Entenda o significado por trás da música “Canto de Ossanha” 

Lívia Nolla
10:00 27.12.2024
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Música

Entenda o significado por trás da música “Canto de Ossanha” 

Lançada em 1966, a canção “Canto de Ossanha” é uma parceria do poeta Vinicius de Moraes com Baden Powell, e um dos maiores clássicos da história da MPB.

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- 27.12.2024 - 10:00
Entenda o significado por trás da música “Canto de Ossanha” 
Baden Powell e Vinicius de Moraes, compositores de "Canto de Ossanha" | Imagem: Reprodução

Lançada em 1966, a canção “Canto de Ossanha” é uma  parceria do poeta Vinicius de Moraes com Baden Powell, e um dos maiores clássicos da história da MPB.

Você quer saber a história por trás dessa composição? Hoje nós te contamos o significado por trás de “Canto de Ossanha“.

Em 1962, Vinicius de Moraes– nome já consagrado da nossa música e poesia –  conhece e começa a compor ao lado do violonista e compositor Baden Powell, que tornou-se um dos seus grandes parceiros e com quem – após três meses dividindo casa  – produz um dos cancioneiros mais importantes da música popular brasileira.

Em 1966, a dupla lança o disco “Os Afro-sambas”, com participação do Quarteto em Cy em todas as faixas. Entre elas está “Canto de Ossanha”, canção que tornou-se um dos símbolos do sincretismo do Brasil com a África via Bahia e é o afro-samba mais conhecido e regravado do planeta, tendo sido interpretado por nomes comoElis Regina, Jair Rodrigues, Emilio Santiago, MaysaeCauby Peixoto.

“Os Afro-sambas” é o terceiro álbum feito em parceria pela dupla, que inspirada por gravações de candomblé e sambas de roda, criou uma obra que combina elementos clássicos e ritmos afro-brasileiros.

A canção foi considerada a nona melhor do Brasil de acordo com a lista das 100 maiores músicas brasileiras pela Rolling Stone Brasil e o disco foi eleito o 29º melhor disco de música brasileira da história, pela mesma revista, em 2007.

A história de “Canto de Ossanha”

A letra de “Canto de Ossanha” é cheia de simbolismos e traz o Orixá das folhas sagradas, das ervas medicinais e litúrgicas, conhecedora dos segredos das ervas: Ossanha, aquele que tem o poder de curar por meio das plantas.

No Candomblé, não existe cerimônia sem a presença de Ossanha. É essa entidade que detém a força mágica das plantas – o axé – necessária em todo ritual. Não à toa, “Canto de Ossanha” é a faixa de abertura do disco “Os Afro-Sambas”. 

Ossanha é o detentor do axé, a força indispensável de todos os orixás, o senhor das matas e florestas. Ele possui um poder ao mesmo tempo benéfico e perigoso.

Conta a lenda que um rei ia dar sua filha mais velha em casamento. Contudo, o evento só aconteceria caso o pretendente adivinhasse o nome das três filhas. Para isso, Ossanha imitou o cantar de um pássaro, e quando as princesas brincavam com o animal que ouviam, o orixá aprendeu os seus nomes e assim conseguiu casar-se com a mais velha delas. 

Capa do álbum Os Afro-sambas, de 1966

Desse modo, a canção tenta traduzir a inteligência e perspicácia de Ossanha e revela que o amor não pode ser conquistado com trapaça. A letra de Vinicius explora a complexidade da vida por meio da dialética entre negação e afirmação, refletindo a constante transformação do tempo.

De acordo com a mitologia iorubá, há também uma forte rivalidade entre Ossanha e Xangô, pois Ossanha teria tentado roubar Obá, uma das mulheres de Xangô. Isso resultou na ira de Xangô, que fez Ossanha perder uma de suas pernas. Outra versão diz que a rivalidade começou quando Ossanha roubou o fogo e o deu aos humanos. Essa rivalidade entre os dois orixás é refletida no enredo da música “Canto de Ossanha”. 

O homem que diz dou (não dá)

Porque quem dá mesmo (não diz)

O homem que diz vou (não vai)

Porque quando foi Já não quis

O homem que diz sou (não é)

Porque quem é mesmo é (não sou)

O homem que diz ‘to (não ‘tá)

Porque ninguém ‘tá Quando quer

Coitado do homem que cai

Veja também:

No canto de Ossanha traidor

Coitado do homem que vai

Atrás de mandinga de amor

Vai, vai, vai (não vou)

Vai, vai, vai (não vou)

Vai, vai, vai (não vou)

que eu não sou ninguém de ir

Em conversa de esquecer

A tristeza de um amor que passou

Não eu só vou se for pra ver

Uma estrela aparecer

Na manhã de um novo amor

Amigo sinhô Saravá

Xangô me mandou lhe dizer

Se é canto de Ossanha não vá

Que muito vai se arrepender

Pergunte pr’o seu Orixá

O amor só é bom se doer

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