Luto nas artes: confira legado de Antonio Cicero, membro da ABL e letrista da MPB
Luto nas artes: confira legado de Antonio Cicero, membro da ABL e letrista da MPB
Entre participações famosas na música, colaborou com letras de algumas das principais canções de sua irmã mais nova, Marina Lima, como "Fullgás"; veja outras
Antonio Cicero, um dos mais célebres poetas e letristas da literatura brasileira, morreu nesta quarta-feira (23), aos 79 anos, de acordo com a Academia Brasileira de Letras, da qual era membro desde 2017.
Nos últimos anos, ele recebeu diagnóstico de Alzheimer e passou por uma série de internações. Sua morte aconteceu em Zurique, na Suíça, ao lado de seu parceiro Marcelo Fies.
O poeta fez um procedimento de suicídio assistido no país, onde a prática é legalizada. O cineasta Jean-Luc Godard, por exemplo, morreu da mesma maneira na Suíça.
Entre as colaborações famosas na música, foi responsável por “À Francesa”, com Claudio Zoli, e “O Último Romântico”, com Lulu Santos e Sérgio Souza. Seu poema “Maresia” também estourou na voz de Adriana Calcanhotto.
Poucas pessoas sabem que ele colaborou também com letras de algumas das principais canções de sua irmã mais nova, Marina Lima, como “Charme do Mundo”, “Pra Começar” e “Fullgás” que você sempre ouve na Novabrasil.
Já sua poesia ficou marcada pela mistura de influências clássicas, coletadas a partir de seus estudos na Universidade Georgetown, nos Estados Unidos, e parcerias com autores modernos como Waly Salomão.
“Guardar”, de uma coletânea homônima e premiada de 1996, está entre seus poemas mais conhecidos. Cicero também é autor dos livros de poemas “A Cidade e os Livros” e “Porventura” e de obras como “Finalidades sem Fim”, que foi indicado ao Jabuti.
A Companhia das Letras comunicou que vai publicar seu último livro de ensaios, “O Eterno Agora”, no ano que vem.
Como falamos no começo deste texto, O poeta fez um procedimento de suicídio assistido no país, onde a prática é legalizada e deixou uma carta aos amigos. Leia abaixo.
Carta de Antonio Cicero:
“Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.
Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.
Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.
Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.
A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”