Fabiane Pereira: “CAJU’ é o nome do novo álbum de Liniker”
Fabiane Pereira: “CAJU’ é o nome do novo álbum de Liniker”
Segura de si e de sua trajetória, a artista lança álbum maduro, autoral e com participações de Lulu Santos, BaianaSystem, ANAVITÓRIA e Pabllo Vittar
CAJU é o nome que estampa a capa do segundo álbum-solo de Liniker, este é também o alter ego que a cantora e compositora paulista apresenta para o público. Foi por meio da perspectiva (e da personalidade) dessa personagem que a artista teceu as 14 faixas que compõem o seu novo disco, lançado hoje, em todas as plataformas de streaming de áudio (ouça aqui).
Memórias bonitas e possibilidades de dias eternos de sol são temas que regem a trilha sonora do trabalho que tem 69 minutos. Interessante perceber que 10 das 14 faixas têm mais de 4 minutos, sendo 3 delas com mais de 7 minutos.
É curioso – e dá um baita alívio – ver uma artista pop não se rendendo a uma indústria que parece trabalhar pra condensar faixas até que elas se tornem virais de 15 segundos no tiktok.
O novo disco de Liniker entrega relatos extremamente pessoais apoiados em uma surpreendente mistura de estilos que vai do pop, samba, jazz e house ao pagode, arrocha, disco e reggae. Ele também conta com as participações de Lulu Santos, BaianaSystem, ANAVITÓRIA, Pabllo Vittar, Priscila Senna e mais convidados.
“Por muito tempo, eu me vi no vórtice de ‘preciso provar quem eu sou’, ‘preciso ser validada’… CAJU nasce dessa força de querer me enxergar com mais carinho. Com quase 10 anos de carreira, entendi que tenho de ser dona da minha narrativa”, explica Liniker. “Indigo Borboleta Anil me colocou em pé.
Agora, CAJU vai me fazer correr, me dar movimento. Fico muito feliz em poder falar, pela primeira vez, que me sinto muito segura. Eu vou adorar se as pessoas amarem esse disco, mas eu já amo. Eu fiz o álbum dos meus sonhos”, completa.
A produção musical de CAJU é assinada por Liniker, Fejuca e Gustavo Ruiz, mesma trinca responsável pelo álbum de estreia-solo da cantora, Indigo Borboleta Anil (2021), que rendeu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira.
“Escolhemos olhar para este projeto pensando na riqueza dos arranjos. Por mais que seja um álbum pop e mais comercial, mas ainda assim de uma artista independente que não está dentro de uma gravadora, ele tem a música como eixo central”, afirma.
CAJU tem uma textura de encontros e desejos de lugares específicos em que eu quero chegar. Me permiti viver coisas que eu nunca tive aval, tanto do outro, quanto de mim. Sinto que eu precisei ter maturidade para poder construir essa obra”, complementa.
Criado por inteligência artificial, o áudio em japonês de uma comissária de bordo dá início à jornada da protagonista na faixa que leva o nome do disco e tem coprodução de Iuri Rio Branco (o mesmo do álbum “De Primeira”, de Marina Senna). “Veludo Marrom”, por sua vez, começa intimista e cresce grandiosa, com direito a um coral e a quarenta pessoas da Orquestra Brasil Jazz Sinfônica.
O solo de piano de Amaro Freitas, que logo encontra a voz potente de Liniker, em um canto quase falado, bem ao estilo de trilha sonora dos filmes da Disney, marca o início de “Ao Teu Lado”, com participação do duo ANAVITÓRIA.
O barulho de um trem interrompe a cantora em “Me Ajude a Salvar os Domingos” e sustenta a questão de movimento que pode ser percebida ao longo do trabalho. Com pegada reggae e batida bem marcada pela percussão, a faixa conta com quase quatro minutos totalmente instrumentais, cortados bruscamente pelo fim da fita. Sim, “CAJU” foi gravado de forma analógica.
“O processo de gravar o disco na fita cria uma textura muito especial. Se você prestar atenção, dá para ouvir o chiado dela rodando”, detalha Liniker. A levada percussiva segue firme em “Negona dos Olhos Terríveis”, feat com o BaianaSystem, que é um convite para movimentar o corpo.
Depois de uma leva de canções longas, “Mayonga” surge como um chorinho curto, que encanta por sua simplicidade. “O que eu sinto não costuma caber em uma música de três minutos. Tem coisas que eu preciso dizer com mais tempo. Tenho a necessidade de repetir alguns versos para deixar bem clara a mensagem que eu quero passar”, explica.
O som modulado de um talk box reforça a sensualidade na combinação de vozes em “Papo de Edredom”, com participação da soteropolitana Melly. “Não é coragem que precisa para estar do meu lado.
Todo mundo merece amor, até uma popstar”, diz Liniker na letra de “Popstar”. A faixa passa uma mensagem poderosa sobre valorização pessoal. Na sequência vem “Febre”, escrita por Liniker e lançada originalmente por Thiaguinho (em um dueto ao vivo com a artista), a canção ganha uma versão de estúdio somente na voz de sua autora.
“Pote de Ouro”, com a pernambucana Priscila Senna e coproduzida por Marcio Arantes, é um brega que faz dançar e gruda na memória. “Deixa Estar” começa com a característica guitarra swingada de Lulu Santos, que também colabora nos vocais.
E se já não bastasse a participação do rei do pop brasileiro, Pabllo Vittar surge como feat no último minuto da canção. “So Special”, uma coprodução e feat com o duo Tropkillaz, é a única música em inglês e fecha o álbum como uma balada. “Um house dos bons, bem de pista”, define.
“Eu sinto que CAJU é uma fotografia do meu momento agora. Hoje, eu tenho essa história para dividir publicamente. Daqui 30 anos, quando eu estiver com, talvez, mais 10 álbuns, vou lembrar dos meus 29 anos quando ouvir este disco”, finaliza Liniker.