
Especial: 10 poemas mais memoráveis de Manuel Bandeira
Especial: 10 poemas mais memoráveis de Manuel Bandeira
Site da Novabrasil faz análise dos poemas mais memoráveis do poeta que capturou a essência da existência e a fragilidade humana em suas obras

Manuel Bandeira, um dos mais importantes poetas brasileiros, nasceu em Recife no dia 19 de abril de 1886. Desde jovem, enfrentou problemas de saúde, especialmente a tuberculose, que o acompanhou por grande parte de sua vida e influenciou sua obra poética.

Após se mudar para o Rio de Janeiro aos dez anos, Bandeira começou a se envolver com a literatura e a arte, o que o levou a se tornar uma figura central do modernismo brasileiro.
Sua carreira literária começou formalmente em 1917 com a publicação de “A Cinza das Horas”, e ao longo de sua vida produziu uma vasta obra que abrangeu poesia, crônicas e crítica literária. Bandeira faleceu em 13 de outubro de 1968, deixando um legado duradouro na literatura brasileira.
Poemas de Manuel Bandeira
Manuel Bandeira é conhecido por sua habilidade em capturar a essência da vida cotidiana, explorando temas como a saudade, a morte e a fragilidade da existência.
Seus poemas frequentemente refletem um lirismo delicado e uma profunda introspecção. A seguir, apresentamos uma seleção dos 10 poemas mais memoráveis de sua obra:
Vou-me Embora pra Pasárgada
Este poema é talvez o mais famoso de Bandeira, expressando um desejo de fuga para um lugar idealizado onde as preocupações e tristezas não existem.
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Pneumotórax
Neste poema, Bandeira aborda sua luta contra a tuberculose com um tom irônico e reflexivo, utilizando elementos autobiográficos que revelam sua fragilidade.
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Andorinha
Um poema que evoca a liberdade e a leveza da andorinha como símbolo de esperança e renovação.
Andorinha
Andorinha lá fora está dizendo:
— “Passei o dia à toa, à toa!”
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa…
Os Sapos
Publicado durante a Semana de Arte Moderna de 1922, este poema é uma crítica ao parnasianismo e à rigidez formal da poesia anterior.
Os Sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”
Poética
Neste poema, Bandeira discute sua visão sobre a poesia e o papel do poeta, refletindo sobre a criação artística.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Cartas de Meu Avô
Uma homenagem à memória familiar, onde o poeta dialoga com as lembranças do passado e os ensinamentos recebidos.
Cartas de Meu Avô
A tarde cai, por demais
Erma, úmida e silente…
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente.
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.
Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.
Cartas de antes do noivado…
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.
Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala…
A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.
O Último Poema
Um texto que reflete sobre a morte e o legado deixado pelo poeta, com um tom melancólico e introspectivo.
O Último Poema
Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Consoada
Este poema aborda temas da vida cotidiana e da morte com uma sensibilidade única, revelando a relação entre o sagrado e o profano.
Consoada
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
O Anel de Vidro
Uma metáfora sobre as ilusões da vida e as fragilidades humanas, utilizando imagens vívidas para transmitir emoções profundas.
O Anel de Vidro
Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou
Assim também o eterno amor que prometeste,
— Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.
Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, —
Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou
Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste
Porquinho da Índia
Um poema nostálgico que fala sobre as memórias da infância e as pequenas alegrias que marcam nossas vidas.
Porquinho-da-Índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
A obra de Manuel Bandeira oferece ao leitor uma profunda reflexão sobre a vida, a morte e as emoções humanas. Seus poemas, repletos de lirismo e sensibilidade, se conectam com aqueles que buscam entender as complexidades da existência.
Ao explorar seus versos, há um convite para confrontar as próprias fragilidades e a encontrar beleza nas pequenas coisas que compõem a jornada da vida. Assim, Bandeira se estabelece como um dos pilares da literatura brasileira, eternizando sua voz nas páginas da história poética. Aproveite e conheça 10 poemas de Clarice Lispector que vão te emocionar