10 contribuições de Torquato Neto para a MPB no dia do seu aniversário
10 contribuições de Torquato Neto para a MPB no dia do seu aniversário
Quem foi Torquato Neto? Torquato Neto foi um dos maiores poetas da nossa MPB. O jornalista e letrista nascido no Piauí foi um grande experimentador ligado à contracultura e teve participação ativa no movimento da Tropicália. De Teresina, mudou-se para Salvador aos 16 anos para os estudos secundários, onde foi contemporâneo de Gilberto Gil no … Continued
Quem foi Torquato Neto?
Torquato Neto foi um dos maiores poetas da nossa MPB. O jornalista e letrista nascido no Piauí foi um grande experimentador ligado à contracultura e teve participação ativa no movimento da Tropicália.
De Teresina, mudou-se para Salvador aos 16 anos para os estudos secundários, onde foi contemporâneo de Gilberto Gil no colégio e acabou envolveu-se ativamente na cena soteropolitana, aproximando-se, além de Gil, de Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé e Maria Bethânia.
Em 1962, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar jornalismo na universidade, mas nunca chegou a se formar. Trabalhou para diversos veículos da imprensa carioca, com colunas sobre cultura no Correio da Manhã, Jornal dos Sports e Última Hora.
Torquato Neto foi responsável por escrever o breviário Tropicalismo para principiantes
Torquato atuava como um agente cultural e defensor das manifestações artísticas de vanguarda, como a Tropicália, o cinema marginal e a poesia concreta, circulando no meio cultural efervescente da época, ao lado de amigos como os poetas Décio Pignatari, Waly Salomão, Augusto e Haroldo de Campos, e o artista plástico Hélio Oiticica (que inspirou o nome e ajudou a consolidar uma estética do movimento tropicalista na música brasileira).
Torquato Neto foi responsável por escrever o breviário Tropicalismo para principiantes, no qual defendeu a necessidade de criar um “pop” genuinamente brasileiro:
“Assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra, ainda desconhecido”.
10 contribuições de Torquato Neto para a MPB
O poeta também foi um importante letrista de canções icônicas do movimento tropicalista e da nossa MPB. E são algumas dessas canções que nós vamos conhecer hoje.
Duas delas foram lançadas no icônico disco Tropicália ou Panis Et Circense, que consolidou o movimento e já foi considerado como um dos maiores discos da história da música popular brasileira de todos os tempos. O álbum foi gravado por Caetano, Gil, Gal, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé, acompanhados dos poetas Capinam e Torquato Neto e do maestro Rogério Duprat.
Tropicália ou Panis Et Circense
As composições de Torquato que entraram para o disco são:
1 – Geleia Geral, grande clássico em parceria com Gilberto Gil; e
2 – Mamãe Coragem, sucesso em parceria com Caetano Veloso, interpretada por Gal Costa.
Louvação
Um ano antes, o disco de estreia de Gil, Louvação, trazia na faixa título uma parceria com o poeta Torquato Neto, que foi um dos maiores sucessos do baiano, também gravada por Elis Regina e Jair Rodrigues, no famoso disco Dois na Bossa 2, de 1966.
3 – Louvação
Outras duas parcerias de Gil e Torquato entraram neste primeiro disco do baiano:
4 – A Rua; e
5 – Rancho da Rosa Encarnada, parceria dos dois com Geraldo Vandré.
Elis
Falando em Elis Regina, ela já havia gravado duas canções de Torquato no seu disco Elis, neste mesmo ano de 1966, ambas em parceria com Edu Lobo:
6 – Pra Dizer Adeus, grande clássico, que depois foi regravado por outros grandes nomes como Elizeth Cardoso, Ângela Maria e Maria Bethânia; e
7 – Veleiro
Domingo
Também em 1967 e também no primeiro disco de Caetano Veloso e Gal Costa, lançado em parceria e chamado Domingo, temos duas importantes composições de Torquato Neto, ambas em parceria com Gilberto Gil:
8 – Zabelê
9 – Minha Senhora
Cinema Transcendental
No final da década de 1960, com o AI-5 e o exílio dos amigos e parceiros Gil e Caetano, Torquato viajou pela Europa e Estados Unidos com a esposa, e morou em Londres por um breve período. De volta ao Brasil, no início dos anos 1970, o poeta começou a se isolar, sentindo-se alienado pelo regime militar.
Ele passou por uma série de internações para tratar do alcoolismo e rompeu diversas amizades, acabando por se suicidar um dia depois de seu 28º aniversário, em 1972. Depois de voltar de uma festa, trancou-se no banheiro de sua casa e abriu o gás, morrendo asfixiado. Torquato deixou uma carta de suicidio. Sua mulher e seu filho Thiago, de dois anos, dormiam em um dos quartos da casa.
10 – Cajuína
Caetano Veloso compôs uma música em homenagem ao poeta e letrista, que foi seu companheiro de Tropicália e grande amigo. O baiano ficou muito impactado e sofreu muito com essa perda, mas ele conta que não conseguiu chorar na época.
Só anos depois, quando foi fazer um show em Teresina e resolveu fazer uma visita para os pais do letrista – que era filho único – que Caetano conseguiu chorar a morte do amigo, junto com o pai de Torquato, sentados na sala.
Na casa dos pais de Torquato havia várias fotos do poeta na parede e Caetano ficou muito triste e impactado. Começou a chorar em silêncio. Então,o baiano conta que o pai de Torquato Neto foi na cozinha, pegou uma cajuína gelada (bebida típica e patrimônio cultural do estado do Piauí) e os dois continuaram ali, em silêncio, chorando em cumplicidade e tomando a cajuína.
Até que o pai do poeta foi até o jardim, colheu uma rosa menina, e entregou para Caetano. O baiano saiu de lá e compôs Cajuína, em homenagem ao amigo, ao pai do amigo e aquele momento que viveram juntos:
“Existirmos ao que será que se destina, pois quando tu me deste a rosa pequenina, vi que és um homem lindo e se acaso a sina , do menino infeliz não se nos ilumina, tampouco turva-se a lágrima nordestina, apenas a matéria vida era tão fina, e éramos olharmos intacta retina, a cajuína cristalina em Teresina,”.
A música foi lançada em 1979, no disco Cinema Transcendental, de Caetano Veloso.
Titãs
10 – Go Back
Já a partir da década de 1980, as gerações mais recentes também puderam apreciar o talento poético de Torquato Neto, por meio do seu poema Go Back – escrito em 1971 – que, em 1984, foi musicado pelo tecladista, vocalista e um dos principais compositores dos Titãs, Sérgio Britto.
A primeira gravação de Go Back, foi lançada no disco Titãs, de 1984, e – depois – a canção ganhou uma outra versão, em 1988, quando a banda deu um arranjo ainda mais vigoroso à canção, que tornou-se a faixa-título de um disco ao vivo, gravado em Montreux, na Suíça, consagrando a popularidade da canção.
Viva, Torquato Neto!