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Especial: 10 poemas mais memoráveis de Manuel Bandeira

Clarissa Sayumi
16:11 23.10.2024
Arte e cultura

Especial: 10 poemas mais memoráveis de Manuel Bandeira

Site da Novabrasil faz análise dos poemas mais memoráveis do poeta que capturou a essência da existência e a fragilidade humana em suas obras

Clarissa Sayumi - 23.10.2024 - 16:11
Especial: 10 poemas mais memoráveis de Manuel Bandeira
O poeta Manuel Bandeira | Foto: Reprodução

Manuel Bandeira, um dos mais importantes poetas brasileiros, nasceu em Recife no dia 19 de abril de 1886. Desde jovem, enfrentou problemas de saúde, especialmente a tuberculose, que o acompanhou por grande parte de sua vida e influenciou sua obra poética.

Após se mudar para o Rio de Janeiro aos dez anos, Bandeira começou a se envolver com a literatura e a arte, o que o levou a se tornar uma figura central do modernismo brasileiro.

Sua carreira literária começou formalmente em 1917 com a publicação de “A Cinza das Horas”, e ao longo de sua vida produziu uma vasta obra que abrangeu poesia, crônicas e crítica literária. Bandeira faleceu em 13 de outubro de 1968, deixando um legado duradouro na literatura brasileira.

Poemas de Manuel Bandeira
Manuel Bandeira é conhecido por sua habilidade em capturar a essência da vida cotidiana, explorando temas como a saudade, a morte e a fragilidade da existência.

Seus poemas frequentemente refletem um lirismo delicado e uma profunda introspecção. A seguir, apresentamos uma seleção dos 10 poemas mais memoráveis de sua obra:

Vou-me Embora pra Pasárgada
Este poema é talvez o mais famoso de Bandeira, expressando um desejo de fuga para um lugar idealizado onde as preocupações e tristezas não existem.

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcaloide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.


Pneumotórax
Neste poema, Bandeira aborda sua luta contra a tuberculose com um tom irônico e reflexivo, utilizando elementos autobiográficos que revelam sua fragilidade.

Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.

A vida inteira que podia ter sido e que não foi.

Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:

— Diga trinta e três.

— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…

— Respire.

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.

— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Andorinha
Um poema que evoca a liberdade e a leveza da andorinha como símbolo de esperança e renovação.

Andorinha
Andorinha lá fora está dizendo:

— “Passei o dia à toa, à toa!”

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!

Passei a vida à toa, à toa…

Os Sapos
Publicado durante a Semana de Arte Moderna de 1922, este poema é uma crítica ao parnasianismo e à rigidez formal da poesia anterior.

Os Sapos

Enfunando os papos,

Saem da penumbra,

Aos pulos, os sapos.

A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,

Berra o sapo-boi:

— “Meu pai foi à guerra!”

— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.

O sapo-tanoeiro,

Parnasiano aguado,

Diz: — “Meu cancioneiro

É bem martelado.

Vede como primo

Em comer os hiatos!

Que arte! E nunca rimo

Os termos cognatos.

O meu verso é bom

Frumento sem joio.

Faço rimas com

Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos

Que lhes dei a norma:

Reduzi sem danos

A fôrmas a forma.

Clame a saparia

Em críticas céticas:

Não há mais poesia,

Mas há artes poéticas…”


Poética
Neste poema, Bandeira discute sua visão sobre a poesia e o papel do poeta, refletindo sobre a criação artística.

Poética

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente

protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário

o cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais

Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção

Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador

Político

Raquítico

Sifilítico

De todo lirismo que capitula ao que quer que seja

fora de si mesmo

De resto não é lirismo

Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante

exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes

maneiras de agradar às mulheres, etc

Quero antes o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbedos

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos

O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Cartas de Meu Avô
Uma homenagem à memória familiar, onde o poeta dialoga com as lembranças do passado e os ensinamentos recebidos.

Cartas de Meu Avô

A tarde cai, por demais

Erma, úmida e silente…

A chuva, em gotas glaciais,

Chora monotonamente.

E enquanto anoitece, vou

Lendo, sossegado e só,

As cartas que meu avô

Escrevia a minha avó.

Enternecido sorrio

Do fervor desses carinhos:

É que os conheci velhinhos,

Quando o fogo era já frio.

Cartas de antes do noivado…

Cartas de amor que começa,

Inquieto, maravilhado,

E sem saber o que peça.

Temendo a cada momento

Ofendê-la, desgostá-la,

Quer ler em seu pensamento

E balbucia, não fala…

A mão pálida tremia

Contando o seu grande bem.

Mas, como o dele, batia

Dela o coração também.

O Último Poema
Um texto que reflete sobre a morte e o legado deixado pelo poeta, com um tom melancólico e introspectivo.

O Último Poema

Assim eu quereria meu último poema

Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas

Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume

A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos

A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Consoada
Este poema aborda temas da vida cotidiana e da morte com uma sensibilidade única, revelando a relação entre o sagrado e o profano.

Consoada

Quando a Indesejada das gentes chegar

(Não sei se dura ou caroável),

talvez eu tenha medo.

Talvez sorria, ou diga:

— Alô, iniludível!

O meu dia foi bom, pode a noite descer.

(A noite com os seus sortilégios.)

Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,

A mesa posta,

Com cada coisa em seu lugar.

O Anel de Vidro
Uma metáfora sobre as ilusões da vida e as fragilidades humanas, utilizando imagens vívidas para transmitir emoções profundas.

O Anel de Vidro

Aquele pequenino anel que tu me deste,

— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou

Assim também o eterno amor que prometeste,

— Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,

Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, —

Aquele pequenino anel que tu me deste,

— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou

Não me turbou, porém, o despeito que investe

Gritando maldições contra aquilo que amou.

De ti conservo no peito a saudade celeste

Como também guardei o pó que me ficou

Daquele pequenino anel que tu me deste

Porquinho da Índia

Um poema nostálgico que fala sobre as memórias da infância e as pequenas alegrias que marcam nossas vidas.

Porquinho-da-Índia

Quando eu tinha seis anos

Ganhei um porquinho-da-índia.

Que dor de coração me dava

Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!

Levava ele prá sala

Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos

Ele não gostava:

Queria era estar debaixo do fogão.

Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…

— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

A obra de Manuel Bandeira oferece ao leitor uma profunda reflexão sobre a vida, a morte e as emoções humanas. Seus poemas, repletos de lirismo e sensibilidade, se conectam com aqueles que buscam entender as complexidades da existência.

Ao explorar seus versos, há um convite para confrontar as próprias fragilidades e a encontrar beleza nas pequenas coisas que compõem a jornada da vida. Assim, Bandeira se estabelece como um dos pilares da literatura brasileira, eternizando sua voz nas páginas da história poética. Aproveite e conheça 10 poemas de Clarice Lispector que vão te emocionar

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