Afinal, qual a diferença entre samba e pagode?
Afinal, qual a diferença entre samba e pagode?
Se nem Zeca Pagodinho conseguiu explicar, quem somos nós para fazer? Mas podemos trazer alguns pontos de vista; veja especial do site da Novabrasil
Se nem Zeca Pagodinho conseguiu explicar a diferença entre samba e pagode, quem somos nós para fazer, certo?
Muito se fala sobre a diferença entre samba e pagode. Seria o pagode uma derivação do samba? Um samba com divisão rítmica diferente? Com outra cadência? Com letras mais românticas? Com instrumentos diferentes?
Ou seria o pagode apenas um movimento dentro do samba? Ou pagode é o nome do evento de encontro de sambistas, com comida, bebida e uma bela roda de samba?
Ou ainda: será que não há diferença nenhuma entre os dois e o pagode foi apenas uma nomenclatura utilizada para estereotipar um samba feito por camadas mais à margem da sociedade, mais populares?
Bom, Jô Soares perguntou exatamente isso para Zeca Pagodinho em uma entrevista realizada nos anos 90 e a resposta do Zeca não poderia ser melhor: “É Igual Mais é Diferente”. Confira:
“Há oito anos que me fazem essa pergunta e eu não consigo responder”.
É, Zeca! Se você não consegue responder exatamente, imagina nós, reles mortais!
Mas… podemos trazer alguns pontos de vista, de outros grandes sambistas da nossa atualidade, para tentar refletir um pouco mais profundamente sobre esse assunto polêmico.
Então, vamos ver o que dizem: Péricles, Salgadinho, Xande de Pilares e Dudu Nobre.
O que diz Péricles
Périclão, um dos maiores nomes do samba contemporâneo – que por muitos anos esteve à frente do grupo Exaltasamba, antes de seguir em carreira solo -traz uma explicação bastante detalhada e interessante sobre o assunto, em entrevista recente ao Podcast Inteligência Limitada, inclusive contando também sobre conceitos como partido alto, samba de enredo, chula, polca, maxixe e Bossa Nova: “Tudo é Samba”:
“Pagode é uma reunião para se tocar samba”, conclui Péricles.
O que diz Salgadinho
Já Salgadinho, outro importante sambista brasileiro – também muito conhecido por seus anos de atuação como vocalista do Katinguelê, classificado por muitos como um “grupo de pagode”, traz outra explicação interessante: “Olha o tamanho do Brasil, é um continente. Não tem como tocar no sul igual toca no norte.
“O povo preto americano, enquanto escravos, ficou mais de 100 anos proibidos de tocar batuque, curimba, tambor. Então você vê que a música deles é muito rebuscada na questão harmônica, mas quando você vai pra parte rítmica, ela e o samba.”.
Salgadinho ainda inclui o funk nestes derivados do samba: “O funk é filho do samba”.
E conclui certeiramente: “O mundo respira música preta (…) o cavaquinho é tão marginalizado porque eles (os brancos) querem que a gente acredite que aquilo que é nosso não é bom, que aí eles pegam pra eles”.
O que diz Xande de Pilares
Outro especialista no assunto Xande de Pilares, que foi por muitos anos vocalista do grupo Revelação e que hoje tem uma das carreiras solo mais relevantes do samba, é direto e reto: “Pagode é o ambiente em que os sambistas se reúnem para tocar samba. Não existe samba e pagode. Mas ao mesmo tempo existe!”
“Samba é um gênero. Pagode não é um gênero, pagode é um ambiente em que os sambistas estão reunidos cantando samba. Pagodeiro frequenta o pagode em que o sambista toca”, conclui Xande brilhantemente.
O que diz Dudu Nobre
Já o sambista carioca Dudu Nobre apresentou seu ponto de vista em entrevista ao Vênus Podcast: “O samba é tão grande, que ele tem diversos estilos (…) você tem o samba de partido alto, você tem o samba enredo, você tem o samba romântico, que virou o pagode. E tudo isso tem uma ancestralidade”.
E continua nesta linha de raciocínio: “A ancestralidade do partido alto vem daquela parada de roda de samba. (…) O samba-canção seria a ancestralidade do que é hoje o pagode, misturado um pouquinho com a sofisticação harmônica da bossa nova. (…) E com o passar do tempo, o pessoal vai colocando uma temática diferente, um andamento mais pra frente e uma temática de coisas até atuais.”.
Concluindo: Péricles, Salgadinho, Xande de Pilares e Dudu Nobre, explicaram um pouco mais a fundo aquilo que Zeca Pagodinho tentou nos explicar lá atrás: Samba e Pagode são iguais, mas são diferentes!
por Lívia Nolla