
Arquivo Novabrasil traz João Nogueira no 5º episódio; confira
Arquivo Novabrasil traz João Nogueira no 5º episódio; confira
Atração desta semana traz tudo sobre a vida e a obra do sambista; uma verdadeira enciclopédia da MPB


O Arquivo Novabrasil é um programa original, que promove a vida e a obra de grandes nomes da música popular brasileira. Artistas que fazem da nossa música um dos nossos maiores legados e pelo que queremos ser lembrados e reverenciados como brasileiros.
Toda quarta-feira, às 12h, um novo episódio do Arquivo Novabrasil vai ao ar em vídeo, nos nossos canais do Youtube e Spotify.
A primeira temporada especial do Arquivo Novabrasil traz a biografia de artistas que ajudaram a construir a história do samba no Brasil. E hoje, vamos conhecer a história dele: João Nogueira!
Um dos maiores sambistas de todos os tempos, o cantor e compositor carioca nasceu João Batista Nogueira Júnior, no bairro do Méier, no Rio de Janeiro, e teve contato com o samba e o choro desde muito novo.
Seu pai – de quem ele herdou o nome e a vocação para a música – foi quem lhe ensinou a tocar violão ainda criança: ele era violonista profissional, chegou a tocar com Noel Rosa e tinha amizade com grandes nomes do samba como Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Donga e João da Baiana, frequentadores da casa de João Nogueira.
Mas o pai faleceu quando João Nogueira tinha apenas dez anos de idade e ele teve que ir trabalhar com outras coisas para ajudar no sustento da casa. Começou a fazer música aos 15 anos, com sua irmã, a compositora Gisa Nogueira.
Em 1958, João Nogueira passou a frequentar o Bloco Carnavalesco Labareda do Méier – do qual, mais tarde, veio a ser diretor – e a compor os sambas para o bloco.
Em 1968, gravou a sua primeira composição, “Espere, Ó Nega”, acompanhado por um conjunto de samba que, depois, passaria a ser chamado de Nosso Samba.
O primeiro compacto simples de João Nogueira, trouxe as músicas “Alô Madureira” e “Mulher Valente”, ambas de sua autoria.
Não demorou muito para que suas composições começassem a despertar a atenção de grandes nomes da música. Nessa época, o sambista conheceu Paulo César Valdez, que o levou até a sua mãe, a grande cantora Elizeth Cardoso, que gravou a composição de João Nogueira, “Corrente de Aço”, em 1969.
No fim da década de 1960, João Nogueira já havia composto mais de 40 canções.
Em 1971, a cantora mineira Clara Nunes gravou seu samba em parceria com a irmã Gisa Nogueira, “Meu Lema”.

E a cantora Eliana Pittman passou a fazer muito sucesso, chegando aos primeiros lugares nas rádios e ganhando repercussão internacional com sua composição “Das 200 Para Lá”, que lhe rendeu citação na revista americana “Time”.
Antes de lançar o seu primeiro disco solo, João Nogueira ainda gravou um LP coletivo intitulado “Quem Samba Fica”. Na contracapa, o locutor e descobridor de talentos Adelzon Alves dizia: “É mais um João que veio diferente no cantar samba e fazer verso. É mais uma reza forte nas quebradas, meu compadre.”.

No ano de 1972, João Nogueira lançou seu disco de estreia, que traz seu nome no título e, entre outras canções, as suas composições: “Alô Madureira”, “Morrendo em Versos”, “Beto Navalha”, “Mariana da Gente”, “Meu Caminho” e “Blá, Blá, Blá”.

Mas, foi com o lançamento do álbum “E Lá Vou Eu” em 1974, e com a gravação do sucesso “Batendo à Porta”, sua parceria com Paulo César Pinheiro – seu parceiro mais constante – que a música de João Nogueira estourou em todo o Brasil.
Destacaram-se, ainda, neste trabalho, as músicas “Meu Canto Sem Paz” e “Eu Sei Portela”, ambas em parceria com sua irmã, Gisa Nogueira.
A partir daí, o artista trilhou uma carreira de sucesso, tornando-se uma das principais referências do samba em todo o Brasil. Com sua voz potente, forma de frasear muito própria e suas composições brilhantes – muitas delas em parceria com Paulo César Pinheiro – cantou sobre diversos temas, mesclando humor, amor, sensibilidade, política e crítica social, em seus quase 20 discos de carreira.


Em seu terceiro LP, “Vem Quem Tem” lançado em 1975, João Nogueira trouxe novas composições que, mais tarde, virariam clássicos, como “O Homem de um Braço só” e “Nó na Madeira” (em parceria com José Eugênio Monteiro).
Também é desse álbum a canção “Mineira”, em parceria com Paulo César Pinheiro e com citações a versos de Ary Barroso, dedicada à esposa de Paulo, a cantora Clara Nunes.
O álbum ficou presente nas paradas de sucesso durante mais de 20 semanas, destacando-se como um dos grandes sucessos da música popular do ano seguinte.
No ano seguinte, em 1976, a cantora Elizeth Cardoso interpretou a canção “Entenda a Rosa”, composta por João Nogueira, em seu álbum, “Elizeth Cardoso”.

Em 1977, foi a vez do antológico álbum “Espelho”, produzido por Paulo César Pinheiro e que traz o grande sucesso da faixa-título, parceria de João Nogueira com Paulo César Pinheiro, composta em homenagem ao pai de João, música que já havia sido gravada em compacto lá em 1973.
Ainda deste disco despontaram a regravação de “Espere, Ó Nega”, e a composição “Batucajé” (parceria com Wilson Moreira).
No ano seguinte, em 1978, com produção do amigo e parceiro Paulo César Pinheiro, João Nogueira lançou “Vida Boêmia”, LP muito bem recebido pela crítica e no qual se destacaram os clássicos: “Baile no Elite” (parceria com Nei Lopes) e “As Forças da Natureza” (com Paulo César Pinheiro), música que foi sucesso na voz de Clara Nunes.
Este LP também contou com a participação especial de Clara Nunes, na faixa “Bela Cigana” (parceria de João Nogueira com Ivor Lancellotti), além de uma parceria póstuma do sambista com Noel Rosa, “Ao Meu Amigo Edgard”, na qual João Nogueira musicou a carta do paciente (Noel, que morreu aos 26 anos, vítima da tuberculose) ao seu médico (Edgard).
Em 1979, preocupado com a desvalorização do samba no cenário musical brasileiro, João fundou o Clube do Samba, com a participação de sua irmã Gisa; do escritor, pesquisador e jornalista Sérgio Cabral; de Paulo César Pinheiro; da cantora Clara Nunes e de outros nomes de peso do samba. A primeira sede do Clube foi na casa de João Nogueira, no Méier.
Depois, o Clube do Samba mudou-se para o bairro do Flamengo, em seguida para a Associação dos Servidores Civis do Brasil – inaugurado por Clara Nunes – e então para o Clube Municipal, antes de chegar à sede definitiva, na Barra da Tijuca.
O local, onde funcionava um depósito de bebidas, foi totalmente reformado e decorado por João Nogueira. Além do salão, com capacidade para mais de 1000 pessoas, funcionava no Clube uma galeria de arte – chamada Guilherme de Brito – e um jardim que recebeu o nome de Clara Nunes.
Depois do falecimento de Clara Nunes, em 1983, o jardim ganhou uma escultura de um sabiá com a seguinte inscrição: “Voa meu sabiá/ Canta meu sabiá/ Adeus, meu sabiá/ Até um dia…”, estribilho do samba “Um Ser de Luz” composto em homenagem à Clara por João Nogueira, Mauro Duarte e o marido da cantora, Paulo César Pinheiro.
Entre as atividades do Clube do Samba estava a produção de um jornal com notícias sobre o samba e a realização periódica de um baile, frequentado por grandes nomes do gênero, como Beth Carvalho, Martinho da Vila, Chico Buarque e Paulinho da Viola. Em pouco tempo, o Clube se transformou em um bloco carnavalesco, arrastando amantes do carnaval e do samba em seu desfile na Avenida Rio Branco.
Apesar de ter modificado um pouco o seu perfil nos anos seguintes, o Clube do Samba sobreviveu como um dos marcos de resistência do samba carioca, promovendo rodas de samba, ensaios e desfiles carnavalescos, graças – principalmente – à família de João Nogueira, que abraçou o projeto, mantendo vivo o seu sonho, mesmo depois de sua partida.
O Bloco Carnavalesco Clube do Samba desfilava todos os anos pela Avenida Rio Branco, trazendo entre seus integrantes: Alcione, Beth Carvalho, Dalmo Castello, Dona Ivone Lara, Gisa Nogueira, Martinho da Vila, Paulinho Tapajós e Paulo César Pinheiro.
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Voltando para 1979, ano da fundação do Clube do Samba, João Nogueira lançou um disco com o mesmo nome “Clube do Samba”, com várias composições que viriam a marcar sua carreira, como “Súplica” e “Canto do trabalhador”, ambas em parceria com Paulo César Pinheiro.
Também em 1979, Jom Tob Azulay dirigiu um curta-metragem chamado “Carioca, Suburbano, Mulato, Malandro”, que reuniu depoimentos sobre as grandes paixões de João Nogueira: o samba, a Portela e o Flamengo.


Neste mesmo ano, de 1979, a cantora Elis Regina regravou, com grande sucesso, a canção “Eu, hein Rosa!”; Alcione interpretou “Paraíba do Norte, Maranhão”; e Elizeth Cardoso incluiu – com participação de João Nogueira – “Mulata Faceira” no antológico LP “O Inverno do Meu Tempo”, todas essas composições do sambista em parceria com Paulo César Pinheiro.
Em 1980, João Nogueira lançou seu sétimo LP, “Boca do Povo”, que trouxe outra canção de imenso sucesso de seu repertório: “Poder da Criação”, também em parceria com Paulo César Pinheiro.
Admirador de Wilson Batista, Geraldo Pereira e Noel Rosa, João Nogueira gravou, em 1981, o disco “Wilson, Geraldo, Noel – João Nogueira”, o primeiro no qual não cantou composições de sua autoria, interpretando apenas os autores que exerceram influência sobre seu trabalho.

Foi também em 1981 que nasceu Diogo Nogueira, que entre os quatro filhos de João Nogueira, hoje leva o legado do pai com muito orgulho e competência, sendo um dos maiores sambistas da sua geração.


No ano de 1982, o show “O Homem dos Quarenta” marcou o lançamento do nono disco da carreira de João Nogueira. O roteiro musical ficou a cargo de Paulo César Pinheiro, e João interpretava no show o homem de 40 anos em diversas situações: no esporte, no lazer, na família, no trabalho…
Deste disco, podemos destacar – além da faixa-título, a canção “Minha Missão”, ambas parcerias com Paulo César Pinheiro.
No ano seguinte, em 1983, foi a vez de João Nogueira lançar o álbum “Bem Transado”, (IMAGEM – “lp_bem_transado”) que o sambista descreveu da seguinte maneira: “Cada música tem uma história, principalmente porque eu, raramente, sento para fazer música; elas aparecem de acordo com a situação e com muita naturalidade. Gosto de todas as músicas, mas a que eu me sinto melhor cantando é “Retrato de Saudade”, de Raphael Rabello e Paulo César Pinheiro, e “Clube do Samba”, que canto junto com Martinho da Vila.”
Em 1984, João Nogueira lançou o álbum e realizou – ao lado de Cristina Buarque – uma temporada no Teatro Carlos Gomes.
Também em 84, o sambista participou, como ator, do filme “Quilombo”, de Cacá Diegues, interpretando o personagem Rufino.
Em 1985, foi a vez do LP “De Amor é Bom”, e – em 1986 – do disco “João Nogueira”, que conta com o sucesso em sua voz “Boteco do Arlindo” (composição de Maria do Zeca e Nei Lopes).
Em 1987, o sambista participou – a convite do produtor Ricardo Cravo Albin – do álbum duplo “Há sempre um nome de mulher”, no qual todas as músicas citam ou se referem a uma mulher, interpretando as canções “Acertei no Milhar” (de Wilson Batista e Geraldo Pereira) e “Mineira”, em parceria dele com Paulo César Pinheiro. O trabalho ganhou o Disco de Ouro por 600 mil cópias vendidas, tendo a renda revertida para a “Campanha do Aleitamento Materno”.
Nos anos de 88 e 89 vieram os LPs “João” e “O Grande Presidente”, e – em 1992 – o álbum “Além do Espelho” (IMAGEM – “lp_alem_do_espelho”), trouxe vários sucessos já consagrados da sua carreira, além da faixa-título, nova em parceria com o poeta Paulo César Pinheiro, em que João Nogueira agora homenageia os seus filhos, dando sequência ao sucesso de “Espelho”, lançada lá no início dos anos 70, em homenagem ao pai do sambista.
Outros sucesso desse disco é a canção “Do Jeito que o Rei Mandou” (parceria de João Nogueira com Zé Katimba)
Dois anos depois, em 1994, João Nogueira dividiu com o amigo e compositor Paulo César Pinheiro o álbum ao vivo “Parceria” (IMAGEM – “lp_parceria”), no qual ambos interpretaram suas parcerias ao longo de 22 anos.
Em 1995, João Nogueira lançou – em parceria com o pianista Marinho Boffa – o álbum “Chico Buarque – Letra e Música”, somente com composições de Chico, e – no mesmo ano, participou do disco “Clara Nunes Com Vida”, em homenagem à Clara Nunes.
No ano de 1998, João participou dos discos “Chico Buarque de Mangueira” e “Balaio do Sampaio”, em homenagem a Sérgio Sampaio, além de lançar seu último álbum em vida: “João de Todos os Sambas”.
Algumas faixas desse álbum, segundo o seu biógrafo, Luiz Fernando Vianna – autor do livro “João Nogueira: Discobiografia”, de 2012 – foram impostas pela gravadora e tinham qualidade duvidosa, não sendo coerentes com a discografia de João. O livro conta que a saúde do sambista foi abalada com isso e que no dia em que o CD chegou às lojas, ele teve um AVC.
No ano seguinte, 1999, João Nogueira participou dos discos “Natal de Samba” e “Esquina Carioca”, e no ano 2000, fez parte do álbum “Ala dos Compositores da Portela”, ao lado de sambistas como Monarco, Paulinho da Viola, Cristina Buarque, Wilson Moreira e Noca da Portela, interpretando o “Hino da Velha Guarda”, de autoria de Chico Santana.

João Nogueira faleceu em 2000, aos 58 anos, vítima de um infarto fulminante, quando ainda se recuperava do AVC, que o deixou com algumas sequelas.
Com sua morte, vários colegas se juntaram para um espetáculo em sua homenagem, que deu origem ao famoso disco “João Nogueira, Através do Espelho”, em 2001. Entre os artistas: Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Arlindo Cruz e Sombrinha, Emílio Santiago, Carlinhos Vergueiro e a família de João: o sobrinho Didu, o filho Diogo e a irmã e parceira Gisa.
Em novembro de 2000, Ângela Nogueira, sua esposa, assumiu a presidência do Clube do Samba. No carnaval do ano 2001, o bloco do Clube desfilou com o samba-enredo “Como diria João”, composto, coletivamente, por toda a Ala dos Compositores.

Em 2003, o rapper Marcelo D2 sampleou parte de sua composição “Do Jeito que o Rei Mandou” e incluiu no disco “À procura da batida perfeita”.
Em 2012 o nome de João Nogueira foi usado para rebatizar o Teatro Imperator, famosa casa de espetáculo da Zona Norte, situada no bairro do Méier, próximo ao local onde o sambista morou, que passou a ser chamada de Centro Cultural João Nogueira.

O local é um complexo que envolve salas de cinema, salas de apresentações, palco principal e também um mini-museu sobre o compositor, com capacidade para cerca de duas mil pessoas.
João Nogueira deixou um imenso legado: além de seu filho, Diogo, quase 200 composições geniais, que passam pelo épico, pelo humor e pela crítica social, em uma uma obra vasta e rica.
Também em 2012 foram lançados o CD e DVD “Sambabook – João Nogueira”, com seus maiores sucessos, do qual participaram – além do filho Diogo Nogueira e da irmã Gisa – artistas como Alcione, Arlindo Cruz, Seu Jorge, Dudu Nobre, Teresa Cristina, Mart’nália, Beth Carvalho, Fundo de Quintal, Grupo Revelação, Martinho da Vila; Jorge Aragão, Mariene de Castro, a Velha Guarda da Portela, Zeca Pagodinho e Marcelo D2.
Viva, João Nogueira, que sempre homenageou, em seus sambas, como ele mesmo dizia, “as coisas simples das gentes”.