
Especial: 30 anos sem Tom Jobim

Especial: 30 anos sem Tom Jobim
Há exatos 30 anos, um dos maiores nomes da história da música popular brasileira nos deixava órfãos de seu talento e genialidade; confira


Considerado o maior expoente de todos os tempos da música popular brasileira: Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o inesquecível Tom Jobim, nos deixava há exatos 30 anos, no dia 08 de dezembro de 1994.
Vítima de uma parada cardíaca, quando estava se recuperando de um câncer na bexiga, aos 67 anos – o maestro, cantor, compositor, pianista, violonista e arranjador carioca deixou um legado imensurável para a nossa cultura e até hoje é celebrado e reverenciado.
Vamos relembrar a história do maestro!
Sobre Tom Jobim
Nascido no Rio de Janeiro, em 25 de janeiro de 1927, o artista carioca também foi um dos criadores do movimento da Bossa Nova, com sua música e melodia, ao lado da letra e poesia de Vinicius de Moraes e da voz e violão de João Gilberto.
Com sua capacidade de trazer leveza e elegância para a complexidade e a densidade elevadas de suas composições, Tom Jobim compunha músicas vocais e instrumentais de rara inspiração, juntando harmonias do jazz e elementos tipicamente brasileiros, fruto de suas pesquisas sobre a cultura brasileira, com uma aliança perfeita entre sua sofisticação harmônica e sua qualidade de letrista.
Tom Jobim nasceu pelas mãos do mesmo obstetra que dez anos antes trouxe ao mundo Noel Rosa. Órfão de pai aos oito anos, teve no padrasto seu maior incentivador musical, embora já vivesse em uma família recheada de músicos. Na adolescência, encantou-se com a música e teve como principal companheiro o violão, além do mar e do mato.
Foi quando sua mãe alugou um piano, e desde então, Tom Jobim passou a explorar o instrumento intensamente. Teve vários professores, mas foi Lúcia Branco quem sentiu nele a vocação para a composição.

Ao concluir um exercício passado pela mentora, em 1947, surgiu a Valsa Sentimental, música que carregava toda a influência dos compositores eruditos que ele estudava à época. Tom dizia que essa música seria sempre instrumental, até que a apresentou a Chico Buarque, em 1983. Chico não só mudou o título da canção como também lhe inseriu um poema belíssimo, surgindo daí a música Imagina.
Tom Jobim chegou a cursar o primeiro ano da faculdade de Arquitetura e até a se empregar em um escritório, mas logo abandonou e iniciou a carreira como pianista, em bares e boates do Rio de Janeiro.
Em 1952, foi contratado como arranjador pela gravadora Continental, onde – além dos arranjos – também tinha a função de transcrever para a pauta as melodias de compositores que não dominavam a escrita musical.
São dessa época as suas primeiras composições, sendo a primeira canção gravada Incerteza, uma parceria com Newton Mendonça, na voz do cantor Mauricy Moura, em um disco de 78 rotações por minuto, de 1954.
O primeiro sucesso de Tom Jobim veio no mesmo ano, com a gravação de Tereza da Praia, sua parceria com Billy Blanco, interpretada por Lúcio Alves e Dick Farney.
Parceria com Vinicius de Moraes e a Bossa Nova

Tom Jobim conheceu o seu grande parceiro de uma vida, Vinicius de Moraes, em 1956 – quando o poeta o convidou para musicar a sua peça Orfeu da Conceição, iniciando uma das parcerias mais produtivas e importantes da história da MPB. Em quinze dias, Tom e Vinicius fizeram praticamente toda a trilha do espetáculo, com canções como as clássicas Lamento do Morro e Se Todos Fossem Iguais A Você.
Em 1959, a dupla compôs a trilha do premiado filme ítalo-franco-brasileiro Orfeu do Carnaval ou Orfeu Negro – inspirado na peça e dirigido pelo francês Marcel Camus – que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Entre as canções, destacam-se A Felicidade e O Nosso Amor.
Também 1959, a partir da gravação das canções Chega de Saudade (parceria de Tom com Vinicius) e Desafinado (parceria de Tom com Newton Mendonça) – gravadas por João Gilberto, com sua batida característica ao violão, no disco Chega de Saudade – começa a definir-se o movimento Bossa Nova, que viria a se tornar internacionalmente conhecido e modificar para sempre os rumos da MPB.
Em 1960, Tom Jobim e Vinicius de Moraes viajaram juntos para a recém fundada nova capital brasileira – a convite do então presidente Juscelino Kubitscheck – para compor uma canção em homenagem à Brasília: Sinfonia da Alvorada, lançado no ano seguinte, no disco Brasília – Sinfonia da Alvorada.
Em 1962, Tom e Vinicius compuseram Garota de Ipanema, gravada inicialmente por Pery Ribeiro – e a canção brasileira mais conhecida internacionalmente, regravada por astros estrangeiros como Frank Sinatra e Madonna. É também a segunda música mais regravada da história, ficando somente atrás de Yesterday, dos Beatles.
Em 1964, competindo com os Beatles, os Rolling Stones e Elvis Presley, Garota de Ipanema ganhou o Grammy Awards de Música do Ano, em uma versão em inglês interpretada por Astrud Gilberto e Stan Getz, no álbum Getz/Gilberto, uma parceria entre João Gilberto e o saxofonista de jazz norte-americano.
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Garota de Ipanema foi inspirada em uma bela garota, que depois ficou conhecida como Helô Pinheiro, que passava por Tom e Vinicius diariamente no famoso bar-café Veloso, onde se os compositores se reuniam, para ir à praia de Ipanema.
Grammy e Sucesso internacional
Além do prêmio de Música do Ano com Garota de Ipanema, em 1964, Tom Jobim foi indicado mais cinco vezes ao Grammy Awards, façanha conseguida por poucos brasileiros na história.
O maestro ganhou o prêmio apenas mais uma vez, com sua última indicação, a Melhor Performance de Jazz Latino, pelo álbum Antônio Brasileiro, lançado pouco depois de sua morte, em 1994.
O sucesso fora do Brasil fez Tom Jobim voltar aos EUA em 1967 para gravar com um dos grandes mitos americanos e de seus grandes ídolos: Frank Sinatra.
O disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim incluiu versões em inglês de canções de Tom: as parcerias com Vinicius – The Girl From Ipanema e How Insensitive (versão de Insensatez, canção da dupla que também foi gravada por Ella Fitzgerald e Diana Krall); além de Dindi (parceria com Aloysio de Oliveira) e Corcovado (que recebeu o nome de Quiet Night of Quiet Stars).
Na época em que estava alinhando o repertório e esperando para gravar com seu grande ídolo Sinatra nos Estados Unidos, Tom Jobim compôs – na solidão de seu quarto gelado de inverno, em um hotel de Los Angeles – dois grandes sucessos: Wave e Triste.
O maestro compôs primeiro a música e – acostumado a compor em parceria – ligou para Chico Buarque e tocou a melodia pelo telefone, para o amigo colocar a letra. Acontece que Chico só conseguiu enviar o primeiro verso: “Vou te contar…” e não pôde terminar a música.
Tom Jobim fez então a letra de Wave, e costumava dizer brincando que: “Chico Buarque escreveu ‘Vou te contar’, mas quem contou fui eu!”.
Homenagens e o legado de Tom Jobim
Foram mais de 30 álbuns lançados por Tom Jobim, entre trabalhos solo, para trilhas sonoras ou em parceria, com nomes como – além de Vinicius e Sinatra – Elis Regina, Edu Lobo, MiúchaeToquinho, fora os tributos que recebeu de diversos nomes da nossa música e da música internacional também.
Em 1999, para homenagear Tom Jobim, o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro foi renomeado Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão – Antônio Carlos Jobim junto ao Congresso Nacional, por uma comissão de notáveis, formada por Chico Buarque, Oscar Niemeyer, João Ubaldo Ribeiro, Antônio Cândido, Antônio Houaiss e Edu Lobo, criada e pessoalmente coordenada pelo crítico Ricardo Cravo Albin.
A Lei 9.778, foi sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, com base em um projeto de iniciativa do senador Júlio Campos.
Tom Jobim recebeu outra bela homenagem: o maestro tinha a mania de escrever cartas. As correspondências eram frequentemente trocadas com os amigos Vinicius de Moraes e Chico Buarque. Nas cartas, Tom chamava Vinicius de Poetinha e era chamado de Tomzinho.
A quantidade de cartas trocadas pelos dois era enorme e a mania virou música: Vinicius escreveu a canção Carta ao Tom 74 (musicada por Toquinho), em que fala com saudade do endereço da casa em que Tom morou durante um tempo em Ipanema, e onde compôs diversas músicas ao lado do amigo, e também conta da amizade dos dois e traz referências das suas canções compostas em parceria:
por Lívia Nolla