Ouça ao vivo
No ar agora

Cíntia Ribeiro: “Brasilidade é ouro”

Minha alma canta com Cíntia Ribeiro
14:08 12.08.2024
Autor

Minha alma canta com Cíntia Ribeiro

Escritora e comunicadora, autora de "De fora para dentro"
Música

Cíntia Ribeiro: “Brasilidade é ouro”

Confissões de uma torcedora que não tem vergonha de ser feliz

Novabrasil - 12.08.2024 - 14:08
Cíntia Ribeiro: “Brasilidade é ouro”
Foto: Montagem Lucas Roças/Novabrasil.

Não. Este não é mais um texto sobre Olimpíadas. Afinal, já vimos em toda parte: somos ouro.

Nosso ouro tem nome de mulheres pretas. Nossa prata é ouro. Nosso bronze é ouro. Nossa convocação é ouro. Nossa luta por representatividade é ouro. Nossa torcida é ouro. Nossa alegria é ouro.

Somos esse povo emocionado que faz do entusiasmo nosso borogodó e da esperança nossa bandeira.

No último sábado, com duas telas ligadas nas seleções brasileiras femininas – uma no futebol e outra no vôlei – notei que havia alguma coisa fervendo. Aqui dentro. Não era só orgulho. Vinha misturado com uma identificação imensa, borbulhante, ao ver meninas desempenhando performances alienígenas – fruto de muito empenho, muitas quedas, muita vida.

Por que isso me emocionou? Porque já fui essa menina. Na verdade, ainda sou. Aliás, não somos todos crianças sobreviventes em busca de medalhas?

Quanto esforço temos colocado na tentativa de “ser alguém”? Quantos ouros já buscamos no reconhecimento alheio? Quanta exigência desumana impomos sobre nós mesmos?

O exercício da humanidade exige que aprendamos a nos reconhecer limitados e suficientes.

Que bonito é ver a maior medalhista do Brasil em Jogos Olímpicos exaltando a importância da saúde mental com leveza e sem tabus. A inteligência artificial talvez pudesse reproduzir os saltos impecáveis de Rebeca Andrade, mas dificilmente conseguiria replicar a beleza estrondosa da sua alma – que canta “Amarelo, azul e branco”, pensa em receitas enquanto se concentra, defende seu idioma, sente raiva, medo, tranquilidade, confiança. Salta. E voa.

Daqui, da minha humanidade, choro como Beatriz, brilho como Rebeca, encaro como Duda e Ana Patrícia, faço história como Marta, Lorena, Tarciane, Thais, Lauren, Yasmin, Duda Sampaio, Yaya, Adriana, Jhenifer, Ludmila e Gabi Portilho, cativo como Flavinha, inspiro como Jade, crio como Júlia, surpreendo como Lorrane, dou o sangue como Gabi, Thaísa, Rosamaria, Roberta, Nyeme, Carol e Ana Cristina, supero como Caio, sonho como Willian, atravesso como Tatiana, acelero como Isaquias, me emociono como Larissa, encanto como Rayssa, celebro como Medina, luto como Bia, me divirto como Augusto, confio como Netinho, transponho obstáculos como Alison, conquisto como Rafael, Guilherme e Leonardo.

E venço como todos os atletas que entregaram o seu melhor nas pistas, quadras, ringues, campos e tablados – com ou sem medalhas no pescoço.

Os gringos estão dizendo por aí que aprenderam com o Brasil nessas Olimpíadas. Essa nação que não parte das mesmas bases, não tem os mesmos recursos, mas transforma a escassez em memes, faz Paris virar baile e entrega aos seus atletas um suporte emocional que – adivinhem? Vale ouro.

Minha vontade é encapsular no tempo essas emoções olímpicas e fazer a rotina virar baile. Fico achando que o “coletivo Brasil” às vezes não sabe a força que tem – tanto quanto o amor puro do Djavan que embalou as manobras da Fadinha.

Eu sei. Ah, meu Deus, eu sei que a vida devia ser bem melhor – e será! Mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita.

Nessas “horinhas de descuido” durante os Jogos Olímpicos de 2024, não é que minha alma se reconciliou com o verde e amarelo?

Somos nós que fazemos a vida. Então, hoje, apesar de tudo que ainda precisamos construir coletivamente, deusas me livrem de não ser brasileira.

Minha alma canta:

“O que é? O que é?”, do Gonzaguinha:    

Eu fico com a pureza

Da resposta das crianças

É a vida, é bonita

E é bonita

Viver e não ter a vergonha

De ser feliz

Cantar, e cantar, e cantar

A beleza de ser um eterno aprendiz

Ah, meu Deus!

Eu sei, eu sei

Que a vida devia ser bem melhor

E será!

Mas isso não impede

Que eu repita

É bonita, é bonita

E é bonita

E a vida, e a vida o que é?

Diga lá, meu irmão

Ela é a batida de um coração

Ela é uma doce ilusão

Êh! Ôh!

E a vida

Ela é maravilha ou é sofrimento?

Ela é alegria ou lamento?

O que é? O que é, meu irmão?

Há quem fale que a vida da gente

É um nada no mundo

É uma gota, é um tempo

Que nem dá um segundo

Há quem fale que é um divino

Mistério profundo

É o sopro do criador

Numa atitude repleta de amor

Você diz que é luta e prazer

Ele diz que a vida é viver

Ela diz que melhor é morrer

Pois amada não é e o verbo é sofrer

Eu só sei que confio na moça

E na moça eu ponho a força da fé

Somos nós que fazemos a vida

Como der, ou puder, ou quiser

Sempre desejada

Por mais que esteja errada

Ninguém quer a morte

Só saúde e sorte

E a pergunta roda

E a cabeça agita

Eu fico com a pureza

Da resposta das crianças

É a vida, é bonita

E é bonita

Viver e não ter a vergonha

De ser feliz

Cantar, e cantar, e cantar

A beleza de ser um eterno aprendiz

Ah, meu Deus!

Eu sei, eu sei

Que a vida devia ser bem melhor

E será!

Mas isso não impede

Que eu repita

É bonita, é bonita

E é bonita

Siga a Novabrasil nas redes

Google News

Tags relacionadas

Jogos Olímpicos de 2024 Olimpíadas Paris “O que é? O que é?”
< Notícia Anterior

"Quem brilhou foram as mulheres", diz Elaine Trevisan sobre Olimpíadas de Paris

12.08.2024 12:12
"Quem brilhou foram as mulheres", diz Elaine Trevisan sobre Olimpíadas de Paris
Próxima Notícia >

Italiana abandona luta contra atleta intersexo e gera uma das maiores polêmicas das Olimpíadas

12.08.2024 16:16
Italiana abandona luta contra atleta intersexo e gera uma das maiores polêmicas das Olimpíadas
colunista

Minha alma canta com Cíntia Ribeiro

Suas redes