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A história da música “Conceição”, sucesso de Cauby Peixoto

Lívia Nolla
13:11 10.02.2025
Autor

Lívia Nolla

Cantora e Pesquisadora Musical
Curiosidades

A história da música “Conceição”, sucesso de Cauby Peixoto

No dia do aniversário do artista, saiba mais sobre um dos maiores sucessos do cantor

Lívia Nolla - 10.02.2025 - 13:11
A história da música “Conceição”, sucesso de Cauby Peixoto
O cantor Cauby Peixoto | Foto: Divulgação

Uma das maiores vozes da história da nossa música, Cauby Peixoto completaria 94 anos hoje. Para homenagear este grande artista, trouxemos a história da música “Conceição”, um de seus maiores sucessos, composta por Dunga e Jair Amorim.

Sobre Cauby Peixoto

Considerado um dos melhores cantores e mais versáteis intérpretes da música popular brasileira de todos os tempos, Cauby Peixoto nasceu em Santa Rosa, bairro de Niterói, no Rio de Janeiro, o caçula de seis irmãos, em uma família muito musical. Seus pais e irmãos tinham relação direta com a música: tocavam algum instrumento, compunham ou cantavam. 

Cauby trabalhou no comércio – em lojas de sapatos e perfumes – até resolver participar de programas de calouros no rádio, no final da década de 40. Antes de pedir as contas no comércio em que trabalhava, foi fazer um teste e acabou sendo contratado para o programa Hora do Comerciário, da Rádio Tupi. Era perfeito para ele, porque ia ao ar aos sábados, das 18h às 19h, horário de sua folga. 

Foi com a ajuda dos irmãos mais velhos, que já estavam no ramo musical, que Cauby Peixoto teve a oportunidade de realizar a sua primeira gravação, aos 20 anos: um 78 rotações por minuto que continha as canções “Saia Branca” (composição de Geraldo Medeiros) e “Ai, que Carestia” (de Victor Simon e Liz Monteiro), em 1951.

Com seu timbre grave e aveludado e jeito singular de cantar e interpretar, em 1954, Cauby lançou o seu primeiro sucesso no Brasil, a canção “Blue Gardênia”, uma versão em português (feita por Antonio Carlos) de uma canção norte-americana (composta por Lester Lee e Bob Russel). 

Na época, a música era um sucesso na voz do cantor norte-americano Nat King Cole, ídolo de Cauby Peixoto desde a infância. Em 1958, Cauby chegou a cantar junto com Nat King Cole em uma boate em Nova York e depois – lá em 2015 – o cantor brasileiro fez um álbum em homenagem ao ídolo, “Cauby Sings Nat King Cole”, com o qual ganhou o prêmio póstumo de Melhor Álbum em Língua Estrangeira, no Prêmio da Música Popular Brasileira de 2016.

Em 1955, Cauby gravou outro grande sucesso: a tarantela “Ci ciu ci (Canção do rouxinol)”: uma versão de Nadir Peres para criação original dos italianos Saverio Seracini e Ettore Minoretti.

Cauby Peixoto no início da carreira | Foto: Reprodução

A história da música “Conceição”, sucesso de Cauby Peixoto

Voltando a 1956, foi neste ano que Cauby apareceu no filme “Com Água na Boca”, cantando o maior sucesso de sua carreira: o samba-canção “Conceição”, composição de Dunga e Jair Amorim

Trata-se de um filme de comédia musical brasileiro, dirigido por J.B.Tanko (cineasta croata radicado no Brasil após a Segunda Guerra Mundial) e com produção de Herbert Richers (produtor de cinema e empresário brasileiro), sendo a segunda produção dos dois com a dupla de palhaços cariocas Fred e Carequinha.

Depois disso, Cauby Peixoto participou de dezenas de filmes ao longo de sua vida, sempre cantando seus sucessos.

“Conceição” foi lançada no álbum “Você, a música e Cauby”, também de 1956.  Depois, Cauby Peixoto a gravou em diversos outros álbuns.

Mas antes de ser oferecida para Cauby pelos seus compositores, “Conceição” foi rejeitada simplesmente por outro grande intérprete da época, Sílvio Caldas, que não gostou e passou adiante.

Que bom que o mesmo não aconteceu quando os compositores ofereceram o samba-canção a Di Veras, empresário de Cauby, que imediatamente identificou que a música seria um sucesso na voz do cantor.

Um mês antes, a canção já tinha sido gravada pela cantora Dircinha Batista, em um 78 rotações, no mesmo ano. Mas a versão de Cauby Peixoto – que tinha 24 anos na época – tornou-se a interpretação definitiva de “Conceição”, e tornou-se marca registrada do cantor pelo resto da carreira.

“A melodia envolvente foi um prato cheio pro Cauby, que acabou sendo decisivo pro sucesso dessa música”, diz o jornalista e pesquisador Rodrigo Faour, autor da biografia “Bastidores: Cauby Peixoto, 50 anos da voz e do mito” (Record, 2001). “Na minha opinião, a interpretação contundente que ele deu a ‘Conceição’ é mais importante até do que a melodia ou a letra, que estão na média de um certo tipo de música dos anos 50.”

O sucesso foi tanto que foi nessa época do lançamento de “Conceição” que o assédio das fãs se intensificou e que as tradicionais tentativas de arrancar pedaços de suas roupas começaram a fazer parte da cultura de suas admiradoras. Cauby Peixoto chegou a ser considerado o homem mais bonito do Brasil, eleito pela revista americana Time, que também o chamava de “Elvis Presley brasileiro”.

Cauby Peixoto — Foto Marco Máximo Divulgação

“Nas primeiras notas, as da palavra ‘Con-cei-ção’, quando sua voz crescia, alongando a terceira delas, Cauby já tinha o ouvinte nas mãos”, relata o crítico musical Zuza Homem de Mello em seu livro “Copacabana: a trajetória do samba-canção” (Editora 34/Edições Sesc, 2018).

Rodrigo Faour também chama atenção para a história dramática de “Conceição”, contada com altas doses de moralismo nos versos da canção: a história da moça que “vivia no morro a sonhar” e desceu para o asfalto, onde adotou outro nome para percorrer “estranhos caminhos”:

“Letras que contavam histórias assim, sobre prostitutas, eram muito comuns nessa época, assim como aquelas que falavam do sujeito em dúvida sobre ir ou não para a ‘orgia’”, conta o pesquisador. “Outro traço do sucesso dessa música é a expressão ‘ninguém sabe, ninguém viu’, até hoje na boca do povo.”.

Em entrevista ao programa Roda Viva, de 1988, Cauby Peixoto também contou que o sucesso da música ficou ainda maior porque seu empresário na época pagou para que a música tocasse nas rádios entre as notícias sobre o suicídio do então presidente Getúlio Vargas, em 1954. O funcionário da rádio foi despedido na ocasião.

“Conceição” foi mais um grande sucesso de Dunga, que era ligado à escola de samba Unidos de Vila Isabel e até ali era mais conhecido como o compositor de “Chora cavaquinho”, sucesso de Orlando Silva, em 1936. Já o jornalista Jair Amorim, outro compositor da canção,eranatural de Santa Leopoldina (ES), e teve outros sucessos como “Alguém como tu” (com José Maria de Abreu, em 1952) e “Sentimental demais” (1965).

O sucesso depois de “Conceição”

Rapidamente, Cauby Peixoto se consolidou como um dos grandes nomes da música brasileira. Premiado no Brasil e no exterior, em seis décadas o artista mostrou versatilidade na voz interpretando diversos estilos. 

Foi um ícone da Era do Rádio, mas sempre se renovou e manteve seu repertório atualizado com as novas gerações, com músicas de Chico Buarque, Gonzaguinha, Tom Jobim, Carlos Colla, Roberto e Erasmo Carlos, entre outros. Foram cinco DVDs e quase 50 discos ao longo da carreira.

Em 1957, Cauby Peixoto foi o primeiro cantor brasileiro a gravar uma canção de rock em português, a chamada “Rock and Roll em Copacabana”, composta por Miguel Gustavo

Em 1980, em comemoração aos seus 25 anos de carreira, o artista lançou o álbum “Cauby, Cauby”, que conta com composições escritas especialmente para ele por Caetano Veloso (“Cauby, Cauby”), Chico Buarque (“Bastidores”), Tom Jobim (“Oficina”), Roberto Carlos e Erasmo Carlos (“Brigas de Amor”).

Em 2011, em ocasião dos seus 80 anos, a organização do Grammy Latino decidiu que Cauby Peixoto seria homenageado com o prêmio Latin Recording Academy ‘s President Merit Award. O artista foi o primeiro a receber essa homenagem do Grammy Latino. Quando foi até o microfone para agradecer, cantou um trecho da canção “Bastidores”, de Chico Buarque, e justificou: “não sou de falar, por isso cantei”.

A amizade com Ângela Maria

A cantora Ângela Maria foi a melhor amiga de Cauby Peixoto. Os dois começaram as carreiras juntos e o primeiro encontro deles em disco aconteceu em 1972, no LP “Ângela e Cauby”

A última apresentação da vida de Cauby foi ao lado da amiga, com quem estava em turnê de comemoração dos 60 anos de carreira dos dois, chamada “120 Anos de Música”, em 03 de maio de 2016.

Uma semana depois, Cauby Peixoto foi internado para tratar de uma pneumonia e acabou não resistindo, aos 85 anos de idade. Angela Maria morreu dois anos e meio depois, em 2018, aos 89 anos, também em decorrência de uma pneumonia. Os dois estão sepultados lado a lado, no jazigo da família dela.

Cauby Peixoto e Ângela Maria foram grandes amigos | Foto: Divulgação

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colunista

Lívia Nolla

Lívia Nolla é cantora, apresentadora e pesquisadora musical

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