Tiradentes: herói ou bode expiatório? Os bastidores da construção do mito nacional

Clarissa Sayumi
16:20 21.04.2025
Arte e cultura

Tiradentes: herói ou bode expiatório? Os bastidores da construção do mito nacional

Descubra a história não contada do mártir da Inconfidência Mineira e os segredos que desafiam a narrativa tradicional.

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- 21.04.2025 - 16:20
Tiradentes: herói ou bode expiatório? Os bastidores da construção do mito nacional
Feriado de Tiradentes: entenda a importância do feriado para o país. | Foto: Acervo do Museu Paulista da USP/ Reprodução Facebook.

Imagine um homem de barba longa, semblante sereno, erguido como um Cristo laico em pinturas e livros escolares. Essa é a imagem que nos vendem de Tiradentes: o mártir, o herói incorruptível, o rosto da liberdade contra a tirania portuguesa. Mas e se tudo isso for uma grande encenação histórica?

Por trás do mito, havia um homem de carne e osso — um militar fracassado, um sonhador sem estratégia, talvez apenas um bode expiatório convenientemente sacrificado. Enquanto a Coroa portuguesa afiava o machado, os verdadeiros líderes da Inconfidência Mineira, homens ricos e letrados, escapavam com penas leves. Por que, então, só Tiradentes foi esquartejado e exibido como troféu?

Nesta investigação, você vai descobrir:

  • A farsa da liderança: Quem realmente comandava a revolta?
  • A fabricação do herói: Como republicanos transformaram um fracassado em ícone
  • Os documentos que a escola não mostra: O que os arquivos secretos revelam
  • A morte como espetáculo: Por que seu corpo virou propaganda

A Inconfidência Mineira: o sonho de liberdade que virou traição

No final do século 18, o Brasil ainda era uma colônia explorada por Portugal. O ouro de Minas Gerais sustentava a coroa, mas os impostos absurdos e a opressão alimentavam o descontentamento. Foi nesse cenário que surgiu a Inconfidência Mineira (1789), uma conspiração de elites locais – poetas, padres, militares e fazendeiros – que sonhavam com a independência.

Entre eles, destacou-se Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Tiradentes: o homem por trás do mito

Tiradentes não era um aristocrata. Diferente de outros inconfidentes, como Cláudio Manuel da Gomes e Tomás Antônio Gonzaga, ele vinha de uma família humilde e tinha múltiplas profissões: dentista (daí o apelido), tropeiro e alferes (cargo militar baixo).

Por que ele entrou para o movimento?

  • Desigualdade social: Enquanto a elite mineira reclamava dos impostos em salões luxuosos, Tiradentes via a miséria do povo.
  • Influência iluminista: Durante viagens ao Rio de Janeiro, entrou em contato com ideias revolucionárias, como as da Independência dos EUA (1776).
  • Frustração pessoal: Sua carreira militar estava estagnada, e ele acreditava que um Brasil livre traria oportunidades.

A história contada nas escolas vs. o que os estudos revelam

Nos livros didáticos, Tiradentes é retratado como um mártir solitário, um Jesus cívico que morreu pela pátria. Mas pesquisas recentes mostram nuances:

✔ Ele não era o principal líder – A Inconfidência foi planejada por figuras mais influentes, como os poetas árcades.
✔ O movimento nem chegou a acontecer – Foi delatado antes de qualquer ação.
✔ Tiradentes assumiu a culpa? Há indícios de que ele foi um bode expiatório, enquanto os outros inconfidentes, por serem ricos, conseguiram escapar.

Por que só Tiradentes foi executado?

Em 1792, após um julgamento manipulado, Tiradentes foi condenado à forca e esquartejado. Sua cabeça foi exposta em Vila Rica (Ouro Preto), e seus membros, espalhados pelo caminho até o Rio, como aviso contra novas rebeliões.

Por que só ele?

Veja também:

  • Era o menos influente – Enquanto outros inconfidentes tinham conexões poderosas, Tiradentes era um “peão” fácil de sacrificar.
  • Virou símbolo do castigo – Portugal precisava de um exemplo para aterrorizar os colonos.
  • Personalidade exaltada – Ele mesmo assumiu discursos inflamados, chamando atenção das autoridades.

A fabricação do mito: por que Tiradentes virou herói nacional?

Após a Independência (1822), o Brasil precisava de símbolos unificadores. Tiradentes, já esquecido, foi ressuscitado como mártir republicano no fim do século 19.

Como sua imagem foi construída?
📜 Republicanos o adotaram – Para criticar a monarquia, pintaram-no como um libertador.
🎨 A imagem de Cristo – Artistas o retrataram com barba e semblante sagrado, associando seu sacrifício ao de Jesus.
🏛 Ditadura Vargas – Nos anos 1930, o Estado Novo usou sua figura para exaltar o nacionalismo.

Tiradentes na arte e na cultura

Sua imagem foi moldada também pela cultura, reforçando o mito do mártir.
 Representações marcantes:

  • “Tiradentes Esquartejado” (1893) – Pedro Américo
  • Filme “Os Inconfidentes” (1972) – Joaquim Pedro de Andrade
  • Minissérie “Liberdade, Liberdade” (2016) – TV Globo

Cada obra contribuiu para manter viva — e mitificada — sua memória.

Linha do tempo: Tiradentes e a construção da lenda

AnoEvento
1746Nascimento de Joaquim José da Silva Xavier
1789Início da devassa após denúncia de Silvério dos Reis
1792Tiradentes é executado e esquartejado
1889Proclamação da República
189021 de abril é decretado feriado nacional

Tiradentes, entre a carne e o bronze – por que essa história ainda nos divide?

A trajetória de Tiradentes é uma metáfora perfeita da história do Brasil: um homem comum, transformado em mito por interesses que vão muito além dele. Se, por um lado, sua execução foi um ato de crueldade calculada – um aviso de Portugal sobre o preço da rebeldia –, por outro, sua canonização como herói nacional revela como o poder fabrica símbolos quando convém.

O que fica quando a lenda supera o homem?

  • Ele não foi o único líder, mas foi o único morto – porque sua morte servia a um propósito.
  • Seu rosto barbado e mártir foi inventado décadas depois, porque revoluções precisam de santos.
  • Sua história é usada até hoje, tanto por governos quanto por movimentos, porque mitos são flexíveis.

A verdade é que Tiradentes importa menos pelo que fez e mais pelo que representamos por meio dele. Ele é espelho: às vezes, reflete o idealismo; outras, a manipulação. E você? Acredita que Tiradentes foi um mártir ou um instrumento político?

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