Especial: 10 canções emblemáticas de Vinicius de Moraes no dia do seu aniversário
Especial: 10 canções emblemáticas de Vinicius de Moraes no dia do seu aniversário
Sua obra é vastíssima, passando pela literatura, teatro, cinema e música. Confira especial do site da Novabrasil
Vinicius de Moraes foi um dos maiores poetas e letristas que o mundo já viu. Praticamente uma lenda de nossa história, o também cantor, compositor, dramaturgo, crítico, roteirista e diplomata carioca, fez história para sempre na cultura do país e sua contribuição para a música popular brasileira é imensurável.
Quase todos os maiores nomes da música brasileira gravaram alguma composição de Vinicius, que – junto com Tom Jobim e João Gilberto – é conhecido como fundador da Bossa Nova, movimento que transformou a história da MPB no fim dos anos 50.
Sua obra é vastíssima, passando pela literatura, teatro, cinema e música. Mas Vinicius sempre considerou que a poesia foi sua primeira e maior vocação, e que toda sua atividade artística deriva do fato de ser poeta.
Hoje, completamos 109 anos do nascimento do Poetinha, como era apelidado, e – para celebrar esta data – trouxemos as histórias 10 canções emblemáticas da nossa MPB compostas por Vinicius de Moraes para você conhecer!
1 – Se Todos Fossem Iguais A Você – parceria com Tom Jobim
Sempre muito boêmio, a partir de 1942, Vinicius de Moraes passa a frequentar e circular cada vez mais por diferentes e famosos pontos de encontro cariocas, ampliando seus vínculos intelectuais e de amizade. Até que conhece o poeta norte-americano Waldo Frank e, com ele, passa a frequentar bares e favelas no Rio de Janeiro.
Em uma dessas incursões, no Morro do Pinto, teve a primeira ideia e começou a escrever a famosa peça que o tornou conhecido, Orfeu da Conceição, baseada no drama da mitologia grega de Orfeu e Eurídice, transposto à realidade das favelas cariocas.
Em 1956, conseguiu uma licença-prêmio do Itamaraty, e veio de Paris – onde trabalhava como segundo-secretário na Embaixada do Brasil – para o Rio de Janeiro, para encenar sua peça. Foi aí que ele conheceu o então jovem músico Antonio Carlos Jobim, que tornou-se não só o seu parceiro musical para a peça, mas seu parceiro por uma vida, vindo a fundar juntos – pouco tempo depois – a Bossa Nova.
Em quinze dias, Tom e Vinicius fizeram praticamente toda a trilha do espetáculo. Orfeu da Conceição tornou-se um sucesso imediato, entrando para sempre para a história do nosso país.
No mesmo ano, foi lançado o disco com os temas da peça, sendo a primeira vez que as músicas da nova dupla de compositores – que em breve se tornaria uma das duplas mais produtivas e importantes da história da música brasileira – foram gravadas em disco. Entre as canções, está a clássica Se Todos Fossem Iguais A Você.
2 – A Felicidade – parceria com Tom Jobim
Neste mesmo período, o produtor de cinema Sacha Gordine ficou em Paris produzindo o filme inspirado na peça. Em 1959, Orfeu Negro ou Orfeu do Carnaval foi lançado no brasil, com direção do francês Marcel Camus e músicas também de Tom e Vinícius, Luiz Bonfá e Antônio Maria.
O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Trata-se da primeira produção de língua portuguesa a conquistar a estatueta do Oscar e a única na categoria de melhor filme estrangeiro.
Entre as canções de Tom e Vinicius no longa, destaca-se A Felicidade, e seu icônico verso de abertura: “Tristeza não tem fim, felicidade sim”.
3 – Chega de Saudade – parceria com Tom Jobim
Em 1958, a música invade definitivamente a vida do poeta – que na época também era diplomata e crítico de cinema – a partir do lançamento do disco Canção do Amor Demais, em que Elizeth Cardoso canta treze músicas da dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
O álbum conta com a faixa Chega de Saudade, em que a cantora é acompanhada pelo violão revolucionário de João Gilberto. A batida de João ao violão – que alternava as harmonias com a introdução de acordes dissonantes, não convencionais, e uma inovadora sincopação do samba, a partir de uma divisão única, inspirada no jazz norte-americano – somada à composição da dupla Tom e Vinicius, apresenta a forma musical que fica mundialmente conhecida a partir de então por Bossa Nova.
Em 1959, João Gilberto lançava o seu disco de estreia, que leva o nome Chega de Saudade. A apresentação inovadora do chamado Pai da Bossa Nova, transforma a canção em uma das mais importantes da história da música brasileira. Tom, Vinicius e João Gilberto tornam-se os fundadores da Bossa Nova e vários outros cantores e cantoras do movimento passam a gravar as letras da dupla de compositores.
4 – Pela Luz dos Olhos Teus
Em 1960, Vinicius de Moraes participa pela primeira vez de um disco como cantor, na coletânea Bossa Nova Mesmo, cantando sua clássica composição Pela Luz dos Olhos Teus, do qual participam também Carlos Lyra, Laís, Lúcio Alves, Silvinha Telles e Conjunto Oscar Castro Neves.
A canção foi depois regravada com sucesso por muitos nomes da MPB como Elizeth Cardoso, Miúcha e Tom Jobim
5 – Garota de Ipanema – parceria com Tom Jobim
Lançada em 1963, a canção Garota de Ipanema – parceria de Vinicius com Tom Jobim – tornou-se a canção brasileira mais conhecida internacionalmente e foi gravada por astros estrangeiros como Frank Sinatra, Cher, Madonna, Plácido Domingo e Amy Winehouse.
É também a música mais gravada da história, ficando somente atrás de Yesterday, dos Beatles e ganhou o Grammy Awards de Gravação do Ano, em 1965, com a versão em inglês – Girl From Ipanema – de Astrud Gilberto e Stan Getz, desbancando I Wanna Hold Your Hand, dos Beatles e Hello, Dolly!, de Louis Armstrong.
Teve mais de 500 versões com diferentes intérpretes, além de ser incluída em cerca de 1500 álbuns, vinis e coletâneas ao redor do planeta. A primeira gravação é de Pery Ribeiro, no álbum Pery é Todo Bossa. A versão em língua inglesa foi escrita por Norman Gimbel.
6 – Insensatez – parceria com Tom Jobim
Outra canção muito importante de Tom e Vinicius é Insensatez, que também foi gravada por diversos artistas nacionais de peso da MPB como João Gilberto, Nara Leão, Elis Regina, Sylvia Telles e Roberto Carlos, além de adaptada para o inglês também por Norman Gimbel, recebendo o nome de How Insensitive e sendo gravada por nomes internacionais como Frank Sinatra, Ella Fitzgerald e Diana Krall.
7 – Canto de Ossanha – parceria com Baden Powell
Em 1962, Vinicius conhece e começa a compor junto com outro grande parceiro: Baden Powell, com quem – após três meses dividindo casa – produz um dos cancioneiros mais importantes da música popular brasileira.
Em 1966, a dupla lança o disco Os Afro-sambas, com participação do Quarteto em Cy em todas as faixas. Entre elas está Canto de Ossanha, canção tornou-se em um dos símbolos do sincretismo do Brasil com a África via Bahia é o afro-samba mais conhecido e regravado do planeta, tendo sido interpretado por nomes como Elis Regina, Jair Rodrigues, Emilio Santiago, Maysa e Cauby Peixoto.
A canção foi considerada a nona melhor do Brasil de acordo com a lista das 100 maiores músicas brasileiras pela Rolling Stone Brasil e o disco foi eleito o 29º melhor disco de música brasileira da história, pela mesma revista, em 2007.
8 – Arrastão – parceria com Edu Lobo
Em 1963, Vinicius começa a compor com Edu Lobo. Dois anos depois, a clássica Arrastão – parceria da dupla – vence o primeiro Festival de Música Popular Brasileira, na TV Excelsior, com a interpretação magistral e inesquecível de Elis Regina, que cantava. O segundo lugar também fica para uma composição de Vinicius de Moraes, Valsa do Amor Que Não Vem, parceria com Baden Powell, interpretada por Elizeth Cardoso.
A interpretação de Elis subverteu todas as regras da contenção vocal e da performance minimalista adotada pela bossa nova até então, fato que causou estranhamento ou admiração para os músicos do gênero), e que fez com que a apresentação fosse – justamente – considerada por muitos críticos e jornalistas como um marco e a inauguração de um novo estilo na chamada Música Popular Brasileira, ou MPB.
Na ocasião, Elis Regina também foi premiada com o Troféu Berimbau de Ouro de Melhor Intérprete. A apresentação entrou para a história como uma das melhores performances já vistas, consagrando de vez a cantora ao posto de uma das maiores artistas da nossa história.
9 – Samba da Benção – parceria com Baden Powell
Outra parceria incrível de Vinicius com Baden Powell é Samba da Benção, de . Como o título já diz, trata-se do canto em forma de oração: é o samba cantando seu próprio passado, sua origem, sua ancestralidade.
Na interpretação de Vinicius, o poeta cita uma lista de pessoas a quem ele pede a benção pela contribuição ao samba, como Pixinguinha, Cartola e Nelson Cavaquinho. Em sua versão, o poeta também entoa uma das suas mais célebres frases: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.
Muito melhor do que falar sobre esta canção, é trazer a belíssima e inesquecível letra de Samba da Benção:
É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
10 – Tarde em Itapoã – parceria com Toquinho
Em 1968, ano em que o Brasil vivia o início do momento mais duro da ditadura militar, no dia da publicação do Ato Institucional nº 5, Vinicius visita – na Itália – seu amigo e parceiro Chico Buarque, auto exilado do Brasil. Lá, o poeta grava com seu amigo e tradutor, Giuseppe Ungaretti, e com o cantor Sergio Endrigo, o disco histórico La Vita, Amico, É L’arte Dell’incontro (traduzindo para o português: A Vida, Amigo, É a Arte do Encontro), com suas canções traduzidas para o italiano.
E quem diria que, deste disco, sairia um dos mais importantes encontros da vida de Vinicius: seu futuro grande parceiro, Toquinho. O cantor, compositor e violonista também estava na Itália, fazendo uma temporada de shows com Chico e gravou os violões do disco de Vinicius. Os dois nem chegaram a se encontrar durante as gravações – e antes na vida só tinham se encontrado umas duas vezes, por intermédio de Chico Buarque.
Mas, quando Vinicius escutou os violões de Toquinho em seu disco gravado na Itália, ficou encantado com a habilidade do artista e o convidou para acompanhá-lo em uma temporada de shows na Argentina, logo em seguida. Já na viagem de barco para Buenos Aires, começou uma amizade e parceria que durou – literalmente – até o último dia de vida de Vinicius, quando Toquinho estava presente.
Em 1971, lançaram o primeiro disco com suas composições em parceria, originado a partir de um show que fizeram com Marília Medalha. Neste disco, está o grande clássico Tarde em Itapoã, um dos maiores sucessos da música popular brasileira. Na composição, primeiro Vinicius escreveu a letra e, depois, Toquinho a musicou, sem mexer em uma sílaba sequer, o que o fez conquistar ainda mais – e para sempre – a confiança do poeta.
Juntos, já tinham gravado mais de 20 LPs, escrito mais de 100 canções e feito mais de mil shows, com composições de sucesso, que fizeram história na música popular brasileira.
Toquinho passou as últimas horas de vida de Vinicius de Moraes ao lado do poeta – pois estava hospedado em sua casa fazendo uma turnê no Rio de Janeiro, quando Vinicius partiu, aos 66 anos, em 1980, depois de ter passado por duas isquemias cerebrais e sofrer um edema pulmonar. Os dois passaram o dia fazendo o que mais gostavam: tocando, cantando e proseando, planejando o próximo disco, baseado no livro de poemas infantis de Vinicius, Arca de Noé.
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Vinicius: Vamos te amar por toda a nossa vida, a cada despedida e eternamente!