
Especial de Aniversário Zizi Possi
Especial de Aniversário Zizi Possi
Hoje é aniversário de uma das maiores divas da nossa MPB: Zizi Possi, e nós da Novabrasil preparamos uma matéria especial para homenagear a cantora neste 28 de março. Aproveite! O início de tudo Dona de uma voz excepcional, com afinação impecável e dramaticidade intensa, a cantora paulistana nascida Maria Izildinha, é … Continued


Hoje é aniversário de uma das maiores divas da nossa MPB: Zizi Possi, e nós da Novabrasil preparamos uma matéria especial para homenagear a cantora neste 28 de março.
Aproveite!

por Lívia Nolla
O início de tudo
Dona de uma voz excepcional, com afinação impecável e dramaticidade intensa, a cantora paulistana nascida Maria Izildinha, é descende de italianos e paulistana do bairro do Brás, típico reduto de imigrantes italianos.
Teve formação erudita e – dos 5 aos 7 anos de idade – estudou piano e canto. Em 1973, antes mesmo de completar 18 anos, Zizi mudou-se para a Bahia com o irmão mais velho, José Possi Neto, de quem sempre foi muito próxima.
Hoje um aclamado diretor de teatro (inclusive dirigiu quase todos os espetáculos de Zizi Possi), iluminador, coreógrafo e figurinista, José havia sido convidado – na época – para dar aulas na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, da qual – depois – tornou-se diretor.
Na Bahia, Zizi estudou composição e regência na UFBA – considerada a melhor da América Latina na época – e trabalhou como professora em um projeto de reestruturação social e arquitetônica do Pelourinho.
Também trabalhou em várias peças teatrais e musicais, onde interpretava, cantava e compunha algumas das trilhas. Gravou jingles comerciais e participou de especiais da televisão local. Foi nas aulas de teatro que descobriu o seu imenso talento vocal.
Quando seu irmão deixou o Brasil para usufruir de uma bolsa de trabalho em Nova York, Zizi mudou-se para o Rio de Janeiro. Chegando lá, foi morar em um apartamento com outras sete meninas, em esquema de vaga. Alugou seu colchão e ficou por cerca de seis meses.
No início, sobrevivia fazendo traduções do italiano para o português. Também fez backing vocal em shows do cantor Walter Queiroz, autor de Filho da Bahia, grande sucesso de Fafá de Belém dois anos antes. A cantora conta que o dinheiro era tão curto nesta época, que tinha que decidir se comia ou andava de ônibus.

O bilhete de Menescal e o início da carreira
Até que um dia, apareceu – debaixo da porta do apartamento em que Zizi Possi morava – um bilhete do músico e produtor musical Roberto Menescal, então produtor da gravadora Philips. Zizi conta que olhou o bilhete e pensou: “Esse cara não é da bossa nova? Será que ele quer que eu também faça backing vocal para ele?”. Mas não. Menescal tinha visto o programa de Zizi na TV Aratu, da Bahia, e queria contratá-la para gravar um disco.
Em 1978, aos 22 anos, Zizi Possi lançou o seu primeiro álbum: Flor do Mal, com quatro canções inéditas e outras regravações com uma “roupagem” totalmente diferente, de artistas como Caetano Veloso, Ivan Lins, João Bosco, Sueli Costa e Paulo César Pinheiro.
Zizi contou em entrevista que as pessoas sugeriram o que ela deveria gravar e que o disco não pintava o retrato da sua personalidade, até porque, àquela altura, nem ela mesma sabia o que era. Mas, disse que estava lá a serviço de cantar. E dito e feito. O disco ainda não fez com que Zizi Possi estourasse nenhum grande hit, mas a sua voz e performance foram muito elogiadas.
Já no seu segundo disco, Pedaço de Mim, destacou-se bastante a faixa-título – de Chico Buarque – que fez parte do seu espetáculo musical A Ópera do Malandro. O cantor e compositor convidou Zizi Possi para interpretar a canção em dueto com ele, no seu disco de 1978, depois de ficar admirado ao escutar a performance de Zizi no primeiro LP da cantora.
Outras canções de destaque são Nunca (de Lupicínio Rodrigues) e Luz e Mistério (Beto Guedes e Caetano Veloso). Com um grande cuidado com o repertório, o álbum também conta com composições de Moraes Moreira, Marina Lima e Jorge Mautner, entre outros, e com a participação da banda A Cor do Som.
Em 1980, foi a vez do disco Zizi Possi, para o qual a cantora diz que viajou “do Oiapoque ao Chuí” colhendo repertório, e que ficou o disco que ela queria: “tudo na medida certa”. Em entrevista, a cantora declarou: “Este disco tem o meu nome, pois, se o anterior é Pedaço de Mim este sou eu por inteira”
O álbum trouxe os sucessos: Meu Amigo, Meu Herói (de Gilberto Gil); e uma versão em português para Home Again (de Carol King), feita pela própria cantora e que recebeu o nome de Quem Sabe Em Casa Outra Vez.
Além disso, o LP conta com composições de Djavan, Roberto Carlos, Edu Lobo, Joyce Moreno e Gonzaguinha, que participou da gravação da sua canção Libertad Mariposa com Zizi.
Com o álbum Um Minuto Além, 1981, Zizi emplacou as canções Caminhos de Sol (de Herman Torres e Salgado Maranhão), uma releitura menos roqueira de Agora Só Falta Você (de Rita Lee e Luiz Carlini); Eu Velejava Em Você (Eduardo Dussek e Luis Carlos Góes); e Engraçadinha (de Tite Lemos e Sérgio Saraceni, música-tema do filme homônimo, de 1981, dirigido por Haroldo Marinho Barbosa e baseado no romance Asfalto Selvagem: Engraçadinha, Seus Pecados e Seus Amores, do escritor Nélson Rodrigues).
O LP também conta com três composições solo da cantora, que se envolveu em todo o processo de gravação, desde a mixagem até a escolha do repertório: Melodia, Constatação e Cá Entre Nós; além de uma parceria de Zizi com Menescal, João Augusto e Paulo Coelho: Não Dá Mais.

Asa Morena e o auge do sucesso
Mas, o explosivo sucesso e projeção nacional aconteceram mesmo no disco seguinte, de 1982, o quinto da carreira de Zizi Possi: Asa Morena, que conta com a canção que se torna um dos maiores sucessos da carreira da cantora, a faixa-título, composta por Zé Caradípia. Considerada uma das 100 canções mais populares do século XX, Asa Morena fez com que Zizi conquistasse o seu primeiro disco de ouro.
O cantor e compositor Gonzaguinha compôs especialmente para a sua voz a canção Viver, Amar, Valeu, gravada no mesmo disco, sendo o primeiro samba gravado por Zizi. Outro sucesso do álbum é É A Vida Que Diz, de Marina Lima, Antônio Cícero e Pisca.
O trabalho seguinte, Pra Sempre e Mais um Dia, de 1983, deu prosseguimento à boa fase comercial da cantora. O álbum conta com algumas composições de Líber Gadelha, guitarrista e produtor musical que foi casado com Zizi e é pai de sua filha Luiza Possi, nascida em 1984 e – hoje – uma das maiores cantoras da MPB atual.
Deste disco, também destaque para as canções O Amor Vem Pra Cada Um (versão de Beto Fae para Love Comes To Everyone, de George Harrison); e Toda Uma História (parceria de Zizi Possi com Luiz Avellar).
Em 1983, Zizi integrou o antológico espetáculo O Grande Circo Místico, com trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo, que viajou o Brasil, unindo música, balé, ópera, circo, teatro e poesia.
Em 1984, Zizi Possi lançou o álbum Dê Um Rolê, que traz o sucesso da faixa-título, composição de Moraes Moreira e Luiz Galvão. Há também no disco composições de artistas renomados como: Djavan, Gilberto Gil, João Bosco, Tom Jobim, Capinam e de autoria da própria cantora.
O álbum Zizi, de 1986, inclui uma das canções de maior sucesso de sua carreira, a faixa Perigo, composição de Nico Rezende e Paulinho Lima, que – no mesmo ano – foi tema da novela Selva de Pedra, da Rede Globo.
Amor & Música é o nono álbum da cantora, lançado em 1987. A produção é de Liber Gadelha, marido da cantora na época, e traz canções de artistas do primeiro escalão da música pop dos anos de 1980, como: Cazuza, Ezequiel Neves, Kiko Zambianchi e Guilherme Arantes. O título foi extraído da faixa Canção de Protesto, que foi escrita por Caetano Veloso, exclusivamente para Zizi Possi.
Destaque para o super hit A Paz, de João Donato e Gilberto Gil, que fez muito sucesso na voz da cantora; e também para Eu Velejava Em Você (de Eduardo Dussek e Luís Carlos Góes); e Noite (de Nico Rezende e Jorge Salomão).
Veja também:

Mais álbuns de sucesso
Em 1989, foi a vez do disco Estrebucha Baby. Produzido por Líber Gadelha, foi gravado com quarteto essencialmente acústico e marca a decisão da cantora de afastar-se de um som pop radiofônico, em detrimento de uma estética mais minimalista e acústica.
Entre as canções, uma versão de Meu Erro (de Herbert Vianna) e duas músicas em italiano, idioma que a consagrou internacionalmente pouco tempo depois. Nesta mesma época, Zizi separou-se de Líber e voltou a viver em São Paulo com a filha.
A estética camerística de Sobre Todas as Coisas, álbum de 1991, calcada em piano, violoncelo e percussão, foi um imenso sucesso e regeu quase tudo que Zizi Possi faria dali para a frente, tornando-se um divisor de águas na sua carreira. Traz composições de Chico Buarque, Edu Lobo, Aldir Blanc, João Bosco, Tom Jobim, Gilberto Gil, Cartola, Dominguinhos, Noel Rosa, entre outros grandes nomes.
Por esse álbum, ganhou dois prêmios: o extinto Prêmio Sharp (atual Prêmio Tim de Música) e Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), de melhor cantora e melhor CD de MPB, em 1991.
O segundo trabalho nesse novo caminho, de um conceito musicalmente sofisticado, foi Valsa Brasileira, de 1993, lançado pela gravadora independente Velas, fundada por Ivan Lins e o parceiro Vítor Martins.
O repertório trouxe regravações de canções pouco conhecidas de compositores consagrados, com destaque para a faixa-título, de autoria da dupla Chico Buarque e Edu Lobo, tal como fizera com a faixa-título do trabalho anterior, também da dupla de compositores. A partir de então, ambas as canções seriam regravadas por diversos nomes da MPB.
Com este álbum, que simulou uma incursão pelos arranjos eletrônicos, conquistou novamente o Prêmio Sharp de melhor disco de MPB, entrando no rol das grandes cantoras deste gênero.
Entre os autores das canções de Mais Simples, álbum de 1996, estão compositores que começavam a atingir um público maior na época, como Chico César (Béradêro) e Lenine (Olho de Peixe) e outros já consagrados como Noel Rosa (Provei), Nelson Cavaquinho e Élcio Soares (Juízo Final).
Os acústicos Sobre Todas as Coisas, Valsa Brasileira e Mais Simples são considerados obras-primas e marcam definitivamente a carreira de Zizi Possi e a história da música popular brasileira.

Álbuns em Italiano
Recontratada pela Philips (rebatizada de Polygram), Zizi teve uma ideia um tanto ousada para o trabalho seguinte: produzir – acompanhada por uma grande orquestra – um disco no qual interpretasse canções italianas. O conceito seria o mesmo de uma ópera: uma história com começo, meio e fim, contada por meio das canções.
Per Amore saiu no finalzinho de 1997, com direito a música (a faixa-título, originalmente gravada pelo tenor italiano Andrea Bocelli) na novela Por Amor, de Manoel Carlos, no horário nobre da Globo. Ninguém apostava muito no sucesso comercial do disco, nem a própria cantora.
Estavam todos enganados: Zizi Possi nunca vendeu tanto disco em toda a sua vida. Com sua primeira produção totalmente em língua estrangeira, a cantora conquistou um disco de ouro, um de platina e um duplo de platina. As vendas superaram 800 mil cópias, tornando-se o disco mais vendido de seu catálogo, e ganhou uma versão em DVD em 2000.
O sucesso comercial de Per Amore gerou outro álbum em italiano, Passione, logo no ano seguinte. Novamente, um imenso sucesso, com destaque para a faixa-título, esses dois últimos álbuns venderam mais de 1 milhão de cópias juntos.
Para não se aprisionar na personagem da cantora italiana, lançou na sequência – em 1999 – o álbum Puro Prazer, em que regravou clássicos da música popular brasileira, acompanhada apenas de piano acústico.
Entre os clássicos: Disparada (de Geraldo Vandré e Theo de Barros); Luiza (de Tom Jobim); e Beatriz (de Edu Lobo e Chico Buarque). O álbum rendeu à Zizi Possi duas indicações no Grammy Latino do ano 2000 (a primeira edição do prêmio): Melhor Performance Vocal Feminina de Pop (pela canção Meu Erro) e Melhor Álbum Brasileiro de Pop Contemporâneo.
No disco Bossa, de 2001, a artista adotou o nome e as influências do movimento da Bossa Nova, que aconteceu na década de 1960. A capa remete às fotos das moças anônimas que nos anos de 60 ilustravam LPs e compactos, bem como ao calçadão de Copacabana.
Entre as músicas, trouxe canções pop de artistas diversos, como – The Beatles (Yesterday, de Lennon e McCartney); Cazuza (a parceria com Dé e Bebel Gilberto, Preciso Dizer Que Te Amo); Djavan (Capim); Gilberto Gil (Preciso Aprender a Ser Só); e Herbert Vianna (Eu Só Sei Amar Assim) – com arranjos do gênero bossa nova.

E Zizi Possi não pára!
Para Inglês Ver… e Ouvir foi o primeiro álbum ao vivo (e décimo oitavo ao todo) da carreira da cantora, lançado em 2005, com versão também em DVD. A ideia surgiu após um convite da equipe do Bourbon Street para Zizi fazer parte de um projeto no qual um artista brasileiro cantasse um repertório inédito na sua voz.
Inspirada pela própria personalidade da casa, a cantora selecionou um repertório todo em inglês, que incluía clássicos de The Beatles a Frank Sinatra, passando por Bob Marley, Queen e Nat King Cole.
Em 2008, Zizi Possi lançou o show Cantos e Contos, na casa paulista Tom Jazz, comemorando os 30 anos de carreira. As apresentações foram realizadas ao lado de colegas com quem mantém afinidade musical, como: Alcione, Alceu Valença, Edu Lobo, Roberto Menescal, João Bosco, Ivan Lins, Luíza Possi e Ana Carolina. Dois anos depois, em 2010, foram lançados – pela gravadora Biscoito Fino – dois DVDs de forma avulsa, que apresentaram 39 canções (todas grandes clássicos da MPB) em números captados em 12 apresentações: Cantos e Contos 1 e 2.
Em 2009, a cantora participou do álbum Elas Cantam Roberto Carlos; gravado ao vivo e lançado em CD e DVD, no qual vinte cantoras brasileiras homenageiam os 50 anos de carreira do cantor Roberto Carlos. Zizi cantou Canzone Per Te, de Sergio Endrigo e Sergio Bardotti, ao lado de sua filha Luiza Possi.
Tudo Se Transformou, de 2014, é o segundo álbum ao vivo de Zizi Possi e inclui músicas gravadas durante toda a sua carreira, além da inédita No Vento, de Necka Ayala. Em 2015, ela relançou o single Mania, composição de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, lançada pela primeira vez no seu disco Amor & Música, de 1987.
Em 2016, a artista lançou o EP O Mar me Leva, com quatro canções inéditas: a faixa-título (composição de Zeca Baleiro); Olhos Fechados (uma versão de Zizi Possi e Zeca Baleiro para a canção Odjus Fitchadu, de Mayra Andrade e Idan Raichel); Flor do Sol (uma verão de. Zizi Possi e Chico César para a canção Morna PPV, de Tito Paris); e Coisas do Coração (uma versão só de Zizi para a canção Cusas Di Curaçon, de Betu).
Em 2017, foi a vez de Zizi Possi lançar o single Faltavam Seus Olhos (de Thiago Gimenes e Thayla Araújo); em 2018, Amanhece (de Ana Carolina); e em 2021, Sinal Fechado (de Paulinho da Viola).
E, para você conhecer mais detalhes sobre a vida e a obra da aniversariante do dia, confira o Acervo MPB Zizi Possi, um episódio especial da nossa série exclusiva Novabrasil de áudio-biografias de grandes nomes da nossa música.