
A história de A Praieira, no aniversário de Chico Science
A história de A Praieira, no aniversário de Chico Science
Se não tivesse nos deixado inesperadamente no dia 02 de fevereiro de 1997 – vítima de um acidente de carro, com apenas 30 anos de idade – um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos, Chico Science, estaria completando 58 anos no dia de hoje. E, para homenagear … Continued


por Lívia Nolla
Se não tivesse nos deixado inesperadamente no dia 02 de fevereiro de 1997 – vítima de um acidente de carro, com apenas 30 anos de idade – um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos, Chico Science, estaria completando 58 anos no dia de hoje.
E, para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira, nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Sobre Chico Science
O cantor e compositor pernambucano, nascido em Olinda – em 1966 – com o nome de Francisco de Assis França (o Science entrou como nome artístico porque ele sempre gostou de mexer com a alquimia dos sons, como um cientista), cresceu ouvindo ritmos nordestinos como coco, ciranda, maracatu e embolada, mas também gostava muito de rock, hip-hop (fez parte de um dos principais grupos de dança de rua do Recife), jazz e soul music americana (uma das suas maiores influências era James Brown).
Foi dessa mistura que surgiu, em 1991, a banda Chico Science & Nação Zumbi – da qual ele era líder – e que fazia um som revolucionário, com canções energéticas, muito bem elaboradas, que mesclavam funk rock com maracatu, embolada, psicodelia e música Afro.
Com a banda, Science lançou dois álbuns que conquistaram Disco de Ouro: Da Lama ao Caos (de 1994, considerado pela revista Rolling Stone Brasil o 13º melhor disco brasileiro de todos os tempos) e Afrociberdelia (de 1996, que também entrou para lista dos 100 melhores discos da música brasileira de todos os tempos, na posição 18).
O Manguebeat
Chico Science foi também um dos principais colaboradores do movimento de contracultura Manguebeat nos anos 90. O movimento – que teve início com o Manifesto Caranguejos com Cérebro, escrito por Science e Fred Zero Quatro (do grupo Mundo Livre S/A), em 1991 – além de trazer as inovações musicais já citadas, também preza pela valorização das culturas regionais nordestinas, pelo desenvolvimento de um senso local de identidade própria para a criação de melhores condições de vida da população da região e pelo estado de conservação do manguezal e sua melhor exploração.
O Manguebeat é representado por um caranguejo – animal típico dos mangues e fonte de alimentação para as comunidades locais – e também por uma antena parabólica na lama, que mostra – além presença da tecnologia como marca do movimento – que os caranguejos presentes no manguezal estavam antenados com tudo que acontecia ali. O grupo se identifica com o movimento estético afrofuturismo, que une elementos africanos e ficção científica, e influenciou uma geração de artistas que veio depois.
Depois da morte de Chico Science, a banda Nação Zumbi (que segue firme até os dias de hoje) lançou um disco em homenagem ao artista: o CSNZ, de 1998. É um álbum duplo com canções inéditas de estúdio, gravadas ao vivo com Chico e remixagens das suas músicas segundo visões de nomes como David Byrne e Arto Lindsay. No final, há ainda uma canção feita especialmente para Science, pelo pelo músico inglês Goldie: Chico – Death of a Rockstar.
Também depois de sua morte, Chico Science ganhou algumas homenagens pelas ruas de Recife: além de um Memorial formado por três salas, que conta a sua história, há uma estátua sua na Rua da Moeda, no Recife Antigo, e um caranguejo metálico gigante na Rua Aurora, onde morou.

(Foto: Tasso Marcelo/Estadão Conteúdo/Arquivo)
Entre os maiores sucessos do compositor, estão as canções:
- Banditismo por Uma Questão de Classe;
- A Cidade; A Praieira;
- Samba Makossa;
- Da Lama Ao Caos;
- Risoflora;
- Manguetown (parceria de Chico Science com Lúcio Maia e Dengue);
- Macô (parceria com Jorge Du Peixe e Eduardo BiD, e com participação de Gilberto Gil e Marcelo D2);
- Rios, Pontes e Overdrives (parceria de Chico Science com Fred 04);
- E Maracatu Atômico (composta por Jorge Mautner e Nelson Jacobina, mas que foi um dos maiores sucessos de Chico Science com a Nação Zumbi).
E, para homenagear Chico Science nesta data especial, vamos contar a história de um de seus maiores sucessos: A Praieira.
Veja também:
A história de A Praieira
A canção A Praieira foi lançada por Chico Science & Nação Zumbi, em 1994, no primeiro álbum da banda, que levou o nome de Da Lama ao Caos e foi um disco manifesto que fundou oficialmente o movimento musical pernambucano conhecido como Manguebeat.
Uma ciranda com guitarras e baixo casados em riffs marcantes, com uma letra que avisa que “uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor”, a música A Praieira retoma uma das principais revoltas ocorridas no Brasil Colônia e faz referência a um episódio histórico importante da capital do estado de Pernambuco: a Revolução Praieira, que ocorreu em Recife, entre 1848 e 1849.
A Revolução Praieira foi um movimento de caráter liberal e republicano, liderado por intelectuais, comerciantes e artesãos, que buscavam a autonomia política da província de Pernambuco em relação ao governo central do Império Brasileiro.
O movimento foi inspirado pelas revoluções liberais ocorridas na Europa na primeira metade do século XIX, e foi apoiado por setores da elite pernambucana descontentes com o poder centralizado do governo imperial.
Na música, Chico Science exaltan a luta do povo pernambucano pela liberdade e pela autonomia política, e critica a opressão e a exploração do governo imperial.
A letra destaca a importância da cultura e da história da região para a luta pela emancipação política e social e é considerada um hino da resistência cultural e política do povo nordestino, se tornando um símbolo dessa luta por liberdade, autonomia e justiça social no Nordeste do Brasil.
E na praia é que se vê,
A areia melhor pra deitar
Vou dançar uma ciranda pra beber
Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor
Você pode pisar onde quer
Que você se sente melhor
Na areia onde o mar chegou
A ciranda acabou de começar, e ela é!
E é praieira!!!
Segura bem forte a mão
E é praieira !!!
Vou lembrando a Revolução
Vou lembrando a Revolução
Mas há fronteiras nos jardins da razão

Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Chico Science.