
A importância de Dalva de Oliveira para a MPB

A importância de Dalva de Oliveira para a MPB
Hoje seria aniversário da cantora conhecida como “Rouxinol Brasileiro", e - por isso - nós relembramos a importância de Dalva de Oliveira para a história da nossa música


Dalva de Oliveira, conhecida como o “Rouxinol Brasileiro”, é considerada uma das cantoras mais importantes do país, tendo sido eleita “Rainha do Rádio” e feito sucesso internacional. Hoje, no dia do aniversário da artista, vamos relembrar a sua importância para a música popular brasileira.
Dalva de Oliveira, o “Rouxinol Brasileiro”
Nascida em Rio Claro, no interior de São Paulo, em 5 de maio de 1917, seu nome era Vicentina de Paula Oliveira. De família humilde, o pai de Dalva de Oliveira era brasileiro e a mãe portuguesa.
Seu pai – que era músico nas horas vagas, tocava clarinete e organizava serenatas com seus amigos músicos – faleceu quando Dalva tinha apenas oito anos e na juventude ela se mudou com a mãe e as irmãs para o Rio de Janeiro, em busca de uma vida melhor.
A jovem passou a frequentar o Cine Pátria, uma das primeiras salas de cinema no Rio de Janeiro, onde conheceu – em 1935 – o seu primeiro namorado, o músico Herivelto Martins, com quem se casou no ano seguinte. Os dois foram casados por mais de 10 anos e tiveram dois filhos, um deles, o famoso cantor Pery Ribeiro.
Herivelto formava – ao lado de Nilo Chagas – um dueto chamado “Preto e Branco”. Quando Dalva conheceu Herivelto, os três artistas passaram a formar então o “Trio de Ouro”, com Dalva de Oliveira também nos vocais, fazendo um estrondoso sucesso nas rádios.
Em 1937 eles gravaram o batuque “Itaquari” (composição de Príncipe Pretinho) e a marcha “Ceci e Peri” (de Príncipe Pretinho e Carlos Gomes). O disco foi um sucesso, rendendo várias apresentações nas rádios de todo o país.
De voz afinada e bela, considerada a “Rainha da Voz” ou o “Rouxinol Brasileiro”, a extensão vocal de Dalva de Oliveira ia de contralto a soprano.
Em 1938, na primeira e original versão do filme “Branca de Neve e os Sete Anões”, da Disney, Dalva de Oliveira dublou os diálogos da personagem Branca de Neve. Esse foi o primeiro filme dublado do Brasil.
Em 1949 – depois de se separar de uma relação abusiva e conturbada com Herivelto Martins – Dalva deixou o “Trio de Ouro”, quando excursionavam pela Venezuela com a Companhia de Dercy Gonçalves.
Em 1950, ela retomou a carreira solo, lançando os sambas “Tudo Acabado” (de J. Piedade e Osvaldo Martins) e “Olhos Verdes” (Vicente Paiva), além do samba-canção “Ave Maria” (de Vicente Paiva e Jaime Redondo), grandes sucessos da sua carreira, que tornou-se internacional a partir daí.
Seu primeiro disco solo é de 1957, chamado “Os Tangos mais Famosos na voz de Dalva de Oliveira”. Depois, vieram mais álbuns de sucesso, com boleros, tangos e sambas-canção. Dalva de Oliveira lançou 15 LPs ao longo da carreira, além de diversos compactos e dezenas de discos 78 rotações por minuto.
A cantora realizou mais de 400 gravações e sua voz está em vários coros de discos de outros grandes nomes como Carmen Miranda, Orlando Silva e Francisco Alves.
Dona de uma voz poderosa, Dalva marcou época como intérprete. Entre os maiores sucessos na sua voz, estão as canções: “Ave Maria no Morro” (Herivelto Martins), “Segredo” (Herivelto e Marino Pinto) e “Kalu” (Humberto Teixeira).
As consequências de uma sociedade machista
Em 1952, depois de se consagrar mais uma vez na música mundial e eleita “Rainha do Rádio” de 1951, Dalva de Oliveira excursionou pela Argentina, onde conheceu seu segundo marido, com quem teve uma filha.
Após mais de quatro anos de casamento, o casal passou a viver brigando, também por conta da carreira de Dalva, que vivia viajando, e de seus filhos, a quem constantemente visitava no Brasil, o que desagradava o marido, que queria que ela deixasse para trás sua carreira e seu passado no Brasil, para viver exclusivamente para ele e para a criação da filha. Dalva de Oliveira jamais aceitou essa imposição e se separou do segundo marido.
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O machismo predominante na época, que não aceitava que mulheres – quem dirá, mães! – trabalhassem como cantoras, fez com que Dalva de Oliveira enfrentasse muitos problemas para conseguir que seus filhos crescessem perto dela.
Ela era sempre acusada injustamente de ter “moral duvidosa” para ficar com a guarda dos filhos, e isso aconteceu quando se separou de seus dois primeiros maridos. Isso tudo levou muita tristeza para a vida da cantora, que mesmo com muito sucesso, nunca conseguiu ser completamente feliz, sem os filhos por perto.
Além disso, em 1965, Dalva sofreu um grave acidente de carro em que seu terceiro marido dirigia – em Copacabana, no Rio de Janeiro – que causou a morte de três pessoas e deixou a cantora em coma por alguns dias, fazendo-a se afastar da carreira por um tempo.
Dalva de Oliveira morreu em 30 de agosto de 1972, vítima de uma hemorragia interna causada por um câncer esofágico.

Homenagens à Dalva de Oliveira
Em 1974, a cantora foi homenageada pela escola de samba carioca Acadêmicos de Santa Cruz, com o enredo “O Rouxinol da Canção Brasileira”. Em 1987, a escola de samba Imperatriz Leopoldinense também levou para a Sapucaí o enredo “Estrela Dalva”.
Em 2018, Dalva voltou a ser homenageada na Sapucaí, desta vez na Unidos do Porto da Pedra, como uma das dez homenageadas do enredo “Rainhas do Rádio – Nas ondas da emoção, o Tigre coroa as Divas da canção!”.
Em sua cidade natal, Rio Claro, existe uma praça em sua homenagem, com nome de “Dalva de Oliveira”, inaugurada em 15 de julho de 2000. No local, existe um busto em bronze da cantora. Também foi inaugurada uma praça com o seu nome em Irajá, Rio de Janeiro, onde a cantora viveu.
Em 2017, por ocasião do centenário de seu nascimento, Dalva de Oliveira foi homenageada com a exposição “Dalva de Oliveira – 100 anos do mito”, no Instituto Cultural Cravo Albin, com curadoria do seu biógrafo Paulo Henrique de Lima.
A atriz Marília Pêra interpretou a cantora no musical “A Estrela Dalva”, de 1987, e – em 2002, o teatrólogo mineiro Pedro Paulo Cava produziu e dirigiu o espetáculo teatral “Estrela Dalva”, baseado no livro de Renato Borghi e João Elísio Fonseca.
A vida de Dalva de Oliveira também foi retratada em 2010, na minissérie “Dalva e Herivelto: uma Canção de Amor”, produzida pela Rede Globo. A atriz Adriana Esteves interpretou Dalva, enquanto o ator Fábio Assunção interpretou Herivelto Martins.