
Nova geração de escritores brasileiros: 10 nomes para ler agora
Nova geração de escritores brasileiros: 10 nomes para ler agora
Eles escrevem sobre racismo, identidade, afetos, ancestralidade e periferia — e colocam o Brasil real no centro da narrativa.


Um país onde as palavras incendeiam discussões, desmontam preconceitos e reprogramam o futuro. Esse país existe — é o Brasil de Geovani Martins, que usa a favela como pano de fundo de seu conto; o Brasil de Itamar Vieira Junior, onde a terra sangra e os mortos sussurram; o Brasil de Jarid Arraes, do cordel, do sertão.
A nova geração de escritores brasileiros chegou escancarando portas, ocupando espaços e recusando silêncios. Falam de racismo, LGBTQIA+, distopias digitais, afetos queimados e sertões que nunca acabam. São filhos da internet, da periferia, da floresta e da solidão das grandes cidades — e seus livros são os retratos mais fiéis do Brasil que vivemos (e aquele que ainda queremos construir).
Aqui, apresentamos 10 autores que estão reescrevendo as regras do jogo — e você vai querer ler todos antes que virem filmes, memes ou revoluções.
10 escritores brasileiros da nova geração
– Geovani Martins desponta com uma literatura marcada pela oralidade e pelo realismo social.

Carioca nascido em 1991, ex-vendedor ambulante e cria de oficinas literárias, chamou atenção com O Sol na Cabeça (2018), seu livro de estreia, que reúne contos sobre o cotidiano da juventude negra nas favelas cariocas. Geovani representa uma das vozes mais autênticas da periferia, coloca o protagonismo negro e jovem no centro da narrativa.
– Na mesma toada de urgência social, Itamar Vieira Junior se tornou um dos maiores fenômenos recentes da literatura nacional.

Nascido em Salvador em 1979, doutor em estudos étnicos e africanos, Itamar conquistou o país com Torto Arado (2019), romance que mistura realismo mágico, crítica social e ancestralidade afro-brasileira no sertão da Bahia. A obra venceu os prêmios Jabuti, Oceanos, entre outros, além de ter sido traduzida para mais de dez idiomas. Seu segundo romance, Salvar o Fogo (2023), também foi premiado como Romance Literário de 2024 pelo Prêmio Jabuti.
– Entre as autoras que têm se destacado com abordagens sobre afetos, sexualidade e o cotidiano contemporâneo, Natália Borges Polesso é um nome incontornável.

Nascida em 1981, em Bento Gonçalves, interior do Rio Grande do Sul, ficou conhecida pelo livro de contos Amora (2015), vencedor do Prêmio Jabuti na categoria contos, que reúne histórias protagonizadas por mulheres lésbicas. Em Controle (2019), narra a história de uma jovem com epilepsia enfrentando questões de autonomia e desejo. Com sensibilidade, Natalia consolida-se como uma das vozes mais importantes da literatura LGBTQIA+ brasileira.
– Outro autor que tem feito barulho com uma prosa contundente e cheia de reflexão é Jeferson Tenório.

Nascido no Rio de Janeiro em 1977 e radicado em Porto Alegre, Tenório venceu o Prêmio Jabuti com O Avesso da Pele (2020), romance que trata das violências racistas, do legado dos pais e da busca por identidade negra em uma sociedade estruturalmente desigual. Sua obra anterior, Estela sem Deus (2018), já apontava para a tensão entre fé, corpo e política nas margens da sociedade brasileira.
– No campo da literatura engajada e de resgate histórico, Jarid Arraes se destaca com uma escrita que funde oralidade e militância.

Cearense, nascida em 1991, é autora da premiada coletânea de contos Redemoinho em Dia Quente (2019), que apresenta a experiência de uma jovem nordestina lidando com traumas e ancestralidade, e da obra Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis (2017), que resgata a trajetória de mulheres negras esquecidas pela história oficial. Jarid usa o cordel e a poesia para contar suas histórias.
– Paulo Scott, embora mais experiente, é um autor que se reinventa a cada livro e continua essencial para entender a literatura contemporânea.
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Gaúcho, nascido em 1966, lançou obras como Marrom e Amarelo (2019), um romance impactante sobre dois irmãos marcados pela discriminação racial no Brasil. A obra foi indicada ao Prêmio Jabuti e ao International Booker Prize 2022, sendo amplamente reconhecida pela crítica.
– Entre as vozes femininas que exploram com ironia e densidade as tensões da vida urbana, Giovana Madalosso tem se firmado com romances que combinam humor ácido e crítica social.

Nascida em Curitiba, já trabalhou como roteirista e jornalista antes de estrear na literatura com A Teta Racional (2016), coletânea de contos que satiriza o cotidiano das relações modernas. Seu romance Suíte Tóquio (2020), finalista do Prêmio Jabuti, discute desigualdade social a partir da relação entre uma patroa e sua babá sequestrada, numa narrativa eletrizante e cheia de nuances. Em Tudo Pode Ser Roubado (2021), mergulha em uma trama sobre amor, roubo e maternidade.
– Na mesma linhagem de autoras com olhar crítico e refinamento estético, podemos destacar Carol Bensimon.

Nascida em 1982 no Rio Grande do Sul, trata de temas como juventude, sexualidade e pertencimento com uma linguagem sensível e elegante. Sua estreia se deu com Sinuca embaixo d’água (2009), mas foi com Todos Nós Adorávamos Caubóis (2013) que ganhou maior notoriedade, ao explorar com delicadeza e ambiguidade a amizade e o amor entre duas mulheres em viagem. Em O Clube dos Jardineiros de Fumaça (2017), finalista do Jabuti, Carol aborda a maconha medicinal e os conflitos da imigração brasileira nos Estados Unidos.
– Com uma escrita que cruza história, misticismo e denúncia, Micheliny Verunschk tem surpreendido leitores com sua capacidade de reinventar narrativas.

Pernambucana nascida em 1972, é autora de Nossa Teresa – Vida e Morte de uma Santa Suicida (2014) e do premiado O Som do Rugido da Onça (2021), vencedor do Prêmio Jabuti. Neste último, reconstrói ficcionalmente o sequestro de crianças indígenas pelo Império com uma escrita que mistura fabulação, crítica colonial e dor ancestral, consolidando seu nome entre os mais inventivos da literatura nacional.
– Raphael Montes é responsável por aproximar o público jovem da literatura brasileira por meio do suspense e do terror.

Nascido no Rio de Janeiro em 1990, estreou com Suicidas (2012), e ganhou projeção com Dias Perfeitos (2014), uma narrativa perturbadora sobre obsessão amorosa. Também é coautor de Bom Dia, Verônica (2016), adaptado com sucesso pela Netflix, e de Jantar Secreto (2016), que trata de segredos macabros entre amigos
Por que essa geração merece sua atenção?
Num país em que tantas histórias foram silenciadas, esses autores escolheram escrever — e escrever com coragem. Seus livros retratam o Brasil real, além de apontarem para o que ele pode ser. E, assim, ocupam espaço, criam linguagem, inauguram caminhos. Ler essa nova geração é, acima de tudo, um ato de escuta. Se você quer entender o Brasil de hoje, esses autores são leituras obrigatórias. E o melhor: muitos deles estão apenas começando.