BRICS: Lula defende alternativa ao dólar e cobra negociações de paz e pelo clima
BRICS: Lula defende alternativa ao dólar e cobra negociações de paz e pelo clima
Em discurso remoto, o presidente brasileiro disse que é fundamental resgatar a capacidade dos países do bloco de trabalharem juntos em prol de objetivos comuns
Era por volta de 7h30 da manhã desta quarta-feira, 23 de outubro, quando o presidente Lula discursou no segundo dia da Cúpula dos BRICS. O chefe de Estado brasileiro ressaltou o papel alternativo do grupo frente aos países ricos:
“Precisamos fortalecer nossas capacidades tecnológicas e favorecer a adoção de marcos multilaterais não excludentes, em que a voz dos governos prepondere sobre interesses privados“.
O presidente brasileiro disse que os países do sul global não podem “aceitar a imposição de ‘apartheids’ no acesso a vacinas e medicamentos“. E deu como exemplo a pandemia de COVID-19.
Lula também disse que o desenvolvimento da Inteligência Artificial “caminha para tornar-se privilégio de poucos“.
Em outro momento, Lula enfatizou que “o BRICS é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima“. Enquanto isso, os países ricos continuam, segundo ele, absorvendo o fluxo financeiro mundial, sendo que os países do sul global são responsáveis por 36% do PIB global e 72% das terras raras.
Por fim, o presidente Lula citou uma declaração do presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, que disse nas Nações Unidas que Gaza se tornou “o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo”.
O chefe brasileiro alertou que essa “insensatez” se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano. E pediu que o bloco resgate a capacidade de diálogo para negociações de paz para pôr fim ao conflito Rússia-Ucrânia.
Sob a presidência brasileira do bloco, que o país assume em 2025, Lula disse que o lema será a vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países.
Ainda nesta manhã, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou a criação de uma plataforma de investimentos mútuos entre os países do BRICS. Para o Professor de Geopolítica da Facamp, James Onnig, esse processo cria um sistema de compensação alternativo ao Swift, a câmara de compensação das moedas internacionais:
“Isso fará com que a interação entre os países-membros cresça de forma menos burocrática, para os países tentarem sair dessa hegemonia do dólar, praticamente uma ditadura financeira, onde todos os países, obrigatoriamente, têm que ter dólar para negociar“.
Venezuela
No discurso, que durou 7 minutos, o presidente Lula não mencionou a adesão da Venezuela no bloco. Na segunda-feira, Nicolas Maduro foi recepcionado em Kazan, a convite de Vladimir Putin, como Estado observador do encontro. A viagem de Maduro estava confirmada desde sexta-feira, 18 de outubro.
Em entrevista ao Jornal Novabrasil, o Professor Doutor em Direito Internacional Vladimir Feijó disse que a cúpula segue uma tradição: “o consenso“:
“A posição brasileira é a de que deve haver uma nova categoria de membros associados, e com composição geográfica equilibrada. Dessa forma, deveria haver uma espécie de seleção de quais países latino-americanos” devem ser incorporados, pontuou.
Porém, Feijó relembrou que o Brasil insiste no critério de que os países tenham boas relações com todos os membros do BRICS, enquanto “Nicarágua e Venezuela estão tendo rusgas com o Brasil“.
Já na avaliação do Professor de Geopolítica das Faculdades de Campinas, James Onnig, a Venezuela deve aderir ao BRICS “pela força da Rússia e pressão da China“, “vamos ver em qual status – se membro pleno ou parceiro”.