Rosinha de Valença, uma das maiores instrumentistas do Brasil
Rosinha de Valença, uma das maiores instrumentistas do Brasil
Violonista, concertista, arranjadora e compositora brasileira, que completaria 83 anos neste 30 de julho
Você sabe quem foi Rosinha de Valença?
Uma das maiores instrumentistas do Brasil, a violonista, concertista, arranjadora, cantora e compositora nascida em Valença, no sul do Rio de Janeiro, foi um dos mais importantes nomes femininos da música popular brasileira de todos os tempos.
Além disso, Rosinha foi considerada uma das principais instrumentistas da bossa nova e muito reconhecida pela maestria com que fazia solos melódicos e improvisos vivazes, sendo uma das poucas mulheres em um ambiente bastante dominado por violonistas homens.
Sobre Rosinha de Valença
Ainda criança, Maria Rosa Canellas – que depois passou a usar o nome artístico por conta da cidade onde nasceu, Rosinha de Valença começou a se interessar pelo violão, assistindo aos ensaios do conjunto regional de seu irmão, Roberto.
Incentivada por esse irmão, começou a estudar violão sozinha, ouvindo músicas de rádio e, aos 12 anos, com uma técnica impressionante, já tocava na rádio da sua cidade e animava festas e bailes da região.
Pouco depois, Rosinha deixou os estudos para dedicar-se inteiramente à música e, em 1963, mudou-se para a capital, no Rio de Janeiro.
Foi o cronista, escritor, radialista, teatrólogo, jornalista, humorista e compositor carioca Sérgio Porto – conhecido como Stanislaw Ponte Preta – quem descobriu a artista e sugeriu o nome artístico de Rosinha de Valença.
Foi ele também – que dizia que Rosinha tocava por uma cidade inteira – quem a apresentou a Baden Powell e Aloysio de Oliveira, na famosa boate Au Bon Gourmet.
Depois disso, ela passou a tocar na boate Bottle’s, onde ficou por oito meses, e gravou seu primeiro disco, Apresentando Rosinha de Valença, em 1963, pela gravadora Elenco, pertencente a Aloysio. Nele, gravou músicas de compositores como Baden Powell e Vinicius de Moraes (Consolação), Noel Rosa (Com Que Roupa) e Billy Blanco (Estrada do Nada).
Destacando-se como uma excelente instrumentista, Rosinha passou a se apresentar em programas de televisão como O Fino da Bossa, ao lado de Baden Powell, mestre de seu estilo no violão.
Sua atuação de Rosinha de Valença junto a Baden Powell foi fundamental para o rumo instrumental que a bossa nova veio a desenvolver.
Sucesso Internacional
Em 1964, a artista excursionou pelos Estados Unidos com Sérgio Mendes e seu grupo Brasil 65, e também com Chico Batera, Jorge Ben Jor, Wanda Sá e Tião Neto. O grupo gravou dois discos.
Depois, Rosinha seguiu para a Europa como solista de um grupo formado pelo Itamaraty, para divulgar a música popular brasileira no exterior, apresentando-se em 24 países europeus.
Ela passou também uma temporada em Paris, com uma bolsa de estudos da Embaixada da França. Em 1967, foi a violonista do show Comigo Me Desavim, de Maria Bethânia.
Depois de apresentações na antiga União Soviética, Israel, Suíça, Itália, Portugal e por diversos países africanos -e de trabalhar com artistas internacionais como o saxofonista Stan Getz e a cantora Sarah Vaughan – Rosinha de Valença voltou ao Brasil em 1970 e engajou-se em movimentos de valorização da música instrumental brasileira.
Em 1971, passou a produzir discos de Martinho da Vila – foram quatro no total – além de produzir discos dos quais participou também como instrumentista, de artistas como Nara Leão, Maria Bethânia e Miúcha.
As composições de Rosinha foram gravadas ao longo do tempo por outros nomes como Ney Matogrosso, Leci Brandão, Alcione, Joanna e Wanderléa.
Depois, a instrumentista morou um tempo na França e quando voltou ao Brasil, em 1974, organizou uma banda que teve várias formações e contou com a participação de artistas como o pianista João Donato, o flautista Copinha e as cantoras Dona Ivone Lara e Miúcha.
Por sua atuação, Rosinha de Valença ganhou um prêmio da Ordem dos Músicos do Brasil. Nos anos seguintes apresentou-se em diversos shows, ao lado de sua banda ou sozinha e acompanhando outros artistas.
Gravou mais de uma dezena de LPs, editados no Brasil, EUA, Alemanha e França, entre eles, os importantes: Rosinha de Valença Apresenta o Ipanema Beat ( 1970), Um Violão em Primeiro Plano (1971) e Cheiro de Mato (1976).
Um dos momentos marcantes de suas gravações foi Violões em Dois Estilos, gravado com Waltel Branco, em 1980, com repertório bastante eclético, com faixas como Porto das Flores (de sua autoria), Asa Branca (de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), Morena do Mar (de Dorival Caymmi), Bachianas Brasileiras Nº 5 (Villa-Lobos), e Minueto e Prelúdio nº 13 (J. S. Bach).
Despedida trágica dos palcos e da vida
Em 1992, aos 52 anos, durante um período de férias no Brasil, Rosinha de Valença sofreu uma parada cardíaca que lhe causou uma lesão cerebral e a deixou em coma. A artista foi então levada de volta para Valença, onde permaneceu em estado vegetativo.
Dois anos após entrar em coma, um grupo de artistas realizou um show beneficente no Canecão para ajudar a custear as despesas médicas de Rosinha. Em seguida, diversos outros shows-tributo foram organizados por amigos e familiares para ajudar a custear o tratamento da violonista.
Em 2004, após 12 anos em coma, a artista foi internada com insuficiência respiratória e faleceu em seguida, aos 62 anos, em sua cidade natal, deixando o Brasil órfão de uma das maiores instrumentistas da sua história.
Uma das maiores do Brasil e do mundo
Em outubro de 2023, a edição americana da revista Rolling Stone divulgou uma lista em que aponta The 250 Greatest Guitarists of All Time (Os 250 Melhores Guitarristas de Todos os Tempos). Entre os selecionados, ao lado de nomes como Jimi Hendrix e Sister Rosetta Tharpes, há apenas dois brasileiros: um deles é João Gilberto – conhecido como o pai da bossa nova – e o outro é Rosinha de Valença.
Como destacou o jornal O Estado de São Paulo na época: “A escolha por Rosinha e João Gilberto entre os 250 maiores guitarristas de todos os tempos – nenhum guitarrista brasileiro de rock foi escolhido -, mostra uma tendência que tem sido observada: uma retomada da bossa nova em seu estado mais puro, ou ligada ao jazz, em detrimento das atualizações e fusões naturais que ela recebeu ao longo de 60 anos, embora Rosinha também tenha ido com seu violão muito além da bossa.”.
Que possamos sempre celebrar Rosinha de Valença!
por Lívia Nolla