
A história de ‘Querelas do Brasil’ e ‘Tô Voltando’, de Maurício Tapajós
A história de ‘Querelas do Brasil’ e ‘Tô Voltando’, de Maurício Tapajós
Hoje, dia 27 de dezembro, seria aniversário do cantor, compositor, instrumentista e produtor musical Maurício Tapajós. Por isso, vamos te contar as histórias de duas de suas grandes composições: Querelas do Brasil e Tô Voltando. Para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa MPB – que são tão importantes e … Continued


Hoje, dia 27 de dezembro, seria aniversário do cantor, compositor, instrumentista e produtor musical Maurício Tapajós. Por isso, vamos te contar as histórias de duas de suas grandes composições: Querelas do Brasil e Tô Voltando.
Para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa MPB – que são tão importantes e tem uma contribuição tão significativa quando cantores, intérpretes e músicos – nós damos início à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contaremos a história de importantes clássicos das carreiras desses artistas.

Maurício Tapajós é autor de grandes clássicos da MPB
Nascido no Rio de Janeiro, Maurício é irmão do também compositor Paulinho Tapajós e da cantora Dorinha Tapajós. Autor de grandes clássicos de nossa música e – se não tivesse nos deixado aos 51 anos, em 1995 – Maurício estaria completando 79 anos.
Maurício Tapajós é autor, entre outras canções, de dois grandes clássicos da nossa música: Querelas do Brasil e Tô Voltando.
A história da música Querelas do Brasil, de Maurício Tapajós e Aldir Blanc
Querelas do Brasil foi composta em parceria com Aldir Blanc e entrou para o disco Transversal do Tempo, de Elis Regina – grande intérprete das canções de Aldir – gravado ao vivo em abril de 1978, no Teatro Ginástico do Rio de Janeiro, com roteiro e direção dos autores da canção.

Sua letra é considerada por alguns críticos como uma das mais geniais de Aldir. O título faz uma referência à música Aquarela do Brasil – composição de Ary Barroso, de 1939, que exalta as belezas e maravilhas do Brasil e do povo brasileiro – e seu conteúdo é uma provocação ao autoritarismo que acontecia na época, auge da ditadura militar no país.
A palavra “querela” significa “lamento”
A música aponta as contradições culturais e sociais de um país diante da aproximação da reabertura política e denuncia que a elite econômica brasileira estaria suprimindo a cultura popular do país com sua cultura amplamente americanizada.
A palavra “querela” vem do latim e, de acordo com o Dicionário Aurélio, pode significar tanto “lamento” quanto “queixa”. A canção, portanto, pode ser tanto um lamento quanto uma queixa da situação que descreve.
“O Brazil não merece o Brasil. O Brazil tá matando o Brasil. O Brazil não conhece o Brasil.”
A letra usa expressões em tupi, e diz que:
“O Brazil (com Z mesmo) não merece o Brasil. O Brazil tá matando o Brasil. O Brazil não conhece o Brasil.”
Além de citar ícones da cultura brasileira como Tom Jobim, Mário de Andrade e Guimarães Rosa e, no fim, pedir socorro (S.O.S.) ao Brasil
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Depois, a música foi regravada por nomes como o próprio Maurício, Quarteto em Cy, Emílio Santiago e Maria Rita, a filha de Elis Regina.
A história da música Tô Voltando, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro
Já a canção Tô Voltando, foi composta por Tapajós em parceria com Paulo César Pinheiro e não tinha a pretensão de ser uma canção política, nem o hino de resistência que veio a se tornar. Lançada em 1979, no álbum Pedaços, da cantora Simone, a ideia da música partiu de Maurício depois de um longo período em turnê, longe de casa.
Logo, pediu a Paulo César Pinheiro que escrevesse os versos de um samba sobre a saudade de casa e da mulher. A letra fala sobre a sua parceira ir preparando as coisas em casa, pois ele está voltando:
“Pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto. Tô voltando. Põe meia dúzia de Brahma pra gelar, muda a roupa de cama. Eu tô voltando. Faz um cabelo bonito pra eu notar. Que eu só quero mesmo é despentear. Quero te agarrar. Pode se preparar porque eu tô voltando.”.
‘Tô Voltando’ ganhou outro significado após a Lei da Anistia Geral, Ampla e Irrestrita
Acontece que o alcance da letra foi muito mais longe. Cantou não apenas a expectativa do reencontro com a mulher amada, e dos pequenos prazeres da vida cotidiana.
Meses depois da música lançada, Paulo César Pinheiro viu na televisão uma reportagem sobre a chegada ao país de alguns exilados políticos: era a Lei da Anistia Geral, Ampla e Irrestrita entrando em vigor. No aeroporto, entre abraços, choros e entrevistas, todos cantavam Tô Voltando.
“A música tinha tomado outra conotação a partir dali. Virara o hino dos exilados. E é assim que é vista até hoje, pra meu regozijo. E é assim que pensam que ela foi feita, pra minha satisfação. O que mostra que o destino das canções não está em nossas mãos. Elas são o que elas quiserem ser, acima dos motivos por que foram feitas. Que bom que ela tenha virado o que virou.”, conta Paulo César.

Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Maurício Tapajós.