961, Wilson Rodrigues Poso, um gerente comercial do selo Continental, estava de passagem por Porto Alegre quando foi avisado por um de seus amigos radialistas de que a rádio em que ele trabalhava contava com um novo talento que o deixaria boquiaberto.

O gerente comercial não tinha autonomia para contratar artistas – isto era trabalho do diretor artístico – mas ficou com medo de perder a cantora para a concorrência e, então, ofereceu um contrato padrão para dois discos aos pais de Elis: sem cachê, mas com divisão dos resultados das vendas – o que barateava a operação da gravadora.

Ao voltar ao Rio de Janeiro, não precisou de muito para convencer Nazareno de Brito, o diretor artístico do selo, que se encantou com a voz de Elis de primeira, mas disse que a menina precisava trocar de repertório.

Ele achava que aqueles sambas-canção de cantora de vozeirão eram datados e que a moda era cantar rocks, como Celly Campello. Logo, Carlos Imperial – na época radialista de programas de rock e, mais tarde, um dos grandes compositores e produtores da Jovem Guarda – foi chamado para produzir o álbum de estreia da cantora.

Capa do primeiro álbum de Elis Regina | Imagem: Reprodução
Capa do primeiro álbum de Elis Regina | Imagem: Reprodução

Os primeiros álbuns

Foi aí que Elis Regina viajou para o Rio de Janeiro, onde gravou o seu primeiro disco: Viva a Brotolândia. O álbum procurou divulgar a sua imagem como uma cantora de rock, para a juventude. Mas, apesar da divulgação – Elis participou de programas de rádio e o álbum chegou a receber críticas na imprensa – o disco ainda não foi um sucesso de vendas. Mas a voz de Elis, aos 16 anos de idade, impressionava pela potência e precisão.

No ano seguinte, 1962, a gravadora resolveu trocar o produtor para Diogo Mulero – da dupla sertaneja Palmeira & Piraci – e novamente modificar o repertório da cantora, que agora passaria a interpretar boleros, buscando transformá-la em uma cantora popular. Saiu então o seu segundo disco, Poema de Amor, só que as vendas continuaram baixas.

Sem contrato de gravação – que havia sido cumprido com o lançamento do segundo disco – Elis continuou com seu emprego na Rádio Gaúcha e passou a cantar também como crooner em boates de Porto Alegre.

Então, em 1963, um novo representante de uma gravadora foi procurar a família. Dessa vez, a Discos CBS propôs um contrato muito parecido com o primeiro: dois discos que seriam lançados naquele ano, sem cachê.

E lá foi Elis para o Rio de Janeiro novamente, gravar o seu terceiro LP. Para os dois novos discos, o produtor foi Astor Silva, que resolveu tentar transformá-la em uma cantora de sambas e algumas versões populares de canções estrangeiras. Assim, foram lançados os álbuns Ellis Regina e O Bem do Amor, novamente com vendas baixas.

Elis Regina | Foto: Divulgação
Elis Regina | Foto: Divulgação

A música popular brasileira

De volta a Porto Alegre mais uma vez, Elis Regina continuou trabalhando na rádio e fazendo apresentações esporádicas pelo sul do país. No final de 1963, participou de um show coletivo em Florianópolis, onde estava Armando Pittigliani, produtor da Philips, maior selo do país.

Durante o intervalo da apresentação, Armando foi aos bastidores e perguntou para Elis porque ela cantava aquelas versões e não música brasileira. A cantora respondeu que amava música brasileira, mas que haviam lhe dito que não se vendia discos com aquilo.

Assim, Armando convenceu-a a cantar Chão de Estrelas (Orestes Barbosa e Sílvio Caldas) na sequência do show. Ao fim do espetáculo, ele deu-lhe o seu cartão e disse: “procure-me após fevereiro”. Ao voltar pra casa, a cantora contou sobre o encontro para a sua família e seu pai decidiu que era hora de ela mudar-se definitivamente para o Rio de Janeiro, onde estava praticamente toda a indústria fonográfica nacional.

Elis Regina| Foto: Paulo Kawall / Divulgação
Elis Regina| Foto: Paulo Kawall / Divulgação

Mudança para o Rio de Janeiro

Elis Regina no início de 1964 e, com sua experiência na rádio do Rio Grande do Sul, já conseguiu rapidamente um emprego na TV Rio, para participar dos programas Noites de Gala e A Escolinha do Edinho Gordo.

O primeiro era um programa comandado por Ciro Monteiro (que acabou tornando-se seu grande amigo), no qual Elis fazia apresentações musicais. O outro era um humorístico, no qual contracenava com nomes como Wilson Simonal e Jorge Ben Jor.

Com suas aparições na TV Rio, Elis passou a ser vista e ouvida por um número maior de pessoas. Foi aí que os produtores e jornalistas Renato Sérgio e Roberto Jorge a conheceram e decidiram produzir o que seria o primeiro show de Elis no Rio de Janeiro, que aconteceu no Bottle’s, uma boate que fazia parte do famoso Beco das Garrafas, travessa de Copacabana que abrigava um conjunto de casas noturnas e boates, onde se apresentaram grandes nomes da música popular brasileira.

A ideia dos produtores é de que fosse um espetáculo com Elis Regina cantando samba jazz, acompanhada pelo Copa Trio, e com uma música de abertura feita por Edu Lobo. Mas, nos ensaios, eles perceberam que Elis Regina tinha um grave problema de presença de palco. Para resolver este problema, recrutaram a ajuda de Lennie Dale, coreógrafo ítalo-americano radicado no Brasil e que se naturalizou brasileiro.

Desde 1960, Lennie vivia entre os Estados Unidos e o Rio de Janeiro e frequentava o Beco das Garrafas, dirigindo e coreografando alguns espetáculos. Depois, em 1973, formou o grupo de teatro e dança Dzi Croquettes, um dos mais importantes símbolos da contracultura do período. Foi com ele que Elis aprendeu a mexer os braços como se estivesse nadando no ar, ou como as hélices de um helicóptero, algo bem característico das interpretações da cantora.

Assim, Elis Regina estreou o show Sosifor Agora, que foi um sucesso de público no Bottle’s. Só que, no quinto final de semana da temporada, a artista faltou ao show sem avisar os produtores, para realizar outro show em São Paulo, e eles tiveram uma briga, que encerrou a temporada de apresentações.

Elis Regina | Foto: Divulgação
Elis Regina | Foto: Divulgação

Miele e Bôscoli e o Beco das Garrafas

Foi aí que entraram em cena a dupla Luís Carlos Miele e Ronaldo Bôscoli, produtores de shows no bar vizinho – o Little Club – que contrataram a cantora gaúcha para um show lá. Mas, assim como no show anterior, a cantora começou a faltar a suas apresentações para fazer shows em outras cidades, o que levou a outra briga e, novamente, ao cancelamento da temporada. Elis nunca mais se apresentou no Beco das Garrafas e o lugar começou a entrar em declínio nos anos seguintes.

No repertório do show dirigido e produzido por Miele e Bôscoli, estavam as canções Preciso Aprender a Ser Só (de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) e Menino das Laranjas (de Théo de Barros), que entraram para o próximo disco da cantora, de 1965: Samba – Eu Canto Assim.

Esse foi o primeiro álbum de Elis a ganhar mais destaque, por ter outros compositores de peso como: Vinicius de Moraes e Baden Powell (nas canções Consolação, Berimbau e Tem Dó), Dorival Caymmi (em João Valentão), Ruy Guerra (em Aleluia e Reza, com Edu Lobo; e em Por Um Amor maior e Último Canto, com Francis Hime).

Elis Regina canta 'Arrastão' em festival de 1965 — Foto: Reprodução / Vídeo
Elis Regina canta ‘Arrastão’ em festival de 1965 — Foto: Reprodução / Vídeo

Mudança para São Paulo e o sucesso a partir de Arrastão

Enquanto deveria estar se apresentando no Beco das Garrafas, a artista estava cumprindo uma atribulada agenda de shows por São Paulo e, com essa guinada paulistana que sua carreira estava dando, decidiu mudar-se para a capital paulista com sua família em 1965.

Nesta época, Elis namorava com o crítico e produtor musical paulistano Solano Ribeiro, que foi um dos idealizadores e quem promoveu a realização dos primeiros festivais de Música Popular Brasileira no país.

A interpretação antológica e avassaladora de Elis Regina para a canção Arrastão (de Vinicius de Moraes e Edu Lobo), venceu o 1º Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, em 1965, e entrou para a história como uma das melhores performances já vistas, consagrando de vez Elis Regina ao posto de uma das maiores artistas da nossa história.

A interpretação de Elis – que, na ocasião, também foi premiada com o Troféu Berimbau de Ouro de Melhor Intérprete – subverteu todas as regras da contenção vocal e da performance minimalista adotada pela bossa nova até então, fato que causou estranhamento ou admiração para os músicos do gênero), e que fez com que a apresentação fosse – justamente – considerada por muitos críticos e jornalistas como um marco e a inauguração de um novo estilo na chamada Música Popular Brasileira, ou MPB.

Nesta época, Elis também compôs sua primeira e única música – Triste Amor Que Vai Morrer – em parceria com o jornalista e radialista Walter Silva, e que seria gravada, de forma instrumental, apenas por Toquinho, em 1966, no disco A Bossa do Toquinho.

Elis Regina e Jair Rodrigues | Foto: Reprodução
Elis Regina e Jair Rodrigues | Foto: Reprodução

O Fino da Bossa com Jair Rodrigues

Também em 1965, Elis Regina foi convidada para comandar – ao lado de Jair Rodrigues – o famoso programa O Fino da Bossa, na TV Record, que os rendeu a gravação de três discos consagrados – ao vivo – em parceria: o primeiro foi Dois na Bossa, que traz Arrastão entre as canções, junto com outros diversos grandes clássicos da MPB, como: O Morro Não Tem Vez e A Felicidade (ambas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes); O Sol Nascerá (de Cartola e Élton Medeiros) e Diz Que Fui Por Aí (de Zé Keti e Hortêncio Rocha).

Dois na Bossa foi o primeiro disco brasileiro a vender um milhão de cópias. Depois dele, vieram  Dois na Bossa Nº 2 – de 1966 – com clássicos como Canto de Ossanha (de Baden Powell e Vinicius de Moraes), Upa Neguinho (de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri, que fez parte do importante musical Arena conta Zumbi, dirigido por Augusto Boal, em 1965); e Louvação (de Gilberto Gil e Torquato Neto); e  Dois na Bossa Nº 3 – de 1967 – quando o programa de TV acabou .

Neste meio tempo, Elis também gravou o disco ao vivo O Fino do Fino – em 1965 –  acompanhada do Zimbo Trio; e o disco solo Elis – de 1966 – que traz sua esplêndida interpretação do clássico Carinhoso (canção de Pixinguinha e João de Barro).

Capa do disco Em Pleno Verão | Imagem: Reprodução
Capa do disco Em Pleno Verão | Imagem: Reprodução

Lançando compositores e fazendo carreira internacional

Ao longo de toda a sua carreira, Elis Regina ajudou a lançar muitos dos grandes artistas da nossa MPB, divulgando suas obras por meio da sua interpretação única e sofisticada. Neste disco, por exemplo, incluiu também Canção do Sal, de Milton Nascimento, tendo sido a segunda artista na história a gravar uma canção de Bituca em disco, e ajudando a projetá-lo nacionalmente. Milton Nascimento elegeu Elis como sua musa inspiradora e a ela dedicou inúmeras composições

O mesmo aconteceu com Gilberto Gil, que começou a aparecer para o grande público nacional quando participava de O Fino da Bossa, tendo tido sua canção Louvação (que depois deu nome a seu primeiro disco, em 1967), interpretada por Elis e Jair.

O disco Elis Especial, de 1968, trouxe a cantora interpretando outros clássicos como: Wave, Fotografia e Outra Vez (de Tom Jobim); Samba do Perdão (de Baden Powell e Paulo César Pinheiro); e Viramundo (de Gilberto Gil e Capinan)

Sendo uma artista recordista de vendagens pela gravadora Philips, Elis Regina cantou no Mercado Internacional de Discos e Edições Musicais (MIDEM), em Cannes, em janeiro de 1968, quando começou a direcionar sua carreira para o reconhecimento também no exterior. Em 1969, gravou e lançou no exterior dois LPs: um com o gaitista belga Toots Thielemans (em Estocolmo) e Elis in London (lançado em 1972).

Em 1969, lançou no Brasil o álbum Elis, Como & Porque, que traz – entre outros – os clássicos: Aquarela do Brasil (de Ary Barroso); Vera Cruz (de Milton Nascimento e Márcio Borges); O Barquinho (de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli); e Andança (de Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós).

Elis no Teatro da Praia, de 1970, foi o quinto álbum ao vivo da cantora, lançado em 1970 e produzido por Miele e Bôscoli. Entre os sucessos: Irene (de Caetano Veloso); Zazueira (de Jorge Ben Jor); Noite dos Mascarados (de Chico Buarque); Samba da Benção (Baden Powell e Vinicius de Moraes); Aquele Abraço (Gilberto Gil); Se Você Pensa (Roberto e Erasmo Carlos); e Se Todos Fossem Iguais A Você (Tom Jobim e Vinicius de Moraes).

O álbum Em Pleno Verão, de 1970, traz outros grandes clássicos na voz da Pimentinha – (que assim era chamada por conta da sua personalidade forte, apesar da pouca altura: 1,52 metros): Vou Deitar E Rolar (Quaquaraquaquá) (de Baden Powell e Paulo César Pinheiro); As Curvas da Estrada de Santos (de Roberto e Erasmo Carlos); e a  antológica These Are The Songs (de Tim Maia, com a participação do Síndico, um dos encontros mais explosivos da música popular brasileira).

Em 1971, o disco Ela, traz mais clássicos inesquecíveis em sua voz: Madalena (de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro, também primeiro sucesso destacado de Ivan Lins como compositor, que ajudou a torná-lo reconhecido nacionalmente); Cinema Olympia (de Caetano Veloso); Aviso aos Navegantes (de Baden Powell e Paulo César Pinheiro); e Black is Beautiful (de Marcos e Paulo Sérgio Valle).

O antológico Elis, de 1972, é o décimo álbum de estúdio da cantora, e o primeiro disco lançado após sua conturbada separação de Ronaldo Bôscoli, com quem Elis Regina foi casada de 1967 a 1972, e teve seu primeiro filho: o hoje produtor musical João Marcelo Bôscoli, nascido em 1970.

Deste disco, destacam-se diversos grandes sucessos da carreira de Elis, como: Bala com Bala (projetando o nome dos compositores João Bosco e Aldir Blanc nacionalmente, de quem gravou diversos outros clássicos); Casa no Campo (de Zé Rodrix e Tavito); Atrás da Porta (de Chico Buarque e Francis Hime); e Águas de Março (de Tom Jobim).

Outros clássicos gravados neste disco são: Nada Será Como Antes e Cais (ambas de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos); e Mucuripe (de Fagner e Belchior, outro compositor e grande poeta, que Elis ajudou a projetar nacionalmente e do qual gravou diversos clássicos).

Elis Regina e César Camargo Mariano | Foto: Reprodução
Elis Regina e César Camargo Mariano | Foto: Reprodução

Parceria com César Camargo Mariano e mais sucessos

Este também é o primeiro disco que traz a participação do pianista, arranjador e produtor César Camargo Mariano, com quem Elis formou uma produtiva parceria musical. Elis e César foram casados de 1973 a 1981, e tiveram dois filhos: Pedro Mariano – nascido em 1975 e hoje cantor, compositor e  instrumentista; e Maria Rita – nascida em 1977 e uma das mais importantes cantoras da música popular brasileira da atualidade.

No ano seguinte, 1973, outro álbum com o título Elis, foi um disco bastante representativo na carreira da Pimentinha. O disco conta com dez faixas, sendo quatro compostas por Gilberto Gil (entre elas, o grande sucesso Ladeira da Preguiça) e quatro por João Bosco e Aldir Blanc (entre elas, Agnus Sei, que traz uma crítica ao regime militar brasileiro). Destaque para a interpretação de É Com Esse Que Eu Vou, originalmente um samba-enredo de carnaval, composto por Pedro Caetano; e do clássico Folhas Secas (de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito).

O próximo álbum Elis, de 1974, trouxe sucessos de João Bosco e Aldir Blanc (como Mestre-Sala dos Mares e Dois Pra Lá Dois Pra Cá), de Milton Nascimento e Fernando Brant (como Travessia e Ponta de Areia) e de Gilberto Gil, além de composições de Lupicínio Rodrigues e de Ary Barroso.

Elis Regina e Tom Jobim na gravação do álbum 'Elis & Tom' em 1974 — Foto: Divulgação / Festival do Rio
Elis Regina e Tom Jobim na gravação do álbum ‘Elis & Tom’ em 1974 — Foto: Divulgação / Festival do Rio

Parceria com Tom Jobim

No mesmo ano, a cantora lançou – em parceria com Tom Jobim – o antológico disco Elis & Tom, gravado em Los Angeles, Califórnia, considerado um dos mais importantes discos da nossa história. Dois dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos, os artistas estão acompanhados dos arranjos de César Camargo Mariano, que inovou ao utilizar instrumentos elétricos em clássicos da bossa nova.

Sucesso de vendas e de crítica, o álbum – que tornou-se um dos álbuns brasileiros mais vendidos de todos os tempos – conta com 14 composições de Tom Jobim, e traz clássicos como o super hit interpretado pelo dueto – Águas de Março; além de Só Tinha de Ser Com Você (parceria com Aloysio de Oliveira), Por Toda A Minha Vida (parceria com Vinicius de Moraes), Corcovado e Fotografia.

Um dos grandes legados do disco foi a aproximação entre a geração de Tom, que modernizou a canção brasileira por meio da bossa nova no fim dos anos 50 e início dos anos 60, com a geração de Elis, que surgiu da popularidade dos programas de televisão e festivais da canção popular de meados dos anos 60​​.

Grande parte da reputação internacional de Elis Regina como intérprete se deve à gravação desse álbum, já que Tom Jobim já era um nome muito reconhecido lá fora. Fora do Brasil, Elis é comparada a cantoras como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Billie Holiday.

Elis Regina no show Falso Brilhante | Foto: Reprodução
Elis Regina no show Falso Brilhante | Foto: Reprodução

O show Falso Brilhante e outros sucessos

Em 1975, o show Falso Brilhante, protagonizado por Elis Regina, tornou-se um dos mais bem sucedidos espetáculos da história da música nacional e um marco definitivo na carreira da cantora.

O espetáculo tinha o objetivo de contar a história da vida e carreira da artista, sem deixar de lado as críticas à ditadura militar brasileira, tudo isso em um ambiente circense. As apresentações, sob direção cênica de Myriam Muniz e direção musical de Cesar Camargo Mariano, ocorreram no Teatro Bandeirantes, em São Paulo, ficando em cartaz por praticamente dois anos, de 1975 a 1977.

Foram 257 apresentações no total, com público aproximado de 280 mil pessoas. O título Falso Brilhante foi extraído do bolero Dois pra Lá, Dois pra Cá (de João Bosco e Aldir Blanc), lançado por Elis em 1974, sendo ressignificado como metáfora para sua vida.

Devido à popularidade do espetáculo, foi solicitado que Elis Regina e seus músicos gravassem parte do repertório em estúdio para que fosse lançado um LP de mesmo nome no ano seguinte. Um dos maiores sucessos da carreira Elis, a música Fascinação (versão de Armando Louzada para a canção Fascination, de Fermo Dante Marchetti e Maurice de Féraudy) faz parte desse disco.

Outras canções importantíssimas do espetáculo/disco são: Tatuagem (de Chico Buarque e Ruy Guerra) e as composições de Belchior, eternizadas na voz de Elis e que ajudaram a firmar o nome do poeta, cantor e compositor cearense como um dos maiores de nossa MPB: Como Nossos Pais e Velha Roupa Colorida.

Mais um disco com o nome Elis, lançado em 1977, trouxe outros sucessos na voz da Pimentinha, como: Romaria (de Renato Teixeira) e Cartomante (de Ivan Lins e Vítor Martins). O álbum conta com a participação de Ivan Lins e de Milton Nascimento.

Já o disco ao vivo Transversal do Tempo, de 1978 – feito a partir do show da turnê de mesmo nome – trouxe clássicos como: Deus Lhe Pague e Construção (ambas de Chico Buarque), Sinal Fechado (de Paulinho da Viola), Saudosa Maloca (Adoniran Barbosa) e Querelas do Brasil (de Maurício Tapajós e Aldir Blanc, que denuncia que a elite econômica brasileira estaria suprimindo a cultura popular do país com sua cultura amplamente americanizada).

Em 1979, vieram os álbuns Elis Especial e Elis, Essa Mulher. Este último apresentou um dos maiores hits na voz de Elis e das mais importantes canções da música brasileira – O Bêbado e a Equilibrista (de Aldir Blanc e João Bosco, que se tornou hino informal do Movimento pela Anistia e do declínio da Ditadura Militar no Brasil).

Saudade do Brasil é um álbum duplo lançado em 1980: uma versão em estúdio com as músicas do espetáculo que Elis apresentou naquele ano no Canecão, Rio de Janeiro. Traz vários grandes sucessos na voz da cantora, como Maria, Maria e O Que Foi Feito Deverá (ambas de Milton Nascimento e Fernando Brant), Alô, Alô Marciano (de Rita Lee e Roberto de Carvalho), Redescobrir (de Gonzaguinha) e Aos Nossos Filhos (Ivan Lins e Vítor Martins).

No mesmo ano, o disco Elis trouxe mais um hit interpretado magistralmente pela Pimentinha: Aprendendo A Jogar (de Guilherme Arantes). E a cantora ainda gravou a clássica Tiro ao Álvaro (de Adoniran Barbosa e Oswaldo Molles), no disco de 70 anos de Adoniran.

Elis Regina — Foto: GloboNews
Elis Regina — Foto: GloboNews

Despedida precoce e inesperada

Na manhã de 19 de janeiro de 1982, o país inteiro ficou extremamente impactado com a notícia da morte precoce de Elis Regina, no auge de sua carreira e de seus 36 anos de idade. Elis morreu inesperadamente, no seu apartamento em São Paulo, após ingerir acidentalmente – como conta o seu grande amigo, compositor, produtor e jornalista Nelson Motta, em seu livro Furacão Elis, de 1995 – uma dose letal da combinação entre álcool e cocaína. Motta conta que a cantora não estava acostumada a usar drogas e não sabia lidar com elas.

Na noite anterior, Elis e seu namorado – o advogado Samuel MacDowell (Elis havia se separado de César Camargo Mariano em 1981) – receberam amigos no apartamento dela em São Paulo. Os convidados foram embora por volta das 21h e Samuel ainda permaneceu por mais algumas horas.

Pela manhã, ambos falavam por telefone e ele notou que Elis passou a falar com a “voz meio pastosa”, balbuciando as palavras, e depois ficou em silêncio. Decidiu então ir até o apartamento, a encontrando caída no chão. Elis já chegou ao hospital sem vida.

Depois disso, foram lançados três álbuns póstumos de Elis Regina: Montreux Jazz Festival, lançado em 1982, e criado a partir do registro da participação de Elis no décimo-terceiro Montreux Jazz Festival, em 1979; Trem Azul, do mesmo ano, gravado originalmente pelo seu irmão Rogério Costa em espetáculo de mesmo nome, em fita cassete mono, e posteriormente reprocessado para estéreo; e Luz das Estrelas, também gravado por Rogério Costa,  à partir do áudio de um programa de TV em 1976, em 16 canais.  Aproveitou-se apenas a voz de Elis Regina, acrescentando-se novos arranjos e acompanhamentos.

O legado que Elis Regina nos deixou é imensurável. Sua vida virou filme: Elis, dirigido por Hugo Prata e tendo Andreia Horta no papel da cantora, em 2016; peça de teatro: Elis, a Musical, de 2013 – com texto de Nelson Motta e Patricia Andrade, direção de Dennis Carvalho e apresentando Laila Garin como Elis Regina; e também foi contada em vários livros.

Em 2013, Elis Regina foi eleita a melhor voz feminina da música brasileira de todos os tempos, pela Revista Rolling Stone.

Acervo MPB e Playlist Especial

E, para você conhecer mais detalhes sobre a vida e a obra da aniversariante do dia, confira o Acervo MPB Elis Regina, um episódio especial da nossa série exclusiva Novabrasil de áudio-biografias de grandes nomes da nossa música.

Aproveitem também uma das maiores e mais incríveis vozes do mundo, na Playlist Especial que preparamos, com canções que vão contando, uma a uma, a trajetória de Elis Regina em ordem cronológica, desde o início de sua carreira.

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