
Economia criativa nas periferias: projetos que transformam comunidades
Economia criativa nas periferias: projetos que transformam comunidades
Projetos inovadores estão transformando a realidade social e econômica das periferias brasileiras, promovendo inclusão e valorização cultural

Em meio aos desafios sociais e econômicos, as periferias brasileiras têm se tornado berços de inovação e criatividade. A economia criativa, impulsionada por jovens empreendedores, artistas e coletivos, está transformando, não apenas a vida de quem produz, mas a realidade de comunidades inteiras.
Um levantamento feito pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI), mostrou que um milhão de novos empregos serão gerados pela economia criativa até 2030. Em 2022, o setor empregava 7,4 milhões de trabalhadores no Brasil, segundo dados da do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O volume pode subir para 8,4 milhões em 2030.
De espaços culturais a negócios sustentáveis, esses projetos mostram que a periferia é um terreno fértil para ideias que unem arte, cultura e geração de renda para comunidades historicamente marginalizadas. Em um país onde a desigualdade social ainda é um grande desafio, essas iniciativas vêm se tornando alternativas sustentáveis para o desenvolvimento local.
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O que é economia criativa e por que ela importa para as periferias?
A economia criativa é um setor baseado na geração de valor a partir da criatividade, da cultura e da inovação. Esse conceito engloba áreas como música, artesanato, audiovisual, design, moda, publicidade, arquitetura, tecnologia e gastronomia.
Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), em 2023, cultura e criatividade representam 6,2% dos empregos no mundo e 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB), global.

No Brasil, a economia criativa tem um papel ainda mais estratégico nas periferias. Em regiões onde o acesso a empregos formais é reduzido, iniciativas baseadas na criatividade tornam-se fontes essenciais de renda. Além disso, promovem inclusão social, resgatam a autoestima das comunidades e fortalecem a identidade cultural, muitas vezes invisibilizada pelos grandes centros urbanos.
Projetos que fazem a diferença nas periferias brasileiras
A economia criativa nas periferias também resgata histórias locais e cria novos modelos de negócios que priorizam o bem-estar coletivo. Para muitos moradores, esses projetos são uma forma de reescrever a narrativa sobre seus territórios. Conheça algumas iniciativas:
1. Slam Resistência (São Paulo, SP) – O poder da poesia periférica

O Slam Resistência é um dos exemplos mais fortes do impacto da poesia falada nas periferias. Criado na Zona Sul de São Paulo, o projeto promove batalhas de poesia onde jovens expressam suas vivências, desafios e sonhos por meio da palavra falada. Além de dar voz a uma juventude muitas vezes silenciada, o slam também incentiva a educação e a formação crítica, é um espaço de acolhimento e empoderamento.
2. Énois (São Paulo, SP) – Jornalismo feito da periferia para o mundo
A Énois é uma iniciativa que capacita jovens jornalistas das periferias para contar suas próprias histórias e questionar as narrativas convencionais sobre as favelas e comunidades marginalizadas. O projeto incentiva a produção de conteúdos que rompem estereótipos e promovem um olhar mais realista e humanizado, de quem está dentro desses territórios.

3. PerifaConnection (Rio de Janeiro, RJ) – Conectando narrativas periféricas
O PerifaConnection é uma plataforma de comunicação com o objetivo de amplificar vozes periféricas, trazendo análises sobre política, cultura e sociedade a partir da perspectiva de quem vive nessas comunidades. O grupo se destaca pela produção de conteúdos jornalísticos, participação em eventos e colaboração com veículos de mídia tradicionais, e por trazer diversidade ao debate público.
4. Costurando Sonhos (Paraisópolis, SP) – Moda e empreendedorismo feminino
O projeto Costurando Sonhos nasceu na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, como uma iniciativa para capacitar mulheres em situação de vulnerabilidade social.
O coletivo ensina técnicas de corte e costura, além de gestão de negócios, para que as participantes desenvolvam suas próprias marcas ou ingressem no mercado da moda. Além de gerar renda, a iniciativa promove autonomia e autoestima para mulheres periféricas.

5. Baile Charme de Madureira (Rio de Janeiro, RJ) – Cultura e economia criativa no entretenimento
O Baile Charme de Madureira é um fenômeno cultural que há décadas movimenta a cena musical e econômica da Zona Norte do Rio de Janeiro. Além de ser um ponto de encontro para amantes do charme e do soul, o baile impulsiona toda uma cadeia produtiva local, que inclui vendedores ambulantes, estilistas, produtores culturais e DJs.

Desde 2013, o evento, que reúne 5 mil pessoas a cada edição, é patrimônio imaterial cultural da cidade do Rio e se tornou uma das principais referências da cultura negra carioca. O Baile é um exemplo de como a cultura de rua pode fomentar a economia e fortalecer laços comunitários.
Desafios e perspectivas para a economia criativa nas periferias
Apesar do crescimento, os empreendedores da periferia ainda enfrentam dificuldades como acesso a crédito e preconceito. A falta de investimento, o acesso limitado a infraestrutura e tecnologia, a informalidade do trabalho e a ausência de políticas públicas eficazes são barreiras que dificultam o crescimento dessas iniciativas.

No entanto, iniciativas de incubadoras, editais públicos e parcerias com o setor privado têm aberto portas para que esses projetos ganhem escala e visibilidade. Mas existem estratégias que podem mudar esse cenário:
- Investimento em educação e capacitação profissional: Formação técnica e cursos de empreendedorismo podem ajudar criadores a profissionalizar seus negócios.
- Criação de políticas públicas voltadas para a economia criativa periférica: Apoio governamental pode garantir financiamento e estrutura para os projetos.
- Parcerias entre setor público e privado: Empresas podem apoiar iniciativas locais por meio de mentorias, financiamento e acesso a mercados.
- Ampliação do acesso à tecnologia e comunicação: Plataformas digitais têm sido fundamentais para a visibilidade e comercialização dos produtos e serviços das periferias.
Futuro próspero para as periferias
Projetos espalhados pelo país provam que, quando a criatividade encontra oportunidades, pode mudar realidades, fortalecer culturas e gerar desenvolvimento econômico sustentável. Investir nessas iniciativas contribui para um Brasil mais diverso, inclusivo e inovador.
A economia criativa nas periferias não é apenas uma alternativa econômica, mas um movimento que redefine o futuro dessas comunidades. Ao valorizar a cultura e a criatividade, esses projetos mostram que a periferia é, acima de tudo, um espaço de potência e transformação.