Flip 2024 abre alas para as crônicas como registro da alma brasileira

Minha alma canta com Cíntia Ribeiro
15:40 10.10.2024
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Minha alma canta com Cíntia Ribeiro

Escritora e comunicadora, autora de "De fora para dentro"
Arte e cultura

Flip 2024 abre alas para as crônicas como registro da alma brasileira

Em aula magistral sobre João do Rio, o professor, compositor e escritor Luiz Antônio Simas encanta Paraty

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- 10.10.2024 - 15:40
Flip 2024 abre alas para as crônicas como registro da alma brasileira
Foto: Divulgação.

Garoava em Paraty. Certamente a tenda da praça da Matriz ficaria lotada dali a oito minutos, perto das nove badaladas do sino da igreja.

E quem tinha hora para chegar não era a chuva, mas o samba. Invocado por Luiz Antônio Simas, que abriu a FLIP com uma esplêndida ode a João do Rio, autor homenageado nesta 22ª edição da Festa, o samba estava conclamado a ocupar a cidade.

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Luiz saiu do auditório como se não fosse encantado, em trajes comuns à multidão flipeira. Tirou foto com uma ou outra pessoa enquanto se dirigia para a mesa de autógrafos. Talvez não tenha escutado os gritos de “parabééééns!” da moça de óculos. Também pode não ter reparado a galera que apontava em sua direção: “olha lá aquele careca brilhante que deu show agora mesmo no palco!”.

Resolvo pegar um milho na barraquinha da praça. Na fila, esqueço da fome enquanto faço amizade com a Ju. Vamos com nossos potinhos fartos procurar lugares no auditório da praça. O samba da bênção já vai começar e o cheiro da manteiga provoca inveja em alguns desprevenidos.

Não há outra opção se não entregar-se ao som das Áfricas que pulsam no Brasil. O ritmo dos tambores, a graça da cuíca e a dança dos encontros tornam-se exemplos concretos do que o professor nos explicou mais cedo: “a vida só é possível como um exercício coletivo de invenção do mundo”. E que vasto mundo é este, o que estamos por experimentar aqui na FLIP.

João do Rio, jornalista, repórter e cronista que andou entre bulevares e vielas do Rio de Janeiro, deixou registros de valor inestimável sobre o sincretismo e a identidade da alma brasileira.

Minha alma canta hoje a alegria de ter o gênero “crônica” de volta à pauta como importante registro histórico de uma construção cultural do nosso país.

É nos modos e costumes ordinários – e não apenas nas informações factuais – que as culturas ganham contornos e constroem nossa identidade coletiva.

Nesse contexto, emocionada, dirijo-me agora à Casa Gueto, espaço coletivo de editoras independentes, onde lançarei o Trinta e Umas – crônicas para quem não sabe se casa ou compra uma bicicleta – pela Editora Patuá.

Como mencionou o professor fazendo referência ao Nêgo Bispo, a vida é feita de começo, meio e começo. O que está acontecendo aqui, em Paraty, neste exato instante, é o exercício da nossa liberdade coletiva de encantar o mundo.

A crônica não morreu. O samba não vai morrer. O contrário da morte é a lembrança. Celebremos, assim, a memória dessa alma brasileira que é feita de samba e deste ordinário presente chamado hoje.

Minha alma canta:

“Não deixe o samba morrer”, de Alcione

Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba para gente sambar

Quando eu não puder pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas não puderem aguentar
Levar meu corpo junto com meu samba
O meu anel de bamba
Entrego a quem mereça usar

Quando eu não puder pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas não puderem aguentar
Levar meu corpo junto com meu samba
O meu anel de bamba
Entrego a quem mereça usar

Eu vou ficar
No meio do povo, espiando
Minha escola perdendo ou ganhando
Mais um carnaval

Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final
Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final

Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba

De samba para gente sambar

Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba para gente sambar

Quando eu não puder pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas não puderem aguentar
Levar meu corpo junto com meu samba
O meu anel de bamba
Entrego a quem mereça usar

Quando eu não puder pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas não puderem aguentar
Levar meu corpo junto com meu samba
O meu anel de bamba
Entrego a quem mereça usar

Eu vou ficar
No meio do povo espiando
Minha escola perdendo ou ganhando
Mais um carnaval

Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final
Antes de me despedir
Deixo ao sambista mais novo
O meu pedido final

Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba para gente sambar

Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba acabar
O morro foi feito de samba
De samba para gente sambar

Não deixe o samba morrer…

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