
História da música “Conversa de botas batidas”, no aniversário de Marcelo Camelo

História da música “Conversa de botas batidas”, no aniversário de Marcelo Camelo
Um dos maiores sucessos da banda Los Hermanos, a música foi composta pelo aniversariante depois de ler uma notícia no jornal

Você conhece a história da música “Conversa de Botas Batidas”, sucesso da banda Los Hermanos? A canção foi composta por Marcelo Camelo, então um dos vocalistas e compositores da banda, depois do músico ler uma notícia de jornal.
Hoje é aniversário de Camelo e nós vamos conhecer mais sobre o artista e sobre a história da música “Conversa de Botas Batidas”.
Sobre Marcelo Camelo
O cantor, compositor, produtor musical e multi-instrumentista carioca Marcelo Camelo foi um dos fundadores, vocalista e guitarrista da banda de rock alternativo Los Hermanos, também integrou a Banda do Mar, além de ter uma carreira solo de sucesso.
Foi cursando jornalismo, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, que Marcelo – que já tocava e compunha desde a juventude – iniciou os primeiros contatos com o palco, integrando algumas bandas, até iniciar a formação daquela que viria a se chamar Los Hermanos.
Em um primeiro momento, Marcelo Camelo (nos vocais e guitarra) e o baterista Rodrigo Barba formaram uma banda que contrapunha o peso do hardcore com a leveza de letras sobre o amor. Com a entrada dos músicos Bruno Medina (teclado), Rodrigo Amarante (guitarra, voz, percussão e flauta transversal) e Patrick Laplan (baixo), a banda gravou, em 1997, seus primeiros materiais.
Em 1999, os Los Hermanos lançaram o primeiro álbum da banda, homônimo. Das as 14 faixas do disco, 12 são composições de Camelo, entre elas, os sucessos “Anna Júlia” – que conquistou expressão mundial – e “Primavera”.
O segundo álbum – ‘’Bloco do Eu Sozinho” – veio em 2001, já sem o baixista Patrick Laplan e com Camelo e Amarante se alternando também no baixo a partir daí. O disco foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa e conta com sucessos como:
- Todo Carnaval Tem Seu Fim, Casa Pré-Fabricada, Deixa Estar e Veja Bem Meu Bem (todas de Marcelo Camelo);
- A Flor, Retrato Pra Iaiá e Mais Uma Canção (de Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo);
- Sentimental (de Rodrigo Amarante).
Neste álbum, a banda acrescentou levadas de samba, bossa nova e outros ritmos latinos.

Em 2003, foi a vez do álbum de muito sucesso “Ventura”, que trouxe clássicos da banda como:
- Samba a Dois, O Vencedor, Cara Estranho, Além do Que Se Vê, Conversa de Botas Batidas e De Onde Vem a Calma (todas de Marcelo Camelo);
- Último Romance, O Velho e o Moço e Deixa o Verão (todas de Rodrigo Amarante).
“Ventura” também foi indicado na categoria Melhor Álbum de Rock Brasileiro do Grammy Latino. Neste mesmo ano, a cantoraMaria Ritagravou – com sucesso – três composições de Marcelo Camelo em seu álbum de estreia: “Santa Chuva”, “Cara Valente” e “Veja Bem Meu Bem”.
O último álbum dos Los Hermanos – chamado “4” (talvez por conta dos quatro integrantes, talvez por ser o quarto álbum da banda) – foi lançado em 2005, e também indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo.
Desse último disco, destacam-se os sucessos:
- Morena e Pois É (de Camelo); e
- O Vento e Condicional (de Amarante).
Os discos “Bloco do Eu Sozinho e Ventura” figuram na lista elaborada pela revista Rolling Stone em 2007, dos 100 maiores discos da música brasileira, nas posições 42 e 68.
Em abril de 2007, a banda anunciou um recesso por tempo indeterminado nos trabalhos, alegando o acúmulo de muitos projetos pessoais ao longo de seus dez anos de carreira.
Desde então, os integrantes tocam os seus projetos solo e outros projetos, mas já se encontraram algumas vezes para turnês especiais com a banda, para a alegria dos fãs!
Em 2008, depois de anunciado o hiato da banda Los Hermanos, Marcelo Camelo focou em sua carreira solo e lançou seu primeiro álbum, intitulado “Sou”. O disco traz 14 faixas compostas por Camelo, sendo duas executadas exclusivamente pela pianista Clara Sverner, uma das convidadas especiais do disco.
Além dela, participam do álbum Dominguinhos, a banda paulistana Hurtmold, e a cantora, compositora, produtora musical e instrumentista Mallu Magalhães – esposa de Camelo e mãe de sua filha, Luísa – que divide com ele os vocais do sucesso “Janta”.
Em 2010, o artista lançou o álbum “MTV Ao Vivo Marcelo Camelo” e, no ano seguinte, foi a vez do seu segundo álbum de estúdio, “Toque Dela”, que trouxe sucessos como: “Vermelho”, “Pra Te Acalmar” e “Meu Amor é Teu”.
Em 2013, Marcelo lançou outro álbum ao vivo, gravado no Theatro São Pedro e, a partir de 2014, passou a integrar a Banda do Mar, formada em Portugal, ao lado do baterista português Fred Ferreira e de Mallu Magalhães.
A banda lançou um disco homônimo em 2014, que trouxe os sucessos “Dia Clarear” (composição de Camelo) e “Mais Ninguém” (de Mallu).
O mais recente álbum solo de Marcelo Camelo foi lançado pelo artista em 2018: “Sinfonia Nº1, Primitiva”.
Camelo também é produtor musical e produziu – entre outros – dois álbuns de Mallu Magalhães: “Pitanga” (2011) e “Vem” (2017).
Maria Rita gravou com sucesso outras composições de Camelo, como:
- Casa Pré-Fabricada e Despedida (em 2005);
- A Outra (2011); e
- Pra Maria (composta especialmente para ela, em 2018).
Outras duas divas da nossa música gravaram composições de Marcelo Camelo: Gal Costa gravou “Espelho D’Água” (parceria de Marcelo com Thiago Camelo), em 2015, e “Por Um Fio”, em 2017.
Já Marisa Monte, gravou três composições de Camelo no seu mais recente álbum, Portas:
- Sal;
- Espaçonaves; e
- Você Não Liga (essas duas últimas são uma parceria de Marisa e Marcelo).
História da música “Conversa de Botas Batidas”
Compositor de mão cheia, em 2002, Marcelo Camelo leu no jornal uma notícia trágica, que o inspirou a escrever um dos maiores e mais belos sucessos dos Los Hermanos: “Conversa de Botas Batidas”.
No dia 25 de setembro de 2002, por volta das 14 horas, um prédio de cinco andares no qual funcionava um hotel chamado “Linda do Rosário”, no centro do Rio de Janeiro, começou a desabar, na Rua do Rosário, 55.
O porteiro, notando os primeiros estalos fortes, percebeu que o edifício poderia cair a qualquer momento, começou a interfonar para todos os quartos e bater nas portas também, pedindo para que os hóspedes evacuassem o local.
Quando todas as pessoas já tinham deixado o quarto, o porteiro notou que ainda faltava um casal. Ele foi no quarto e bateu na porta várias e várias vezes, sem resposta. Interfonou de novo e nada. Até que, 10 minutos depois dos primeiros estalos, o prédio desabou com o casal dentro, sendo as únicas vítimas fatais do acidente.
Dois dias depois, os bombeiros encontraram o corpo do casal nos escombros e eles estavam abraçados. O que se soube, é que eles eram um casal formado por uma bancária (ou vendedora de seguros) de 47 anos e um professor de 71 anos e que eles tinham vivido um romance proibido há muitos anos, se separaram, cada um se casou com outra pessoa e – depois de ambos ficarem viúvos – eles voltaram a se encontrar, escondidos de suas famílias.
Era um romance secreto, que ambos estavam podendo viver depois de muitos anos de espera. Outras fontes diziam que eles ainda eram casados com outras pessoas e tinham suas famílias, por isso o romance era secreto.
O porteiro Raimundo de Mello não sabia os nomes dos hóspedes, mas contou a repórteres que eles eram assíduos no hotel: ficavam sempre no máximo duas horas e pagavam pelo quarto na saída.

Ninguém sabe até hoje se o casal resolveu ignorar os chamados do porteiro e viver finalmente aquele romance até o fim, morrendo juntos abraçados numa cama, ou se eles estavam dormindo e não escutaram os chamados.
Marcelo Camelo, ao ler a notícia no jornal, resolveu ficar com a primeira opção: a letra da música narra uma conversa entre os dois amantes, a última conversa que eles tiveram, ali naquela cama, diante da morte chegando, onde os dois, finalmente, poderiam estar juntos e experimentar aquele amor, mesmo na morte. Por isso o nome da música: “Conversa de Botas Batidas”.
“Veja você, quando é que tudo foi desabar
A gente corre pra se esconder
E se amar, se amar até o fim
Sem saber que o fim já vai chegar
Deixa o moço bater
Que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos
Pra um amor de tantas rugas
Não ter o seu lugar”
A música entrou para o terceiro álbum da banda Los Hermanos, “Ventura”, de 2003.
O incidente do hotel também inspirou a obra “Linda do Rosário”, da artista plástica brasileira Adriana Varejão, de 2004, que traz em sua superfície a referência de azulejos comuns, com quadrados de cerâmica branca, recorrentes em ambientes relacionados com assepsia, como banheiros e cozinhas.
Vísceras, também pintadas, saem do que seria o interior dessa parede arruinada. Nestas esculturas, a arquitetura se associa ao corpo, e a matéria de construção se torna carne.