Especial: A onda de tributos na música popular brasileira
Especial: A onda de tributos na música popular brasileira
Xande canta Caetano, Catto canta Gal; Tássia canta Alcione. Por que os artistas da música brasileira têm escolhido homenagear outros artistas? Confira aqui
Nos últimos anos, a cena musical brasileira tem presenciado uma onda crescente de tributos, em que artistas dedicam seus shows, álbuns e EPs para homenagear grandes ícones da nossa música.
Nomes diversos da cena contemporânea têm seguido essa tendência atualmente como: Filipe Catto e Assucena celebrando Gal; Tássia Reis e MC Tha homenageando Alcione; Ana Cañas cantando Belchior; entre muitos outros.
Mas a escolha de músicos brasileiros por tributos não é de hoje. Artistas consagrados como Maria Bethânia e Margareth Menezes também já se destacaram com projetos que reverenciam grandes nomes da história da MPB: Gil e Caetano, no caso da nossa atual Ministra da Cultura; e Erasmo e Roberto Carlos, no caso de Bethânia.
Mas por que tantos tributos? O que motiva essa tendência e o que os músicos brasileiros ganham quando dedicam seus trabalhos a homenagear outros artistas?
Resgate e Preservação da História Musical
Uma das principais razões para essa onda de tributos é o desejo de resgatar e preservar a história musical brasileira.
Ao revisitar o trabalho de artistas consagrados, os músicos das novas gerações ajudam a manter viva a memória cultural brasileira e a importância dessas obras para a nossa história.
Essa prática não só celebra os pioneiros ou clássicos da nossa música, mas também educa o público mais jovem, que pode não estar tão familiarizado com esses nomes e suas contribuições históricas para a nossa cultura.
Aproximação com o Público
Tributos também oferecem uma oportunidade única para artistas se aproximarem de públicos diferentes.
Quando Filipe Catto e Assucena celebram Gal Costa: Catto em seu álbum Belezas São Coisas Acesas por Dentro (2023) e Assucena nos shows Gal – Baby Te Amo e Rio e Também Posso Chorar.
Quando Tássia Reis e MC Thá homenageiam Alcione: a primeira no show Tássia canta Alcione e a segunda no EP Meu Santo é Forte, de 2022.
Quando Ana Cañas Canta Belchior, em álbum de 2021, ou quando Rômulo Fróes resgata um show com o repertório do antológico álbum Transa de Caetano Veloso, lançado originalmente em 1972.
Em todos esses casos, há uma conexão emocional instantânea com os fãs desses artistas homenageados e super consagrados.
Isso cria uma ponte entre diferentes gerações de ouvintes e fortalece o vínculo entre o artista que presta o tributo e o público que reverencia o homenageado. Da mesma forma que o contrário também acontece, como dissemos no tópico anterior: um público fresco passa a conhecer a obra de artistas mais antigos.
Inovação e Reinvenção
Engana-se quem pensa que um tributo é simplesmente uma cópia do original. Longe disso! Muitos artistas utilizam essa oportunidade para trazer novas interpretações e arranjos para músicas já muito conhecidas do público.
Isso permite que eles explorem sua própria criatividade e identidade artística, ao mesmo tempo em que homenageiam seus ídolos ou os ídolos de uma geração inteira.
Por exemplo, MC Tha trouxe um frescor único a músicas já consagradas na voz de Alcione, quando homenageou a cantora maranhense e seu repertório no EP Meu Santo é Forte, de 2022.
Já Margareth Menezes imprimiu toda a sua personalidade e musicalidade, para interpretar clássicos de Gilberto Gil e Caetano Veloso, em um show em homenagem aos dois gigantes que fizeram grande parte da formação da artista baiana. O show fez tanto sucesso, que virou álbum em 2015: Para Gil & Caetano.
Sobre Maria Bethânia, nem precisamos dizer o quanto da personalidade única da intérprete há em cada canção de Roberto e Erasmo que ela decide incluir no repertório do disco As Canções Que Você Fez Pra Mim, de 1993.
Isso sem mencionar o recente e premiadíssimo Xande Canta Caetano, em que Xande de Pilares aproxima com primazia a obra de Caetano Veloso ainda mais do samba.
Valorização e Reconhecimento
Tributos são, em essência, um reconhecimento do valor e da influência que esses artistas tiveram na carreira dos músicos atuais. É uma forma de agradecimento e reverência, mostrando ao público a importância desses ícones para a evolução musical.
Além disso, essa prática pode trazer visibilidade para artistas que talvez não recebam mais tanto destaque na mídia contemporânea, reintroduzindo suas obras para um novo público.
Sustentabilidade Artística e Financeira
Por fim, há também um aspecto prático e financeiro. Como já dissemos, shows e álbuns de tributo tendem a atrair um público amplo, que une fãs dedicados do artista homenageado e do artista que faz a homenagem.
Isso pode resultar em maior venda de ingressos e discos, ajudando a sustentar a carreira dos músicos que realizam os tributos. Além disso, projetos assim costumam ter boa recepção em festivais e eventos culturais, garantindo mais oportunidades de apresentações.
15 Álbuns de Tributos na Música Brasileira
Para ilustrar essa tendência, aqui está uma lista de alguns álbuns de tributo que vale a pena conferir.
Esses álbuns refletem a diversidade e a riqueza da música brasileira, mostrando como os artistas – novos ou consagrados – reinterpretam e homenageiam as obras que moldaram a história da música no país
Demonstrando versatilidade e paixão, os artistas contemporâneos mantêm viva a chama da nossa rica herança musical. Ao celebrar seus ídolos – nossos ídolos! – eles não só se conectam com o passado, mas também pavimentam o caminho para o futuro da música brasileira
1 – Filipe Catto – Belezas São Coisas Acesas por Dentro (Tributo à Gal Costa)
2 – MC Tha – Meu Santo é Forte (Tributo à Alcione)
3 – Ana Cañas – Ana Cañas canta Belchior (Tributo a Belchior)
4 – Margareth Menezes – Para Gil & Caetano (Tributo a Gilberto Gil e Caetano Veloso)
5 – Vanessa da Mata – Vanessa da Mata canta Tom Jobim (Tributo a Tom Jobim)
6 – Gal Costa – Gal Canta Caymmi (Tributo a Dorival Caymmi)
7 – Gal Costa – Gal Costa canta Tom Jobim Ao Vivo (Tributo a Tom Jobim)
8 – Fernanda Takai – Onde Brilhem os Olhos Seus (Tributo à Nara Leão)
9 – Maria Bethânia – As Canções Que Você Fez Pra Mim (Tributo a Roberto e Erasmo Carlos)
10 – Maria Bethânia – Maria Bethânia Canta Noel Rosa ao Vivo (Tributo a Noel Rosa)
11 – Adriana Calcanhotto – Loucura: Adriana Calcanhotto Canta Lupicínio Rodrigues (Tributo a Lupicínio Rodrigues)
12 – Xande de Pilares – Xande Canta Caetano (Tributo a Caetano Veloso)
13 – Nando Reis – Não Sou Nenhum Roberto, Mas às Vezes Chego Perto (Tributo a Roberto Carlos)
14 – Mart’nália – Mart’nália Canta Vinicius de Moraes (Tributo a Vinicius de Moraes)
15 – Manu Gavassi – Acústico MTV Manu Gavassi canta Fruto Proibido (Tributo à Rita Lee)
por Lívia Nolla