
Frevo: o que é, qual sua origem e importância cultural; confira

Frevo: o que é, qual sua origem e importância cultural; confira
Na rua e para a rua: assim nasceu o Frevo! Conheça a rica história desse movimento que se originou no Recife e arrasta multidões por onde passa.


Você conhece a história do Frevo? Nascido das ruas e para a rua. Hoje, vamos conhecer a história dessa expressão e manifestação cultural tão importante para a história do Brasil.
Antecedentes na história
Antes de 1900, o que antecedeu o Carnaval chegou ao Brasil na forma de Entrudo, uma festa europeia em que foliões tomavam as ruas, munidos de bolas de farinha, lama e água.
Foliões fantasiados e escravizados travavam uma guerra alegre e suja, durante os três dias que antecediam a Quaresma.
Com a expansão do exército, as bandas militares tornaram-se mais comuns e foram elas as responsáveis pela origem do Frevo como música.
Havia uma rivalidade entre duas famosas bandas militares do século XIX: a do Quarto Batalhão de Artilharia e a do Corpo da Guarda Nacional. Elas eram tão populares que agregavam dois blocos com capoeiristas à frente, exibindo seu gingado e bastões e facas para ameaçar os rivais.
Os capoeiras eram figuras obrigatórias à frente do conjunto das bandas, gingando e piruetando. Eram conhecidos por seus passos complicados e assobios agudos.
Em torno de 1856, iniciou-se uma rivalidade entre os capoeiras, defensores das bandas musicais rivais. Suas provocações muitas vezes se transformavam em brigas.
Da capoeira, o Frevo herdou a dança acrobática, transformada ao longo dos anos em diferentes tipos de passos.
“O nosso capoeira é antes o moleque de frente de música em marcha, armado de cacete, e a desafiar os do partido contrário que, aos vivas de uns, e morras de outros, rompe em hostilidade e trava lutas, de que não raro resultam ferimentos, e até mesmo casos fatais!“ (Pereira da Costa, 1908)

Enquanto o espaço público era para o povo, nos salões particulares a elite imitava os bailes carnavalescos de máscara de Veneza, ao som de uma música mais sofisticada, como a valsa. Com as reformas urbanas, as festas de rua atraíram a elite e o carnaval ganhou uma nova face.
A composição “Zé́ Pereira”, primeira música carnavalesca de que se tem notícia, é uma adaptação da marcha francesa “Les Pompiers de Nanterre” e foi lançada com sucesso no carnaval do Recife em 1887.
E 1899, a compositora, pianista, chorona e regente Chiquinha Gonzaga criou a primeira marchinha de carnaval com letra da nossa história: a clássica “Ô Abre Ala”s, escrita em 1899, para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro, que passava na frente de sua casa, no bairro do Andaraí, no Rio de Janeiro.
Com a chamada “Abolição da Escravatura”, em 1888, e a Proclamação da República no ano seguinte, cresceu o número de sociedades carnavalescas.
Também chamados de clubes pedestres, eles eram formados por artesãos, operários, feirantes, caixeiros e trabalhadores urbanos.
Predominavam os clubes que “arrastavam” todo tipo de gente, que os acompanhava ao som das bandas ou orquestras de metais. Surgem então as marchas carnavalescas, mais tarde conhecidas como marchas pernambucanas e, finalmente, por Frevo.
O Frevo como música
Por volta de 1907, a palavra “Frevo” apareceu pela primeira vez no Jornal Pequeno, do Recife.
Em 1909, surgiu no carnaval do Recife o Frevo “Vassourinhas”, espécie de hino do carnaval pernambucano. Denominado primeiramente como “marcha”, musicalmente, o Frevo surgiu a partir da combinação de estilos musicais, tais como a polca, a marcha, a quadrilha, o maxixe e o dobrado, executados no final do século XIX pelas bandas militares e civis do Recife.
Com a mistura desses elementos, surge um ritmo singular, subdividido em três categorias: Frevo de Rua, Frevo Canção e Frevo de Bloco.
O Frevo de Rua tem um estilo inteiramente instrumental, executado por orquestras onde se destacam instrumentos da família dos metais (trombones, trompetes e tubas) e da família das madeiras (saxofones, clarinetes e requintas), sendo a base rítmica conduzida pelo surdo, caixa e pandeiro. Ele, ainda, se diferencia dos outros tipos pela ausência completa de letra. Pode ser dividido em três modalidades: o frevo-abafo, o frevo-coqueiro e o frevo-ventania.
Já o Frevo de Bloco possui uma orquestra na qual se destacam os instrumentos de pau e corda, como violões, cavaquinhos, banjos, bandolins, flautas e clarinetes, além da caixa, pandeiro, surdo e saxofone. As músicas são cantadas por um coral feminino retratando temas líricos, nostálgicos e de exaltação à beleza dos blocos e carnavais do passado.
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E, por fim, o Frevo Canção possui os mesmos instrumentos utilizados no Frevo de Rua e, geralmente, é cantado em palcos por intérpretes. Um exemplo que está entre as composições mais famosas é “Frevo nº 3 do Recife”, do compositor Antônio Maria, aqui executado pelo grande intérprete de frevo Claudionor Germano.
O Frevo como dança
O passo, como é conhecida a dança do Frevo, é caracterizado pelo vigor, pela flexão dos membros, pela descida e subida do corpo, jogo dos ombros, expressão facial e saltos. O passo herdou o aspecto de luta dos capoeiras, negros considerados vadios naquela época e que vinham à frente dos desfiles.
A dança reúne passos famosos, como “parafuso”, “ferrolho”, “tesoura” e “dobradiça”, compondo um grande repertório de coreografias. Atualmente, são vários passos catalogados e inventados.
O Frevo é mais que dança e música. São expressões artísticas, saberes, ofícios e celebrações que atravessam o tempo e o espaço.
É uma expressão viva e mutante, marcada pelo diálogo permanente entre o passado e o mundo contemporâneo. Ele envolve memória, história e uma identidade em constante formação. Quando vemos pessoas aprendendo os movimentos do passo, assim como o aparecimento nas rádios de novas composições musicais, percebemos a garantia de sua continuidade.

O Frevo é uma manifestação cultural que conta a história do povo pernambucano na sua diversidade. Foi eleito Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil e da Humanidade pela UNESCO em 2012.
No centro histórico de Recife, Pernambuco, fica localizado o Paço do Frevo, aberto ao público desde fevereiro de 2014, na Praça do Arsenal da Marinha. É um centro de referência da cultura do frevo, dedicado à preservação dos costumes pernambucanos e ao incentivo de novas experiências.
O Paço , em parceria com diversas comunidades, grupos e indivíduos, realiza, a partir de processos colaborativos, ações que permitem a difusão da memória, o desenvolvimento da cadeia criativa e o incentivo de novas experiências e transformações, revelando, assim, novos lugares, pensamentos, discursos e imagens do frevo.
Outros momentos importantes da história
1932 – Fundação do Bloco Carnavalesco Misto Batutas de São José, em Recife, além de outros blocos e troças.
1935 – Nasce o Maestro Duda do Recife, músico, compositor, arranjador e maestro, nome importante do Frevo.
1951 – O Frevo invade a Bahia.
1952 – Nasce Antonio Nóbrega, músico, instrumentista, compositor, intérprete, ator e dançarino, em Recife, PE.
1967 – Um dos anos marcantes na história do Frevo, com a fundação dos clubes carnavalescos Vassourinhas e Lenhadores de Brasília.
1974 – Bloco da Saudade: nasce uma nova era no carnaval do Recife com o ressurgimento dos blocos líricos.
1980 – O Frevo ganha cenário nacional – Moraes Moreira é um dos grandes difusores do ritmo no Brasil todo.
2007 – 100 anos após a primeira publicação da palavra “Frevo” em um jornal, o Frevo é reconhecido como Patrimônio Imaterial do Brasil.
Fonte: Google Arts & Culture