Comunidades isoladas: ribeirinhos sofrem com falta de água
Comunidades isoladas: ribeirinhos sofrem com falta de água
Estiagem no Amazonas afeta mais de 400 mil pessoas e reportagem da Novabrasil conversou com alguns desses moradores
O que até pouco tempo era considerado improvável tem se tornado realidade: a Amazônia arde em chamas e os rios secaram.
No estado do Amazonas, onde o governo decretou situação de emergência nos 62 municípios por causa da seca, foram sete mil focos de incêndio em agosto contra 4 mil no mesmo mês em 2023, maior recorde.
O cenário traz dificuldades ao pescador Licinho Evangelista, que vive na comunidade Costa do Arara: “A gente não tem como trabalhar. Não tem nem como sair, nem de canoa. Afeta muito o nosso trabalho na pesca. A gente fica sem ganho, não tem como trabalhar”, relata o pescador.
Ele conta que depende da pesca desde os 12 anos de idade e m mais de 30 anos, nunca viu o Rio Negro tão seco: “Afeta muito, né? O nosso trabalho no Rio Negro. Trabalha comigo seis pais de família. Então a gente precisa dessa renda da pesca. A gente não tem um trabalho fixo aqui. Ninguém tem um salário, né? Tá secando muito o rio, tá baixando muito o rio”.
A seca no Amazonas veio mais cedo e mais forte neste ano. A comunidade Nossa Senhora do Livramento, à margem do Rio Negro, também vive um momento difícil.
Francisca Cavalcante, líder comunitária da região, conta que os barcos que fazem o transporte para os ribeirinhos não conseguem chegar no local. Com isso, os insumos estão cada vez mais escassos: “Meu amor, a água não tá bem não. Nós não temos água. Muito pouca, muito pouca mesmo. Nós estamos com dificuldade de saída para a beira do rio, os poços estão secando. Nós precisamos de alimentos, como açúcar, café, essas coisas básicas. Nós estamos com dificuldade de saída para a beira do rio, dificuldade de água, os poços estão secando. Pior do que a de 2023. Estamos entrando em um período de estiagem, de seca severa”, conta a líder.
Francisca completa que se sente desamparada:
“Aqui nós somos um povo que vivemos da pesca, da floresta. Do rio, da beira do rio. E quando um peixe se sente fora d’água, a tendência dele é morrer”.
Foto: Francisca Cavalcante / Seca na comunidade Nossa Senhora do Livramento
As queimadas deixam a situação ainda mais difícil: “Aqui a nossa preocupação grande é a fumaça. Amanhece o dia, tudo a área da comunidade, próxima à Manaus, o rio negro todo fumacento. É muita queimada. E olha que nós moramos dentro de uma RBS, que não pode queimar”, lamenta.
Francisca diz que a comunidade sente na pele os efeitos da fumaça, como ardências no nariz, boca seca, vermelhidão nos olhos e tosse.
Na comunidade Bela Vista do Jaraqui a situação é semelhante. O guia turístico Daniel Araújo conta que a região carece de estrutura, especialmente em época de seca: “A água potável é um problema na zona Ribeirinha, né? Falta água pra gente beber, a inexistência de Poços Artesianos, ela dificulta muito né? ficamos longe da margem do rio principal, né? Fica muito distante quando a mercadoria chega ela chega com um preço muito alto”, diz o guia.
O trabalho de Daniel Araújo também foi muito afetado. Ele diz que, geralmente, o período de seca atrai menos turistas, mas este ano está ainda pior: “Em 2022, a gente deve ter recebido uns 200 turistas. Em 2023, eu acho que baixou para 42. Este ano a queda vai ser maior”, conta.
O guia também diz que comunidade vive aflita pois não está abastecida o suficiente para enfrentar as próximas semanas de seca. Para ele, abastecer as comunidades é o paço essencial para que não haja transtornos durante a época, especialmente em um ano de tantas mudanças climáticas como 2024.
Para Ane Alencar, coordenadora do MAP BIOMAS, o cenário é responsabilidade de ações humanas: “Desde 2005 a gente não tem tantos focos de calor como estamos vendo agora. E isso é uma combinação, combinação das condições climáticas extremas e isso faz com que a paisagem vira um navio de pólvora, que ela fique muito inflamável. Tem pessoas que também usam o fogo de forma criminosa e é muito difícil, através de imagens de satélite, o que é intencional, o que tem licença para se fazer e o que é criminoso, avalia a especialista.
Confira a reportagem completa em áudio: